Melhores Álbuns Nacionais (2022)
2022 é a quinta vez nos dedicamos a fazer listas de Melhores Álbuns do Ano no Hits Perdidos. Não será a única do site, além desta com escolhas do editor teremos também individuais dos colaboradores (veja a lista do Diego Carteiro). A ideia é essa mesma trazer diversos pontos de vista e novas dicas para quem acompanha o Hits Perdidos.
A ideia não é polemizar ou dizer que um disco é pior por não estar na lista. Muito pelo contrário, estas listas tem a intenção de recapitular o que rolou por aí – e não foi pouca coisa.
Por aqui, por exemplo, foram ouvidos mais de 270 discos nacionais ao longo do ano. De estilos diferentes, com histórias peculiares, discursos e uma musicalidade que mostra um pouco sobre para onde a música brasileira está caminhando.
Listas são polêmicas por si só e no ano passado reunimos um time de jornalistas e formadores de opinião para dar seus pitacos sobre a confecção destas (Confira Aqui).
Lista de Melhores Álbuns Nacionais de 2018 (Confira a Lista).
Lista de Melhores Álbuns Nacionais de 2019 (Confira a Lista).
Lista de Melhores Álbuns Nacionais de 2020 (Veja a Lista).
Lista de Melhores Álbuns Nacionais de 2021 (Confira a Lista)
Nossa lista passeia por ritmos como instrumental, MPB, Rock, Eletrônico, Alternativo, Experimental, Hip Hop, Pop, Indie, Folk, Experimental, Trip Rock e Math Rock. Sem regras estabelecidas muitas vezes um crossover de estilos é visível.
Selo: Matraca Records
Gênero: Indie Rock
Para quem gosta de: Pluma e Sophia Chablau.
Com pop solto e aquele pézinho torto do indie rock paulista. A criatividade, humor e proposta irreverente ressoam no quarto disco de inéditas do Pelados, grupo formado por Lauiz (programações e synths), Vicente Tassara (guitarra), Helena Cruz (baixo e vocal), Theo Ceccato (bateria) e Manu Julian (vocal). Tensão, deboche, experimentação, com narrativas que permitem liberdade assim como é pegar um disco antigo do Pixies, uma arte abstrata, um filme de Buñuel ou da vanguarda paulistana. Cinema, música, poesia e teatro se confundem nas letras que permitem reflexões sobre o cotidiano de maneira leve e jovem.
Selo: Independente
Gênero: Rock Psicodélico
Para quem gosta de: Bárbara Eugênia e Júpiter Maçã
Um disco elegante com boas referências e que vai do psicodélico a até mesmo a disco music? O feeling cancioneiro de Tatá Aeroplano faz tudo fluir como ele mesmo disco diz em “Chá Delícia”, “no maior auto-astral”. O décimo disco do artista nacionalmente conhecido pela Cérebro Eletrônico tem colaborações com Dustan Gallas, Yhran Barreto, Malu Maria e Peri Pane. Além de participações fa Malu Maria, Kika, Lenis Rino, Bárbara Eugênia e Márcio Resende. Guitarras lisérgicas, teclados, batida pulsante, boas composições, memórias e viagem astral são elementos que deixam a experiência ainda mais imersiva.
Selo: Geração Perdida
Gênero: Rock, Experimental, Noise Rock
Para quem gosta de: Lupe de Lupe e Fábio de Carvalho
O encontro de três nomes do rock alternativo Made in Minas Gerais, do coletivo Geração Perdida, Fernando Motta, Jonathan Tadeu e Vitor Brauer, é uma deleite para os fãs da estética e também desprende eles do material dos projetos solo dando lugar a experimentação. Entre guitarras distorcidas, noise rock, progressões de acordes e o espírito rebelde do rock, eles permitem trazer referências que nos levam para lugares frequentados por bandas como The Mars Volta, Deftones, Sonic Youth e TTNG.
Selo: Flecha Discos
Gênero: Rock Alternativo
Para quem gosta de: Nirvana, Guided by Voices
Com letras mais maduras, arranjos mais melódicos, menos punk ao mesmo tempo que mais profundo. É esse o espírito de Estranho que faz reflexões do universo dos 30 anos após uma pandemia corrosiva e refletindo sobre o passado, a vinda a São Paulo e a toxidade da cidade que corrói na mesma proporção que gera oportunidades. As frases ecoadas na voz de João Lemos dão o teor realista e autobiográfico das crônicas sobre a vida mundana. Desta vez sem distorção na mensagem, sem perder as doses de ironia e crítica ao modus-operandi.
Selo: Independente
Gênero: Eletrônica, Electropop, Synthpop
Para quem gosta de: Teto Preto, Letrux
Formado em 2002, na cidade de São Paulo, o Noporn denomina seu som como Spoken-word electronic dance music e está prestes de apresentar grandes planos para as comemorações de 20 anos de banda. Na bagagem eles já contavam com os discos NoPorn (2006), BOCA (2016) e SIM (2021) e agora Contra Dança integra a discografia.
Liana Padilha e Lucas Freire agora apresentam em setembro seu quarto álbum de estúdio, Contra Dança, Com a noite e as pistas dos clubes como plano de fundo, o material conta com 12 faixas e o personagem principal é a noite onde o sexo é faz parte do diálogo.
“Quando pensamos em lançar o disco #4 do Noporn, vários assuntos pularam nas nossas cabeças. Pensei nas mulheres deste século, e no meu próprio papel de ser uma mulher há vinte anos criando música, abrindo espaço no charme e no microfone, em festas, bares e mini casas noturnas do começo do século XXI até agora, tocando para públicos, em palcos maiores, nos grandes festivais. A força de criar junto com outras pessoas, de continuar me divertindo, criando mundos únicos e particulares de poesia e som”, explica Liana Padilha.
A complexidade do momento ímpar vivido na pandemia acabou criando novas dinâmicas em todos nós, e com a sensibilidade dos artistas isso não foi diferente, resultando em um disco que trás para o primeiro plano toda essa perspectiva pelos corpos.
“Nos últimos dois anos, vivemos uma experiência brutal de isolamento físico e ao mesmo tempo de superexposição nas redes. O que fizemos com isso? O que aprendemos sobre os outros e sobre nós? Abrimos a caixinha de perguntas e contamos tudo? Abrimos a câmera e mostramos o que estava entre quatro paredes? Ou fugimos da realidade com joguinhos, drogas, e pornografia? Nunca sentimos tanta coisa em comum com as outras pessoas e ao mesmo tempo, nunca estivemos tão sozinhos. Temos pressa. O mundo ficou maior, o mundo ficou menor, como ficou o seu mundo? Seu corpo, habitado por milhões de seres microscópicos, gira em um universo lotado de estrelas e planetas que ainda nem têm nome. Como está esse corpo agora?”, reflete Padilha
Selo: Independente
Gênero: MPB, Latinidades, Jazz
Para quem gosta de: Bixiga 70, Nomade Orquestra
Para colocar todo mundo para dançar o terceiro álbum de estúdio do Samuca e a Selva chega com a produção de Marcos Maurício (Nomade Orquestra) e tem como curiosidade as canções terem sido compostas a partir de temas e palavras enviadas pelos fãs da banda nas redes sociais. É da mistura de brasis e da pluralidade rítmica que a salada do disco se faz presente, até por isso essa capa tão tropical. Um disco que teve a maior parte das músicas compostas durante a pandemia. Um reflexo da nossa lista.
Selo: Independente
Gênero: Rock, Pop Rock, Alternativo
Para quem gosta de: Supercolisor, Ceano, Cigana
O íntimo, o interno, o intenso e a natureza humana se afloraram em todos nós na pausa que a pandemia proporcionou de forma sistêmica. O desacelerar e repensar a profundidade das nossas relações acabou ganhando novos contornos e capítulos à parte cuidadosamente desenhados ao longo dos últimos dois anos. E, claro, que já não somos os mesmos que viramos o ano de 2020. Em Parte Do Que Vem, a Bratislava traz consigo boa parte deste exercício de se permitir tirar a casca e mostrar um lado ainda mais sensível, do solar ao lunar feito as noites em claro pensando nas incertezas sobre o futuro. Da amargura das perdas ao relembrar de como a vida pode sim ser boa e compartilhada com as pessoas que amamos. Tudo isso, sem deixar de lado amigos que acabam, por sua vez, se tornando família – e em muitos casos nem tão postiça por assim dizer.
