Hits Perdidos e Crush Em Hi-Fi apresentam: O Pulso Ainda Pulsa – Um tributo aos Titãs #Resenha

 Hits Perdidos e Crush Em Hi-Fi apresentam: O Pulso Ainda Pulsa – Um tributo aos Titãs #Resenha

A segunda-feira, 01/08, foi um dia muito especial na história do Hits Perdidos afinal de contas “colocamos na rua” nosso primeiro grande projeto, O Pulso Ainda Pulsa. O tributo ao Titãs é uma parceria com o blog Crush Em Hi-Fi e foi idealizado a cerca de 9 meses atrás quando em uma conversa informal decidimos que tínhamos que prestar uma homenagem aos 30 anos de um dos maiores discos do rock nacional: Cabeça Dinossauro (1986).

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Brasil – São Paulo (SP) – 10/12/86 – Titãs. Foto: Juvenal Pereira/AE Pasta: 46421 Fonte: Acervo Folha / Reprodução

Mas desde o primeiro segundo de conversa entre os organizadores tínhamos uma coisa em mente: não queremos simplesmente covers. E sim, versões. Mas não simplesmente por não gostarmos desse tipo de arte: por uma questão de ideal.
Para quem acompanha o dia-a-dia do Hits Perdidos e do Crush Em Hi-Fi sabe através do conteúdo dos sites que o que mais levantamos pauta é o universo das bandas e artistas independentes. Sua luta por conseguir espaço e destruir barreiras. Tudo por conta do desconhecimento do belo trabalho que é realizado apesar de todas as dificuldades.
Outro ponto que não queríamos era um tributo focado em apenas um gênero ou rótulo musical. Pois ao longo dos seus mais de 30 anos de atividade, os Titãs exploram em seus discos diversos gêneros musicais como o punk rock, a new wave, o grunge, o eletrônico e a MPB, sempre com uma autenticidade ímpar e conseguindo agradar os mais diversos públicos.
Não é de se surpreender ao ouvir a discografia da banda de que é uma das mais ricas e bem estruturadas da música nacional. Em discussão no grupo de facebook da Sinewave recentemente tivemos discussões acalorada para tentar desvendar qual era de fato o melhor disco dos grupo paulista.
Em parte disso pelo poder de magnetismo dos Titãs, que entre seus membros sempre possuiu grandes compositores. Suas letras sempre exploraram a crítica social, os dilemas do ser humano, os sentimentos, o sarcasmo e a diversidade.
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Em 1986 – no dia 1 de junho – foi lançado pelo então octeto um dos discos mais emblemáticos e importantes do rock brasileiro, Cabeça Dinossauro. Em um momento político instável, e 30 anos depois ele ainda continua atual. Tão atual quanto o mais recente disco do Giallos, Amor Só de Mãe (2016). Tanto que o grupo do ABC paulista foi um dos 33 selecionados a dedo para participar da coletânea.

O resultado foi melhor do que o esperado, com belas versões que fazem honra às obras originais sem perder a essência do som autoral. Afinal de contas, O Pulso Ainda Pulsa tem o papel também de mostrar os novos talentos da música brasileira e registrar este momento criativo – musicalmente – em que estamos vivendo, que por muitas vezes não tem a tão merecida atenção.

Esboço Capa
Foram escalados Abacates Valvulados, Aletrix, All Acaso, BBGG, Camila Garófalo, Cigana, Color For Shane, Danger City, Der Baum, FingerFingerr, Giallos, Gomalakka, Horror Deluxe, Jéf, Moblins, Mundo Alto, Nãda, Não Há Mais Volta, Paula Cavalciuk, Pedroluts,Penhasco, Porno Massacre, Ruca Souza, SETI, Sky Down, Subburbia, Subcelebs, The Bombers, Thrills And The Chase, The Hangovern, O Bardo e o Banjo e Videocassetes. Cada uma agregou de uma forma diferente e mostra o poder da nova cena da música brasileira.

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Vamos ao famoso faixa-a-faixa do Hits Perdidos. E para começar já temos um dos hits do disco Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas (1987), “Diversão”. Quem assumiu a banca foi os paulistanos da Thrills And The Chase com uma versão cheia de groove dos anos 70.

Esta que remete aos bons tempos da lendária gravadora, Motown. Com um baixo funkeado, Calvin nos surpreende cantando em português. Uma versão que deixa qualquer um querendo se jogar na pista de dança.
Quem chegou já colocando os dois pés na porta – e não pedindo permissão para entrar – foi o duo FingerFingerrr com “Polícia”. A canção presente no disco Cabeça Dinossauro (1986) e escrita por Tony Bellotto é um dos hinos do rock nacional e ainda continua extremamente atual devido aos acontecimentos recentes de intolerância.

