The Bombers sai da zona de conforto e abraça sua essência em “Embracing The Sun”

 The Bombers sai da zona de conforto e abraça sua essência em “Embracing The Sun”

Quando começamos a gostar de música, gostamos simplesmente de música. Com nossos 7,8, 9 anos de idade não sabemos o que é punk rock, new metal, ska, rock alternativo, axé, forró, baião…não sabemos rotular e não queremos rotular. Apenas sentimos.

Na medida que o tempo vai passando que começamos a ficar mais “chatos” e desenvolvemos nosso senso crítico. O que é bom pois separamos o joio do trigo mas que também é ruim pois começamos a ficar preconceituosos. Alguns para pertencer a certa roda “cool” e outros por quererem se sentirem “melhores” que outros. Uma baita tolice mas somos jovens – muitos ainda adolescentes – e ficamos com as pedras na mão.

Com os cenários de música acontece o mesmo. Não existe muito esse lance de “isso nunca foi feito antes” e bandas vão se fechando ainda mais em nichos que tentam soar como tal banda ou tal estilo por diversos motivos. Mas e a arte aonde fica? E o criar e saborear?

Já tivemos os Ramones, já tivemos o Guns’N’Roses, já tivemos o Black Sabbath. Realmente precisamos de um novo Arctic Monkeys? Para que um novo Foo Fighters? São questionamentos que me faço diariamente ouvindo novos EP’s e discos que surgem na minha mesa.

O mesmo acontecem com os discos lançados…mas as ciladas da vida fazem com que para que o tempo passe bem tenhamos que ser – cada vez mais – nós mesmos. E aquela velha máscara social vai caindo para quem consegue compreender tal fato.


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The Bombers de Santos (SP). – Foto: Felipe Buli.

O The Bombers surgiu em 1995 em Santos, no litoral paulista. Pense bem quanta coisa aconteceu em 22 anos. Várias conquistas, aprendizados, críticas, erros, saídas, altos e baixos. Inclusive tiveram anos que a banda esteve parada e que Matheus se viu como único membro original. Mas por algum motivo ou outro ele nunca desistiu, mesmo tocando em outros projetos como o Reverendo Frankenstein, o Bombers certamente sempre foi diferente. E não tem como não ser diferente. Afinal de contas é parte de sua vida.

Muitos fãs vão virar para você e dizer: “Nada superará o 7 Songs”, “Democracia Chinesa que erro! Nem o do GNR deu certo”. Mas isso são críticas que com certeza eles já ouviram ou sabem. São coisas que ficam martelando na cabeça por meses (as vezes anos). E não tem nada de errado em fazer um gol de placa ou chutar para fora do estádio. A vida é isso.

Quando Matheus ainda menino decidiu montar uma banda ele queria tocar algo como os Rolling Stones. Punk? Punk o que é isso? Só que com a medida do que ia fazendo seus trabalhos o pessoal comentava que lembrava uma banda ou outra, “cara o teu som me lembra Toy Dolls, que bacana”. Assim meio que ele foi ouvindo e tomando gosto pelo som mas a verdade é que os Stones nunca saíram dele. Nem que ele quisesse.

O boom da leva noventista de punk e hardcore atingiu Santos (SP) e isso inspirou toda uma nova geração de músicos da cidade. Algo que foi registrado de maneira muito feliz através das lentes de Wladimir Cruz, o cara por traz do Zonapunk, no documentário Califórnia Brasileira lançado no começo do ano com sessão a poucas quadras onde a “cena” se desenvolveu.


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The Bombers e Wladimir Cruz (Zonapunk e diretor do documentário “Califórnia Brasileira”) durante o show de gravação do documentário. – Foto: Marcela Sanches

Foi incrível poder assistir aquela PREMIERE ao lado de quem fez parte – e viveu aquilo. O triste foi notar que daquele tempo, documentário vai de 91-99, apenas The Bombers e Garage Fuzz ainda permanecem firmes e fortes. Falando em Zonapunk, que carinho que tenho por este site, sou leitor desde 2003 (esse ano são 18 anos de site, certo?), quanta história. Vans Zona Punk Tour, coletâneas, playlists, festivais e a história não para.

Mas foi acompanhando diariamente as publicações que em meados de 2006 conheci o som do Bombers. Mais ou menos na época que Gustavo Trivela entrou para a banda, já que está desde 2004 no front.

O ponto que queria chegar é justamente esse, nessas idas e vindas sempre existe um turning point (momento da virada). E talvez a volta com o All About Love (2014) tenha sido um marco na história recente da banda. Tanto pela qualidade, como pela consolidação com a atual formação tendo Mick Six nas baquetas e Daniel Bock no baixo.