Para a Bratis, apelido carinhoso que os próprios integrantes costumam chamar, foi um momento bastante visceral. O grupo passou por mudanças em sua formação e isso em uma banda muitas vezes ressoa como um momento de ajustar os ponteiros do relógio e tirar para a conta para balanço.
Ciclo este que permitiu uma renovação da sonoridade, um sonho antigo que ganhou ainda mais propulsão segundo o vocalista e tecladista Victor Meira. Completam a atual formação Gustavo Franco (bateria), Zé Roberto (baixo) e Jonas Andrade (guitarra).
O trabalho reúne 12 faixas e uma sensibilidade intensa de uma banda que se permitiu deixar com que a personalidade das ações do seu dia-a-dia reverberasse no horizonte das novas composições.
Ao mesmo tempo que experimenta e carrega frescor nas ideias e intervenções, o álbum mira no pop no sentido palpável justamente para estabelecer diálogos e reforçar conexões. Algo que também se traduz na videografia que mostra um espaço e tempo bem característicos de um cenário musical da cidade de São Paulo.
Selo: Independente
Gênero: Pop Psicodélico
Para quem gosta de: Tagua Tagua e Boogarins
De João Pessoa (PB), a Glue Trip após disponibilizar uma série de singles apresentou em julho seu terceiro disco de estúdio, Nada Tropical (leia mais). O quarteto que em sua formação conta com João Boaventura, Lucas Moura, Pedro Lacerda e Thiago Leal apresenta as nove faixas com direito a uma série de participações especiais de nomes como Arthur Verocai acompanhado por uma orquestra de 12 músicos (em “Lazy Days”), Otto (em “Bessa Beat”), Felipe S (em “Gergelim”) e YMA (em “Le Voyage”).
Eles contam que miraram com ainda mais intensidade na música brasileira e reverenciam ao longo da obra artistas como Marcos Valle, Cátia de França e Arthur Verocai. Além disso, o clássico Transa de Caetano – que completa 50 anos em 2022 – ajudou a consolidar o conceito, e desenvolvimento artístico, da construção de Nada Tropical.
Uma novidade foi a interferência externa no processo, visto que nos dois discos anteriores Lucas Moura assina a produção. Desta vez eles optaram por trabalhar com o produtor Zé Nigro que já assinou trabalhos de artistas como Curumin, Russo Passapusso, Francisco El Hombre e Anelis Assumpção.
Além das referências brasileira que já apareciam dentro do escopo dos trabalhos anteriores, o novo álbum tem o adendo de elementos que levam para esse caminho como a percussão, o piano elétrico e o uso de sintetizadores analógicos.
Selo: Balaclava Records
Gênero: Indie Rock
Para quem gosta de: Raça e Terno Rei
O Ombu é uma das bandas tão queridas pelo cenário independente paulistano, o grupo que reúne amigos que estão juntos desde os tempos do colégio, completa em 2022 seus 10 anos de atividade. E nada como celebrar com enfim um álbum cheio, após lançar dois EPs, Mulher (2012) e Pedro (2015). Até por isso, Certas Idades carrega em seu título uma visão sobre esse momento dentro da trajetória do power trio formado por João Viegas, Santiago Obejero Paz e Thiago Barros, e faz uma espécie de “pente fino” sobre o amadurecer mas não necessariamente cravando em quais idades ele veio. Um acerto neste sentido pois na longa jornada que temos na vida cada um parece ter seu tempo para amadurecer e estabelecer planos, seja lá quais forem eles.
O material conta com a produção do renomado produtor musical carioca, Alexandre Kassin, e tem uma história peculiar ao longo da sua produção. Assim como muitas bandas, o material começou a ganhar forma ainda naqueles primeiros dias de pandemia naquele esquema remoto cheio de limitações, tendo sido assim compostas e gravadas as 12 faixas presentes no disco pela primeira vez. Foi aí que entrou a dedo da gravadora, Balaclava Records, que foi procurar o produtor para ter um parecer e buscar quem sabe um acabamento ainda mais refinado.
Foi a partir daí que ele que já trabalhou com nomes como Caetano Veloso, Los Hermanos e Vanessa da Mata, sugeriu que os integrantes viajassem ao Rio de Janeiro para regravar as músicas em fita. Neste processo Kassin teve a companhia na captação do engenheiro de som Mauro Araújo no estúdio Marini. Já a mixagem e a masterização foram realizadas posteriormente por Fernando Sanches, no estúdio El Rocha, em São Paulo.
Entre as principais referências o Ombu afirma que discos do Wrecking Crew, “Pet Sounds”, dos Beach Boys e o homônimo do Clube da Esquina serviam de guia para a criação das camadas, por mais que o registro traga ainda outras nuances e bagagens musicais de toda uma vida.
Selo: Independente
Gênero: MPB, Funk, Soul, Pop
Para quem gosta de: Jorge Ben Jor, Banda Black Rio
A pandemia foi um momento de refletir, entender e vislumbrar novos caminhos. Das crises existenciais a entender o propósito do seu ofício como artista e se aquilo ainda fazia sentido…ao desejo de se transportar para o mundo que gostaria de viver. Foram estes alguns questionamentos e backgrounds do lançamento do segundo disco do saudade, projeto do músico Saulo von Seehausen, conhecido por seu trabalho ao lado da banda de rock/hardcore fluminense Hover.
Apesar de a primeira vista parecer um projeto solo, o projeto é feito a várias mãos, algo exaltado durante a audição do disco que aconteceu três dias antes do lançamento na Fauhaus, nele os integrantes da banda base, que conta inclusive com antigos companheiros de banda, e produtores puderam contar mais nuances de um disco que em relação a jardim entre os ouvidos, ganha ainda mais texturas, sopros, ritmos e misturas.
Tudo isso fruto de uma busca incessante por referências da Funk music brasileira, como Tim Maia, e também a outros nomes da MPB como Jorge Ben Jor. Saulo até contou no encontro que uma das grandes influências foi justamente as caminhadas em que acordava às 5 horas da manhã e colocava no fone de ouvido o álbum de estreia da banda Black Rio, Maria Fumaça, de 1977, que além dos elementos do funk ainda agrega elementos do samba, do soul e do jazz.
Até por isso o disco intercala vibes e propostas sonoras. Como ele projeto um mundo ideal existe espaço para a alegria e as cores do amanhecer que enchem e encorporam o cenário de um disco que tem como capa um material gráfico feito por Vinícius Massolar que além de artista gráfico também toca guitarra, teclado e faz vocais na banda carioca The Outs. Nele, todos que participaram diretamente do disco seja na parte técnica, feats, banda base ou produção acabam aparecendo em praia aproveitando um dia de sol. Algo impensável no momento de concepção do disco.
O disco tem produção de Felipe Vassão e Pedro Serapicos. Aliás, as participações do disco incluem feats. com Lio Soares, da Tuyo, Rebeca Sauwen, Nina Oliveira, Bibi Caetano e Lorena Chaves.
A narrativa de maneira poética narra o fim de uma longa noite em direção de um novo amanhecer, o que acaba sendo reproduzido logo na dobradinha que abre o disco, da introdução com “Maria Comprida” (que quase se chamou Maria Fumaça por conta da banda Black Rio mas que ganhou nome de um estúdio) chegando na explosão de “Bem Vindo, Amanhecer”, quarta faixa do disco que conta ao todo com 10 faixas.
O interessante da jornada é a mescla entre os momentos de experimentação mais torta e jazzística, ao pop quase radiofônico mas repleto de camadas que tiram ele do ponto comum sem sair da zona de conforto para o ouvinte da música brasileira.
