Gramofocas, Ramones e o novo EP do Paulo Rocker & os Rockaways
O ano é 2004 e o Gramofocas, de Brasília (DF), começa a despontar na cena de punk rock nacional com o clássico Sempre Que Eu Fico Feliz Eu Bebo. Foi assistindo aos Piores Clipes do Mundo, apresentado até então por Marcos Mion, com direção do ex-VJ Chuck Hipolitho (Forgotten Boys, Vespas Mandarinas), que pude assistir pela primeira vez o videoclipe de “Garota Comunista”.
Um clipe simples, bem humorado e com uma letra que era impossível não rir ao ouvir pela primeira vez. Com três acordes e a receita Ramones, querer conhecer mais sobre as outras canções era questão de abrir ir na comunidade de Orkut buscar pelo link do disco – e depois torcer para tocarem na cidade.
Letras com boas doses de ironia e sarcasmo recheavam o material que não perdoava o hype do hardcore melódico, transformava as bebedeiras em hinos de bar, versava sobre filmes de terror e sempre que podia homenageava a banda liderada por Joey Ramone. Os anos se passaram e a banda ainda viria a lançar No Bar – que neste ano completa 10 anos – e depois de algum tempo encerrou as atividades tendo antes gravado um DVD ao vivo no icônico Hangar 110.
A Volta de Paulo Rocker para a Música
Paulo Rocker viveu aquele tempo de reclusão de não querer mais estar em uma banda, como conta em entrevista, até que um amigo de longa data, o músico Henrique Badke (Carbona), acabou incentivando para que ele voltasse em 2018. Na época até resenhamos o primeiro EP, agora em meio a pandemia o músico candango disponibiliza o segundo EP, Cretino Rapaz.
O lançamento que já está disponível no Spotify conta com 6 músicas, sendo 3 inéditas e 3 que foram lançadas como single ao longo do último ano. Ele contou com a ajuda do produtor Davi Pacote de Porto Alegre (RS) – um dos maiores entusiastas e fomentadores do cenário do punk rock bubblegum nacional.
“As músicas foram gravadas à distância no Hill Valley estúdio, em Porto Alegre, do sempre presente Davi Pacote, que tocou todos os instrumentos. Os vocais foram gravados em Brasília, por mim.
A ideia era nos mantermos fiéis ao som do primeiro EP, uma sonoridade bem Ramônica com referências frequentes à banda (daí o Rockaways que dá nome ao projeto) e melodias BEM grudentas.”, revela o músico
Paulo Rocker & os Rockaways Cretino Rapaz
“Garoto Bicho” abre os trabalhos e ele define como “Uma música amarga, que fala de introspecção e reclusão de um jeito bem humorado.”
Sobre “O Jeito Dela (de dizer que me ama)” Paulo comenta que é “Música de amor, mostrando que o dia a dia juntos não é só um mar de rosas e que o amor é demonstrado de várias maneiras”. Para os fãs de longa data ele trouxe uma nova versão para uma canção dos Gramofocas, “Paradise”.
Um cover de Gramofocas. Com os Gramofocas a gente fez essa música da forma mais rápida e crua possível, com essa versão a ideia foi dar um charme pra música, um ritmo que se perdeu na outra versão e, finalmente, uma oportunidade do ouvinte entender a letra… A gente tinha feito uma versão estilo “Loco Live”, agora resolvi experimentar uma “End of the Century”., conta Paulo Rocker
Entrevista: Paulo Rocker
Como é para você lembrarem sempre com carinho do álbum “Sempre Que Eu Fico Feliz Eu Bebo” (2004) e as memórias dos shows do Gramofocas? Vocês ainda chegaram a lançar o “No Bar” há 10 anos, alguma chance de retornarem com o projeto em algum momento?
Quais as melhores memórias dos tempos da banda? Como foi a sensação quando o clipe de “Garota Comunista” passou na MTV?
Sempre me pareceu um golpe alguém pagar pra gente se embriagar e tocar 30 minutos (risos). E eu acho que nunca soube quando algum clipe nosso passou na MTV, sempre me falaram mas nunca foi nada certo… nunca vi! Mas que bom, né?”
O Carbona até hoje homenageia o Gramofocas e toca nos shows o single “Sempre Que Eu Fico Feliz Eu Bebo”, inclusive, o Henrique Badke foi um dos grandes incentivadores da sua volta a música em 2018. Como é a relação entre vocês?
Paulo Rocker: “O Henrique foi o cara da minha “volta”, tenho muito a agradecer ele. A gente tava conversando, botando a fofoca em dia e eu mostrei umas músicas que eu tinha guardadas pra ele ele pilhou NA HORA: vamo gravar!
