Semper Volt transforma a crise política em maracatu eletrônico
Semper Volt é o projeto do recifense, erradicado em São Paulo, João Tenório. Filho do baterista Carlos Balla (Djavan, Maria Bethânia, Gal Costa), ele teve contato com a música desde cedo. Tendo na sua infância crescido ouvindo jazz, soul e MPB; além de ter estudado piano aos 8 anos de idade, depois bateria, violão, harmonia e composição.
Mais velho foi cursar cinema e por lá descobriu outra de suas grandes paixões: a música eletrônica. Nesta época passou a atuar sob com o nome Telefunken, tocando Drum’n’Bass; chegando a ter lançamentos pelos selos Trama e Phuturo, de São Francisco (EUA).
Mas Semper Volt começou a tomar forma depois de 2013 quando ele resolveu experimentar a combinação: violão e voz com o eletrônico. Voltando de certa forma as sua raízes de criação mas sem deixar de lado a música eletrônica. Tendo lançado até então dois EPs dois Flamboyant (2017) e Leve (2018).
Ainda em 2018 Tenório começou a compor o repertório de Cristal, primeiro álbum como Semper Volt. Buscando a evolução do projeto ele fez aulas de preparação vocal com o artista mineiro São Yantó que estreitos laços e participa de duas faixas no registro; entre elas “Massa Crítica” que fazemos Premiere hoje aqui no Hits Perdidos.
Semper Volt “Massa Crítica”
O álbum de estreia conta com a produção musical de Ivan Gomes (produtor de Abacaxepa, Lê Coelho, entre outros) na produção musical; o pai, Carlos Balla toca bateria em duas faixas; Ricardo Mosca (Maria Beraldo, 5 A Seco, Emicida) na mixagem ; e a masterização de Felipe Tichauer (Céu, Curumin).
A verve apocalíptica da temática da música, e suas frequências, dialogam com o clima de desgaste que as eleições de 2018 proporcionaram para os não simpatizantes de Bolsonaro.
O medo iminente do retrocesso e das conquistas sociais acabam servindo de alimento para o clima sombrio da faixa que mistura ritmos como o maracatu, a música eletrônica e a MPB. A canção ainda conta com a participação especial de São Yantó nos vocais.
Os contornos do novo rumo que o país poderia tomar, indo contra a onda progressista, acabam também se relacionando com o momento de crise política na esfera federal. Até por isso Tenório resolveu soltar esta canção logo agora “de supetão” mas que encaixa como uma luva entre uma onda de panelaços – e gritos – pedindo pela renúncia do chefe de estado.
Suas frequências, e produção, se destacam através da infinidade de camadas. Esta espécie de “maracatu eletrônico” traz consigo diversas cores e texturas. O vocal pop deixa ela inclusive bastante acessível, entre reverbs, loops e batidas frenéticas.
Entrevista: Semper Volt
Conversamos com o João Tenório para entender mais sobre o novo single, disco, parcerias e o futuro em tempos de pandemia. Ele pretende ainda fazer shows em lives nas suas redes sociais durante o período de isolamento.
Embora você tenha composto essa música durante um período traumático, e de depressão, pós-eleições, estamos vivendo um momento parecido com consequências mundiais. Acha que a faixa consegue fazer um paralelo entre as vibrações dos momentos?
Semper Volt: “Aqui no Brasil a gente tem duas crises: a pandemia e uma crise política. A letra é mais sobre esta segunda. De repente começaram as panelas, dois dias depois de manifestação de apoio ao grupo que está no poder. Como isso aconteceu? Talvez uma crise tenha precipitado a segunda. Sinto uma aceleração de alguns processos que demorariam muito mais tempo se não fosse esse vírus.
É uma música que fala sobre como as coisas podem mudar quando uma ideia se propaga e começa a tomar vida própria. Também acho que é um momento delicado para colocar algo no mundo, com as coisas mudando tão repentinamente, e aquilo pode ser recebido num contexto oposto à quando foi criado. Mas esta é a música do disco que mais tem a ver com esta semana (risos).”
Como se formou salada musical que deu origem a faixa? Como surgiu a parceria e como se desenvolveu a produção em conjunto?
Semper Volt: “O São Yantó fez preparação vocal e mentoria pra mim, me contando como funcionam as coisas no mundo da música independente, que eu estava por fora. Eu levei essa música para trabalhar a minha voz com ele, e ele se conectou muito com ela. Disse que lembrava Minas (ele é mineiro). Daí eu pensei em convidá-lo para cantar. Ele é um dos melhores cantores do Brasil. Eu só chamei pra participar do disco quem tinha alguma conexão pessoal, não quis pedir pra gente que eu não conheço pessoalmente.
Foi o Yantó que falou que eu precisava de um produtor. Eu sempre começo programando loops de synth, depois coloco melodia e letra, e em alguns casos eu precisava de alguém que me ajudasse a harmonizar as duas coisas. O Boi (Ivan Gomes) foi perfeito nisso, ele é um jovem maestro. Também gravou vários instrumentos. Ficamos amigos e ele está na banda comigo tocando baixo e synths, junto com o Ariel Coelho, na percussão e bateria.
O beat de maracatu saiu naturalmente. Eu fiz um beat que achava legal e quando mostrei pro Boi ele disse que era Maracatu. Acho que é de ouvir muita Nação Zumbi.”
Conte também sobre o momento do projeto e a arte da capa do single.
Semper Volt: “A gente tinha um planejamento de lançar quatro singles e já começar a circular com a banda. Estávamos no meio dos ensaios quando o Covid-19 estourou. Tinha um show na Fauhaus que foi cancelado.
Agora está sendo tudo muito empírico. O disco vai sair, mas a data e, se vai ter mais singles ou não, estamos vendo semana à semana. Como o primeiro single (que foi enviado pelas plataformas duas semanas antes da quarentena) foi bem, eu e a distribuidora achamos que era o caso de lançar outro. As músicas que eu já tinha ensaiado com banda, que são quatro ou cinco, vou apresentar em lives com os synths.
A arte da capa foi feita pelo Gabriel Dietrich, da Monopost, uma produtora de motion design que ele criou recentemente. Fazia tempo que eu queria migrar o visual do projeto pra algo mais colorido, tropical. Ele veio com a referência do artista japonês Go Yanagi, que tem esses mosaicos de formas orgânicas. As capas dos singles são recortes de uma ilustração maior, que será a capa do álbum. Para “Massa Crítica” a gente achou que a imagem da onda caiu bem.”
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