Selo: Alá Comunicação e Cultura
Gênero: Pop, MPB, Samba-Rock, reggae
Para quem gosta de: Marina Sena, Duda Beat
A cantora baiana Illy lançou O que me cabe (2022), terceiro álbum de estúdio com direito a canções de Adriana Calcanhotto, Caetano Veloso, Chico César e Jarbas Bittencourt. Pop, leve, dançante e cumpre o papel que busca. O lançamento tem participações com nomes com Marina Sena, Erasmo Carlos e Adriana Calcanhotto. Tropical, cintilante, com reggae como base e boas interpretações. Progride a cada audição.
Selo: Boia Fria Produções
Gênero: R&B, Pop, Blues, Jazz
Para quem gosta de: Tiê, André Whoong, Papisa
Conhecida por integrar diversos projetos artísticos do cenário musical de São Paulo como Papisa, Tiê, André Whoong, Rafael Castro, Bruno Bruni, Paulo Miklos, entre outros, a cantora, compositora e produtora musical Luna França apresentou na última semana seu debut solo, UM (ouça no Spotify).
A estreia, inclusive, vem acompanhava de um time composto de peso. Tiê, faz parceria em “Terapia”, canção que encerra o disco. A produção é assinada por Luna e André Whoong, a mixagem por Tó Brandileone e a masterização por Carlinhos Freitas.
O lançamento que está sendo capitaneado pela Boia Fria Produções, conta ao todo com 9 faixas, sendo dois interlúdios, o que cria toda a conexão de narrativa de disco feito para ser apreciado na sequência proposta pela artista. O disco foi gravado no Estúdio Rosa Flamingo por Whoong e no home studio de Luna França.
No campo da sonoridade ela revela transitar entre o Pop, R&B e Blues sem deixar de lado o lado experimental, flutuando entre o analógico e o digital. Para isso ela traz arranjos de vocais, sintetizadores, samples, beats, piano e até mesmo um quarteto de cordas.
Para a temática Luna França revela que UM revela um lado bastante autobiográfico e é baseado tanto situações cotidianas como em apenas fantasias. Tudo isso, sem deixar de lado a ironia, a sinceridade e o bom humor.
“UM fala sobre término, sobre fim, mas também sobre as dores e as delícias do recomeço. UM é sempre em primeira pessoa, sou eu como a protagonista da minha vida. Sentindo e vivendo minhas escolhas e desejos de forma livre, aberta e espontânea e lidando com as crises de forma sincera e de peito aberto”, conta ela sobre a intensidade do disco
Sobre o processo ela ainda revela: “A produção do disco foi um processo artesanal muito enriquecedor, realizado com calma, tempo para pensar e assimilar e muitos encontros e trocas com o André”.
Selo: Independente
Gênero: Indie Rock, Bedroom Pop
Para quem gosta de: YMA e Helo Cleaver
Após lançar Morri de Raiva (2019) pela Sony Music, a goiana brvnks após divulgar no último ano os singles “happy together“, “sei lá (feat. raça)“, “Holy Motors” e “as coisas mudam” disponibilizou o álbum meet the terrible, desta vez de forma totalmente independente e com a companhia no estúdio dos produtores Gaspar Pini e Gabriel Mielnik. A artista, inclusive, revelou recentemente que a banda base para suas apresentações ao vivo será formada pelos integrantes do Raça.
Com 10 faixas ao todo, o material marca também o início das composições em português dentro do seu repertório. Na narrativa do disco ela deixa de lado os problemas adolescentes e dá luz a reflexões sobre os dilemas da vida adulta, mostrando um pouco do lado doce e amargo desta fase marcada por entendimentos e aceitações das próprias limitações e imperfeições.
Dos amores mal resolvidos, mudanças, conflitos da rotina em uma grande cidade, as crises existencialistas, o material revela um lado ainda mais pop de brvnks que entre as inspirações vai de CSS, passando por The Cranberries, Gus Dapperton e Dayglow (leia entrevista).
Selo: Independente
Gênero: Indie Rock
Para quem gosta de: Sonic Youth, Patti Smith, X-Ray Spex
Compositora, cantora, professora, artista visual, escritora, Marina Vello, mais conhecida como Marina Gasolina, retorna a música após quase 10 anos do seu álbum solo de estreia lançado em 2013, Commando. Conhecida como uma das fundadoras do Bonde do Rolê, a artista também é metade do Madrid (duo formado com Adriano Cintra).
O novo álbum, Dispopia, lançado em novembro trás consigo algumas curiosidades. Como, por exemplo, ter sido gravado em 2014, quando residia em Paris. O material acabou engavetado por anos quando Marina precisou se resguardar para lidar com a dependência química. O lançamento em 2022 acaba por si só sendo simbólico. O disco foi resgatado, mixado e masterizado por Rafael Panke (Ruído por mm/Delta Cockers).
“Dispopia é uma obra sobre luto, pulsão de morte, uma ode às drogas e ao fim do mundo. Ao fim de tudo.”, sinteriza Marina Gasolina sobre o encerramento de um ciclo
Selo: Balaclava Records
Gênero: Rock
Para quem gosta de: Ventre, Cícero e Pedro Sá
A banda carioca Ventre foi uma das que mais deixou saudade na cena independente brasileira. Após o encerramento das atividades do trio em uma despedida no palco do Lollapalooza, Larissa Conforto lançou seu projeto solo ÀIYÉ, Hugo Noguchi lançou material com suas bandas Posada e o Clã e SLVDR; e agora chegou o momento de Gabriel Ventura apresentar seu primeiro álbum solo.
O cantor, compositor, produtor e guitarrista lançou o disco Tarde através do selo independente Balaclava Records e assina a produção ao lado do renomado produtor Patrick Laplan. Inclusive o músico o acompanha na bateria, percussão e baixo, nas gravações, enquanto Gabriel faz as guitarras, violões e voz. Experimentação, liberdade e plástica acabam sendo as marcas da estreia solo.
Selo: Balaclava Records
Gênero: Indie, Sophisti-Pop
Para quem gosta de: Jennifer Souza e Luiza Brina
Os mineiros da Moons lançaram o quarto disco Best Kept Secret com direito a misturar seu folk com outros ritmos como soul/funk music e até mesmo a nossa tão brasileira bossa nova. A sutileza e a leveza apontam novos caminhos neste momento de maturidade do som produzido em estúdio do grupo. Dramas do cotidiano dos últimos anos como a solidão e o medo acabam ecoando em seus versos num belo disco.
Selo: Independente
Gênero: Trip-Hop, Neo-Soul, Hip-Hop, Jazz, Lo-Fi Hip Hop
Para quem gosta de: Erykah Badu, Portishead, Massive Attack, Air
Em tempos onde temos muitos discos sendo lançados trazendo um pouco dos traumas inerentes ao período de isolamento social, Burnout, da OZU, de Cotia (SP), nos mostra que o problema pairava o ar muito tempo antes da pandemia. Tudo isso de forma harmônica, cintilante, reflexiva e naturalmente anti-sistêmica – tendo também seus momentos de caos e fúria. O dia a dia do trabalho, a natureza perversa das relações, o inquietismo e a raiva muitas vezes enclausurada no peito: reverbera nos acordes leves e contemplativos da estreia. Até por isso, Francisco Cabral, tecladista e compositor do trio deixa claro em seu desabafo.
“Estágios avançados do capitalismo neo-liberal diluíram e terceirizaram as desigualdades de nossa sociedade a tal ponto que nos foi privado a percepção de reconhecer os males macroeconômicos que nos assolam. Assim, desorientados, seguimos atribuindo nossos problemas financeiros e emocionais a nós mesmos, desenvolvendo então uma constante sensação de culpa, preocupação e ansiedade, nos exaurindo estruturalmente todos os dias.
Por essas e outras, nenhum título, que não Burnout, poderia ser melhor para esse registro. Guerras e conflitos distantes servem como respiro para achar um “culpado” externo e desafogar a responsabilidade de nós mesmos. Porém, o mecanismo segue sendo o mesmo – ignorar os fatos e terceirizar as faltas. Filmes de heróis nos distraem, incessantes conteúdos de redes sociais nos entorpecem e assim seguimos em frente. Será que está tudo bem?”.
