[Premiere] 20 anos após seu último lançamento, Pin Ups continua a surpreender em “Long Time No See”

 [Premiere] 20 anos após seu último lançamento, Pin Ups continua a surpreender em “Long Time No See”

Pin Ups “Long Time No See” (2019)

Esta semana promete muitas emoções para os fãs das guitar bands.
Além de nesta sexta-feira (14/06) o Pin Ups lançar seu sétimo álbum, também teremos, em questão de horas, o lançamento do documentário Guitar Days.

Epopeia que está sendo preparada a mais de quatro anos.
Material riquíssimo e extremamente necessário para registrar a fúria e força de vontade de toda uma geração.

Após diversas exibições no exterior a mostra In-Edit Brasil fará a Premiere brasileira do documentário que entre outros entrevistados pode conversar com nomes como Kid Vinil, Rodrigo Lariú (Midsummer Madness), Alexandre “Farofa” Sesper (Garage Fuzz) e Zé Antônio Algodoal (Pin Ups).


Pin Ups
Pin UpsFoto Por: Ivan Shupikov

O Legado

Falar sobre a importância, e relevância, do Pin Ups para o cenário de rock alternativo nacional é praticamente chover no molhado.

Com discos emblemáticos que marcaram uma geração e shows históricos, não é incomum você ouvir falar sobre quão ensurdecedora, e única, se faz cada apresentação do conjunto que lançou seu primeiro álbum há 20 anos.

Inclusive recomendo, de antemão, a leitura do livro “RCKNR: Outsiders Viciados em Música Procurando Confusão”, do jornalista e músico Yuri Hermuche (Firefriend).

Em recente conversa informal com o jornalista, músico, amigo e proprietário do Estúdio Aurora, Carlos Eduardo Freitas, pude ouvir relatos em primeira mão tanto do disco, Long Time No See, que no momento estava em fase de produção/gravação por lá, como do show que eles fizeram para cerca de 50 felizardos no estúdio.

Segundo ele, a apresentação é uma das que mais marcaram ele desde que abriu o espaço para shows (a cerca de 3 anos).

A pilha foi tanta que quando Lariú, da Midsummer Madness, me enviou o disco a primeira audição passou voando feito o rebobinar de um filme. E talvez ele seja um pouco isso.

O Retorno e o
Novo Disco

Em 2015 eles realizaram um “show de despedida” no SESC Pompeia.

“A noite que deveria ser o epílogo se transformou numa pulga atrás das orelhas de Alê Briganti, Zé Antonio e Flávio Cavichiolli.

No final do show, Alê perguntou: “Aonde vocês estavam 10 anos atrás?” para em seguida anunciar que aquele seria o último show da banda… em São Paulo!

Pronto, o retorno começava a se tornar realidade.”

O novo álbum foi produzido por Zé Antônio Algodoal (guitarra) e Adriano Cintra (guitarras, farfisa), ex-Cansei de Ser Sexy, Madrid e Thee Butchers Orchestra, agora integrante oficial do Pin Ups.

Um fato que me atentei bastante ao ouvir e conversar outros músicos, e jornalistas, sobre o acontecimento foram justamente as participações especiais. Sempre perto do cenário independente, este ar de renovação e novos rumos transparece até nas escolhas.

Nomes do calibre de Jim Wilbur (Superchunk, Portastatic) tocando guitarra, e Pedro Pelotas (Cachorro Grande) tocando teclados, são velhos conhecidos de quem acompanha a banda e o cenário de rock.

Porém é de fato interessante ver na lista de convidados nomes como de jovens talentosos como Amanda Butler (Sky Down / Florcadáver) fazendo backing vocals em “Mexican Tale”, Victor José e Elisa Oieno (Antiprisma) também contribuindo nos backing vocals em “Ballad for Samuel & Tobias”.

Essa troca de experiências e vivências, além de mostrar o poder de novas conexões, ainda apresenta novos nomes para uma geração mais velha. Mérito dos músicos que estão aí justamente por sua competência em seus respectivos trabalhos autorais.

Em breve, por exemplo, teremos o lançamento do primeiro disco da Sky Down (Sinewave / Howlin Records), com Butler na formação, e o segundo álbum de estúdio do Antiprisma (Alcalina Records). Grupos com backgrounds e referências distintas mas que tem em comum o pensamento coletivo a cada um de seus passos.



Conversando com um amigo (Roger Sousa) fã dos Pin Ups, a pelo menos mais de uma década, que também teve a oportunidade de ouvir o álbum antes, soube que era um disco no mínimo diferente. Que de fato não se parecia com nada que eles tinham feito antes. E para mim isso é ótimo.

Apenas aumentou as expectativas, sinceramente acredito que a graça de ouvir um material novo esteja justamente em ver quais novas soluções e propostas estas mentes pensantes podem nos apresentar.

Alguns fãs mais conservadores talvez sejam captados pelo buraco negro da nostalgia, mas de fato como pude ouvir uma vez de ninguém mais, ninguém menos que Doreen Shaffer (Skatalities) durante palestra na SIM São Paulo: “Change Is Good”.

Não importa se vamos gostar de tudo, se vamos procurar referências e comparações com artista x ou y, e sim como aquilo vai nos afetar. Seja emocionalmente, fisicamente ou até mesmo no campo das ideias. Se a arte tem um poder é o de provocar. Destruir para reconstruir, causar êxtase, reverberar ou simplesmente entreter. Não há regras, á arte.