Em sua introdução, já começamos com a vinheta de um vídeo do youtube de repressão em uma desapropriação, o que serve para aquecer os motores para o caos que está para se instaurar.

Cheio de microfonias robóticas, ela é total disruptiva. Te tira os pés do chão e te deixa atordoado: é uma versão poderosa. E desta forma traduz a veia contestadora dos Titãs.

Quem vem quebrar o clima e tirar o peso de uma canção com um perfil totalmente diferente é o SETI. Quem já ouviu “Será Que É Isso Que Eu Necessito” sabe do que eu estou falando.

O destaque fica por conta da reconstrução em todos os níveis de sua estrutura. Afinal de contas transformar uma canção “paulera” em uma deliciosa canção synth pop/shoegazer não é para qualquer um. Não deixe de conhecer o trabalho deles com o belíssimo, Êxtase.

SETI (Roberta Artiolli e Bruno Romani): “Assim que recebemos o convite, pensamos nos mais óbvio: vamos no disco mais eletrônico dos Titãs, Õ Blésq Blom, para ver se tem algo para gente. Mas era muito óbvio e desisitimos rápido da ideia. Nos dias posteriores, escutamos toda a discografia dos Titãs. E daí veio a ideia: vamos no disco mais pesado, Titanomaquia, e transformar num dreampop com a nossa cara. A gente nunca tinha tocado uma música de outro artista e era uma obrigação deixar essa versão com o nosso DNA. Acho que nesse quesito, fomos bem.
Tiramos o foco da bateria, que é protagonista no original, e enfatizamos a voz, o synth e as guitarras reverbosas – mesmo porque a gente nem baterista tem (embora o Rodrigo Castro, que faz alguns shows com a gente, tenha gravado algumas coisas, o que tb marca a primeira vez que tivemos bateria orgânica numa música nossa). Como começamos a trabalhar bem cedo na versão, a gente não tinha nem certeza se o projeto do tributo ia vingar. Então, a gente comentava que se o tributo não vingasse, transformaríamos o que tínhamos gravado em uma música nossa.
Escolhemos também “Será que é isso…” por outras duas razões: Uma que ela já era a música da banda favorita do Bruno. A segunda é que o tema dela é massa. Vimos uma entrevista de 1993 do Sérgio Britto na qual ele diz que a letra é sobre autocobrança e sobre a pressão que você faz em você mesmo. Rolou total identificação porque isso rola muito com a gente. Quem mais pode nos colocar para baixo é a gente mesmo.
E como fomos a primeira banda a entregar? Bom, a gente teria os meses de abril e maio com agenda cheia e não ia dar para gravar e trabalhar como a gente gosta. Então montamos o arranjo antes e fomos para o Minster Estúdio, em Campinas, no primeiro final de semana de abril. Depois passamos o resto do mês trocando ideia com o Ric Palma, que gravou e co-produziu com a gente. Depois de tudo captado, a gente gosta de ficar trabalhando os detalhes da música, buscando vozes, efeitos… Ou seja, a gente demora no estúdio e precisava desse tempo. A gente trabalhava com a ideia de entregar antes do primeira deadline, que era 1 de junho. Bom, deu no que deu.
Esperamos que todos tenham curtido!”

A canção composta por Marcelo Fromer e Sérgio Britto, “Coracões e Mentes” ganhou uma versão interestelar-atari from outter space que parece que saiu direto dos anos 80. Que não poderia ter sido feito por outra banda além da Der Baum.
O destaque fica pelo duelo vocálico entre os integrantes. Visto que um dueto masculino e feminino deu um clima todo diferente da versão original. Aliás em alguns dias o clipe de “Veronika Robótica” ganha vida. Não deixe de acompanhar de perto o trabalho deles.

