Adriano Cintra fala sobre CSS, Pin Ups, vida em Portugal e política em entrevista exclusiva
Adriano Cintra é um multi-instrumentista, compositor e produtor paulista, mais conhecido pelo seu trabalho com o CSS (Cansei de Ser Sexy). Excursionou o mundo todo, fez remixes para artistas como Kylie Minogue, Sia, Designer Drugs, já foi integrante do Thee Butchers Orchestra, tem projetos paralelos como o Madrid – acompanhado de Marina Vello, ex-Bonde do Rolê -, O’Hearts, Caxabaxa e até mesmo em bandas de heavy metal nos anos 80. Já produziu grandes artistas como Tiê, Barbara Ohana, Roberta de Razão e seus próprios discos solo. Hoje já contam 4 na bagagem.
Entre altos e baixos, problemas pessoais, uma grave doença e sua saída do CSS, Cintra vive hoje em Portugal e nunca parou de produzir. Com certeza um dos artistas mais prolíficos da música independente brasileira.
Entrevista: Adriano Cintra
Nos concedeu essa entrevista para contar um pouco de seus recentes projetos, sua saída conturbada do CSS, o Brasil, Portugal e o futuro.
Hoje você vive em Portugal produzindo artistas locais. Como essa mudança aconteceu? Como está sendo a vida em Portugal com a pandemia?
Adriano Cintra: “Eu já estava ficando bem incomodado com as coisas no Brasil. Quando eu saí do CSS em 2011, eu morava em Londres e voltei pra SP, ainda era uma época boa e havia esperança de que daria pra viver lá. Mas logo depois a mão invisível do mercado começou a operar a favor do impeachment da Dilma, rolou aquela palhaçada toda, explodiram as tampas dos bueiros e essa gente asquerosa, preconceituosa e ignorante ficou em evidência, com sua mentalidade retrógrada, cafona, nojenta.
No dia que elegeram aquela aberração pra presidente, no dia do segundo turno, quando saiu o resultado e começaram a soltar rojão, eu decidi ir embora. Eu sou muito privilegiado, não tenho filho, não tenho empresa, vivo das minhas obras e das produções que faço. Não precisava presenciar isso aí. Eu sou gay, eu sou artista, eu acredito que todas as pessoas tenham direito a coisas básicas como educação, saúde, transporte, direitos trabalhistas. Ver pobre virar à direita é inacreditável.
Aqui tá ok. Portugal não é o melhor lugar do mundo pra se viver mas comparativamente com o que está acontecendo aí, é um paraíso. Aqui quase não tem gente, a COVID-19 não alastrou tanto e por ser um país totalmente dependente de turismo, eles adotaram medidas restritivas logo no começo. Pena que não adiantou nada (do ponto de vista de proteger o turismo), relaxaram a quarentena meio cedo demais, os casos subiram muito e agora, que é verão, Portugal tá na lista vermelha de países para se fazer turismo. Ou seja, lá vem uma crise horrorosa aqui logo mais.”
Além de incontáveis pontos negativos do governo federal brasileiro, ainda enfrentamos a negligência com a pandemia, com a educação e com a cultura. Existe uma melhora desses aspectos em Portugal?
Adriano Cintra: “Aqui é um governo de esquerda (por mais que muitas pessoas aqui critiquem que não seja de esquerda o suficiente), então algumas coisas foram bem boas. Quando começou a quarentena, liberaram os transportes públicos para as pessoas que precisassem sair de casa para trabalhar e fazer compras. Imagina se no Brasil fariam isso?
As aulas estão online faz um bom tempo, tem até um canal de TV que passa as aulas de todas as séries. Muitas coisas passaram a ser resolvidas por e-mail, o que ajudou muito. Agora, o pessoal da cultura desde o início tem reclamado muito da Graça Fonseca, a ministra da cultura. Parece que ela não adotou nenhuma medida para garantir alguma renda aos artistas, fizeram inclusive protestos contra ela. Eu não posso reclamar, os discos que estou produzindo durante essa pandemia não foram afetados.”
Você produziu alguns artistas locais como Callaz e Luís da Riviera. Como aconteceram esses convites? Você está produzindo algum novo artista no momento?