O título do disco até na época foi irônico, afinal a banda sempre esteve enfiada em tretas, foi o momento Zen, a virada, a passada de régua num passado para poder olhar para o futuro. Também foi a primeira parceria com o selo paulistano Hearts Bleed Blue (HBB).

Já senti um Bombers mais maduro, com uma levada ousada e muito mais próximo do ska, rocksteady e rock sessentista do que propriamente a zona de conforto do punk rock. Nesse intervalo de 3 anos apesar de não ter saído um álbum cheio tivemos um split com o Sky Down do ABC paulista, All About/Nowhere, e a participação no tributo aos Titãs, O Pulso Ainda Pulsa, com “Desordem”. Esta que toca direto na programação da 89FM.



Quando eu ouvi a versão de “Desordem” foi algo brutal. Uma canção bicorde, simples e com uma letra tão feroz. Como fazê-la se tornar algo mais interessante sem perder aquele tom visceral punk da original?.

É um desafio e tanto que a trupe do Bombers abraçou com o coração. Tanto é que a faixa foi reconstruída em sua estrutura, dos dois anteriores foram adicionados mais 4. É até engraçado ouvir a versão original tendo em mente a versão dos caras, ela ganhou mais vida, ficou até mais estridente. Na época vi até alguns comentários maldosos falando que tinha ficado melhor que os “trabalhos anteriores”. O que discordo mas é algo legal para ter a noção de como outros consomem música. Lembram das “pedras na mão” que citei no começo do texto? Vamos soltá-las e deixar aquele coração pueril ouvir o novo álbum Embracing The Sun que foi lançado na última sexta-feira (07/07).

Sim o dia foi o mais cabalístico possível, SETE do SETE de dois mil e dezeSETE. Mas em momentos de virada – e de rock’n’roll – nada como um pouco de glamour e superstição. Me senti felizardo quando num dia ainda no começo do ano Matheus me chamou para tomar uma cerveja e ouvir a pré-mix do álbum.

Foi algo instantâneo, fui ouvindo e comentando o que me surpreendia, o que achava que tinha que nivelar o som de cada instrumento. Mas detalhes, não tinha muito nossa essa nada a ver, ao menos pelo meu olhar de quem está de fora e não contaminado com as gravações. Os detalhes estavam quase prontos para uma masterização.

Ele foi me contando do processo, das participações, do que achava do som cômodo de outras bandas…naquele esquema botecagem mesmo. Senti que estava no caminho certo mas que principalmente estava á vontade. Sabia o que estava fazendo e não queria agradar ninguém em específico ou pegar carona no tal do 7 Songs.

Ótimo disco diga-se de passagem mas aquilo já foi, sabe? O que dizer do Embracing The Sun para quem está chegando agora. Sabe aquele disco que nasceu com você? Que por circunstâncias ou equilíbrios de opinião de outros foi se adiando ou ganhando ainda mais temperos? Onde as influências de Stones, breguice dos anos 80, folk, forró da esquina de casa e toda cultura pop que consumimos diariamente ajudam a formar.

Então é dessa forma que quero que você dê a atenção a esse disco. Ele não quer te dar diretrizes de como ouvir ou por onde começar. A ordem da playlist pouco importa e isso é algo inteligente em uma geração que consome singles e não se dá o trabalho de ouvir um disco de cabo a rabo.

O disco foi produzido e mixado por Gustavo do Vale em São Paulo nos estúdios Bocaina 72 e Porto Produções Musicais. A masterização ficou por conta de Ricardo Carvalheira que já trabalhou com bandas como Inocentes e Paralamas do Sucesso.

A ousadia a cada canção está na dosagem de influências de coisas diferentes. Então se dispa de pré-julgamentos, frescuras e não encare simplesmente como um disco de punk rock. Após isso você está devidamente preparado para dar o play sem erro. Se deixe levar pelo abraço do sol.



Quem chega para dar o olá é literalmente “Hello” que começa com riffs alá hard rock. Naquele ritmo de festa que faz você querer cantar junto. Algo que Kiss, The Darkness e o próprio Guns N’ Roses conseguem fazer com facilidade.

Não que o punk fique atrás na simplicidade dos arranjos. É interessante observar o trabalho de backin vocals e os traquejos alá Twisted Sister na voz do Matheus. A faixa fala sobre deixar as máscaras para traz e aproveitar o processo de autoconhecimento. O pontapé inicial para contar sua história.

