Os 25 Melhores Clipes Independentes de 2020 - Jup do Bairro e Mulambo
Como vocês sabem todos os meses os listões de videoclipes acabam refletindo nas escolhas dos Favoritos do Hits Perdidos. Cada uma ao seu estilo, alguns com muito recurso, outros com pouco, alguns optam pela animação, outros por um roteiro criativo, alguns usam da metalinguagem, outros dramatizam mas no geral um videoclipe celebra o encontro das artes. O cinema, o teatro, a animação e a música. Chegou a hora de conhecer quais são os 25 Melhores Clipes Independentes de 2020 segundo o Hits Perdidos.
A resposta a onda fascista ganha um clipe com uma ótima fotografia, e produção, em “Dias Melhores” do Faca Preta. O vídeo da banda de punk rock foi dirigido por Marco Antônio Ferreira e produzido por Camila Justino.
Pessoas que nunca imaginávamos, acabaram demonstrando uma face sombria, que sempre esteve escondida dentro delas. A faixa fala sobre como é estranho se reconhecer em meio à tanta gente perversa e avessa aos direitos mais básicos dos seres humanos, e de como a elite realmente enxerga a classe trabalhadora.
Apesar de estarmos vivendo um dos momentos mais obscuros da história, dias melhores virão, com certeza. Não devemos parar de lutar”, afirma o guitarrista Anderson Boscari
“Com o avanço da tecnologia, as fake news foram base para as pessoas que acreditam nessa ideologia. Atrás de máscaras, que se impõe através da violência, criaram uma milícia digital que se instalou com a ilusão de que calaria o povo. Porém, a liberdade sempre começou no caos, no grito de saturação do pensamento do oprimido, e ao invés de nos calar, nos deu mais força para lutar”, reflete o diretor.
“Povo Brasileiro” do alagoano Janu tem a participação de Paulo Franco, da banda Gato Negro. A faixa faz um paralelo com a obra homônima do sociólogo Darcy Ribeiro.
Já o clipe conta com imagens do curta metragem “Ícaro, Não Vai Ter Copa!”, cortesia de Siloé Oliveira, que mostra as muralhas da desigualdade social ao mesmo tempo que dialoga sobre a politização de um símbolo que anteriormente significava unidade nacional.
“Eu, modestamente, tento em uma música condensar 5 anos (2013 a 2018) que contribuíram para resultar no que estamos hoje. Uma panorama redondinho que fala das manifestações de 2013, a humilhação brasileira do 7×1 que influenciou nas péssimas escolhas de 2018, além de, é claro, o tal cão no cio que é o pensamento fascista, hoje, sentindo-se mais livre. A música surgiu com a necessidade de comunicar: fazer uma letra direta e sem rodeios para tentar chegar no Brasil todo”, reflete Janu
Sebastianismos (francisco, el hombre) lançou o videoclipe para “Calma” inspirado no “Entrevista com Vampiro” da escritora norte americana Anna Rice.
A faixa que conta com a parceria do Jaloo foi gravado em um casarão na cidade de São Paulo, conta com a direção de Gabriela Mo e a produção de Gabriela Mangieri. O figurino é assinado por Bru Fernandes com a produção de Claudia Bezerra e maquiagem de Alma Negrot que também é responsável pela Direção de Arte.
Entidades, mistério e o jogo da sedução envolvem a trama que conta com um ótimo trabalho de edição, figurino, maquiagem e fotografia.
A solidão para o Heavy Baile, este sentimento tão aguçado durante o período de pandemia foi o ponto de partida para o clipe de “Noturno 150”.
No clipe, o dançarino Ronald Sheick, no auge do isolamento, protagoniza cenas de pura arte numa visita virtual ao Metropolitan Musuem of Art de Nova York. Aliás, nas cenas dirigidas por Daniel Venosa, as grandes obras eurocêntricas, praticamente exclusivamente recheadas de pessoas brancas, tiveram um portal criado no clipe, por onde um dançarino brasileiro preto de passinho adentra e faz a festa. Naqueles passinhos empolgantes há um pouco de frevo, de samba, de capoeira e de dança afro no geral.
“Vejo um paradoxo real neste clipe , porque é assim que eu vivo a minha vida. Tudo o que eu vejo é arte e o mundo para mim é um grande quadro. Para a filmagem, fui vendo os quadros e respondendo com meu corpo o que eles me faziam sentir”, revela Sheick.
“Acho que ali uma arte ou uma obra complementa a outra. Acredito que o passinho foi mais uma pincelada sútil de um artista que traz nos pés a sua poesia”, complementa.
