Música sensorial que vai agregando experiências, texturas, backgrounds e sentimentos. Sensibilidade é tanto que tudo é incorporado de forma natural e seus contornos acabam abrindo espaço para novas possibilidades. Echo Upstairs é um projeto que nasceu ainda em 2018 mas que a cada dia que passa amadurece e vai somando experiências.
O som navega por camadas do rock alternativo, permitindo o cruzamento entre diferentes gêneros musicais. Desde o doce dream pop a distorção do shoegaze. Tudo isso com muita leveza, solitude, transparência e reverbs. Como Lariú do midsummer madness até descreve no release “um som que soa até mesmo ingênuo”; e de fato tudo que soa tão natural e sensível acaba ressoando assim para quem se depara com uma energia tão serena.
A melancolia, a delicadeza, as reflexões, o existencialismo, a realidade do dia a dia e a esperança por dias melhores ganham riffs de guitarra, distorções, noise e ternura. A guitar band conta com Ana Zumpano nos vocais e na guitarra, Gilbert Spaceh na guitarra, Bigu Medine no baixo e nos vocais e Mauro Terra na bateria. Os membros tem passagens por bandas como Lava Divers, Early Morning Sky e Porno Massacre.
Inclusive pela primeira vez Ana assume as guitarras em um projeto. Ela já tinha se aventurado em Plush do Lava Divers nos vocais mas ainda como baterista. Depois de uma série de obstáculos superados, conexões e novos aprendizados, a musicista nos conta em entrevista exclusiva todos os detalhes e etapas que passou para encontrar a liberdade neste novo projeto. Um papo até mesmo emocionante de se ler.
O single “Green Quartz” é uma composição assinada em conjunto entre Ana Zumpano e Marky Wildstone e teve a mixagem e a masterização realizadas por Chico Leibholz. Na faixa além de empunhar as guitarras, Zumpano também toca bateria, meia lua, sintezador e faz vocais.
A faixa é sensível e traz uma paz interior logo em sua primeira audição. Com guitarras que se alternam entre a beleza, e o ruído, belas melodias e synths, a canção abre os caminhos para os sentimentos reverberarem. Com uma dose de nostalgia, reflexão e melancolia, é claro, mas carregando um otimismo que nos reconforta.
O vídeo dirigido por Fernanda Suaiden foi gravado e produzido durante o momento de isolamento social. Entre o místico e o interestelar, a produção audiovisual carrega uma energia tão poderosa feito o alinhamento dos planetas. Os elementos como as pombas, o quartzo e a lua dão a sensação de equilíbrio e de querer catalisar energias para poder iniciar um novo ciclo.
Conversamos com a Ana Zumpano para contar mais sobre a formação da Echo Upstarirs, a Quarentena, processo de libertação, criatividade e diversos aprendizados.
Ana Zumpano: “A Echo Upstairs começou no finalzinho de 2018. Nessa época eu estava compondo as músicas para o segundo disco da Lava Divers. Logo depois, acabei saindo da Lavinha e, coincidentemente, o Gilbert, guitarrista da Echo, também saiu do Early Morning Sky.
Apesar de ter tocar bateria na maioria das bandas, o primeiro instrumento que tive contato, foi o violão. Na Lava Divers, eu levava as composições que fazia para os ensaios ou encontros de produção e daí trabalhávamos o restante dos arranjos juntos.
Alguns meses antes do início do projeto, eu tinha feito um show com o Early Morning Sky. O Mauro, baterista da banda (que também toca na Echo), não poderia tocar no dia e, o Gilbert, me chamou para substituí-lo. Era um show na Augusta, o EMS dividindo a noite com o The Dead Suns.
Durante os ensaios, o Gerson (vocalista EMS) disse que gostaria de tocar bateria em alguma música do show e, então, eu sugeri da gente fazer uma versão de “Forbidden”, canção da Lava Divers que eu compus na guitarra. Ele topou. Fizemos alguns ensaios, rolou o show e, num certo momento, fizemos essa surpresa, o Gerson foi para a bateria, eu assumi a guitarra e os vocais e, o Maurício Mauk, guitarrista do The Dead Suns, também subiu no palco para tocar com a gente.