Adriano Cintra: “Eu produzi o Luís, a Callaz, o Vaiapraia e estou produzindo a Nadia Schilling e vou começar a produzir uma banda foda chamada Glockenwise. Aqui o CSS foi bem famoso e essas pessoas entram em contato comigo para trabalhar pois conheceram o trabalho que eu fiz com o CSS.”
Quais artistas brasileiros você viu chegar em Portugal? Como você observa o mercado português/europeu para os brasileiros?
Adriano Cintra: “Aqui você entra no supermercado e tá tocando Melim. É muito grande essa cena fofitcha brasileira good vibes, Anavitória, essas cantoras da Warner que soam todas iguais. Inclusive muito projeto português copia essa estética.
A cena indie é bem agilizada também, ano passado teve Rakta, Teto Preto, Linn Da Quebrada. Acho que já tem um esquema todo pra fazer aqui. Mas eu não faço show como Adriano Cintra. Eu toco baixo no Luís da Riviera e volta e meia rola uns showzinhos.”
Existe alguma memória bacana dos tempos do Thee Butchers Orchestra e início do CSS que você possa compartilhar com a gente?
Adriano Cintra: “Nossa, são muitas coisas. Foi uma época tão intensa, acontecia tanta coisa ao mesmo tempo… eu escrevia bastante, sempre tive muitos blogs. Vou recuperar esse material e escrever um livro qualquer hora. Lá no meu Medium tem uns posts que são dessa época.”
Sua saída do CSS foi bem conturbada, assim como você já havia desabafado em seu Medium. Como foi para você a volta da banda e o relançamento do primeiro disco em vinil? Existe algum tipo de relação entre vocês?
Adriano Cintra: “Sim, foi uma coisa bem horrorosa. Elas foram muito mau caráter comigo e ainda são. Eu durante muito tempo tive a esperança de voltarmos a nos falar mas depois de quase dez anos, vejo que isso é impossível. Elas não são pessoas legais, elas não tem a menor empatia comigo, primeiro pelo que eu passei na época (quando descobri que estava doente) e segundo pelo que fizeram comigo quando eu estava doente.
Eu nem fui avisado desse relançamento de vinil, apesar de ser dono de mais da metade da propriedade intelectual do mesmo. A única relação que existe entre nós é de abuso: elas me abusaram e continuam me abusando.
Acho elas muito corajosas de continuar com a banda depois daquele disco horroroso que cometeram. Aquilo meio que destruiu a credibilidade delas enquanto artistas (palavras da própria Lovefoxxx pra mim quando nos encontramos). Mas elas vão surfar nessa onda “feminista” de ser uma banda de garotas que tocam as músicas do garoto que elas fingem que nunca existiu e que não fazia nada de importante na banda. Tipo além de compor, produzir, tocar os instrumentos no disco, eu ainda as ensinava a tocar as partes das músicas… então tá, very feminist of them.
O Show no Popload Festival
Quando estava lá em SP no dia do show delas e elas sequer me responderam quando pedi um convite pra ver elas tocando minhas músicas num show de revival, eu fiquei realmente enojado. Me senti super estuprado ao ver elas de novo usando os tracks que eu toquei pra fazer o show, elas tocando minhas músicas e nem pra me dar um de convite. Podridão imensurável pra uma galerinha tão eco-influencer e progressista pra inglês ver.”
Como foi sua passagem pelo Pin Ups e a produção do disco “Long Time No See”?
Adriano Cintra: “Eu sempre fui fã de Pin Ups. Eu fui em incontáveis shows deles quando tinha meus 19, 20 anos, tenho todos os vinis, inclusive uns até autografados.
Eu estudei na FFLCH entre 92 e 94 e a Alê tava se formando lá essa época, eu pagava muito pau quando via ela no corredor. Daí em 96, quando comecei a tocar no Butchers, o Marquinho falava super mal deles pra mim, então eu fiquei um tempão meio com uma ideia bem errada a respeito deles. Hoje em dia eu sei que o Marquinho fala mal de mim pros novos amigos deles… Então tá, né.
Depois que eu voltei a morar em SP em 2011 o Zé Antônio sempre falava comigo, começamos a ficar mais próximo até que me convidaram pra tocar naquele show do Sesc Pompeia de “despedida”, que na verdade serviu pra dar um novo fôlego pra banda. Fizemos mais alguns shows e o Zé falou que tinha várias ideias novas. E fizemos o disco. Foi produzido por mim e pelo Zé, que é um PUTA produtor. Foi uma delícia compor novamente num ambiente de banda, de colaboração. Eu adoro tocar em banda.”