Além dele, compõe a atual formação da OZU, Juliana Valle (voz) e Sue-Elie Andrade-Dé (guitarrista), o que faz do disco minimalista e trazendo para Burnout um emaranhado de referências que vão de Neo-Soul, Hip-Hop e Jazz passando por Lo-Fi Hip Hop a Trip Hop. Ou seja, o universo que contempla artistas como Erykah Badu, Portishead, Massive Attack, Thievery Corporation, Moorcheba, Air, Dj Krush, Buttering Trio, Surprise Chef, Abstract Orchestra e Bonobo.
“Queremos desconstruir e abstrair as primeiras intenções arquitetônicas para chegar em uma visão lúdica das grandes metrópoles que nos formam intelectual e musicalmente. Robert Smithson passeando por Cotia, nossa cidade natal, seria o cenário perfeito”, conta a OZU sobre o conceito anárquico de Burnout
Selo: Taquetá
Gênero: MPB, Pop
Para quem gosta de: Rubel, Phill Veras
Tendo a cidade de São Paulo como um dos cenários para sua poesia, Rodrigo Alarcon discorre sobre amor com bom humor em Rivo III e a Fé. Ele trouxe um pouco do seu dia-a-dia em 2021 para as temáticas que passam por amores, angústias, consolações e a busca por equilíbrio. Entre suas referências para a obra estão Gilberto Gil, Rita Lee, Erasmo Carlos, Lulu Santos tendo o resultado cheio de swing e batidas que reverenciam a música pop produzida no país.
Selo: Sony Music
Gênero: Rap, Hip Hop, R&B
Para quem gosta de: Emicida, Kamau, Rodrigo Ogi
O quarto álbum de estúdio de Rashid chega como um álbum-áudio-filme, Movimento Rápido dos Olhos, conta com 15 canções que são costuradas com uma narrativa em quadrinhos. O lançamento, além de Liniker, conta com participações com grandes nomes da música contemporânea como Don L, BK’, Amiri, Curumin, Macedo Bellini, Stefanie e a revelação Marissol Mwaba.
“O disco vem para exagerar a realidade. Ele eleva à enésima potência a atmosfera na qual a gente vive hoje e deduz onde poderíamos parar caso não houvesse mudanças”, comenta Rashid.
O material é inspirado pela cultura oriental e trás uma história distópica que pode até mesmo ser comparada com o Brasil atual.
“Essa identificação nasceu ainda na época das batalhas, onde toda semana meu talento estava em jogo contra MCs incríveis e eu precisava de uma disciplina intensa para continuar evoluindo. Nessa época, conheci livros como Bushido, Hagakure e a própria história do Miyamoto Musashi, o samurai mais famoso da história do Japão”, lembra o rapper, que complementa: “eu me identifiquei com muitas coisas ali e, a partir disso, formei parte da base do meu pensamento sobre rotina, dedicação e foco”.
Para dar vida a estes personagens, Rashid convidou a jornalista e apresentadora Adriana Couto, o publicitário Rodrigo Carneiro e o dublador Guilherme Briggs. Este último é figura conhecida por emprestar a sua voz para desenhos como Buzz Lightyear, Superman, Mickey e Samurai Jack.
“Queria trazer alguém da dublagem para trabalhar num álbum meu há algum tempo, mas ainda não tinha o lugar perfeito. Não imaginava que conseguiria um dos maiores dubladores do país para este trabalho atual”, comenta
Selo: Independente
Gênero: Indie, Alternative Rock, Pop, Synth-pop
Para quem gosta de: The Postal Service, Portished, The Cure
Com foco nas emoções e na intensidade dos amores, FogoFera, projeto de Adriano Cintra (Cansei de Ser Sexy) e Tiê, navega pelas ondas do pop/alternativo com direito a estética solta e bateria eletrônica acompanhando. Os riffs, teclados e melodias pops nos levam a entender as batidas de um coração em chamas, entre memórias e reavaliações internas.
Selo: Dobra Discos
Gênero: MPB, Indie, Folk
Para quem gosta de: Rubel, Cícero, Castello Branco, Marcelo Jeneci
Perdido lançou seu sexto disco em 2022 com direito a parcerias com Tiê, Teago Oliveira e Nana Lacrima. Com 23 minutos de duração e apenas 8 canções, as faixas trazem uma atmosfera leve, reflexiva, irônica e muitas vezes apaixonada sobre os romances da vida. “Reprise”, “Bolos e doces e milkshakes” e “Planeta” acabam se destacando ao longo do disco que tem apelo pop.
Selo: Before Sunrise Records
Gênero: Indie Rock, Alternative Rock, Shoegaze, Post-Punk
Para quem gosta de: RIDE, My Bloody Valentine, The Cure
O WRY, de Sorocaba (SP), lançou Aurora, seu oitavo álbum de estúdio. O disco é um marco dentro da carreira do grupo que lançou seu primeiro disco Direct, em 1998 ainda em inglês, e neste apresenta seu primeiro totalmente em português. O novo material também marca a estreia dos paulistas no selo Before Sunrise Records e suas temáticas evocam otimismo em meio ao cenário de caos vivido nos últimos anos no Brasil.
“Quando estávamos pensando no título, a gente analisou as letras, uma a uma, e vimos que tinha um fio de esperança reacendendo no que estávamos propondo com cada faixa. Juntando isso com a época em que o disco seria lançado, em plena eleição presidencial brasileira, não poderíamos pensar em outro senão ‘Aurora’, o que pra gente soou perfeito.
O primeiro clarão da aurora indica um novo dia, traz o sentimento de esperança, talvez até o otimismo, mas não nos diz exatamente como o dia será. Isso a gente vai descobrir conforme o tempo vai passando. Acho que o álbum é isso, uma meia esperança, um otimismo com cautela”, conta o vocalista e guitarrista Mario Bross.
Selo: Independente
Gênero: MPB, Funk, Soul
Para quem gosta de: Marcos Valle, Bee Gees, Clube da Esquina
O duo paulistano Festa Tempestade, formado por Zé Ferraz (baixo, violão, vozes, percussão) e Guilherme Tieppo (pianos/sintetizadores, violão/guitarra, vozes, percussão), apresentou em 2022 seu ótimo disco de estreia. Dentro do universo que o duo encaixa o disco eles o auto-denomina, como “Tropical Disco”, uma mistura entre o espírito latino, a brasilidade e o som envolvente das discotecas das décadas de 70 e 80.
É justamente a riqueza percussiva que desde “Vale” já abre os caminhos para o que está por vir por meio do existencialismo, assunto que ganhou ainda mais contornos durante o longo período de reclusão inerente a pandemia. O amor acaba também aparecendo, assim como o triângulo, tão forte em nossa música sertaneja. Já trazendo para si só a essência de misturar climas, melodias e possibilidades, uma marca da estreia dos paulistas.
Selo: Rockambole
Gênero: Indie Pop, Pop Rock
Para quem gosta de: Maglore e Tagua Tagua
Os porto alegrenses da (agora) Dingo apresentaram seu terceiro disco de estúdio, A Vida é Uma Granada, em 2022. A grande inspiração é a própria vida, entre suas curvas, obstáculos e desafios que surgem pelo horizonte. Com inspirações na música brasileira mas sem perder o pé no soul e outros ritmos que se consolidaram ao longo da sua trajetória, os arranjos elaborados com ecos do pop continuam a reverberar ao longo das 11 faixas apresentadas que carregam esperança e combustível para viver novas histórias.
“Pra gente a pandemia bateu muito forte. Não poder tocar, essa espera de um retorno dos shows, alguns projetos que estávamos planejando, tudo caiu por terra. Nos adaptamos como foi possível, o EP, o podcast, essas coisas nos mantiveram de algum modo ativos, mas sempre com aquela sensação de estar andando numa corda bamba. Andávamos por ela sem saber se no passo seguinte seguiríamos de pé ou viria uma queda de vez”, diz Rodrigo.