“Assim que rolou o convite para participar da Coletânea em homenagem aos Titãs nós queríamos muito participar e a escolha foi unanime e feita nos primeiros 5 minutos de bate papo…
A gente sempre colocava Cabeça Dinossauro pra ouvir na pré-produção do EP Veronika Robotika (2015). Sempre foi uma referencia foda oitentista com letras em português que a gente admirava muito. A sonoridade pós punk e os detalhes de vozes e teclados sempre foi uma referencia foda pra mim.Foi o Lucas o primeiro que falou em “Corações e Mentes” acho… dai todo mundo correu a descobrir ou re-descobrir o som.
Na hora eu lembrei dos vocais de fundo e achei que ia ser perfeito pra gente, já que todo mundo canta. E a gente achou a chance de mostrar a voz de todo mundo, assim começou a loucura para produzir essa faixa.A gente tinha pensado em juntar com a Galera do Porno Massacre e Abacates Valvulados para captar a batera junto, no Rabit Hole o estúdio do Rafael do Abacates, no fim rolou com os Abacates já que o Cesar é batera em ambas as bandas já matamos as captações em um dia de estúdio. Foram 10 faixas de bateria captadas.Depois com minha placa de audio a gente fez as captações dos instrumentos aqui no Studio Intrinseco. As vozes por ultimo. Gostei bastante do efeito do coro com as vozes que combinaram e deram o efeito que a gente queria.
Nos teclados já que a música tinha um tema num sintetizador eu resolvi incrementar mais e desenvolver outras linhas e pirar nas programações de efeitos percussivos no fundo.
No final a gente ficou muito contente com o resultado e com o feedback da galera em geral. Tentamos trabalhar a dinâmica da musica, já que ela tem diversas partes, para trazer um pouco da cara da Der Baum na faixa.” – Fernanda e Ian da Der Baum

Para deixar tudo num clima de coração partido, com melodias powerpop o Mundo Alto faz uma versão com poder de jovem guarda de “Insensível”. É impossível a música não ficar na sua cabeça feito chiclete. Os teclados dão uma atmosfera densa e quando entram as guitarras, a veia pop transparece.
Direto de Limeira (São Paulo) quem vem para dar a conta do recado é a banda Cigana. “Deus e o Diabo” (Õ Blésq Blom – 1989) ganha um baixo alá Red Hot Chili Peppers, teclados com uma atmosfera dub e melodias doces. Gosto muito de como se preocuparam com os detalhes, principalmente nas transições da canção, onde na reconstrução tem sua maior força. O som coração com taquicardia no final soa como a cereja no bolo.

Matheus Pinheiro: “A gente queria fazer uma versão de alguma música que não fosse tão óbvia, que não fosse um “super hit” dos caras…e escolhemos “Deus e o Diabo”, tanto pelo seu groove, bem marcado, como pelas boas doses de experimentalismos que contém.
Fizemos um ensaio com todo mundo pra ver se esse som rolava legal, e daí já fomos pro estúdio, que foi onde a gente criou a grande maioria das coisas dessa nossa versão. Íamos criando os arranjos e já gravando em seguida. Todo esse processo foi bem divertido, e participar desse projeto e homenagear o Titãs foi uma experiência única e muito valiosa pra Cigana. “Deus e o Diabo” é uma música super legal, com uma letra forte e cheia de simbolismos, e eu acho que as pessoas têm que “descobrir” mais esse som.”

Eles ainda nos surpreenderam enviando um clipe das gravações realizadas no CODA Studios.

Para deixar com as lágrimas escorrendo no rosto, vem “Epitáfio” de uma maneira como você nunca viu. O Bardo e O Banjo recriou toda uma atmosfera sem perder sua identidade. Com direito a banjo e violino. É uma balada caipiresca cheia de elementos do hibilly. Que te remete a “Here Comes The Sun” dos Beatles em certos trechos.

Ela tem o poder de deixar qualquer marmanjo emocionado. Na minha memória afetiva, me remeteu ao filme Toy Story. Quem diria que “Epitáfio” ia te colocar para dançar, hein?

Um tributo aos Titãs não poderia deixar de lado o disco mais recente: Nheengatu (2014). Para brindar a nova fase do grupo, nada como convidar Paula Cavalciuk. Ela trás a ginga da nossa MPB para o disco.

A atmosfera intimista parece te chamar para conversar de canto. Os arranjos chamam a atenção por sua delicadeza, compaso batuques e soma de ritmos.

O disco Õ Blésq Blom (1989) através de “O Pulso” ganhou uma releitura total experimental cheia de fuzz e viagens alucinóticas progressivas de guitarradas dignas dos anos 70 na versão do Danger City.

Pedro Gesualdi: “A gente quis fazer uma espécie de experimento com essa versão. Como a banda que me acompanha no Danger City não estava disponível na época da gravação, chamei o Theo Portalet (Hangovers, Dolphins on Drugs) e o Caio Casemiro (Sheila Cretina, Tokyo Savannah) pra retrabalhar a música junto comigo no estúdio, na hora. A gente montou a releitura ali juntos, partindo da música, mas se soltando num esquema jam. Depois, adicionamos os vocais com algumas doenças novas pra poder brincar um pouco e dar um ar atual, já que enfermidade é um asset social e cultural tão forte.”