“Para muitos artistas, como eu e Sheick, momentos de recolhimento são essenciais. A pandemia nos confrontou com um outro nível, que não foi fácil. Aliás, o processo de isolamento esteve mais presente na criação do clipe do que no da música”, conta Justi.
A canção, um hino à comunidade LGBTQ+ e, em especial as trans, é uma balada delicada e modesta de caráter intenso em sua letra com participações especiais de Liniker Barros (voz e piano), Mahmundi (Rhodes e baixo) e coro de Verónica Valenttino, Ventura Profana, Urias, Danna Lisboa, Alice Guél e Jup do Bairro.
No clipe, as artistas aparecem juntas, vestidas de branco e cantando a canção numa Igreja abandonada. Em cena, revelam que unidas são mais fortes e prontas para encarar qualquer desafio. A direção é de Sabrina Duarte.
A cantora sofreu preconceito na gravação do vídeo, onde foi expulsa do local mesmo com os documentos de autorização enviados pela prefeitura. A polícia que censurou Linn durante o projeto aparece no clipe (Fonte: Teco Apple)
O clipe de “Muro” da Ana Larousse foi produzido e desenvolvido pelo duo Coagula, formado pelos fotógrafos Paloma Bertissolli e Dennis Siqueira ainda em 2019.
“Gravamos esse vídeo há quase um ano, mas por inúmeros pequenos motivos, decidi esticar um pouco mais o período de espera para jogá-lo ao mundo. Tanto a música quanto o vídeo são acolhidos pelo contexto atual de maneira quase impressionante”, explica Larousse.
“Como no vídeo, estou sozinha enquanto a cidade quase vazia. Há mais de dois meses sozinha. Daqui, desse lugar sozinho, vejo e ouço muitos amores meus ou amores de amores meus sofrendo consequências incrivelmente tristes devido à pandemia e ao que é o mais bárbaro governo possível.
Hoje fica muito escancarada a verdade de que, como se fala na música, ‘subiram o poder da gente de decidir quem vai viver’. O Brasil está escolhendo quem vive e não são os pobres. Isso está sendo mostrado, articulado, exposto às entranhas sem muro nenhum que esconda. Sem vergonha. Estamos todos vendo isso”, desabafa Ana Larousse
“A ideia e a concepção desse clipe vieram no começo do ano de 2019, num momento onde aconteciam diversos movimentos turbulentos em um país que acabara de eleger o fascismo em sua presidência. Na época, sabíamos o que enfrentaríamos, mas nunca imaginamos tamanha proporção desse presente distópico em que nos encontramos”, explicam os diretores.
“O lançamento do material acabou sendo adiado por diversos motivos no curso do ano, quase como que por vontade própria estivesse aguardando o momento ideal pra sair. Profético ou apenas esperado, o universo que construímos aconteceu e estamos muito orgulhosos do resultado desse trabalho.”, completam
“A minha escolha de me colocar de costas no vídeo andando, sem mostrar meu rosto e sem outros elementos para além da cidade, veio da minha reflexão sobre meu lugar de fala nessa canção.
Eu sou mulher, me relaciono com outras mulheres, sofri violência sexual pesada e alguns episódios mais duros de homofobia.
Ainda assim, todo o resto da minha realidade é inteiro feito de muito privilégio. Existem pessoas (mais do que se consegue contar) que sofrem uma existência inteira por conta desses muros. Acaba que meu lugar fica muito mais de observadora”, define Ana Larousse
A delicadeza da produção aparece nos mais mínimos detalhes, que vão da cidade vazia, passando pela escolha da filmagem em P/B, a sensação de isolamento e o incômodo da calmaria de uma cidade antes viva. O fato de Ana estar de costas semioticamente já nos passa uma sensação de desconforto.
Os violinos dão todo o drama da trama e os muros vão subindo a cada verso recitado, que por sua vez, acaba traduzindo todo o momento delicado política e socialmente no país.
Cada frase vai ganhando ainda mais significados sob o cenário do acinzentado – e hostil – do centro de São Paulo. Os conflitos acabam sendo explicitados em uma canção na qual a voz emociona através da sinceridade em que traduz seus versos.
O cinza dos contornos da cidade se emaranha nas vigas dos muros e no instrumental que ganha a tela e coincide com o fim do vídeo e da canção. A vontade de fugir se choca com a que luta para sobreviver. O sentimento após assistir é de que a luta apenas começou.
Um clipe que também chamou a atenção pela riqueza de elementos e adequação ao momento de pandemia foi o de “Tempos Insanos” da Karol Conka.
