Idealizado por Felipe Snipes e com a produção executiva de Henrike Baliú, o “Tributo 30 anos”, homenageia uma das bandas mais emblemáticas do punk rock paulista do fim dos anos 90, o Blind Pigs. O material lançado oficialmente na terça (15) nas plataformas de streaming também ganha uma versão em CD lançada pela TGR Sounds.
“Quando o Snipes entrou em contato comigo para montar a coletânea, imaginei que seria algo muito bacana, mas o resultado me surpreendeu, desde a arte do W. Loud na versão física, em que o digipack imita um álbum de figurinhas dos anos 80, até as músicas. As bandas receberam carta-branca para fazerem suas versões e algumas ousaram bastante. Era isso que eu esperava!”, comenta Henrike Baliú
Ao todo foram reunidas 30 bandas: CPM22, Supla, The Bombers, Carbona, Bloco 77, Rats, Bad Luck Gamblers, Marzela, Fibonattis, Fuerza Bruta, Subalternos, FSNIPES, Deb and The Mentals, Paulo Rocker e Os Rockways, Meu Funeral, The Parking Lots, GG Di Martino No Wall Noise Band, Lylith Pop, Skamoondongos, Diablo Fuck Show, ACK, Morcegula, Os Brutus, Faca Preta, Não Há Mais Volta, Asteroides Trio, Atox, Cris Crass, Thiago Coiote, Rosa Tigre, Johnny Monster e Teco Martins.
“Quando pintou o convite, eu já fui logo avisando que queria gravar ‘Fuzis e Refrões’, que é uma das minhas preferidas e marcou muito uma época da minha vida nos anos 90/2000. A participação do CPM22, é uma extensão da nossa amizade, respeito e convivência por quase 30 anos. Fizemos muitos shows com o Blind Pigs ao longo da vida e por muitos anos chegamos até a andar juntos”, revela Badauí, vocalista do CPM22.
A iniciativa é apenas uma das surpresas preparadas para os fãs ao longo do ano, antes aconteceu uma turnê e dois relançamentos em vinil – Blind Pigs (2002) e Suor Cerveja e Sangue (2004). “Tributo 30 anos” assim como outros tributos conta com versões produzidas por bandas independentes bastante inusitadas e outras que se mantiveram fiéis as originais.
“Participar do tributo ao Blind Pigs com nossa versão de “Victory” foi uma grande honra para nós, pois nos permitiu homenagear uma das maiores influências do punk nacional, ao mesmo tempo em que trouxemos nossa própria identidade a esse clássico”, diz a vocalista Deb do Deb and The Mentals
“La Pasionaria”, por exemplo, ganhou uma versão surf rock (Os Brutus), produzida por Davi Pacote, e uma versão industrial, do GG Di Martino No Wall Noise Band & Lilith Pop. Rats, banda que conta com Jimmy London, eterno Matanza, teve por sua vez uma versão “pirata” que nos remete a uma influência compartilhada por ambos os grupos, Dropkick Murphys. A participação de Supla conta com feat do próprio Henrike Baliú em versão que “Papito” adicionou até mesmo um verso.
Quem também propôs entrar na brincadeira de trazer referências não ortodoxas para a faixa foi o Meu Funeral com direito a alternância de vocais, efeitos, duetos que remetem ao Doo-Woop, em uma faixa com referências que vão de Green Day, passando por Sham 69 a Flogging Molly.
Adotada pelo bloco carnavalesco, Bloco 77, já há muitos anos, “O Idiota” finalmente ganhou uma versão de estúdio com direito a novos arranjos em sua produção. Pudemos conversar com Anderson Boscari, o Risada, que pode contribuir também com versões com seus outros projetos, Faca Preta (“Verão de 68”) e Rosa Tigre (“Conquistas”).
“O Bloco 77 está indo pro seu 11º ano, e já há alguns anos tocamos O Idiota”, do Blind Pigs. Sempre foi uma das mais cantadas e curtidas pelo público, e uma das que mais gostamos de tocar também.
Eu toco em duas outras bandas que fazem parte do tributo também, o Faca Preta e o Rosa Tigre. Então estava sabendo que ia rolar.
Quando voltamos os ensaios do Bloco, e tocamos essa, na hora gravei um vídeo ao vivo e mandei para o Henrike, perguntando o que ele achava da ideia, já que é um tributo com bastante bandas de estilos diferentes, achei que podia combinar. O Henrike na hora adorou, e aí a gente foi atrás de ver como poderíamos gravar um bloco de carnaval, já que nunca tínhamos gravado nada”., comenta Anderson Boscari que canta no Bloco 77, é guitarrista do Faca Preta e baixista na Rosa Tigre
A respeito das gravações ele completa: “Foi um processo bem legal, gravamos no Bay Area Estúdios. Fomos meio que descobrindo juntos as possibilidades, e tentamos captar o astral de quando tocamos ao vivo.
Por fim, acho que ajudou bastante na diversidade de estilos do tributo. Ficamos muito felizes em ter nosso primeiro registro, e poder participar dessa celebração de uma banda tão importante pra cena punk nacional. É uma satisfação enorme!”
Amigo de longa data, Matheus Krempel, do The Bombers, de Santos (SP), pode contribuir com uma versão para “Amanhã não vai Mudar”, música que teve seu clipe na programação da extinta MTV Brasil por anos. A parceria na faixa ainda conta com a banda de Ska, Marzela, que também faz versão para “Não Vou Parar de Lutar” e do rapper Jay Bone.