Foi um momento do show bem especial. Pela primeira vez toquei guitarra e cantei uma canção minha, ao vivo, para um público bem atento. Quando tomei a frente do palco e toquei guitarra com o Gilbert, bateu aquela sensação gostosa de sintonia, parecia que a gente já tocava junto a muito tempo! Nesse momento sinto que plantamos a semente do projeto. Foi o início, a vontade, o encontro!
Sinto que a Echo Upstairs é uma mistura de liberdade de criar, individualmente, com interesse no que o outro também tem a propor/compor. Acho isso fundamental na criação coletiva. Adoro essa abertura e vontade de compor junto com alguém, esse espaço pra jam que traz abordagens mais simples e intuitivas.
Eu, Gibert Spaceh, Bigu Medine e Mauro Terra. A banda é nós 4. Rolou uma sintonia bem forte. O primeiro trabalho foi uma gravação ao vivo, no Estúdio Aurora, uma versão de “Not the Same”, do Dinosaur Jr, que entrou pra coletânea do TBTCI. Depois disso, começamos a nos encontrar toda semana e, às vezes, passávamos domingos intermináveis tocando.
Antes de começar a quarentena, estávamos trabalhando na produção do EP, com 4 músicas. Estamos gravando com a Gabi Lima, produtora e engenheira de som que me encorajou e inspirou nessa área de produção musical. Fizemos um cronograma de produção/ensaios e deixamos as músicas prontas para gravar. Conseguimos captar baixo e bateria e, logo em seguida, rolou todo esse lance da pandemia.
Desde então, estamos trabalhando cada um da sua casa. Começamos a criar coisas novas e produzir as músicas do disco, acho que temos umas 9 canções em fase de “arranjamentos” e experimentações. Quando pudermos retornar a circulação mais segura pela cidade, pretendemos terminar de gravar o EP, que é um trabalho que optamos por fazer juntos.
Com o início do isolamento social, me empenhei para começar a gravar em casa, de um jeito simples que alcançasse a sonoridade que gostamos. Tive tempo para produzir as músicas e começar a entender mais sobre mixagem. Sou fascinada pelo lo-fi, gosto desse frescor e dos recursos que o diy tira de nós. Estou aprendendo a mexer no Ableton Live e algumas coisas tenho gravado com um irig mesmo direto no iphone, no garage band.
É uma alternativa simples e confortável que me permitiu continuar trabalhando com as bandas em casa. Tenho estudado um pouquinho de piano a alguns meses e, gravei os sintetizadores de outra banda que entrei para tocar teclas, meia lua e fazer backing vocals. Sinceramente, a Ana de 10 anos atras nunca se acharia capaz de fazer tudo isso. Me sinto em constante expansão musical e acho que é um grande ciclo onde o movimento colabora diretamente na minha evolução.
Foram muitas barreiras internas para chegar nesse momento de compor, gravar e tocar outros instrumentos. Sinto que levantei da bateria e vim caminhando, passando por outros lugares e experimentando ouvir e pensar em música de jeitos diferentes. Alguns meses atrás, compus e gravei os sintetizadores de um disco, 9 faixas. Foi a minha primeira experiência arranjando teclas, fiquei bastante animada.
Sempre gostei de investigar a rotina e pensar/transformar pequenas frações de tempo em poética, música, dança, pintura… estar em constante aprendizado é o que me move. Busco essa troca e evolução diária, tentando respeitar meu ritmo. A ideia é continuar a investigar tudo isso e imprimir no trabalho áudio e visual da banda. Resgatei meu corpo em contato com a dança, a performance livre, as improvisações e isso, está me agregando muito musicalmente também.”
Ana Zumpano: “Não existe limite sonoro para a Echo Upstairs. Estamos em um universo onde tudo é possível em nossas ambiências sonoras. Temos referências parecidas que se comunicam muito, e acredito que esse seja o ponto de partida, mas até onde podemos chegar é sempre um mistério.”