O vídeo para a faixa em parceria com WC no Beat, e os produtores norte-americanos Ryan O’Neil e Xavi, foi produzido em São Paulo com efeitos visuais e intervenções gráficas, sob direção de Arthur Carratu e Haruo Kaneko; e com a colaboração do grafiteiro e escultor Jey 77 na direção de arte. As colagens, as cores, a arte urbana, a fotografia e o figurino são os grandes destaques.
No começo de Julho a Venus Wave lançou em Premiere no Hits Perdidos com direito a longa entrevista o videoclipe para “Forest Song”.
Segundo Julia, a letra foi escrita quando ela se perdeu sozinha em meio a uma floresta desconhecida em um país que não era sua casa. Ainda com 19 anos, as frustrações de encontrar a carreira ideal, do que deveria estudar ou seguir como um “plano de vida”, a atormentavam.
Solitária, suas incertezas e sentimentos de frustração intensificaram. Aquela floresta foi um momento de alívio e paz de espírito. De repente, o céu pareceu mais azul… as árvores tão altas não amedrontavam tanto assim, mas abraçavam. O vento respondia que tudo bem não saber as respostas… que elas viriam uma a uma, ou nem viriam. E que talvez elas não fossem tão necessárias para nos sentirmos completos.
Já o videoclipe contou com a direção de Di Rodrigues que teve toda a ajuda das integrantes da Venus Wave que ajudaram desde a concepção do roteiro, passando pelos figurinos e maquiagem no melhor estilo D.I.Y.
O universo fantástico, onde o natural e o sobrenatural se confundem, em que vídeo está imerso tem como referências o universo wicca.
As máscaras, por exemplo, foram inclusive confeccionadas pelas próprias integrantes. No vídeo, a sensação de liberdade, e a paleta de cores escolhida, também acabam chamando bastante a atenção por conta do belo trabalho de direção de arte realizado na produção.
Um bosque habitado por criaturas híbridas: nem humanas e nem animais, presente em filmes como A Bruxa, acaba entrando na narrativa que dialoga metaforicamente com a composição de Julia.
Fato é que encontrar e permitir com que o seu espírito animal ganhasse as telas acaba entrando no conceito da peça audiovisual que também brinca com o universo das deusas da mitologia grega. Passando pelos trejeitos, conceito, linguagem escolhida e a forma de dispor a sequência das cenas.
A paisagem do campo, o bosque, os rios, as natureza, as danças, as coreografias e os figurinos escolhidos acabam passando a sensação de liberdade – e o sentimento de emancipação de um mundo acelerado, estressante e muitas vezes cruel.
O oculto e o misterioso ainda dão o ar da graça nos takes noturnos mas o espírito é de celebração da vida e do momento. O céu aberto e azul do interior também ajudam a traduzir o conceito de liberdade e autodescoberta. Mas o que talvez gere mais identificação a quem assista seja mesmo a sensação de que elas realmente se divertiram durante as filmagens. E essa liberdade ninguém é capaz de tirar!
A mineira Bia Ferreira lançou o clipe de “Boto Fé” em comemoração ao aniversário de 1 ano do lançamento de seu álbum Igreja Lesbiteriana, Um Chamado. O vídeo foi dirigido por Naná Prudencio Zalika e Hanna Batista, com direção de fotografia de Fydell Botti, direção de arte de Luiz Becherini, direção de produção de Carol Moreno e edição de GIGS.
Em seu roteiro o filme “se passa em um mundo pós apocalíptico no qual Bia Ferreira é uma neurohacker afro-futurista com a missão de reconstruir a sociedade das ruínas do fim do mundo. Ela habita um trem com recursos para invocar quem ela precisa para ajudar na reconstrução Acompanhada por Doralyce, Bia faz estudos e recria os elementos naturais que a humanidade destruiu em uma estufa.
Os frutos do trabalho de Bia e dessas “entidades” (interpretadas por David César, Ermi Panzo, Indy Naíse, Malu Avelar e Terená Kanouté) que aparecem junto à ela na cena do show, são os responsáveis por reconstruir o mundo e moldar uma sociedade melhor.”
Além de cantora, Ella Buzzi também é cineasta e artista visual o que contribui bastante para o incrível resultado do videoclipe do seu single de estreia “Passsear”. O clipe da brasiliense radicada no Rio de Janeiro foi filmado em Nova Iorque em 16mm pela artista em parceria com o cineasta e co-diretor Craig Scheihing e mostra Ella em um universo lúdico cercada de objetos “não oficiais” (feitos de feltro e costurados à mão), representando o quão ilusória é a nossa construção da vida adulta.