Você também é conhecido por grandes remixes de artistas internacionais. Qual foi o melhor remix que já fez? Teremos remixes de artistas portugueses?
Adriano Cintra: “Eu tenho três favoritos: “Seven”, do Fever Ray. “Buttons”, Sia. “Wow”, da Kylie Minogue. Não fiz remix de artista português ainda.”
O projeto O’hearts formado por você, Barbara Ohana e Pedrowl havia lançado um single em 2017, entrado em hiato e agora possui um novo EP chamado “5”. Ainda existem planos de um disco cheio?
Adriano Cintra: “Não… O O’Hearts tinha um projeto de disco mas as agendas eram tão complicadas de conciliar que eu juntei o que tava material que estava pronto e lançamos esse EP. Tem várias outras ideias que não tão prontas, precisava de muito trabalho….Eu amo esse EP, acho muito foda. E amo trabalhar com a Bárbara e o Pedrowl. “
Hoje o Adriano Cintra está curado dos fantasmas do passado? Tem planos futuros para sua carreira solo?
Adriano Cintra: “Claro que não, nem com terapia 4x por semana dava pra se curar de toda essa merda que rolou. Mas estou bem mais tranquilo… eu ainda componho muito, mas sempre pra outras pessoas ou com outras pessoas.
Estou terminando um álbum de música eletrônica instrumental que vai ser meio que um tributo a toda (pouca) música eletrônica que eu escutei na vida, principalmente na época do Hells Club em SP nos anos noventa. Mas não tenho a menor vontade de fazer show.”
Você acredita em uma mudança positiva no Brasil nas próximas eleições presidenciais? Acredita que esse ciclo reacionário chegará ao fim? Seria essa a única condição para voltar ao Brasil?
Adriano Cintra: “Eu não sei. Tenho medo. A mentira está muito favorecida, a ignorância é incontornável a curto prazo e eu penso que mesmo que a situação se reverta, a tampa do bueiro explodiu. Não sei se algum dia eu terei estômago pra morar no Brasil novamente, o que me deixa imensamente triste.
Eu podia estar morando no meio do mato, fazendo tudo que eu gosto. Mas de que adianta poder fazer isso e viver com medo e pior ainda, com nojo do lugar onde você mora?
Sei lá, eu torço para que essa gente toda apodreça na cadeia. Mas a gente já sabe né, 2020 vão fazer de tudo pra eleger o Moro ou o candidato dele. Vamos esperar pra ver…”
6 Comments
Poxa… queria mais álbuns solo do Adriano! Adoro os álbuns dele e às vezes escuto todos em sequência num dia de trabalho. Ajuda a focar. Gosto do trabalho dele porquê é consistente. Vc escuta cada álbum de uma ponta a outra e a maioria das músicas são boas. Não é tipo esse pop “one hit wonder” que tem uma ou duas músicas boas no disco e o resto é dispensável. E sobre o Brasil… o melhor que fez foi ir embora mesmo! Se pudesse agora tbm iria. Quem sabe um dia.
Excelente entrevista!
por favor, diga ao Adriano que admiro muito o trabalho dele e que não esqueço de um show que vi do Thee Butchers Orchestra na Funarte, em SP, no início dos anos 2000. Tenho até o CD dos caras.
Quanta amargura!Ta certo que houve muita treta no CSS,mas ele também nunca foi flor que se cheirasse.Fora a afetação toda,que idiota.
Mas ele perdoou as meninas e mesmo assim elas fizeram isso no Show de Revival. Putz…baita de uma sacanagem. Qualquer um ficaria P da vida!
Gente, alguém precisa avisar o Adriano que as empresas de ônibus de São Paulo São de capital português. Pseudointelectual metido a hiper sempre da dessas. O cara usando entrevista pra falar mal dos outros, foi-se o tempo de gente que discutia ideias.
[…] A compositora, cantora, professora, artista visual, e escritora paraense, Marina Vello, mais conhecida como Marina Gasolina, retorna a música após quase 10 anos do seu álbum solo de estreia lançado em 2013, Commando. Conhecida como uma das fundadoras do Bonde do Rolê, a artista também é metade do Madrid (duo formado com Adriano Cintra). […]