Com uma levada mais street punk quem chega para dar conta do recado é o Não Há Mais Volta com “Homem Primata”. A versão gravada no Estúdio Lamparina (SP) ainda conta com a participação nos vocais do Badauí (CPM 22). Uma canção digna para cair no circle pit.

Fernando Lamb: “A gente sempre tocou “Desordem” nos ensaios no começo da banda, chegamos a fazer uma versão, mas não ficamos muito satisfeitos e abandonamos. Numa conversa com o pessoal do The Bombers, eles comentaram que tinham gravado “Desordem” para um tributo ao Titãs.
Na hora eu fiquei louco, queria fazer parte disso de qualquer jeito, meu primeiro show da vida foi do Titãs, e sempre fui muito fã da banda. Enfim, chegamos nos 45 do segundo tempo, conversei com o João Pedro do Crush e ele me passou a lista de musicas que restavam e me disse que tínhamos 15 dias pra entregar a música pronta. Eu olhei Homem Primata dando sopa e não pensei 2 vezes, é uma música que todos da banda gostam muito. Na verdade não conheço ninguém que não goste dela (risos).
O Ricardo Galano (guitarra) fez a versão punkrock, mais curta, com a nossa pegada, em 1 dia. Fizemos 1 ensaio e fomos pro estúdio e gravamos em 6hs tudo.
Porém o Badaui do CPM22, que é muito amigo nosso, disse que gostaria muito de participar com a gente. Abrimos mais 10 minutos de estúdio, gravamos e no dia seguinte o Hospede (produtor) entregou a mix. Aprovamos e dentro dos 15 dias, estava entregue a nossa versão.



Com uma versão capaz de deixar qualquer pub num clima soturno e com vontade de empunhar um copo de Whiskey 12 anos, Pedroluts nos apresenta uma versão alá Tom Waits de “Não Vou Me Adaptar”.

Esta que vem sendo bastante elogiada e ganhou destaque na rádio 89FM junto do O Bardo e O Banjo. A rádio paulistana executou durante a semana passada nos programas Ramona e Rocknroll Party, apresentados pelo Thiago Dj, a versão do Não Há Mais Volta.

Com o peso e uma energia pós-apocalítica, representando o rock mais extremo – com influências dignas do metal dos anos 90 –  temos a Penhasco com “Disneylândia”.

Um destaque fica pelos corais alá cantigos gregorianos que nos transportam para um show que seria digno de abrir para o Ghost. O baixo age como uma metralhadora, as guitarras transmitem a força do punch e Boqa nos vocais dá a letra da caricata canção dos Titãs.

Luciano Portela: “Bom, para começar nós soubemos do convite para participar do tributo através do Dija ou do Boqa, não me lembro bem. O curioso nisso é que apesar de todos já terem ouvido muito em algum estágio de sua vida começou um processo de revisitar a discografia.

Conforme revisitamos pensamos possíveis músicas. Chegamos a propor “Nome aos Bois” (minha sugestão), Dija chegou a comentar de fazer uma versão Stoner de Sonífera Ilha. E no final decidimos que seria algo do Titanomaquia. A dúvida era entre “Disneylândia” e “A verdadeira Mary Poppins”.
A partir daí pensamos qual dessas canções se adequaria melhor ao universo da Penhasco. Qual delas teria uma temática próxima do que costumamos tratar em nossas composições. Nem preciso dizer, “Disneylândia” ganhou de forma unânime.

No processo de criação que saiu em boa parte do Dija. Ele buscou na transcrição trazer o peso típico com afinação bem mais baixa que o comum. (risos)
Conforme a canção tomou forma, fizemos acréscimos de corais e buscamos uma dinâmica instrumental que fica a parte da linha vocal (essa buscando ser mais fiel a original).”
Boqa: “Eis que fizemos as sessões pra gravação, acredito que em dois ensaios já nos sentimos confiantes para gravar. Focamos em diversos detalhes na estrutura da música pudesse também imprimir nossos rumos sonoros. Coros, vocais solos, entre outros.
No Choque dB, terminamos tudo bem rápido. Na outra semana, com a mix a master prontas, sentimos que entregamos algo ao nível do que se espera de um tributo para esses mestres do rock nacional.”

