Maglore celebra as boas histórias e encara a vida como uma grande aventura às vésperas de lançar “V”
Teago Oliveira em entrevista para o Hits Perdidos revela o momento da Maglore
Uma coisa é certa: depois de dois longos anos dentro de casa, com pouco contato humano, muita coisa mudou. Se não somos mais os mesmos de ontem, quem dirá de dois anos atrás. E claro, muita coisa aconteceu e fez com que nos questionássemos sobre nossa própria vida e existência.
Nesses tantos questionamentos, a gente muitas vezes esquece de perceber as coisas boas que acontecem, mesmo que mínimas que sejam. São tantas preocupações, tantas perguntas, que muitas vezes o presente passa despercebido e a gente simplesmente não vê que, no final, tudo é uma aventura. E o que vale, no final das contas, são as histórias pra contar. Nem que seja para fazer nossos amigos rirem em uma mesa de bar.
E é trazendo essa ideia que a Maglore lançou no final de março o single “A Vida É Uma Aventura”, escolhido para apresentar o quinto álbum da banda, intitulado de V. Com uma forma bem-humorada de falar sobre os percalços do dia-a-dia, a faixa traz uma reflexão sobre a importância de celebrar a vida apesar das crises.
Clipe da música “A Vida É Uma Aventura”
Entrevista com a Maglore
Questionado se a música surgiu no período da pandemia e todos os sentimentos provocados pela época, Teago Oliveira, vocalista da banda, responde:
A música surgiu antes da pandemia, ela foi a primeira música que trabalhamos, lá em 2019. Quando a pandemia começou, ela fez mais sentido e conforme a onda foi passando (mas infelizmente ainda não acabou) a música começou a fazer mais sentido ainda. É engraçado como histórias conseguem fazer mais sentido com o passar do tempo.
Teago também conta que o processo para escolher a música como single foi natural, pois ela engloba quase todos os elementos que existem em cada uma das outras faixas.
“É uma canção cheia de arranjos, é como se fosse a capa do livro. Esse é um disco plural em linguagem e em estética. Muitas músicas foram compostas por Luquinhas, o que traz uma outra visão, também. A gente conseguiu condensar a coisa de música brasileira, rock dos anos 50-60, pop, psicodelia, e até algo de “reggae” dentro do universo da banda, que é peculiar. E fomos fazendo isso à vontade, mas enxergando os limites de cada canção. O disco fala muito do mundo de hoje, também, e como sempre é comum nos discos da Maglore, tem as canções de amor, só que sempre com uma visão diferente.”, comenta
A Sonoridade e a autocobrança do novo disco
Apesar de trazer diversas influências de ritmo, tanto no novo single quanto ao longo de sua carreira, a Maglore é considerada por muitos ainda, como uma banda de rock. Mas eles não se prendem ao rótulo.
De acordo com Teago: “A gente não é muito “Rock”, convenhamos, né? A gente acaba sendo rotulado, o que é normal, pois é uma banda com guitarra, baixo, bateria e teclado, algo super convencional no mundo do “rock”.
Os roqueiros não nos consideram rock. Tá tudo bem também. A gente tem muito de bossa, de música baiana, de samba, enfim, a gente tem um universo fora do rock, eu acho a banda mais mpb, mas algum estilo tem que dar nome ao que fazemos, então foca como rock, pop rock (esse termo é muito anos 90 inclusive), indie. No final das contas a gente não liga pra isso, não.”
Além de não se prenderem aos rótulos, também não há autocobranças em relação a eles mesmos e ao trabalho. Considerando que o último disco lançado pela banda (Todas as Bandeiras), foi muito elogiado pela crítica e pelo público:
“A gente sabe o que a gente acha dos nossos discos. Nossos gostos pessoais às vezes são diferentes da crítica e do público e achamos isso natural. A única coisa que nos preocupamos é se estamos lançando algo que faz sentido pra nós. Se não fizer, não lançaremos nunca. É uma forma que eu vejo de respeitar quem admira meu trabalho, porque eles confiam no que eu faço e eu tenho o maior respeito por isso.”