Viajou comigo até Porto Alegre e esteve presente o tempo todo. Um amigaço feito pela música. E sobre o Carbona, sem palavras… sempre fui fã da banda e nossa amizade foi praticamente imediata. Nos conhecemos num Bananada, quando viajei com amigos pra ver Carbona e Frank Jorge em Goiânia, conhecemos eles antes do show, o show do Carbona foi horroroso mas rendeu uma bela viagem e uma LONGA amizade.”
Aliás o Ramones acaba unindo você a toda cena de bubblegum, que acaba tendo o Davi Pacote como um dos grandes responsáveis/entusiastas do estilo – e produção – no país deste nicho do punk rock. Ele que ao seu lado acabou sendo o grande responsável por este material ganhar vida. Conte mais sobre os bastidores das gravações e a relação com a turma da cena.
Paulo Rocker: “O Pacote é um cara sensacional, conheci ele meio atrasado em relação ao resto da galera mas também acho que foi dessas amizades imediatas. É um cara com um coração e uma boa vontade gigantes.
Descobri com ele como é melhor gravar com alguém que tenha as mesmas referências que você. As conversas que a gente tinha durante a gravação eram meio: “vamo tentar uma distorção mais Ramones 94 aqui…” surgiu até o termo “Pleasantdreamização”, (risos). Além de ser um cara que saca MUITO de música em geral, é um cara fundamental pra esse projeto (os Rockaways), que nasceu pra ser uma homenagem aos Ramones.”
Para não sair do tema Ramones e Gramofocas, ainda acha que o NOFX deveria ouvir mais Ramones? Como foi regravar “Paradise” (Gramofocas) e como enxerga os ganhos da versão 2.0?
Sobre “Paradise”, eu tava com essa versão martelando na minha cabeça faz um tempo. A versão do disco ficou agressiva, a gente queria dar pra ela uma cara de ao vivo, então ela ficou bem Loco Live. Mas eu sentia falta de algumas coisas que se perderam nesse caminho. Principalmente a letra, que eu curto e ninguém nunca entendeu. Mas também um remelexo, um bole bole que foi engolido pela velocidade.
Aí a intenção dessa vez era deixar ela como se fosse a versão de estúdio daquela outra. Uma pegada mais “Rockaway Beach” que combina com a temática da música.”
Os filmes de terror também marcam a presença no segundo EP solo logo na introdução de “Cretino Rapaz”. O que te inspira na hora de escrever novas composições?
Sobre escrever novas músicas, as motivações hoje em dia mudaram bastante né? As bebedeiras e loucuras que inspiravam as primeiras músicas deram lugar a uma vida mais pacata, mais adulta.
Então é um exercício buscar novas inspirações no dia a dia, até pra tentar achar um jeito diferente dos Gramofocas de compor. Acho que ainda estou no processo de achar essa “fórmula”, foram mais de 20 anos escrevendo do mesmo jeito pra mesma banda, é difícil mudar. Mas to feliz com as músicas novas, acho que estamos conseguindo uma cara nova que não foge do que eu gosto e quero continuar fazendo.”
O momento de reclusão acabou te incentivando a produzir o novo EP? Tem planos futuros de lançar um disco cheio (possivelmente) com banda e quem sabe tocar ao vivo?
Como surgiu a ideia de gravar o clipe?
Paulo Rocker: “A ideia do clipe surgiu de forma quase sem querer. Ficou na minha cabeça desde o lançamento da música, que faz um tempo. Mostrar o meu ponto de vista de um dia mau humorado, comum. Mas o tempo passou e eu acabei não fazendo, aí o lançamento deste EP foi o momento certo.
Aí restava saber como gravar, já que eu também tinha a ideia mas não tinha A MENOR ideia de como fazer… pesquisei na internet e achei como fazer este suporte pra celular, que foi baratinho e tranquilo de fazer. Uma beleza pra uma auto filmagem pandêmica! Aí meu irmão Fabricio e braço direito pras minhas empreitadas me ajudou editando e fazendo tudo ficar bonito.”
Além da música você também assina diversas capas de álbuns na parte de ilustração, quais mais curtiu o resultado?
Paulo Rocker: “Aí é difícil… nos últimos anos eu fiz MUITAS capas de disco e gosto bastante de várias, impossível dizer a preferida até porque os motivos pra eu gostar delas varia bastante, desde o processo de criação até o resultado final. Faço na maioria bandas que eu gosto então geralmente o processo é bem legal, até porque com o tempo eu venho ganhando um pouco mais de liberdade e confiança do cliente. São como filhos, amo quase todas! (risos)”
Paulo assina capas de artistas como Blind Pigs, Autoramas, Armada, Jimmy & Rats, Magaivers, entre outras em seu currículo. Conheça mais sobre seu trabalho no Behance.