“Perdemos pessoas, tivemos filhos, mudamos de trabalho, de cidades, foi um período intenso e que nos chacoalhou bastante. Na retomada dos encontros, é como se agora a gente pudesse abrir um baú e muita luz esteja saindo dele. E é interessante perceber que algumas letras do disco nasceram antes mesmo da pandemia surgir. É curioso perceber como elas dialogam com o que vivemos durante esta fase e até mesmo com o que estamos vivendo ainda. De entender todo fim como um recomeço ou que a gente sempre guarda um sim dentro de nós. Um término. A volta. Bem interessante como as letras foram pincelando tudo isso e sem ser de propósito”, contextualiza o músico sobre o momento do lançamento
Selo: Oloko Records
Gênero: Rap, Hip Hop, MPB
Para quem gosta de: Emicida, Black Alien
A expectativa para o primeiro disco do Criolo em 5 anos era alta e ele trouxe à tona em seu novo material muito de si e com isso muita intensidade do momento vivido em seu entorno. Com direito a parcerias com Milton Nascimento, produção de Zé Gonzales do Tropkillaz, Mc Hariel, Liniker,Jaques Morelenbaum e a própria mãe, Maria Vilani. As marcas da pandemia, entre a perda da irmã aos retrocessos políticos e sociais do país dos últimos anos, como a repressão, a desigualdade e o desespero.
Selo: PWR Records
Gênero: MPB
Para quem gosta de: Bia Ferreira, Luedji Luna
Quatro anos após o sucesso de lançamento do seu debut autointitulado, a banda curitibana Mulamba lançou seu segundo álbum, Será Só Aos Ares, explorando diferentes ritmos da música popular brasileira e com participações de artistas que vêm, também, chamando atenção na cena nacional: Luedji Luna, Kaê Guajajara e BNegão.
O grupo, junto desde 2015, é formado só por mulheres e tem como uma de suas características a forte abordagem de críticas sociais em suas músicas. Em 2018 lançaram o seu primeiro álbum, mencionado em diferentes listas de melhores do ano.
Para quem esperava que as artistas fossem seguir a mesma linha melódica “roqueira” do debut, o amadurecimento musical de Será Só Aos Ares vem como uma prazerosa surpresa musical.
“Entendemos a importância do grito, do desassossego do primeiro disco, mas agora a gente caminha pra um momento de respiro, de querer falar em outro tom.”, conta a vocalista, Amanda Pacífico
Sem deixar de lado guitarras e batidas aceleradas, o disco utiliza bastante instrumentos de sopro e elementos da música afro-brasileira, jazz e eletrônica. Já nas letras, a banda firma a sua voz imponente, falando sobre questões sociais e ambientais (“Pachorra do Dotô”; “Barriga de Peixe”), desejo feminino (“Phoda” e “Lascívia”), além de versos intimistas sobre relacionamentos (“Hemisfério”; “Samba Pra Nunca Mais”).
“Ficaram muito claras as referências de cada uma no disco.”, completa
O disco, lançado pela PWR Records, segue um caminho calmo para falar sobre problemas importantes – e faz isso com maestria, alternando canções aconchegantes com outras feitas para causar desconforto.
Selo: DeckDisc
Gênero: MPB
Para quem gosta de: Jadsa e Xênia França
Com maior autonomia na produção, Josyara brilha em ÀdeusdarÁ, sua estreia na DeckDisc. Os arranjos bem elaborados e a potência de parcerias como a da nova ministra da cultura, Margareth Menezes, mostram um lado ainda mais refinado na musicalidade que consolidam ela como um dos grandes talentos da nova música baiana. O lado político e das lutas sociais aparecem com mais força neste trabalho que empodera e evidencia ainda mais seu prumo como compositora.
Selo: Balaclava Records
Gênero: Math Rock, Noise, Rock Alternativo, Experimental
Para quem gosta de: toe, CHON, Black Midi, Taco de Golfe
De Piracicaba (SP) e representando o math rock nacional em nossa lista temos a Odradek com seu terceiro disco de estúdio, Limial (Balaclava Records). Eles mesmos revelam que tentaram buscar para o disco um pouco mais do poder de fogo das suas apresentações. Sua pungência, intensidade dos acordes, bateria ritmada e progressões criam atmosferas que se acentuam com o interessante flerte com a música eletrônica.
“Nesse álbum, tentamos ao máximo capturar nossa pegada dos shows. Com certeza é nosso trabalho mais pesado, e ficamos felizes com o resultado. Esperamos que gostem.”, contaram os integrantes durante o lançamento
Selo: Independente
Gênero: Indie Rock, Dream Pop
Para quem gosta de: Papisa, YMA e Terno Rei
É interessante observar este lançamento de Sorocaba (SP) como um preparo para novos voos. Com canções que vão do rock alternativo a MPB, entre altos e baixos, a essência do registro mostra caminhos possíveis a serem explorados e uma evolução em relação aos trabalhos anteriores. A produção permite canções que podem funcionar tanto como singles mas também como trilha sonora, esse é o caso, por exemplo, da ótima “Gostosinha”. O tom das canções é bastante pessoal, reflexivo e com espírito jovem. A sensação que fica é de que elas podem ainda mais e esse é apenas o começo.
Selo: Mataderos
Gênero: Pop, Rap, R&B
Para quem gosta de: Tássia Reis e Linn da Quebrada
Com canções que já vinham sendo trabalhadas a quase 3 anos, o lançamento do álbum completo apenas ajuda a consolidar a potência do discurso de Urias. Além do lado dançante e com rimas, a artista mostra no disco cheio um tom ainda mais intimista e um prumo na produção dividida entre Zebu, Maffalda e Gorky. É justamente a intensidade e as camadas de um pop muito bem feito que levam para a pista um disco plural, que vai do agito a contemplação.
Selo: Independente
Gênero: Rock, Pop Psicodélico
Para quem gosta de: Cidadão Instigado e Giovani Cidreira
Cantor, compositor, guitarrista, produtor musical e artista plástico, Fernando Catatau é fundador da banda Cidadão Instigado e uma das figuras mais icônicas do cenário independente brasileiro. Com mais de duas décadas de carreira ao lado do grupo, ele lança seu primeiro álbum solo.
O contexto se dá após voltar para Fortaleza depois de 15 anos morando na capital paulista, a retomada as origens inspirou o disco que levou 4 anos para ser elaborado. A imersão na cidade e na cena artística, das festas de Reggae ao underground pós apocalíptico trazem uma diversidade de cenários, nostalgia e vivências.
Selo: DeckDisk
Gênero: Crossover, Thrash Metal, Hardcore
Para quem gosta de: Ratos de Porão, Câmbio Negro, Devotos
Do interior de Minas Gerais, a banda Black Pantera foi formada em abril de 2014, na cidade de Uberaba (MG), pelos irmãos Charles Gama (guitarra, vocal, letras) e Chaene da Gama (baixo) juntamente ao baterista Rodrigo “Pancho” Augusto. Para celebrar as conquistas destes 8 anos de trajetória, entrevistamos um dos principais nomes do Thrash Metal/Crossover brasileiro atual para contar mais sobre o recém-lançado, Ascensão, terceiro álbum de estúdio do trio que foi lançado em março via Deck.
Ao longo das 12 faixas, o disco que aborda a causa ambiental, denuncia o preconceito contra corpos fora do padrão e ataca o retrocesso instaurado pelo governo, traz também participações do trio curitibano Tuyo e de Rodrigo Lima, vocalista da banda capixaba Dead Fish. Ascensão é o sucessor dos discos: Black Pantera Project (2015) e Agressão (2018).
Selo: Shinigami
Gênero: Crossover, Thrash Metal, Hardcore
Para quem gosta de: Cólera, Fogo Cruzado, Sepultura, Lobotomia
Depois de comemorar seus 40 anos de serviços prestados ao hardcore o Ratos de Porão lança nesta sexta-feira (13) seu primeiro álbum desde 2014. Produzido pela própria banda, o álbum foi gravado no no estúdio Family Mob em São Paulo, durante outubro de 2021, e hoje ganha a luz escrachando as trevas e mazelas vividas durante o governo Bolsonaro.