“Good Times” tem aquela áurea gostosa de bandas como Catch 22, Big D and the kids table, No Doubt e o espírito californiano good vibes. Se você curte The Interrupters e Save Ferris, meu amigo esse brinde é para você.

A letra fala sobre saudade dos velhos e bons amigos…e mesmo com a distância as memórias boas não sendo apagadas. É aquele convite para brindar as boas e velhas amizades que o tempo não conseguiu destruir, apenas digamos assim: distanciar. Um convite para um bom drink e reatar o contato, por que não?

Sabe aquele abraço no querido Mr. Reggae? Que Slackers, Aggrolities, Toasters conseguem fazer de maneira gostosa sem ser algo cheio de poeira? É por aí a levada de “Lets Love”. Que abre o peito para falar que amor é a resposta. Algo tão Beatles, né?

É sobre falar a verdade, expandir sua essência. Jogar limpo e lavar a roupa, deixar as mágoas para traz e buscar um novo amanhã através do amor. Tudo isso com muita delicadeza. Deixe se levar pelo beat contagiante e o embalo caliente do rocksteady.

Assim chegamos a quarta faixa, “Dancing Outta Steps”, que como o nome mesmo diz promete não te deixar parado. É aquela música para dançar, jogar o copo de cerveja para o alto e moshar. Particularmente eu acho que tem um quê de Social Distortion.

Particularmente eu gosto desse efeito anos 90 meio Backstreet Boys de delay de voz no fim da música, Britney Spears mandou lembranças. Uma canção que mais feliz que pareça é sobre partidas.

O próprio vocalista Matheus Krempel contou para o Blog’n’Roll (Blog do jornal A Tribuna de Santos) o que queria dizer com a canção.

“A música trata sobre as coisas que estão no ponto cego de qualquer relacionamento. A questão de fazer escolhas difíceis e às vezes se arrepender tarde demais para salvar alguma coisa. A letra em si, aborda um relacionamento, que contaminado pelo comodismo, leva ao distanciamento”


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O guitarrista e vocalista Matheus Krempel e o baixista Daniel Bock estiveram na última madrugada de sábado no programa Heavy Pero No Mucho apresentado pelo Thiago Deejay. – Foto: Divulgação.

“Exodus” a primeira do bloco já chega com aquele espírito Heart (aquela banda da canção “Barracuda“) e flerta com o metal dos anos 80. É brega mas você canta junto….isso em sua introdução.

Mas a mágica acontece quando entra a sanfona e os triângulos feito por dois senhorzinhos, Olívio Filho e Zé Pitoco, como soube conversando com a banda.

Confesso que adoro assistir o vídeo da fusão do Zé Ramalho com o Sepultura que aconteceu no Rock In Rio de 2013…então para mim foi incrível digerir a canção. Quem curtir The Baggios e Coutto Orchestra, feche os olhos e pire! Uma canção sobre envelhecer na cidade e a cada primavera se sentir diferente. Lembrando sempre dos bons tempos com carinho.

Transplants….você gosta de Transplants? Então dá uma sacada em “It’s All Right”. É uma faixa em que acontece uma experimentação com efeitos eletrônicos, rocksteady, algo meio technobrega. O que eu acho demais. A faixa fala sobre como a insanidade ao mesmo tempo que nos prejudica, faz com que nos sintamos vivos.

Ao mesmo tempo que consegue agradar fãs dos discos anteriores do Rancid. Inclusive recomendaria a dobradinha Rancid 2000 e Embracing The Sun na sequência….tomando uma boa cerveja. Harmoniza bem.

Já “Passive Agressive” começa meio country outlaw com uns backin vocals um tanto quanto Bad Religion mas se transforma em algo mais gaiteiro, até meio caipira….te surpreende pelas viradas.

Eu adoro Old Man Markley então foi algo como dar um copa d’água para quem está com sede. Consigo imaginar um clipe deles meio western, meio na vibe de “Airport Security” dos Bouncing Souls.

Mas quem te pega de assalto é “¿Que Pasa?”. Que veio de uma brincadeira de amigos. Faixa meio reggaemuffin, rocksteady, com hip hop e participação dos manos do Mafia Head e Shark Attack (Jhou e Jay Bone). Se você não tirar o pé do chão e não começar a ouvir no repeat….só te digo que você ouviu errado.

A letra da rima inclusive tem um tom politizado, fala sobre a crise e as dificuldades do dia-a-dia. A subida do meio pro fim da música deixa o clima de festa….já que entre uma rima e outra entra uma gaita esperta ao mesmo tempo que as guitarras aumentam freneticamente. O baile está tomado!

