Ana Frango Elétrico “Eu denomino meu som por medo de cair na caixa nova mpb”

 Ana Frango Elétrico “Eu denomino meu som por medo de cair na caixa nova mpb”

Ana Frango Elétrico – Foto Por: Ana Helena Zilbersztejn

Hora da Colheita! Uma ótima forma de definir o momento da carioca Ana Faria Fainguelernt, conhecida artisticamente como Ana Frango Elétrico, que no último ano lançou seu segundo álbum de estúdio, Little Electric Chicken Heart via selo RISCO.

O disco foi recentemente indicado ao Grammy Latino na categoria Melhor Álbum de Rock ou Música Alternativa em Língua Portuguesa e ao Prêmio Multishow de Música Brasileira na categoria Álbum do Ano. No último ela ainda concorre na categoria Artista Revelação ao lado de nomes como Jup do Bairro e Rosa Neon.


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Ana Frango ElétricoFoto Por: Ana Helena Zilbersztejn

Escoliose: paralelismo miúdo

Além disso ela lançou o livro Escoliose: paralelismo miúdo (Edições Guarupa) poemas, gravuras e ilustrações feitos entre 2015 e 2019, e conta com a apresentação da escritora Heloisa Buarque de Hollanda, intitulada “Um bilhete para Ana F”. No livro a sinestesia e o cruzamento entre diferentes universos se faz presente, de Yoko Ono a Ana Cristina Cesar, passando por Rimbaud e Garcia Lorca, pela poesia concreta, pela blague modernista e pelo ready made.

“Trata-se de uma poesia com outro DNA geracional” – afirma Heloisa, na apresentação – “um DNA quase insolente, que, partindo radicalmente para o testemunho pessoal e localizado, desmistifica toda e qualquer aura da poesia (pelo menos aquela dos nobres tempos dos cânones masculinos) em prol da liberação de uma fala corporal, libertária”.

Os Novos Singles e o Projeto Agulhar

“Mama Planta Baby” é o primeiro single revelado de uma série gravada durante a quarentena e lançada via selo RISCO. Nele Ana assina o violão, a bateria eletrônica, órgãos, glockenspiel, efeitos e voz além da produção.

Gravada a distância ela teve a oportunidade de colaborar com Alberto Continentino, no baixo; Vovô Bebê, nas flautas; JOCA, nas percussões eletrônicas; e Dora Morelenbaum e Lucas Nunes, nos coros. A faixa foi mixada e masterizada por Martin Scian, com quem produziu o premiado LECH.

“Pensei numa melodia que pudesse ser cantada para plantas e bebês, trazendo timbres que têm me interessado, como a flauta, órgão e violão, misturando elementos da bossa-nova, chamber-pop e soft-eletro-indie.

Quis explorar efeitos, estéreos e repetições trazendo elementos em comum ao Little Electric Chicken Heart, como dobras, coros, metais, e divergindo em outros aspectos, como forma e timbres”, revela Ana Frango Elétrico que também conversou com o Hits Perdidos em entrevista exclusiva.



Ana Frango Elétrico no Agulha.r

O Agulha.R propõe um novo ambiente digital para a trama da música autoral brasileira através de uma série de conteúdos audiovisuais, pelos quais bandas e artistas passam a contar com um espaço livre para expor suas pesquisas e narrativas, produzindo um material inédito.

“A ideia é contemplar os mais variados gêneros, incluindo destaques no panorama contemporâneo e principalmente fortalecendo e amplificando a cena local, com um lineup preciso desenhado por Guilherme Thiesen Netto e composto por 15 artistas como os já citados Zudizilla, Ana Frango Elétrico, Saskia, além de Negro Leo, Zilla DXG, Andressa Ferreira, Katu Mirim, Juliano Guerra, Lígia Lazevi, Cristal, Valéria, Julio “Chumbinho”Heerlein, Jadsa, Josyara e uma última atração surpresa que será revelada no decorrer do projeto.”

No começo de outubro a participação da Ana Frango Elétrico teve sua live session + entrevista revelados no canal do projeto que conta com apoio da Natura Musical. Confira também a entrevista clicando aqui.



Entrevista: Ana Frango Elétrico

Conversamos com a Ana Frango Elétrico para saber mais sobre esse momento incrível da sua carreira. Uma ótima oportunidade para entender mais sobre seus processos criativos e sua arte.

Antes de mais nada gostaria de parabenizar pela indicação ao Grammy Latino, como foi para você receber a notícia? Aliás o disco teve uma repercussão bastante bacana no exterior com algumas críticas bastante peculiares em relação a sonoridade, como é para você ler esses reviews ou é algo que não te interessa tanto? Sentiu algum reflexo de uma nova audiência depois do vídeo do Anthony Fantano (The Needle Drop)?

Ana Frango Elétrico: “Muito obrigada :). Fiquei literalmente toda arrepiada quando recebi a notícia, principalmente por ser algo que eu estava com o objetivo de alcançar com o que eu pensei da produção do little electric. Eu gosto bastante de ler e ouvir os reviews, sinto que entendo mais do meu próprio trabalho a partir da impressão de outrens. Com certeza o review do Fantano trouxe novos ouvintes e abriu alguns caminhos na minha carreira internacional. “

Na quarentena você aproveitou para produzir, e algo que reparo nos teus trabalhos e da cena carioca atual é esse intercâmbio e trocas de experiências na hora da composição, produção de arranjos, participação em feats e até mesmo na produção, é algo natural? Você ainda assina pela primeira vez a produção como foi essa experiência?