Para cantar um dos maiores hinos dos titânicos, “Comida”, quem optou por cantar em português e nos surpreendeu foi a BBGG. A versão surpreende pois consegue englobar elementos do funk e da música eletrônica ao rock alternativo. Uma levada que me remete a catarse coletiva que o Primal Scream consegue me provocar.

Para deixar qualquer fã de The Cramps em transe e hipnotizado feito o show que eles realizaram em um hospício ainda nos anos 80, temos a Horror Deluxe com “Taxidermia/Nem Sempre se Pode Ser Deus”. É veneno nas veias, é a garagem ganhando a luz da vida feito frankenstein conhecendo o mundo.

Com uma das versões mais non-sense/cat maniac deturpada, Aletrix, nos apresenta sua versão de “Flat Cemitério Apartamento”. Uma viagem ao mundo da lua, cheia de ousadia grunge e riffs de guitarra fugazes. As intervenções psicóticas e o tom de deboche nos remetem ao seu primeiro disco, Herpes Aos Hipsters.

Para tirar todo mundo do sério feito uma bomba de gás lacrimogênio, o duo Subburbia trás beats eletrônicos que deixam “Lugar Nenhum” feito um hit digno de Manchester. Em 1:30 elas dão conta do recado com seus inteligentes loops e efeitos de delay na voz.

Assim fechando a primeira parte da coletânea, o chamado “Disco 1” sob ondas apocalípticas. Então vamos ao segundo disco, pois ainda temos 17 faixas a serem analisadas!

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Para começar quem chega feito um petardo – diretamente de Santos – é o The Bombers com “Desordem”. A música que originalmente é bicorde ganhou novos arranjos – que foram até elogiados por Sérgio Britto – chegando a cinco acordes.

Fãs de Rancid não ficarão decepcionados com a versão digna do ska/punk. Inclusice Matheus, o vocalista dos Bombers comenta sobre:

Matheus Krempel: “Cara na real a gente recebeu o convite do João, do Crush, e aí a gente analisou a lista toda. Eu imprimi uma cartela com um trilhão de músicas do Titãs; e imprimi as cifras. Fui para casa e sem compromisso nenhum fiquei tentando adaptar, criar e ver qual que se encaixava no meu tom de voz, no tom da banda com a cara do The Bombers.

E aí eu peguei e selecionei umas três, mandei pros caras e eles curtiram “Desordem”. Só que eu tinha mandado uma versão igual a original com 2 acordes só. E a banda pegou e resolveu incluir uns elementos de “Wrong Way”do Sublime. Se você parar para perceber tem os dois acordes da música original, a gente acabou reconstruindo ela com 5 acordes. Mudamos um pouco da métrica, dinâmica de voz, melodia um pouco.

Cara a gente tentou transformar a música em nossa. Quando terminou a gente só ficou satisfeito quando a gente falou “cara, realmente é outra música como se fosse nossa. Então foda-se é isso aí! Tinha que ter a nossa cara e a gente conseguiu”. Então tá bom, daí a gente liberou.”

“Medo” ganhou uma repaginada com peso, classe e consistência na voz de Camila Garófalo. A música cresce de maneira criativa, orgânica e mostra a riqueza nos detalhes. Um destaque fica por parte da diversidade de elementos e na dosagem do peso na versão.

Empunhando uma viola de dez cordas e muita personalidade, quem escolhe uma das composições de Nando Reis e cita como grande inspiração em seu trabalho é o Nãda. Com uma faixa recheada de violas, guitarras flutuantes, contra baixo de arco e elementos rock’n’roll dificilmente ela não toca seu coração e te transporta para a infância.

Sim, estou falando de “Cegos no Castelo”, aquela mesmo que ganhou uma incrível versão orquestrada nos tempos de Acústico MTV. O projeto de Rafael Inácio é o grande representante da cena instrumental brasileira – que de pouco em pouco vem ganhando território com novos nomes.