“O filme e a música compartilham do mesmo sentimento: um desejo muito grande por realização e a grande cobrança interna e externa que acompanha esse sentimento. Na música falo do café e da Ritalina, que a meu ver são estimulantes que materializam externamente essa cobrança por produtividade, performance, resultado, foco.
Como uma adolescente diagnosticada com TDAH, sempre tive muitas dúvidas a respeito da minha performance e capacidade. A música fala dessa crise de sentir que se tem um grande potencial mas não vê-lo se materializar em nada. É sobre a agonia da espera de um potencial não materializado”, explica Ella.
A curiosidade ficou por conta do clipe ter ficado pronto antes mesmo da própria música.
“Fizemos o clipe antes de eu ter produzido a música. O clipe inclusive que me deu a confiança e coragem de gravar uma canção, minha primeira música. O cinema em toda sua graça pavimentando o meu caminho de volta pra música, provando que arte é mesmo algo indissolúvel e generoso. Tudo parte do mesmo bolo. E quero seguir assim, esse bolo de expressão”, reflete.
O cinema, a música, a espiritualidade, o tribal, o tecnológico, o jazz, a psicodelia, o rock alternativo e a eletrônica tem abrigo e pluralidade som da YPU de Brasília (DF).
Os mineiros Ayla Gresta e Gustavo Halfeld são movimentadores da cena de candanga e contribuem de diversas formas através de diversos projetos. Gustavo, por exemplo, fez parte da Cassino Supernova, é engenheiro de som, produziu boa parte dos discos de destaque da nova cena e também é um dos responsáveis pelo selo Quadrado Mágico.
“In Circles”, faixa da YPU, foi composta originalmente para a trilha de Ainda Temos a Imensidão da Noite; filme estrelado pelo duo que teve produção mista entre Brasil e Alemanha.
No longa-metragem, eles atuaram como integrantes de uma banda (fictícia), a Animal Interior, que sai de Brasília para se arriscar na Alemanha e lá se envolve em uma espiral de decepções, fracassos e choques de realidade.
Mesmo não tendo entrado de fato na trilha final do filme, onde Artur, vivido por Halfeld, estava passando por maus bocados ela acabou entrando no repertório do projeto que nasceu juntamente com as gravações.
Na cena em questão, o personagem abria seus demônios para seus parceiros.
Claro que isso mais tarde se tornaria um clipe!
O videoclipe para “In Circles” conta com direção de João Diel Bastos; roteiro de Ayla Gresta e Danilo Fleury e fotografia realizada por Rafael Resende. A trama envolve a história dos habitantes de grandes cidades, seus medos, demônios, tentações e experiências.
Com um roteiro bem amarrado, a produção audiovisual trabalha muito bem os cortes, edição e sensação de movimento circular. Muitas vezes a sensação de aprisionamento, e de sentir sufocado, ganha as cenas. Os demônios invadem a mente dos personagens que acabam sucumbindo aos pecados – e armadilhas da cidade. Claro que a arte da margem para diversas viagens particulares assim como o enredo do filme permite. Por isso ele entrou na nossa lista de melhores clipes independentes de Abril!
A carioca Letrux lançou seu segundo álbum, Aos Prantos, que você pode conferir a resenha aqui. Para promover o lançamento, o single “Déjà Vu” ganhou um sensível videoclipe dirigido por Clara Cosentino. Segundo Letícia a composição nasceu após um banho de mar na Grécia.
“Banhada numa água Maria Callas e Platão, fui mergulhar e me baixou essa música. Psicografia musical aquática. Literalmente. Fiquei nadando, girando, cantando. Treco louco. Saí da água e corri pro celular pra me gravar e não esquecer”, contou a artista em suas redes sociais
O destaque fica para a belíssima locação, a suavidade dos movimentos, narrativa, sincronia, espiritualidade, edição e locação.
A artista gaúcha Rita Zart, lançou o videoclipe para a música “Linguagem” no dia 06/02. Marcela Ilha Bordi assina o roteiro e direção do vídeo que exalta o erótico, o prazer e clímax. A peça audiovisual conta com fotografia de Edu Rabin, a Direção de Arte de Talita Menezes e o figurino de Juliana Franarin e Mariana Tostes.
“O clipe de “Linguagem” explora os indizíveis desejos, libidos e paixões que nos movem em contraponto à estruturas em que somos condicionados a viver nossas relações em todos os campos, para além do afetivo e sexual.