No final, a letra da nova música nos tranquiliza, trazendo uma mensagem de sobrevivência e que, apesar de tudo, a gente vai conseguir superar as coisas, principalmente por conta do tempo.
A gente vive uma enxurrada de acontecimentos e emoções nos tempos de hoje, vamos assimilar tudo isso mais futuramente, se houver chance de sairmos desse “piloto automático” que a sociedade se meteu. O tempo não é bom nem ruim, ele está aí pra nos mostrar a verdade.”, pontua Teago sobre o tempo ser fundamental para enxergar as coisas de outra forma.
Falando em tempo, o período sem tocar e ter contato com o público foi bastante longo, ainda mais pra uma banda que estava acostumada a estar na estrada com frequência. Sobre a volta dos shows, o vocalista diz:
Tem sido a nossa melhor fase. Nossa relação com a música deu uma embaralhada nos últimos anos, por conta da pandemia. Com a volta dos shows parece que uma parte da gente voltou pro lugar, afinal foram 10 anos tocando sem parar, de janeiro a janeiro. Eu acho que nosso show está melhor, a gente tá diferente, não sei explicar ainda.”
As Conquistas (Inesperadas) de Teago como Compositor
A boa fase da banda parece ter sido apenas interrompida, já que em 2019, a Maglore já colhia alguns frutos bem legais. Além da gravação de “Não Existe Saudade no Cosmos” por Erasmo Carlos, houve a regravação da música “Motor”, por ícones da música brasileira como Gal Costa e Pitty.
Teago conta como foi saber sobre isso: “Até hoje eu me pergunto como isso aconteceu e, se realmente eu tivesse combinado com elas, não aconteceria. É algo que agradeço até hoje e vou agradecer sempre. Quando um sonho seu se realiza, sua obrigação é agradecer pra sempre.”
Ainda em 2019, o quarteto lançou o primeiro DVD da carreira e o vocalista conta que quer gravar outro mais para frente, com arranjos diferentes de músicas antigas e mais músicas novas. Sobre a melhor memória daquele dia, diz: “Acho que a melhor memória foi o dia inteiro, mesmo. Tudo naquele dia deu certo e o público foi responsável por 90% disso.”
Com mais de dez anos de carreira, a banda pegou toda uma mudança no mercado fonográfico, indo das plataformas tipo o bandcamp e o famoso download, para as plataformas de Streaming, de fato. Ao ser questionado se essas plataformas são uma forma mais fácil das pessoas conhecerem novas bandas e darem chance a elas e se isso faz com que o mercado de música se torne um pouco mais “aberto”, Teago é certeiro:
O mercado é como um vírus. Pro bem e pro mal. Hoje é mais fácil conhecer muitos sons novos e é mais difícil um artista ser bem remunerado pela sua obra, por isso vemos (sem juízo de valor algum) tantos artistas serem influencers ou irem pra outras áreas buscarem visibilidade, principalmente no começo da carreira. A música sempre vai ter seu valor, mas hoje em dia ela não é o que valora mais um artista. É o like, os seguidores. Faz parte do jogo. É tudo cada vez mais aleatório. Não julgo, é o mundo, temos que acompanhar.”
Leia o nosso texto sobre a Era do Artista Influencer
Seja acompanhar o mercado ou o mundo, a gente pode resumir tudo como a própria banda está cantando por aí: A vida é uma aventura. Sobre quais aventuras já viveu e ainda quer viver, o cantor responde:
Acho que a maior aventura eu ainda estou vivendo e quero viver sempre, que é fazer o que se ama, viver disso, transformar a realidade, imaginar coisas e ver elas acontecendo, criar, continuar sonhando e indo atrás dos sonhos. É uma aventura porque as pessoas não têm noção do quanto é difícil e desafiador, mas a gente faz porque precisa, porque é parte da gente.”