“O Blind Pigs sempre foi uma banda que admirei pela facilidade com que eles criavam lindas melodias com um instrumental energético. A primeira vez em que ouvi o Sao Paulo Chaos fiquei impressionado como a qualidade do trabalho. Composições que não ficavam nem um pouco atrás do que estava sendo feito na Califórnia no mesmo ano. Por ter acontecido numa época pré-internet, pode-se dizer que eles foram pioneiros no Brasil. Quando saiu o disco amarelo de 2002, me impressionei com a capacidade de compor tão bem em português quanto em inglês.
Com o passar dos anos, nos trombamos várias vezes Brasil afora, inclusive dividimos o palco com o US Bombs em São Bernardo do Campo e daí nasceu uma amizade muito bacana e de muito respeito entre nós. Aliás, além de grandes amigos, considero a parceria do Henrike e do Targa uma das mais prolificas e geniais do rock nacional.”
Sobre o convite e a versão, o líder do The Bombers completa.
O convite para participar desse tributo foi recebido com bastante alegria por nós e tentamos dar a nossa cara, para uma música que o que tem de clássica ela tem de curta. “Amanhã não vai Mudar” sempre foi um baita hit do cancioneiro dos caras.
Na nossa versão contamos com a participação dos metais e teclados do Marzela e dos vocais do Jay Bone, que já havia colaborado com a gente em “Qué Pasa” (do nosso disco Embracing the Sun). Inclusive ele acrescentou um trecho de letra que caiu muito bem no som.”, conta Matheus Krempel, vocalista e guitarrista do The Bombers
Questionado sobre como foi participar de outras coletâneas como essa e também ter recebido uma homenageando o The Bombers produzida pela Mutante Radio, o músico de Santos (SP) nos conta.
“Eu acho muito legal que esteja rolando tantos tributos à bandas independentes nacionais. Aliás, gostaria de parabenizar também a galera da Mutante Radio, por estar produzindo alucinadamente tantos projetos desse tipo. Em um país que sempre menosprezou o rock, isso mostra um reconhecimento muito bonito ao trabalho de tantos de nós, que comemos o pão que o diabo amassou para nos mantermos ativos e produtivos.
Quando saiu o do Bombers, eu fiquei muto emocionado e grato. É muito doido você poder ouvir artistas que você admira, interpretando suas músicas. Ser reconhecido em vida? Sem preço!
Isso mostra um cenário de artistas que se reconhecem e se admiram, além de gerar um intercambio de gerações. Foi assim, por exemplo, quando rolou aquele do Titãs. Aquilo meio que juntou uma galera e deu uma agitada em tudo. Que venham mais Tributos.”
Outra figura carimbada da cena que se construiu em casas de show como o Hangar 110, Henrique Badke, do Carbona, pode contribuir ao lado da banda e também do seu mais recente projeto Morcegula. Conversamos com seu parceiro de Carbona, Melvin Ribeiro que contou mais sobre a oportunidade de participar da coletânea.
“Tem um dado especialíssimo sobre essa gravação é que foi a nossa primeira com o Fred Castro na bateria, que tem tocado com a gente desde 2018. O (nosso) Henrique recebeu o convite e escolheu “Curso de Liderança”, porque teria a maior proximidade com o nosso som. Fluiu tudo muito rápido e bem, ficamos muito felizes com o resultado.
Cara, o Blind Pigs foi a banda que levou a gente pro nosso primeiro show no Hangar 110, e só por isso já estariam pra sempre na nossa história. Mas é uma banda de bróders (sic), uma galera que cruzamos por aí sempre, desde antes do Carbona. O disco que eu mais ouvi foi o São Paulo Chaos, mas me disseram que alguém já tinha pego “Fuck the TFP”, comenta Melvin
Sobre o Carbona já ter também recebido um tributo em homenagem e ter participado dos tributos aos Autoramas e Blind Pigs, o baixista completa.
“Cara, é um exercício muito legal, porque te faz revisitar a discografia do artista, e isso te leva a outros lugares, e invariavelmente descobre ou redescobre uma música do caralho, e aí fica fácil trabalhar em cima.
O nosso tributo foi o máximo, um grande orgulho, uma grande surpresa quando fiquei sabendo. E como a gente começou no fim dos anos 90, batalhando pra tirar um som bom em estúdio, foi demais ouvir as músicas mais bem gravadas que com a gente (risos).”
Versões de Psychobilly, com Bad Luck Gambles (“Sweet Fury”), Asteroides Trio (“Conformismo & Resistência) e Diablo F Show (“Incorruptível”) e de Ska, além do Marzela com Skamoondongos (“Pré-Julgamento”) também contribuem para a diversidade do tributo que conta com a volta do ACK.
Entre as versões mais sensíveis vale destacar a surpresa de Teco Martins em “Última Emoção”, indo da calmaria a explosão, “Adolescência Acabou”, de Johnny Monster, em um tributo cheio de emoção e nostalgia. Além da divertidíssima “No Pigs Reunion”, que é basicamente uma “versão da versão” já que a original “No Beatles Reunion” é de autoria da banda canadense Forgotten Rebels. Repleta de easter eggs e brincadeiras com os nomes dos integrantes, até mesmo do finado Fabiano, ela foi elaborada por Cris Crass (Crasso Records) e Thiago Coiote (The Mönic).
This post was published on 17 de outubro de 2024 9:00 am
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