A letra é parceria com uma amiga que é psicanalista e faz poemas com separação de sílabas, a Beta Pires, com quem converso muito sobre o tema”, comenta Rita.
Sobre as referências, ela conta que a inspiração veio do livro Delta de Vênus, em que Anaïs Nin escrevia contos eróticos sob encomenda, e no poema “Exterior”, de Waly Salomão, que discorre eroticamente sobre possíveis limites impostos à poesia.
“De um lado há a volúpia, o toque, o animalesco que se expressa na coreografia e no movimento dos corpos de Rita e dos dois bailarinos, Douglas Jung e Joana Selau, em uma performance que os rende andróginos e quase indistintos.
De outro, temos a direção de arte dramática, as peles cobertas por roupas e luvas, sugerindo a rigidez estrutural e imóvel das palavras, das regras e do modo de se relacionar, que é explorada nos quadros vivos estáticos, que paralisam o fluxo das trocas.”, comenta a diretora Marcela Ilha Bordi
“Marcela pode construir este contraponto entre a coreografia fluida dos corpos lindos, figurinos, cores e arte intensos em quadros parados que simulam pinturas vivas”, completa Rita.
Outro videoclipe que chamou bastante a atenção por aqui foi lançado já no final de junho. A produção audiovisual para “Andaluz” da Lia Paris, faixa presente no álbum MultiVerso (2019) foi inclusive lançado em uma sessão de drive-in que o Cine Belas Artes realizou no Memorial da América Latina.
O vídeo teve produção italiana e foi filmado em um deserto da Califórnia ainda antes da pandemia. A concepção do vídeo é assinada por Lia em conjunto com P.A Alain e com Lorenzo Giglio. Os takes, a edição, a fotografia e a delicadeza e plasticidade da narrativa cheia de metáforas e mistério, impressionam.
Há pouco mais de um ano e meio Black Alien lançava o elogiadíssimo Abaixo de Zero: Hello Hell (leia mais) que ficou em primeiro lugar na nossa lista de Melhores Álbuns Nacionais de 2019. Inclusive “Carta Pra Amy” é uma das faixas mais intensas e reveladoras do disco; e em novembro ganhou um videoclipe dirigido por Gabi Jacob com produção da Dois Mais Filmes.
O ator André Ramiro é o grande protagonista da trama e consegue traduzir, durante sua atuação, as nuances dos conflitos representados ao longo da letra.
” É uma música complexa, cheia de verdades e que ao que me parece, tocou bastante no coração das pessoas”, conta o rapper que comenta que os fãs pediam muito pela produção audiovisual.
“Minha ideia foi usar o mar como metáfora para essas diferentes fases da vida. A dificuldade em nadar, o quase afogamento, a volta à superfície e no fim, já mais consciente, o modo como você lida com essas ondas que nunca vão parar de vir, mas que você já consegue enfrentar de uma outra forma”, explica a diretora.
” O clipe (de Carta Pra Amy) traz metáforas profundas, imagens bonitas e consegue trazer a carga dramática que esta canção tem”, opina Black Alien
Com a proposta de contar história da travessia e a invenção do Brasil a partir das mulheres o novo clipe doVinicius Terra impressiona. “Máscaras de Azulejo” conta com a parceria do duo português Lavoisier e teve clipe dirigido por e produzido por Victor Fiúza (diretor do clipe “Ok Ok Ok”, de Gilberto Gil e de documentários como “Racionais MC’s: Uma História Musical” e “Quatro Dias Com Eduardo”), com imagens colaborativas de vários artistas espalhados pelo mundo.
“Não havia como silenciar o fato de as mulheres não serem citadas e, sobretudo, abrir a narrativa da obra. É o que há por trás das máscaras de azulejo que cobrem as casas e sobrados dos centros urbanos lusófonos. É preciso limpar a maquiagem e descobrirmos o véu do retrocesso e do silenciamento. Já não há mais espaço para um mundo sem respostas.”, afirma Vinicius Terra.
A faixa é uma parceria parceria com o beatmaker 2F U-Flow, produtor também da faixa. Em seu currículo 2F tem trabalhos com Anitta, Ludmilla, Snoop Dogg, Black Alien, MV Bill, Papatinho, Gabriel O Pensador, Orochi, Kevin O Chris entre outros).
Há um ano era lançado o EP colaborativo Ventre Laico Mente Livre no qual mergulhou no debate os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres em cinco faixas interpretadas por artistas diferentes. Entre elas o encontro entre a banda paranaense Mulamba e a paulista Ekena. No dia 28 de setembro, Dia de Luta Pela Discriminalização do Aborto, elas lançaram o videoclipe para a faixa presente no projeto, “Carne de Rã“. O registro foi dirigido por Helena Freitas.