Rafael Inácio: “Muito difícil eu tocar “músicas dos outros”, pra mim foi um grande desafio, depois de definir a música, imaginei uma levada um pouco mais rápida, tirei a melodia e fui adaptar pra viola, acabei simplificando bastante os acordes mas funcionou…
Com a viola mais ou menos definida mandei uma gravação caseira pro resto da banda, quando o André (Leal) ouviu ele já deu algumas ideias como ter o contrabaixo acústico com arco e a piração pré refrão alá “A Day In The Life” dos Beatles, foi engraçado porque quando ele falou eu confundi com “Tomorrow never knows” também dos Beatles, depois conversando ele acabou resolvendo usar uma batida mais ou menos parecida com a “Tomorrow never knows” na segunda parte do refrão.
Fizemos um ensaio pra fechar a bateria sem o resto da banda, daí partimos pra gravação. Gravamos as violas e a bateria e mandamos para o resto da banda. Eu gravei de uma forma bem diferente do que já tinha gravado até então, usei efeitos, fiz várias dobras, tanto na base quanto no solo, tem base com um delay de fita espetacular do estúdio Jukbox, o solo eu dobrei usando um pedal da Electro-Harmonix chamado Ravish Sitar, tudo bem diferente do que já tinha experimentado até então.
A partir daí o Kleber (Mariano), o Júlio e nosso convidado do contrabaixo acústico Willian Moreno fizeram a parte deles em cima da gravação base, infelizmente nosso tecladista estava muito atarefado com a faculdade e por conta do prazo não conseguiu participar. Uma curiosidade é que no meio da piração pré refrão tem um trecho da música original, será que alguém consegue identificar?”


Assim como as canções de David Bowie, a rebeldia está tanto no DNA dos Titãs, como da Gomalakka. Quem disse que a resistência não pode ganhar passos coreografodos e um show de luzes coloridas?O clima e a atmosfera é de pista de dança, mas o gingado só podia ser brasileiro. Você fica hipnotizado no dance punk frenético da Gomalakka só de ouvir o EP Lá Em cima (2016). E para o tributo a faixa escolhida pelos paulistas foi um clássico do Cabeça Dinossauro (1986), “Estado Violência”.

Ciça: “Ao sermos convidados a participar do Tributo O Pulso Ainda Pulsa, não conseguimos esconder nossa animação, já que, afinal, tínhamos crescido ao som da banda. A partir daí cada integrante fez uma pequena lista com 5 músicas, segundo alguns critérios:

  1. Que não fosse o hit mais conhecido, ou tocado, justamente pra homenagear a diversidade e  grande produção da banda
  2. Que o bpm pudesse se aproximar naturalmente à sonoridade punk dançante do Gomalakka
  3. Que a música tivesse um tom de crítica pertinente ao cenário atual ( o que não foi difícil de encontrar, visto que demos muitos passos atrás ultimamente)
  4. Que conseguíssemos imaginar que essa música poderia ter partido de nós mesmos, no conjunto letra e construção rítmica. Ou seja, queríamos engolir o conteúdo e forma e devolver um filho nosso, sem contudo alterar drasticamente a estrutura original, a ponto de torná-la irreconhecível.

Além disso, por ser uma edição comemorativa dos 30 anos do super Cabeça Dinossauro, queríamos encontrar alguma canção deste álbum, ainda que não fosse item obrigatório.
Com isso chegamos a “Estado Violência”, forjado em sua época no climão pós-ditadura, ainda cheio de censura velada, e que identificamos como nunca na paisagem política atual, em que vamos sofrendo tantas violências a direitos e liberdades individuais.
Dessa forma, nos pareceu mais que pertinente utilizá-la como reinvidicação clara de liberdade de expressão, do corpo e da mente, contra regras e status quo opressores, que em suma é o que sempre guiou nossa própria produção desde os primórdios.
Mais do que nunca: deixem-me querer, deixem-me pensar, deixem-me sentir!!!!!
Não precisamos nem dizer como ficamos apaixonados pela música e com impulsos criativos para novas produções, só temos a agradecer e esperamos que essas ondas de liberdade cheguem até vocês!”

Com uma levada cheia de fuzz mas mantendo o artifício dos teclados melódicos – e direto de Fortaleza – temos Subcelebs com “Domingo”. Sim, do famoso disco de mesmo nome produzido por Jack Endino em 1995 – o mesmo do Nirvana.

A energia e vitalidade que eles adicionaram a canção dão um punch de explosão a aquelas emoções dúbias que é viver um domingo qualquer. O solo deixa tudo mais solto no ar com uma atmosfera digna de Dinosaur Jr. Captaram perfeitamente a ironia da essência da música.

A música mal começou e você já se sente cansado. Sim, isto é um senhor elogio quando a versão que estamos nos referindo é exatamente a de “Tô Cansado”. E quem pegou esse desafio para sí foi o duo soturno – e macabro – Moblins.