Acho natural esses intercâmbios, as produções atuais me inspiram muito e a troca também. Estamos vivendo um momento musical muito rico.

Ana Frango Elétrico: “Não foi a primeira vez que assinei a produção musical. No Little electric Chicken heart eu assinei a produção musical e a direção artística, a produção ao lado de Martin Scian. Mas foi um disco que eu quis gravar antes de querer ele na minha discografia com cantora, eu queria produzir musicalmente ele, queria e quero ser produtora.
A diferença é que em “mama planta baby” eu tomei rédeas de operar a sessão. E são propostas diferentes de som num momento de isolamento quarentena e uma proposta mais lo fi. Mas me sinto tão produtora quanto fui principalmente no Little Electric, e cada vez mais quero produzir sozinha não pelo fato que não gosto de trabalhar em conjunto, mas porque infelizmente em nossa indústria quando tem um homem do lado automaticamente e menine jovem é anulade. Sendo que eu sou compositora, instrumentista, produtora e cantora no álbum.”

No campo da produção do single você explorou novas formas e timbres, como foi para você brincar com isso? E o conceito de música para plantas e bebês veio de onde a viagem?

Ana Frango Elétrico: “Foi muito divertido, tava com vontade de misturar violão com timbres eletrônicos, orgão + flauta, e o bumbo e baixo em estéreos opostos. acho que instrumentos e formações me inspiram muito a querer fazer uma produção específica isso vai mudando de momento em momento depende do que estou ouvindo e gostando também, mas não só isso, pois sinto que tenho uma vontade (na minha carreira solo) de experimentar mas ao mesmo tempo seguir com uma lógica e caminho na minha discografia.
O que mais gostei foi o fato de ser um single e não precisar ficar presa a um conceito e trajetória que fico presa quando me proponho a fazer um disco.
O conceito veio a partir da melodia e a letra pensando em minha mãe e minha namorada! Nos aspectos da produção eu comecei produzindo no celular nos 2 meses e meio que passei no mato e estava lendo a vida secreta das plantas, acho que é um contexto que influenciou muito.”

Algo que sempre quis perguntar é em relação aos rótulos e gêneros musicais que seu som pode ser categorizado. Como vê isso? Enxerga como uma ferramenta de mercado ou você mesmo gosta de colocar uma “tag”?

Ana Frango Elétrico: “Desde o começo da  minha carreira eu denomino meu som  por medo de cair na caixa nova mpb. No mormaço queima chamei de bossa pop rock decadente com pinceladas punk. E no LECH um rock ballada jazz. Sinto os artistas como ilhas estéticas com influências variadas, inimagináveis e inigualáveis. Por tanto, pra mim, os rótulos e gêneros quem sabe é cada artista. Mas sinto que quando denominam misturas me agrada mais do que quando colocam numa caixa apenas.”

Você recentemente lançou o livro “Escoliose” e algo que me pareceu é que soa natural como poesia, artes plásticas, teatralidade e música acabam se encontrando e convergindo. Adorei como você traz referências de todos esses universos e ainda tem uma alma livre em passear pelo dadaísmo mas sem deixar o bom humor, assuntos mais sérios, feminismo, tabus e a ironia fazerem parte.

Sua pesquisa por referências é ligada a poesia como já disse em algumas entrevistas, e algo que acho muito legal é como você busca por referências com backgrounds em lugares distintos, trazendo sinestesia, e ao mesmo tempo super conectada com o presente e a loucura das redes.

O livro é uma coletânea de textos que vinham sendo produzido desde 2015, a partir de que momento notou que ele tinha que ser publicado e como foi escolher o repertório? Eu adorei o nome que escolheu para ele, como foi essa escolha? Aliás, no fim do livro ainda tem um texto super carinhoso da Heloísa Buarque de Holanda, como foi ler ele pela primeira vez? Tem planos de mais lançamentos do tipo ou explorar outras vertentes dentro da literatura?

Ana Frango Elétrico: “Sinto que o livro é um complemento aos meus álbuns e às minhas criações até agora!! Ele era uma zine já teve umas 3 edições caseiras, cada uma ia mudando, e aí Eu e Santiago Perlingeiro que trabalha comigo queríamos lançar como livro pra poder circular e também de acervo e arquivo.
Chamamos Daniel Rocha que fez um trabalho incrível de projeto gráfico e aproveitei pra botar ilustrações e trabalhos meus visuais. Fizemos uma parceria com Juliana Travassos da Editora Garupa. Desde 2015 tem esse nome Escoliose, que eu tenho inclusive, e que pra mim é um exemplo literal de um paralelo pequenino, nossos lados sutilmente não são iguais, e o paralelismo miúdo pra mim é um subtítulo e nome pra minha poética, pelo menos até agora (risos). Foi uma honra e emoção ter recebido o posfácio de Heloísa!

Acho que com o livro eu queria de alguma forma expandir mesmo que dentro do papel a poesia. Pensar na POP ART, na sinestesia, na comida, pensar na possibilidade duma criança gostar de poesia.  Sobre futuro não me vejo querendo lançar outro livro de escrita mas nunca se sabe! Apesar de sentir vontade de lançar um livro de fotos ou de trabalhos gráficos! As publicações me interessam como meio!”

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