“Eu nunca abortei, mas já ajudei em vários processos de aborto, isso dentro da minha arrogância, me trouxe a permissão de cantar sobre o aborto”, conta a vocalista Cacau Sá.
“Eu sabia o quanto o meu apoio era importante pra elas e sem questionar ajudava. Ajudarei sempre a acabar com algo que não queiram. Nunca, em nenhum momento, me senti culpada de alguma forma. O abraço do depois cheio de novas possibilidades me blindava de qualquer peso social”, completa a integrante do sexteto Mulamba que também conta em sua formação com Amanda Pacífico (voz), Caro Pisco (bateria), Érica Silva (baixo, guitarra e violão), Fer Koppe (violoncelo) e Naíra Debértolis (guitarra, baixo e violão)
A sensibilidade para tratar de um assunto tão delicado, inclusive, é marcante no vídeo que conta com as interpretações de Lourdes Miranda, Lia Petrelli e Terená Kanouté.
“A arte é uma forma de sensibilizar as pessoas pra temas que estão presentes no nosso cotidiano, mas que a hipocrisia coletiva faz a gente fingir não ver”, conta Terená.
“A narrativa semiótica do clipe “Carne de Rã” é sobre isso: a culpa e a invisibilidade sofrida pela mulher, controlada pelas mãos sufocantes do patriarcado”, disserta a diretora do vídeo, Helena Freitas
As luzes, as interpretações, a semiótica os movimentos e os gestos tratam de passar a mensagem de uma forma clara, sensível e intensa. A fotografia, e o contraste das imagens, reflete sobre todos sentimentos envolvidos. Questionador por natureza, o vídeo apoia a luta pelo direito de ter controle sobre o próprio corpo. A discussão é mais do que válida em um momento onde o país tem passado por conflitos em relação ao tema a nível nacional – e com grande mobilização.
A gaúcha Duda Brack disponibilizou o videoclipe para “Pedalada”, composição em parceria entre a artista e Chico Chico, que estará presente no álbum produzido por Ney Matogrosso. Com temática carnal, o videoclipe dirigido e roteirizado por Ana Campos, Duda Brack e Rebeca Brack, utiliza de diversos elementos, cenários, bom humor e ação em seu roteiro.
A composição surgiu de um haicai que escreveu e Chico musicou.
“Criamos um arranjo que tinha uns improvisos no final e um atropelava a fala do outro virando um grande noize verborrágico”, lembra Duda
Duda estrela ao lado do ator Gabriel Leone, e o vídeo ainda conta com participações especiais de Alice Caymmi, Não Recomendados e do Porta dos Fundos. O vídeo promete ter continuação.
“É sobre a confusão entre o sujeito e objeto. O lance de projetar no outro algo que na verdade nós que estamos enxergando. “Pedalada” aproveita a reflexão de um lugar mais psicológico do ser humano para trazer à tona algumas construções sociais machistas, como uma forma de questioná-las”, explica Brack
O gaúcho Vitor Ramil lançou o videoclipe par “Labirinto” que contou com a direção de Antonio Ternura e foi gravado em Rolante, interior do Rio Grande do Sul, com uma pequena equipe e a participação do ator Marco Antonio Krug.
O vídeo impressiona pela fotografia, lindos takes, narrativa e roteiro instigante que faz com que o espectador entre dentro do filme e experiencie sentimentos como a agonia, a passagem do tempo e o perigo ilustrado em seus versos.
“Compus a música de “Labirinto” em Buenos Aires. Ela nasceu de uma sequência de quatro acordes que se repetiam enquanto eu buscava uma melodia que, ao contrário, se desenvolvesse sem repetições, que fosse sempre em frente. Fiquei improvisando e gravando por muito tempo. A certa altura algumas passagens melódicas começaram a voltar e a querer se impor, fazendo com que eu cedesse ao apelo da canção na forma com que nos acostumamos a ela, com mais de uma parte, estribilho, coda, esse tipo de estrutura.
Eu não sabia que, depois de receber letra, a canção se chamaria Labirinto, mas curiosamente ela se fez assim (mais justo do que dizer “foi feita”), de forma labiríntica, levando-me primeiro a avançar perdidamente e depois a me deparar com caminhos já percorridos até encontrar uma saída. Musicalmente falando, tanto o improviso inicial como a forma final se afirmaram pela pungência, uma indescritível emoção de fundo que enchia minha voz de frequências e harmônicos à medida que eu avançava.