Steve Di Pace: “Na música original, é um “cansei” tipo “não aguento mais tudo isso, To puto, vai se fuder”. Nós pensamos na música como uma pessoa 30 anos depois falando à mesma coisa, como se o protagonista da original não teve um final feliz. A gente pensou naquelas musicas de folk americanas que passavam de artista pra artista e a historia as vezes avançava tipo “Stagger Lee” ou “Stagolee”. A gente escolheu uma musica do disco Cabeça Dinossauro pro causa disso mesmo (e porque é o disco dos Titãs favorito da Vivi), pra brincar com essa ideia de narrativa e a cronologia de 30 anos depois.

É um cansaço mais no sentido de resignação, que já passou do desespero e da raiva. O “protagonista” cantando, esta quase sendo arrastado pela própria musica. Ele nem acaba o verso direito e o refrão ja chega empurrando. Tanto que no final ele desiste e a musica desmorona e engole ele.
A gente gravou tudo e mixou aqui em casa mesmo (foi a nossa vez tentando mixar, geralmente a gente manda para os nossos amigos que fazem isso muito bem). Passamos os acordes pro piano, criamos a batida no drum machine de briquedo da Korg. A Vivi fez vários “takes” pros vocais do refrão e eu decidi enfiar todos mesmo. A gente escreveu a as partes de guitarra e baixo no piano mesmo também.”

Steve e Vivi criaram uma atmosfera eletro-drácula-densa com artifício do teclado, baixo no talo e vocais sussurados. A voz de Steve carrega a essência e trás a escuridão mais para proximo do ouvinte. Como se não fosse o suficiente eles aprenderam a mixar em casa. Sim, tudo feito diretamente do quarto de casa. De tirar o chapéu.

Screen Shot 2016-08-09 at 12.35.24 AM

Quem chega para emocionar e executar uma das músicas mais belas – e delicadas – da discografia dos Titãs é o porto alegrense, Jéf. Tratas-se de “Enquanto Houver Sol”, em uma versão que tem a sensibilidade do pop: voz, violão e melodia.

Outra canção delicada, “Flores”, também ganhou uma bonita versão na voz de Ruca Souza. O destaque fica por conta da Citar que ela usa como artifício para dar todo um tom místico a música. Esta que casa com sua voz doce e resulta em uma releitura ímpar para a forte composição titânica.

“Nome aos Bois” uma das canções que não tem rabo preso dos Titãs foi escolhida pelo Giallos. A banda do abc paulista trouxe um mar de influências para a versão, do rap/hip hop do Projetonave ao punk/jazz/rock do DNA do grupo.

Com a responsabilidade de deixar a música contextualizada para o ano de 2016, eles entraram logo com uma vinheta da votação do Impeachment na câmera dos deputados; mais precisamente com o discurso raivoso de um deputado de extrema direita (que não vou citar o nome pois não merece espaço por aqui, ok?).

Quem já chega com vinheta do plin plin na introdução é o The Hangovern em “Televisão”. Uma versão cheia de grooves psicodélicos/progressivos com acordes suaves. Os backin vocals cadenciam bem a atmosfera dos solos de guitarra na proximidade com os fim da canção. Assim como a versão do Penhasco, os cantigos gregorianos tem espaço reservado na viajante versão.

Uma das canções do tributo mais caricatas e que expurga sensualidade é “Isso Para Mim É Perfume” nos vocais de Roger e sua trupe da Porno Massacre. O mais sensacional é imaginal as performances energéticas e teatrais – típicas de seus shows – ao vivo.

Num estralo de dedos, a levada digna de Tom Waits brincando de punkrock faz parecer com que a canção foi em sua realidade: um presente dos Titãs para o grupo paulistano.

Roger Marinho: “Titãs foi o primeiro show a que fui na vida, com nove anos, lembro de ficar em pé na cadeira gritando todas as letras de cor. Portanto dá pra imaginar que o convite para a coletânea foi algo muito especial para mim.
Logo de cara já escolhi a música “Isso Para Mim É Perfume”. Achava que tinha tudo a ver: escatológica e deliciosa, lado B incontestável. Quem ao ouvi-la não sonha com um relacionamento em que se atinja a profundidade íntima que ela relata? Desde o início foi nossa primeira escolha.
Fizemos um ensaio onde experimentamos muita coisa, indo de um extremo ao outro, para decidir que linha iríamos seguir no dia da gravação. Como a escolha mais óbvia seria entregarmos algo que reforçasse ainda mais o peso da música original, decidimos pelo caminho inverso e retiramos o peso das guitarras, tornando-a mais leve, mais climática e sugestiva. A faixa deveria seguir nesse ritmo cadenciado e lento, aumentando de intensidade gradativamente até estourar em distorção já bem no final.
Assim seguimos para a gravação. Teríamos 6 horas de um domingo cinzento para gravar tudo. A voz (50% sussurrada, 50% o Pinhead do filme Hellraiser), que acabou ficando como se um pervertido cantasse a letra enquanto se masturba, surgiu naturalmente, já na primeira tentativa.
Ainda incluímos uns estalos de dedos a lá Bobby McFerrin para tornar tudo um grande cabaré decadente. A coisa toda foi tomando forma e a música ficou de uma devassidão que beira a canastrice, que é onde reside, para nós, o seu charme. Por fim, só posso dizer que ficamos muito felizes por poder contribuir para esse tributo!”