A fome, a inflação, as ameaças de rompimento com a democracia, a corrupção generalizada, os retrocessos, a ascensão da extrema direita e a pandemia acabam entrando dentro das temáticas exploradas ao longo das oito faixas presentes em Necropolítica.
A sensação de estar revivendo o pesadelo econômico e social dos tempos da ditadura também serviram como combustível para o disco que até poderia levar o nome de “Brasil parte 2”, referência ao clássico do Ratos lançado em 1989, feito a podridão e o descaso instaurado no país que vive seu pior momento desde a democratização.
Com o mesmo espírito do começo da banda, o novo registro traz uma dura realidade e exorciza os males causados pelas políticas erráticas e o retrocesso visível instaurado pela gestão de Jair Messias Bolsonaro. Mostra como vivemos atualmente em um país cada vez mais desigual onde “castas” vivem as mordomias e outros tem que comer ossos de boi.
Selo: SB Music
Gênero: Pop, Funk, Eletrônica
Para quem gosta de: Grag Queen, Lia Clark, Aretuza Lovi, Pabllo Vittar, Ludmilla
O segundo álbum de Gloria Groove a consolida como um das principais nomes do pop contemporâneo brasileiro, o lançamento ainda permite muitas participações especiais de nomes como Sorriso Maroto, Marina Sena, Tasha e Tracie, MC Hariel, MC Tchelinho e Priscilla Alcantara, e produção de Pablo Bispo e Ruxell. Misturas ritmicas e apostas tanto em singles como em excelentes videoclipes mostram a potência artística que vão além do ofício do canto. Gloria parece não ter problemas em transitar por ritmos e o material vai do hip hop, passando pelo funk, trap, R&B e o pop. Fazendo isso até parecer fácil.
Selo: Independente
Gênero: Rock, Alternativo, Folk
Para quem gosta de: Lupe de Lupe e Apeles
O quarto disco da carreira solo do músico, cantor e compositor Jair Naves, Ofuscante a beleza que eu vejo, chegou em maio nas plataformas digitais. O material tem produção do próprio Jair ao lado do engenheiro de som Zeca Leme (BTG Estúdio) que já trabalhou com ele nos últimos trabalhos. Com o DNA da pandemia, o disco foi produzido de maneira remota com poucos encontros presenciais em estúdio.
O registro conta com 13 faixas e talvez seja o álbum com maior liberdade, tanto estética como de conceito da sua carreira, sendo experimental, com direito a ruídos, melodias, arranjos de piano e composições bastante íntimas, como de costume. A tristeza, da revolta e do medo que o consumaram durante os dois últimos anos, e também uma ressignificação sobre o momento, pautado nas consequências e no despertar para o futuro que está logo ali, ele crava em seus versos um lado crítico e existencialista mas sem perder a sobriedade e firmeza que o momento clama.
“Faz algum tempo que eu venho pensando em maneiras de usar as vozes de forma menos convencional, de tratá-las com a mesma mentalidade que dedicamos aos outros instrumentos. Ou seja, tentarmos coisas novas no que diz respeito ao tratamento dos vocais. O piano, assim como os sintetizadores e os elementos eletrônicos, vieram de uma vontade de ter uma autossuficiência maior enquanto músico, de não depender tanto do resto da banda para executar as minhas ideias, já que durante a maior parte de 2020 e 2021 não se cogitava reunir todo mundo sob o mesmo teto.
Comecei a estudar piano quando a pandemia estourou, e logo tentei desenvolver algumas ideias para músicas novas naquela linguagem. Como não é meu instrumento de formação, sinto que alguns vícios de composição que eu tenho quando pego um violão ou uma guitarra não aparecem. Foi bem libertador nesse aspecto”, revela Jair sobre a nova companhia do piano, dos sintetizadores e de estéticas mais soltas presentes em Ofuscante a beleza que eu vejo
Selo: Difusa Fronteira
Gênero: Pop Rock
Para quem gosta de: O Terno e Dingo
Uma coisa é certa: depois de dois longos anos dentro de casa, com pouco contato humano, muita coisa mudou. Se não somos mais os mesmos de ontem, quem dirá de dois anos atrás. E claro, muita coisa aconteceu e fez com que nos questionássemos sobre nossa própria vida e existência.
Nesses tantos questionamentos, a gente muitas vezes esquece de perceber as coisas boas que acontecem, mesmo que mínimas que sejam. São tantas preocupações, tantas perguntas, que muitas vezes o presente passa despercebido e a gente simplesmente não vê que, no final, tudo é uma aventura. E o que vale, no final das contas, são as histórias pra contar. Nem que seja para fazer nossos amigos rirem em uma mesa de bar.
E é trazendo essa ideia que a Maglore lançou no final de março o single “A Vida É Uma Aventura”, escolhido para apresentar o quinto álbum da banda, intitulado de V. Com uma forma bem-humorada de falar sobre os percalços do dia-a-dia, a faixa traz uma reflexão sobre a importância de celebrar a vida apesar das crises.
É o detalhe e os arranjos que fazem o disco crescer, entre metais e canções que nos levam para lugares confortáveis sempre com o amor como norte. Com atmosfera imersiva, o quinto álbum de estúdio é daqueles ótimos do reencontro após tanto tempo longe do calor dos palcos. Faz reverência a grandes heróis da música brasileira e mundial mas sem perder o espírito cancioneiro em um álbum onde todos puderam mostrar um pouco mais de sim. Deu ginga, deu liga e o público agradece a possibilidade de ver isso se materializar.
Selo: Zelo
Gênero: MPB, Samba, Reggae, Bolero, Pagodão Baiano, Afro beat, Ijexá
Para quem gosta de: Josyara, Céu, Marina Sena
Uma das revelações do ano foi justamente a cantora baiana Rachel Reis que apresentou seu debut, Meu Esquema. Com o hit “Lovezinho” a artista ainda apresenta entre o repertório de 11 músicas uma parceria com a paulista Céu em “Brasa”. O material lançado em Setembro, inclusive, reuniu os produtores do EP passado, Cuper e Zamba, ao lado do pernambucano Barro e de Guilherme Assis. Bastante tropical, a mistura rítmica dá corpo em um álbum envolvente que vai crescendo a cada nova audição.
Selo: Balaclava Records
Gênero: Indie Rock, Pop Rock
Para quem gosta de: eliminadorzinho, Raça, Adorável Clichê
Precisou de três coisas para o Terno Rei criar o seu novo álbum Gêmeos: a nostalgia da juventude dos integrantes, a amizade entre eles e uma boa dose de pop. Com 12 anos de estrada, Ale, Loobas, Bruno e Greg entregaram seu quarto álbum dia 9 de março, o mais bem produzido e arranjado até agora. Com mais de um ano e meio desde as composições até seu lançamento, a banda conta que participou de todos os processos do disco. “Até a letra do rodapé do projeto gráfico do CD foi pensada em conjunto’‘, conta Ale.
Depois do dia 1 de fevereiro de 2019, os quatro integrantes do Terno Rei não esperavam o que iria acontecer nos anos seguintes até chegarmos aqui. Com o lançamento de Violeta (2019), os meninos viram seus shows esgotando em poucos dias, cambistas na porta vendendo o ingresso por preços exorbitantes, filas gigantes de fãs esperando por um autógrafo, os números de streams crescendo rapidamente e seus nomes no line-up do Lollapalooza.
Antes de sair o terceiro disco, Loobas conta que muita coisa passava pela cabeça deles.“Depois de véio você começa a repensar, né? A gente tá com 30 anos nas costas, vamos continuar esse sonho de moleque? Quando começamos éramos pessoas cheias de vigor aos 20 anos, não que não sejamos mais, mas com 30 anos você já começa a repensar.”