Na sequência temos “Feel So Good”, uma balada mais sossegada que passeia pela energia daquelas bandas dos anos 90 como Pegboy, Samiam e Street Bulldogs. Com uma levada mais melódica e participação de Fernando Hago ela dá um fôlego para o disco – depois de tantas faixas “porradeiras” assim dando uma pisada no freio.

Você já ouviu falar de Sá, Rodrix e Guarabyra? Pois bem o Bombers decidiu revisitar uma faixa do rock dos anos 70. “Mestre Jonas” é uma canção com tema bíblico que pode ser interpretada de diversas formas para o mundo que vivemos em 2017.

O Bombers subtraiu acordes e deu seu punch. No mínimo a versão te diverte e te faz pesquisar pelas lendas. A faixa inclusive ganhou um clipe gravado diretamente do aquário da Água Branca, São Paulo. Este que foi dirigido por Christian Targa.



Uma das minhas faixas favoritas do disco é com certeza “Get Along” pois é como se o punk rock do Frontkick, The Forgotten fossem de encontro com a sonoridade dos shows dos Stones. O refrão então é chicletudo e fica na sua cabeça. Se você for fã de Street Dogs, projeto do ex vocalista do Dropkick Murphys…essa vai bater bem demais.

Essa canção equivale por uma dose de rivotril. É sobre se perder mas ter seus amigos para segurar a bronca mesmo quanto tudo parece estar completamente perdido. Também pode ser interpretada como dar recado a quem reclama muito da vida e não faz nada para mudar. Não importa na real o verdadeiro significado mas as duas mensagens são bem vindas para qualquer ser humano que ler este texto.

A vibe burlesca “ballroom blitz” chega junto em “Sunset Criminals”, que até lembra um pouco as aventuras de Matt Freeman no universo do rockabilly com seu projeto, Devil’s Brigade, porém com mais punch do rock’n’roll setentista. É uma faixa que cresce a cada nova audição, vocês vão notar isto.

Chegamos a penúltima faixa de Embracing The Sun, faixa em português e com participação do Henrike Baliú do eterno Blind Pigs. Escrita em parceria entre o Matheus e Henrike.

Gosto da linha de baixo e os arranjos de “Última Estação”. Para um bom fã de street punk é sem segredo um novo gás para o estilo. A letra resume o disco: “É PRECISO VIVER, OUSAR, FAZER, ACONTECER.”

“Designated Driver” é uma regravação que fecha o disco. Ela está presente no “Split com o Sky Down” e conta com teclados que bebem da motown. Lembrando vários hinos da música latina. Aquela música para curtir com a gata numa nice! É o fim do abraço no sol!


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O quarto álbum full-length do The Bombers, Embracing The Sun, é o resultado de um trabalho que mostra maturidade em um nível onde a mistura mais soma do que soa “estranho”. Os novos ritmos e influências dão um punch que muita banda de punk rock procura e não encontra. O Bombers muito pelo contrário não se acanhou e comprou a briga. Seja ela com a crítica ou com quem descrê de seu potencial. Um álbum que flerta com novos ares para se encontrar. Um bom disco para ouvir tomando uma boa taça de vinho sem deixar de ser punk rock, alright?

Lançamento do Disco no Bar da Avareza

O grande lançamento de Embracing The Sun acontece nesta quarta-feira (12/07) no Contramão Gig #2. A festa organizada pelo coletivo formado pelos blogs Hits Perdidos, Cansei do Mainstream, Crush Em Hi-Fi e Rockalt chega a sua segunda edição com dois dos melhores show da atual cena paulista.


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In Venus. – Foto: Divulgação

Representando o pós-punk, a In Venus que acaba de lançar o ótimo Ruína via Howlin Records, PWR Records, Efusiva e Hérnia de Discos chega para um show afiado e cheio de cartas na manga que promete te transportar para a Berlin grupos como Einstürzende Neubauten.

Já o The Bombers apresenta seu recém lançado disco e promete emocionar os presentes com um show divertidíssimo e muita energia. Além dos shows quem for poderá desfrutar de cerveja artesanal, flash tattoos do Studio Bar e venda e troca de discos do Xarada Discos.

DJ SETS: Rafael Chioccarello (Hits Perdidos), Joyce Guillarducci (Cansei do Mainstream), João Pedro Ramos (Crush em Hi-Fi) e Helder Sampedro / Jaison Sampedro (RockAlt). Entrada R$10 ou R$30 consumíveis (em Chopp Mea Culpa).

Local: Bar da Avareza – Rua Augusta, 591
Horário: A partir das 19h
Fotos:
 Elisa Oieno
Apoio: Mutante Radio e Radio Planet Music Brasil


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