Quem surpreende justamente por se aventurar em cantar em português é Rafael Pires e seu Color For Shane. A música que começa parecendo com a original ganha sua virada na guitarra solta e lo-fi com direito a efeitos de pedal que dão toda uma nova “cara” para o som.

Uma das versões que chega para tocar literalmente o terror é a de “Clitóris” da Sky Down. O grupo que agora está com uma nova formação, com Amanda no baixo, está trabalhando em um novo disco que em breve ganhará “vida”.

A canção tem um pouco de Dead Kennedys, Jesus And The Mary Chain e a sujeira do Wipers numa catarse de guitarra chiando sem parar. As vezes temos que ler nas redes sociais o termo “rock sem frescura”. Esta versão literalmente chuta o balde e chama para a chincha. Ela é magnetizadora, convoca o caos e a auto-destruição através de guitarradas dignas de Sonic Youth/Melvins.

Caio Felipe: “Acredito que os discos que tem mais algo a ver com Sky Down são o Tudo Ao Mesmo Tempo Agora e Titanomaquia, mesmo gostando muito do Cabeça Dinossauro e Domingo.

A principio havíamos até pensando em algo do Cabeça Dinossauro, mas ai um dia passou “Clitóris” pela cabeça (por que será?). É da fase que os críticos da época chamavam os Titãs de escatológicos. Ela já tinha uma leve sujeira que queríamos levar a outro nível, na original a sujeira ficava em segundo plano depois da melodia, invertemos e deixamos ela em primeiro plano e sem tanto “groove” de bateria. Falando assim parece que foi pensando, mas nem foi, foi gravada ao vivo num dia e saiu desse jeito.”

Agora com quatro integrantes e fruto um novo recomeço – antes 3ÉD+ – o Videocassetes praticamente desde seu primeiro ensaio já tinha a missão escolhida pelo vocalista/guitarrista Dom Orione: fazer uma releitura de “Hereditário”.

Vale ressaltar que Dom foi um dos primeiros a cravar a canção que queria. Em suas palavras: “já sei como quero fazer, é algo que tenho em mente a vida toda”. Das demos que conversamos muita coisa mudou, menos sua vontade em fazer algo que homenageasse dignamente seus ídolos. E foi assim que surgiu a faixa, que tem peso, verdade e muita transpiração rock’n’roll.

Em seguida temos mais um clássico do Cabeça Dinossauro (1986), “Bichos Escrotos”. Quem interpreta dessa vez é o Abacates Valvulados com uma versão cheia de delays no pedal e um clima digno dos anos 90.  Algo que achei muito bacana da versão foi a homenagem a Paulo Miklos em manter a pronuncia de “Bichos Escrotos” da mesma forma da original.

Já chegando na parte final temos All Acaso com “Go Back” em versão ao vivo no estúdio. Para fechar o tributo com chave de ouro quem aparece direto do Rio de Janeiro é os garageiros do Ostra Brains com uma versão cheia de veneno e fogo na agulha de “Babi Índio”. Em 1:35, sangue e suor são derramados em uma versão rápida e explosiva.

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A resposta do Titã Sérgio Britto.

Após o trabalho finalizados ficamos na expectativa do que os Titãs iriam achar sobre o projeto. Afinal de contas, nada como ter a aprovação dos homenageados. E foi melhor do que o esperado com Sérgio Britto rasgando elogios tanto para a qualidade das reconstruções quanto pela complexidade do projeto.

Eu sinceramente em meu nome (Rafael) e do João Pedro gostaria de agradecer e parabenizar a todas as bandas pelo trabalho. Muitas reconstruções superaram nossas expectativas e refletiram a essência do som autoral. Antes de qualquer coisa o tributo tem principalmente esta função: com que mais pessoas conheçam e passem a admirar os novos talentos de nossa nova cena de música brasileira. Nosso mais sincero: Obrigado!

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