De 2019 para cá algumas coisas permanecem, como os synths tão presentes em algumas músicas como em “Difícil” e “Sorte Ainda”. Mas Gêmeos trouxe muitos instrumentos e nuances que ainda não haviam sido exploradas em outros trabalhos, como o violão de “Brutal” e “Aviões”, o sax em “Isabella” e as cordas em “Internet”. O que é constante é uma mix limpa, onde se pode ouvir todos os detalhes, até mesmo a bateria mais lenta do Loobas. Isso só foi possível por conta da produção de Amadeus De Marchi, Gustavo Schimer e Janluska, que estavam presentes desde a pré-gravação e ajudaram a dar o tom desse projeto.
“É um disco que a gente experimenta muito e que tem a produção bem cheia. Ele é experimental, embora ele seja muito pop. Você vai ouvir a mão leve do Loobas na batera, a melancolia na letra e na voz, você vai ouvir guitarra limpa, e nesse álbum você vai ouvir as camadas de synths em várias músicas. A gente tenta trazer mais distorção na guitarra e refrões mais chiclete. “Dias da juventude” é uma música um pouco mais upbeat, com um lado um pouco mais solar. A gente carrega nosso DNA, mas traz experimentação tanto de vibe, quanto de instrumento.”, diz Ale sobre o conjunto da obra.
Selo: Samba Rock
Gênero: Samba, MPB, Jazz, Bossa Nova
Para quem gosta de: Claudette Soares, Joyce, Elza Soares
Aos 86 qnos de idade e com produção de Marcus Preto e Emicida, Alaíde Costa nos entrega um disco com muita classe onde o passado e o presente se confundem. A direção musical é de Pupillo Oliveira (Nação Zumbi) e mostra uma artista que tem a experiência do passado mas que olha para o seu tempo, o hoje. Com canções fruto de colaborações de grandes e novos artistas, como Erasmo Carlos, Tim Bernardes, Emicida, Céu e Ivan Lins, o disco mostra o poder, intensidade e leveza que a artista trás na hora de cantar. Daqueles discos que valem ouvir direto da vitrola.
Selo: Gigantes
Gênero: Hip-Hop, Rap, R&B
Para quem gosta de: Djonga, Sant e Emicida
Abebe Bikala, o BK, continua se mostrando a cada lançamento como um dos nomes mais interessantes e inovadores do rap nacional. Ele mapeia diversos assuntos e reflexões internas e na hora de colocar a caneta para trabalhar em sua escrita trás inspirações até mesmo épicas, como na faixa título isso se evidencia. JXNV assina a produção e até mesmo colaboração com L7NNON acaba entrando em “Lugar na Mesa”. Tem espaço para Funk, para o Rap, para o R&B e até mesmo parcerias com Julia Mestre, Marina Sena, Bebé e o excelente Luccas Carlos acabam dando mais brilho para o sucessor de Gigantes.
Selo: Independente
Gênero: MPB, Soul, Jazz
Para quem gosta de: Xênia França e Serena Assumpção
Depois de impressionar a todos com Bom Mesmo É Estar Debaixo D’água (2020) a baiana Luedji Luna volta a nos surpreender com a versão deluxe que nos trás 10 canções inéditas, entre colaborações com Linn Da Quebrada, Yoùn, N.I.N.A. e Mereba.
“Quero visitar um lado meu da composição e do canto, pouco explorado por mim. É um disco que com certeza vai surpreender o público que acompanha meus trabalhos, mas ao mesmo tempo acho que vai dialogar com um outro universo. Fazer arte é se arriscar! Tem sido assim desde o meu primeiro disco”, disse Luedji no texto de apresentação do trabalho.
Selo: Independente
Gênero: Rap, Hip Hop
Para quem gosta de: Emicida, Djonga, Kamau
De Pelotas, no Rio Grande do Sul, o rapper expõe a continuação da via-crúcis do artista na travessia geográfica e existencial de Pelotas (RS) para São Paulo (SP), cidade onde Zudzilla vive desde 2018. O material reúne 12 faixas com direito a participações especiais de Dario, Wesley Camilo (Osasco/SP), Cronista do Morro (BA) e muita ancestralidade, com direito homenagem emocionante a mãe e citação a Ra Un Nefer Amen, líder espiritual africano. Sua narrativa com começo, meio e fim emociona. O material ainda conta com um feat com o rapper paulistano Emicida.
Selo: 999
Gênero: Hip-Hop, Rap, R&B
Para quem gosta de: Don L, Emicida e Tuyo
Fazia tempo que Baco Exu do Blues não lançava um álbum emblemático como Bluesman (2018) e QVVJFA? veio ao encontro para superar qualquer expectativa neste sentido. Nele ele se despe para falar sobre fracassos, sexo, romances, vivências, identidade e até mesmo autoestima. Se colocar no lugar da fraqueza e de que pode errar é justamente o que faz ele se elevar como artista de forma colaborativa, algo que se reflete na riqueza das colaborações em seus shows. Ele ainda reverencia a música brasileira com fragmentos de “Lágrimas Negras”, de Jorge Mautner, interpretada por Gal Costa, em “Lágrimas” e em “Imortais e Fatais 2”, em que carrega trechos de “Tempo de Amor”, de Vinícius de Morais e Baden Powell.
Selo: Taurina
Gênero: MPB, R&B, Neo-Soul
Para quem gosta de: Céu e Tulipa Ruiz
Um dos melhores discos do ano é Sal da Anelis Assumpção. O disco explora os significados e nuances do sal como ponto de equilíbrio da vida. O conceito é inspirado nas movimentações e reorganizações dos corpos femininos no mundo.
Um disco que soa grandioso desde sua primeira faiza e que conta com ricas participações de mulheres como Larissa Luz (“Uva Niágara”), Luedji Luna (“Benta”), Céu (“Violeta blue”), Jadsa (“Empírica”), Mahmundi (“Rasta”), Thalma de Freitas (“Manadeiro”), Dona Anicide (“Sinhá sereia”), Josyara (“Pouso de ave rara”), Iara Rennó (“Sangue mioma”) e Maíra Freitas (“Clitórias”).
“Cada mulher dessa — produtora, cantora e compositora — trouxe pra dentro do meu trabalho a sua identidade e a sua assinatura. Eu acho que isso também me fez olhar e escolher especialmente cada uma delas. Algumas com mais tempo de carreira em estrada, outras com menos, no entanto com uma assinatura e uma identidade muito definida na musicalidade, no propósito dentro da arte e da música”, resume Anelis.
Selo: Independente
Gênero: Neo-Soul, R&B, MPB
Para quem gosta de: Luedji Luna e Giovani Cidreira
5 anos após do seu elogiado debut, Xênia França apresenta Em Nome da Estrela. Um álbum que mura a ancestralidade e os futuros possíveis em busca da felicidade. Com direito a parcerias com Luiza Lian (“Dádiva”), Rico Dalasam (“Já É”), Arthur Verocai (“Ânimus”) e até mesmo tendo espaço para uma releitura de “Futurível”, faixa lançada originalmente por Gilberto Gil.
Selo: Brocal
Gênero: Pop Rock, MPB
Para quem gosta de: Karina Buhr e Céu
Um disco pós-confinamento com todas as consequências do universo interno e externo se refletem ao longo da jornada de Habilidades Extraordinárias. A parceria com o irmão Gustavo Ruiz ganha dialoga perfeitamente com o momento em que está sendo lançado e sua inventividade continua a renovar a nossa MPB. O disco conta com participação de Negro Leo na funkeada “Pluma Black”, “Não Pira” explora o funk carioca e “Vou te Botar no Pau” vai em direção do rock. O que mantém ele um disco inventivo e cheio de possibilidades. João Donato, por exemplo, participa de “O Recado da Flor”.