Zeca Baleiro e eu vínhamos tentando compor algo juntos, mas, até então, sem muito êxito. Resolvi mandar aquele labirinto para ele, sem entrar em detalhes sobre a composição. Uns dias depois, ele me surpreendeu com uma letra em inglês, que começava assim: I said the love is like an obscure maze. Depois o narrador embarcava em um trem e cantava as a blind bird.
No estribilho o sol brilhava muito apropriadamente ao crescendo da música e o narrador anunciava: the pain is mine. Letra bonita, sonora, tocante. A pungência estava lá, mas o idioma não me deixava senti-la. Achei que nossos futuros ouvintes talvez viessem a não sentir o mesmo.
Propus ao Zeca uma tradução (no caso, uma transcriação, como diriam os poetas concretos) para o português. Ele entendeu o dilema e topou a ideia. Depois da nossa conversa, saí para caminhar e foi como se mais uma vez entrasse num labirinto, dessa vez feito de imagens e fragmentos da letra em inglês. Queria saber se, mantida a essência do original, a transcriação era viável.
Amor, labirinto, trem, pássaro, sol e dor ficaram dando voltas na minha cabeça. A pungência precisava seguir dando o tom. E a sonoridade tinha lá suas exigências. Cantarolei mais do que respirei, e terminei a caminhada indo além do previsto: cheguei em casa com a letra pronta na cabeça. Escrevi-a e mandei-a pro meu parceiro que, generosamente, aprovou sem retoques nosso labirinto agora em português.”, conta Vitor Ramil
Antonio Ternura me propôs fazer um filme sobre ela. Ele veio do interior da Bahia, onde vive, para Satolep. Conversamos sobre a música e a letra viajando por loucos descaminhos, como gotas d’água num absinto.
Na sequência, com impressionantes locações em Rolante, interior do Rio Grande do Sul, uma pequena equipe e a participação decisiva do ator Marco Antonio Krug, ele ergueu outro labirinto em que tudo se transcriou.
Agora, nesses tempos de pandemia e isolamento social, o filme ganhou uma pungência ainda maior. Ao vê-lo, eu me vi de novo em Buenos Aires, sozinho a improvisar. O labirinto está dentro de nós.”, reflete o músico
Outro videoclipe que fez bonito no mês de fevereiro foi o da francisco, el hombre para “Matilha:: Coleira ou Cólera”. Um clipe que começa com o clima de mal estar causado pelas eleições de 2018 mas que mostra o poder da união das pessoas em meio a um momento delicado da democracia.
“A francisco, el hombre sempre se colocou numa função de cantar, escrever e falar sobre sua época, de marcar sua época”, conta Mateo. Desta vez, mais do que eternizar a efemeridade do mundo contemporâneo e o momento “de crise social gigante”, a banda une forças para criar pontos de esperança através da coletividade. “Depois de tanto golpe, de tanto baque, de tanta queda que esse governo Bolsonaro entre outros da América Latina nos trouxeram – a gente quer trazer esse ar de esperança, esse ar de força, de grito, de construção”, explica.
Foram mais de 350 voluntários que contribuíram através de grupos coordenados no whatsapp para que a obra audiovisual fosse possível. O local escolhido foi o centro de São Paulo. O que só provou como a tese do grupo de união é válida em momentos como este. O filme dirigido pelo duo Los Pibes tornou-se a maior produção audiovisual da francisco, el hombre e deixou explícita a razão para o nome da música.
“MATILHA é uma música que tem o nome de um coletivo de cachorros, talvez de rua – talvez vagabundos – que se unem e, uma vez unidos, é só educar e resistir, é só semear e seguir em frente (…) E pra juntar 300 ou 400 pessoas numa rua, é porque compartilhamos de uma só ideia de resistência na América Latina, e isso é muito forte porque é o fio condutor deste ano”, destaca Mateo.
O vídeo conta com diversos easter eggs que vale procurar, além de claras manifestações em defesa das minorias.
RROCHA é o novo projeto do gaúcho Rafael Rocha que também é integrante da banda Wannabe Jalva. Com um conceito que engloba música, fotografia e audiovisual o lançamento do álbum/livro/filme, Conterrâneos Estrangeiros, está dividido em capítulos.
O vídeo que encabeça a nossa lista de melhores clipes independentes de Outubro trata de um mergulho em um período de três anos da sua própria vida, um projeto autobiográfico que canta sobre o peso de não caber em si, que o liberta e o leva de volta para a rua.