Ana Zumpano: “Estou numa fase muito livre musicalmente. Na pesquisa sonora, busco resgatar as minhas experiências e referências artísticas vividas desde a infância até o momento e deixar as coisas fluírem de forma sensível e espontânea.
Trabalhamos em cima desse frescor do som que surge das experiências de vida e memórias afetivas. Buscamos o estímulo de sensações corporais através de ondas sonoras em altos volumes, paredes de guitarras distorcidas e densas, melodias doces com vocais etéreos e dissolvidos, trazendo na poética, reflexões cotidianas e questões existenciais. Tentamos abordar esses temas com certo otimismo, leveza e sonho.
Sinto que, apesar de tudo, estamos caminhando para uma consciência coletiva mais apurada e isso reflete diretamente nos processos artísticos. Expressamos através da música as experiências que encontramos na constante busca de autoconhecimento, que é um grande elo entre nós.
Faz mais de três meses que estamos passando por um momento muito tenso mundialmente. Nunca imaginei presenciar esse desgoverno e descaso descarado com a população do nosso país. É muito triste.
Me sinto privilegiada em vários pontos e enfrento a quarentena com um mix de sentimentos que acredito ser muito comum entre todos nós. Medos, incertezas, ansiedades, tem sido muito difícil manter o equilíbrio mas, por outro lado, como acabei perdendo alguns empregos e tendo que reformular o meu dia a dia, consegui nessa nova rotina, ter mais tempo para tocar e intensificar minha pesquisa sonora, aprimorar a relação com os pedais e, trabalhar com calma as minhas ideias.
Nunca tinha gravado uma canção inteira e demorei um tanto para pensar nisso como uma possibilidade. Meu contato com mulheres musicistas sempre foi restrito. Imagina na técnica então, na produção, enfim, eram funções que por diversos motivos meu subconsciente me levava a pensar que eram exclusivamente masculinas ou que deveriam ser terceirizadas pelo artista.
Depois que eu levantei da bateria, um novo universo se abriu! Estar em contato com uma rede de mulheres na música também mudou totalmente minha visão. A experiência de tocar e compor para outros projetos me fez expandir bastante também.”
Ana Zumpano: “Green Quartz” é de um riff que eu tenho desde os 20 anos de idade e, que, só agora, tive vontade de aprofundar. Gravei tudo em casa (voz, guitarras, bateria, sintetizadores e meia lua) e, o Bigu (baixista da banda), compôs e gravou a linha de baixo na casa dele.
A letra surgiu de um encontro bem legal com o Marky Wildstone. Ele é um artista/amigo com o qual sempre troco ideias musicais, poesias e devaneios cotidianos. Esse ano ele também lançou uma linda canção em que eu tive o prazer de gravar os vocais (meu primeiro “feat”), um single do seu projeto solo. Enfim, mostrei pra ele a demo que, até então, só estava com a melodia que eu tinha feito com a voz, sem letra.
Ele gostou muito. O Marky é escritor e estávamos conversando sobre a poesia que eu gostaria de passar através da letra. Mandei alguns escritos, uns rabiscos e poemas e, ele transcreveu aquilo de um jeito que parecia que eu estava dizendo aquilo antes mesmo de dizer (risos). Gravei alguns takes de vocal e o primeiro acabou sendo o que eu mais gostei.
Até hoje, esse é o trabalho em que eu mais expressei a minha personalidade. A primeira música que compus, gravei e produzi. É bem especial pra mim. O universo dessa faixa é amadurecimento e resgate de partes que ficaram esquecidas com o tempo, sonhos e memórias que vão endurecendo ou diminuindo a fluidez do nosso corpo.