“Na última vez em que eu e meu irmão e parceiro musical Gustavo fomos à embaixada estadunidense para tirar mais um visto de trabalho, desta vez para tocar no Lincoln Center nova-iorquino, o cônsul cumpria a lista de perguntas protocolares durante a entrevista quando uma delas quebrou a modorra. De repente, ele perguntou se tínhamos alguma habilidade extraordinária. Como assim, habilidade extraordinária? Praticar Parkour? Trapézio? Voar? Achei bizarro e, meio sem graça, meio sem habilidade, respondi não. Gustavo foi mais sagaz: sim, temos. Ganhamos um Latin Grammy. Ouviu-se um ‘Whaaaaaaaaat?’ demorado, seguido por um silêncio no ambiente. O cônsul ficou passado no ferro de Iansã. ‘Grammy winners? OMG, con-gra-tu-la-tions!’. E carimbou nosso visto na hora, perguntou nossos nomes artísticos, vibrou. Mais tarde fiquei sabendo que existe um tipo de visto de trabalho para os Estados Unidos facilitado aos indivíduos que alcançaram a excelência nas suas áreas de atuação, seja na ciência, nas artes, educação, negócios ou atletismo. O requerente tem de cumprir uma longa lista de critérios ou ser ganhador de um prêmio com reconhecimento internacional, como um Nobel ou um Grammy.
Apreciei a chancela. Afinal, nós artistas temos o papel de Embaixadores da nossa cultura e, sobretudo agora, a responsabilidade de contar ao mundo o que se passa aqui, onde somos atacados por fazer arte em nosso próprio país. Foi importante recebermos esse reconhecimento de nossa excelência, pois fazer música no Brasil de hoje configura, sim, uma habilidade extraordinária. Ser uma mulher autora, ganhadora de um prêmio dominado pela indústria em um país onde a maior parte da arrecadação de direito autoral privilegia os homens é, sim, uma habilidade extraordinária. Sermos autores e produtores de um dos únicos discos brasileiros independentes a ganhar um Grammy, também configura. À medida que fui incorporando a expressão ao meu dia a dia, passei a enxergá-la em muitos lugares e intuí que ela daria nome ao meu próximo disco. Com tanta coisa acontecendo dentro e fora da gente, na sociedade, com a pandemia, com o jabá́ do algoritmo, com os devotos do fascismo, com tanto baixo astral no planeta, passei a reconhecer como habilidades extraordinárias coisas que antes via como gestos cotidianos, absolutamente normais. Como levantar da cama ou conseguir dormir, como sair e voltar para casa sozinha e em paz sendo uma mulher. Viver e resistir neste contemporâneo é, sim, mais uma habilidade extraordinária”, conta Tulipa sobre a escolha do nome do álbum
Selo: Before Sunrise Records
Gênero: Neo-Psicodelia, Psicodelia, Alternative Rock, Experimental, Pós-Punk
Para quem gosta de: Boogarins
Formada por por Yves Deluc (guitarra e voz) e Fábio Aricawa (bateria e voz), a banda sergipana Cidade Dormitório lançou seu segundo álbum de estúdio, RUÍNA ou O começo me distrai, com direito a temáticas sobre a cibertecnologia e baixo galmour técnico. A mistura delirante entre psicodelia, post-punk, sentimentalismo, modernidade, estética lo-fi e experimentalismo. Com guitarras delirantes e leveza, o material assim como o disco anterior, parece criar imagens etéreas para que o ouvinte possa se emancipar por alguns instantes do mundo acelerado, conectado, acachapante e confuso em que vivemos.
“Temáticas que já versavam sobre distâncias, causos do cotidiano e experimentalismos de baixo glamour técnico tomam agora um contraste que estende ainda mais as geografias possíveis. Cibertecnologia e a modernidade são algumas das coisas que perpassam pelo disco”, conta Yves.
Selo: Som Livre
Gênero: Hip-Hop, Rap, Rock
Para quem gosta de: Marcelo D2, Black Alien
Após 22 anos sem material inédito o Planet Hemp volta a lançar um disco às vésperas de uma das eleições mais importantes da história do país. Na linha de frente a formação atual conta com Marcelo D2, BNegão, Formigão, Pedro Garcia e Nobru. No ano que vem o grupo celebrará inclusive seus 30 anos de história e sua discografia conta Usuário (1995), Os Cães Ladram Mas a Caravana Não Pára (1997), A Invasão do Sagaz Homem Fumaça (2000) e agora com Jardineiros (2022).
Rock, rap, funk, funk metal, punk rock, hardcore, reggae, jazz, bossa-nova e até samba, todos ritmos fazem parte da história do grupo ao longo de sua discografia que tem como referências nomes que vão de Run-DMC a Dead Kennedys, Bad Brains a Cypress Hill, Bezerra da Silva a John Coltrane.
Explosão, confusão, crítica social afiada e linha de frente. A volta do Planet Hemp não poderia carregar elementos que nos mostrem um pouco mais do DNA ativista, contra o sistema vigente e repudiando a onda de retrocesso político e social recorrentes nos últimos anos no país. No meio disso a “Distopia” em que vivemos é o que centraliza a narrativa do primeiro disco do supergrupo carioca que vai do rock’n’roll ao rap, do funk ao dub sem pedir passagem em mais de duas décadas.
“O Planet Hemp sempre foi um movimento de contestação. As nossas letras, que um dia já nos levaram pra prisão, são o reflexo do que a gente pensa sobre esse sistema, sobre o ideal coletivo e a nossa forma de expressar através da música o nosso manifesto. Vai muito além de um discurso político, é um discurso musical muito mais profundo sobre liberdade de pensamento”, diz o grupo sobre o cunho político da canção e sua identidade
Para o novo trabalho o grupo convocou para a produção um time de grandes nomes da indústria fonográfica para trabalhar junto. Nave, Mario Caldato (responsável pela finalização do álbum em Los Angeles, nos Estados Unidos) e Zegon (integrante do Tropkillaz). O último, inclusive, começou a sua carreira nos anos 90 como DJ da banda. Já Caldato, havia trabalhado com o Planet Hemp no disco Os Cães Ladram Mas A Caravana Não Para; como produtor ele já assinou trabalhos de artistas como Jack Johnson, Yoko Ono, Seu Jorge e Nação Zumbi.
“Este disco é muito diverso, como é a história do Planet Hemp: não tem uma música muito parecida com a outra. Ter esse time de produtores com a gente nessa empreitada foi fundamental para chegarmos nesse resultado”, diz BNegão, integrante da banda
Selo: Coala Records / Psychic Hotline
Gênero: Indie, Folk
Para quem gosta de: O Terno e Rubel
5 anos após lançar Recomeçar (2017) o vocalista d’O Terno, Tim Bernardes, lança seu segundo álbum em carreira solo com direito a muitas confidências, canções sobre vivências pessoais e uma boa dose de elementos descritivos que criam cenários que permitem uma autoidentificação com o ouvinte.
O rumo da vida, dissabores, amores e recordações de família acabam entrando dentro das temáticas que dialogam olhando para o retrovisor só que de forma ainda mais sóbria que o disco anterior. O diálogo sendo franco e aberto com o ouvinte permitindo assim uma troca silenciosa. Uma das marcas do registro também fica por conta do minimalismo e a escolha estética de um lançamento que conta a história como se abrisse um livro de memórias recentes.
Selo: Máquina de Louco
Gênero: MPB, Samba
Para quem gosta de: BaianaSystem e Curumin
A arte dos encontros deve sempre ser celebrada e quando este é bastante aguardado, a coisa toda parece que ganha um cenário ainda mais cheio de elementos. O encontro entre Russo Passapusso (BaianaSystem) com a dupla Antonio Carlos & Jocafi é uma verdadeira homenagem a riquíssima história da música baiana. Celebra os ritmos, a dança, a grandeza dos movimentos e seu caráter contemplação. A produção é inclusive assinada em conjunto por Curumin, Zé Nigro e Lucas Martins. A arte dos encontros ainda continua nas participações, de Gilberto Gil (em “Mirê Mirê”), Karina Buhr (em “Olhar Pidão”) e uma homenagem simbólica em “Catendê.
É claro que uma lista com 50 Melhores Álbuns Nacionais (2022) ia contar também com uma playlist no Spotify para você conhecer tudo!
This post was published on 4 de janeiro de 2023 11:00 am
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