São 12 faixas e 34 minutos de duração. Com direito a flertes com o dream pop, punk, garage rock, folk, rock, guitar bands, em meio a reverbs, distorções e o bom e velho espírito catártico do rock inglês.

Um disco que te pega pelo braço e vem te contar uma história. De maneira leve, plástica, nostálgica e revigorante. O fator sangue novo que talvez faça dele diferente.

Se você gosta de T. Rex, Devo, The Hellacopters, The Stooges e garage rock definitivamente vai ter “You Can Have Anything You Want” como uma de suas favoritas do disco.

Seu lado robótico, e frenético, nos leva direto para a década de 70. Principalmente por seu espírito livre e barulhento. Fuzz, porrada, curto-circuito e guitarras dançantes.

“Portraits of Lust” é punk, suja, ruidosa, “abelhuda” e feita para entortar o dial no último volume. Sem papo furado ou papas na língua. Aquela sensação de estar vivendo “over the edge” – assim como o nome do disco do Wipers. Interessante é observar como os chiados viram por si só elementos que criam toda uma atmosfera caótica e auto-destrutiva.

Daí que o disco mostra sua versatilidade e encanto. “Little Magic” por exemplo me leva para discos do Sebadoh, ou até mesmo do Superchunk, que tanto gostamos e não nos cansamos de ouvir no repeat. A doçura dos vocais da Alê se derretem ao irem de encontro com a guitarra pegajosa presente na canção.

Rápida e feito um lado b do X ou The Damned, “Separate Ways” volta a trazer a crueza para o disco, e é justamente isso que chama a atenção. Tão nostálgica que agradará a fãs de The Germs.

A quinta é justamente o single “Spinning” lançado recentemente que tem aquela leveza que as irmãs, Kim e Kelley Deal, sempre impuseram em seus projetos. Fãs de L7 e The Muffs provavelmente irão gostar muito.

A graça entre juntar o Unplugged com o elétrico cria toda uma estética interessante – e radiofônica. Falta uma MTV ou Brasil 2000 para nos dias de hoje tocar a canção em looping.

“Ballad for Samuel and Tobias” é daquelas que traz toda a graça justamente por sair do esperado. Um ar de Neil Young, Velvet Underground, The Allman Brothers BandBob Dylan e The Byrds paira no ar, influências do Antiprisma, que acompanha a banda nos backing vocals. Na faixa transparecem: o ar de espiritualidade, a pureza e a dor de um coração partido.

Com aquela energia da Lava Divers, “Mexican Tale”, mostra a energia vital do conjunto paulista. A canção ainda conta com a participação de Amanda Butler (Sky Down / Florcadáver) nos backin vocals, que deixa a faixa guitarrística ainda mais pulsante.

Já “Damn Right” desacelera mais uma vez e numa frequência mais baixa traz a influência do blues / country para a panela da banda. Daquelas canções para tocar na jukebox enquanto tira os amigos para dançar (mais uma vez). Definitivamente irá agradar a fãs dos suecos do Imperial State Electric.

Uma das mais bonitas do disco é justamente a quase gospel/americana “Gone Tomorrow”. Que desconstrução! Que desabafo! Que intensidade sem ligar a distorção. Sinfônica, quebrando qualquer tipo de protocolo e com uma sensibilidade ímpar em seus versos.

Tive sensação parecida no choque em poucas ocasiões ouvindo um disco. Talvez ao ouvir “Vapour Trail” (Ride) ou “Bitter Sweet Symphony” (The Verve). Justamente por esta agradável “estranheza” em encontrar belas canções em discos com distintas propostas.

“Crazy” também desacelera e deixa com que o ouvinte abstraia, como as canções do Yo La Tengo ou Primal Scream. É a partir desta calmaria que você consegue entrar de cabeça dentro da canção.

Enfim a fita começa a se rebobinar, logo na faixa título, “Long Time No See”. Um tanto quanto flutuante feito um disco do Spiritualized ou My Bloody Valentine, e sua letra imerge na nostalgia e dialoga justamente sobre como a passagem dos anos nos transforma. Vou me abster de comentar mais pois a pureza de sua melodia e letra dizem tudo.

Mas quem fecha é justamente “First Time” com seu espírito libertino, reverberante, cru e rock’n’roll. Johnny Thunders, ou Richard Hell, total o riff e talvez isso que dê toda a graça para uma faixa que mais uma vez tira rockeiros para dançar. Fechando o álbum de maneira digna e mostrando que o Pin Ups está mais vivo, e inventivo, do que nunca.

Pin Ups “Long Time No See”


CAPA


20 anos depois o Pin Ups continua conseguindo surpreender. Não apenas por ter um show explosivo, ou histórias marcantes, mas justamente por não se fechar a clichês e continuar inventivo.

No tão aguardado sétimo disco Long Time No See, o clássico grupo paulista mostra a versatilidade de sua “discoteca básica” e vai além do esperado. As referências passam sim pelo universo das guitar bands, mas flertam com diversas eras do rock, folk, garagem, psicodelia, e o punk. Um disco de rock! Ouça despido de preconceitos e se deixe levar pela brisa.

Amanhã eles lançam o álbum no majestoso palco do Sesc Pompeia.

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