O processo de produção com a banda foi muito diferente também. Eu gravava e mandava no grupo, esperava um feedback deles e, voltava para o trabalho. Sinto que a canção é como um resgate de sentimentos que, apesar de íntimos, não deixam de ser coletivos. Estamos todos reclusos, enfrentando várias questões externas ao mesmo tempo que buscamos intenso conhecimento de nós mesmos e reconhecimento do coletivo como potência forte e verdadeira.
Mandei a faixa para o Chico Leibholz mixar e masterizar. Trabalhamos algumas semanas nesse formato de quarentena e, foi uma experiência bem nova também essa fase de mix e master a distância.
Nesse momento, tento ser otimista e buscar o equilíbrio para pensar e agir mais justa e coletivamente. Sinto que estamos retomando o real contato com o outro. Tudo bem aos poucos. (Tô respondendo a pergunta sobre a criatividade e produtividade na quarentena aqui né?!).
Acho que devemos ser mais generosos com nós mesmos, deixar as coisas rolarem com menos pressão. Todo momento é único e temos que passar por isso da melhor forma que conseguirmos, sem tanta comparação e exigência, cobrança. Não dá pra ignorar o que está acontecendo e continuar produzindo, consumindo e vivendo do mesmo jeito. Temos que pensar em novas formas de organização coletiva e individual. Acredito muito nisso. Somos potência e vamos conseguir nos reorganizar.
No grupo da banda, trocamos muita referência musical, compartilhamos videoclipes, playlists, brisas sonoras e expressões artísticas do dia a dia. Isso tudo influencia nas composições.
Esse lançamento a distância está sendo bem interessante também. Desde o começo da primeira demo até a faixa final (esse longo caminho), trocamos muitas mensagens e tentamos não deixar de produzir, mas sempre respeitando o tempo de cada um e priorizando a saúde física, mental. Estamos todos em fase de adaptação às constantes mudanças. Acho que a criação tem que ser algo que nos deixa bem. Dar um tempo de coisas que causam ansiedade é essencial.
O videoclipe foi feito pela Fernanda Suaiden. Gravei alguns vídeos de uma performance livre no meu quarto com o mesmo vestido que estava usando na foto da capa do single e enviei pra ela. O estímulo da performance foi o ser fluido. Tudo que devagar, naturalmente, vai chegando ao seu lugar.
Pedi pra ela falar um pouquinho do vídeo: “A sobreposição de imagens e texturas têm intenção de fazer um mergulho na memória. Criar imagens carregadas de símbolos que quando combinadas afloram mandalas. Assim percebemos que o sonho, quando revisitado, cria novas formas e linguagens”.
Ana Zumpano: “O Gilbert, guitarrista da banda, é fotógrafo. Pouco tempo antes da pandemia, tínhamos feito um ensaio fotográfico no meu apartamento e, a ideia da colagem surgiu a partir dessas fotos. Escolhi a imagem que me chamou mais atenção, nela, estou numa posição que não dá pra ver a minha cabeça e isso me causa a sensação de estar ao mesmo tempo, dentro e fora de algum lugar.
Compus a capa com o músico e designer Rafa Bulleto. Como a foto foi feita num fundo todo preto, optamos pela colagem. Usamos também fotos processadas de cristais para representar esses novos universos criados no imaginário. Lugares nos quais sinto mais conexão com a natureza e com os cristais, valorizando a nossa própria força e origem.”
This post was published on 8 de julho de 2020 2:08 am
As Melhores Live Sessions | Dezembro (2024) O Que São Live Sessions? Live Sessions tem sido um…
"charlie" chega acompanhada de um videoclipe dirigido pela dupla Gabriel Rolim eDaniel Augusto Após uma…
M-V-F- Awards 2024 reúne 25 categorias, entre nacionais e internacionais, que seguem para votação do…
Retrospectiva 2024: 100 Hits Perdidos de 2024 A retrospectiva do Hits Perdidos de 2024 chega…
215 Discos Brasileiros que Você Deveria Ter Ouvido em 2024 Recentemente postamos uma lista com…
55 EPs Nacionais lançados em 2024 Em tempos onde o formato de compartilhamento da música…
This website uses cookies.
View Comments