A produção audiovisual, que mistura em sua narrativa fotografia, filme e poesia, dividida em atos, foi filmada em Pelotas (RS) e dirigida pelo próprio artista em parceria com Antônio Torriani. É impressionante como os signos, elementos e performance dialogam com os distintos universos que compõe a história. A direção de arte, o roteiro e as locações são os principais destaques.
Próspera, terceiro álbum da Tássia Reis, já havia ganhado produções audiovisuais para as faixas “Ansiejazz”, ”Pode Me Perdoar”, “Dollar Euro” e “Me Diga”, agora é a vez de “Inspira” e “Try” se somarem aos clipes da artista de Jacareí (SP).
Com direito a cores e desenhos animados o vídeo foi concebido e dirigido pelo gaúcho Pedro Borges de apenas 22 anos, também conhecido como Calundu. Ele conta que trouxe conceitos diferentes para videoclipe duplo, em “Inspira” diz que trouxe a tranquilidade e melancolia com um toque de surrealismo a tona. Já em “Try” o artista comenta:
“Para “Try” pensamos em um tom mais debochado e ao mesmo tempo extremamente real. Traz um pouco do que estamos vivendo atualmente e como a bebida, às vezes, se torna um escape. Para chegar nesse formato, analisamos referências visuais de art déco e art nouveau. Essas experimentações, buscas e testes são importantíssimas. Quando partimos para a animação, usamos várias cenas, lipsyncs e personagens”, explica o artista visual.
“Encontrei o Pedro no Instagram, quando ele postou uma animação e colocou uma das faixas do disco como trilha. Na hora eu pirei e pensei que tínhamos que trabalhar juntos. Foram alguns meses de dedicação e eu estou muito apaixonada pelo resultado”, conta Tássia Reis sobre o primeiro contato e produção
Calundu e Tássia dividem a ficha técnica em Roteiro e Direção Criativa, enquanto a Ilustração, Animação e Motion Design é assinada pelo Pedro. Os clipes anteriores da paulista apareceram em nossas listas de melhores clipes mensais, já o álbum Próspera entrou na nossa lista de Melhores Álbuns Nacionais de 2019.
Talvez um dos videoclipes mais impressionantes do mês de Janeiro tenha sido o da Céu. “Corpo Continente” é uma verdadeira obra de arte.
São 7 minutos de uma narrativa envolvente, um roteiro coeso, fotografia impressionante, muita tensão e delírios. Ainda há espaço para a solitude, coreografia e efeitos especiais. O vídeo foi dirigido por Rodrigo Saavedra (LANDIA).
Depois de “Boca de Lobo”, Criolo volta com outra grande produção com o videoclipe para “Sistema Obtuso”, faixa em parceria com Tropkillaz. Realizado em realidade estendida (XR), o registro foi gravado em São Paulo e dirigido por Denis Cisma (também diretor do clipe de “Boca de Lobo”, indicado do Grammy Latino de 2019 na categoria melhor vídeo curto).
Com crítica social latente, e roteiro inteligente, o vídeo mostra rusgas, conflitos e diversas referências de situações vividas no cotidiano do país.
“Sentimento de gratidão gigantesca pela oportunidade de fazer esse trabalho com Tropkillaz. E é uma música onde eu peço licença a todos os jovens pra apresentar esse som, que é diferente de todos os sons que eu já fiz e é um aceno para dizer que a gente tá aqui e que eles tão ensinando muita coisa pra gente”, afirma Criolo.
É impossível não se emocionar assistindo ao videoclipe de “LUTA POR MIM”, parceria da Jup do Bairro com o Mulambo. O vídeo teve direção Criativa e Roteiro por Jup do Bairro, Felipa Damasco e Rodrigo de Carvalho, direção e Arte 3D por Rodrigo de Carvalho e efeitos analógicos assinados por Gabriel Rolim.
A faixa “LUTA POR MIM”, homenagem a mãe de Jup, se ressignifica no vídeo com versos marcantes que clamam pelo fim da violência policial contra a população negra. Com direção musical de BADSISTA, o vídeo conta com com falas de mães que perderam seus filhos em ações policiais o que deixa a experiência ainda mais intensa e provoca arrepios de quem assiste.
São 8 minutos de vídeo com cenas digitalizadas representando lares destruídos e sons de mães aos prantos. Mulambo passa o recado de forma cirúrgica em seus versos em um dos meses mais intensos de manifestações como a Black Lives Matters. Urgente, pontual, emocionante e um dos mais sensíveis e precisos clipes de 2020.
De arrepiar!
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This post was published on 21 de janeiro de 2021 12:31 pm
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