Ana Frango Elétrico ressignifica sua maneira de produzir em um dos melhores discos do ano

 Ana Frango Elétrico ressignifica sua maneira de produzir em um dos melhores discos do ano

Ana Frango Elétrico – Foto Por: Hick Duarte

Fui conhecer o trabalho da carioca Ana Frango Elétrico ainda em 2017 através de amigos que não paravam de falar sobre seus singles. Quando Mormaço Queima (2018) ganhou a luz do dia logo me identifiquei com o sarcasmo, bom humor e poesia da canção “Roxo”, que ganhou um clipe para lá de abstrato (veja aqui).

Seu vídeo lançado em fevereiro deste ano acabou entrando na lista de melhores do mês (confira aqui). Fato é, como ela mesmo nos contou, que muitas das canções de Mormaço já estavam sendo trabalhadas e apresentadas aos fãs desde 2016, e naquele momento já vinha arquitetando seu segundo álbum.

Em setembro foi a vez de conhecermos Little Electric Chicken Heart, disco em que Ana Frango Elétrico ressignifica seu modo de produzir, enxerga novas possibilidades, vislumbra uma nova forma de pensar, traz novas referências, experimentações e parcerias. Um projeto de construção, maturação e lapidação que levou cerca de três anos.


Ana Frango Elétrico Hick Duarte
Ana Frango Elétrico Foto Por: Hick Duarte

Ana Frango Elétrico:
Little Electric Chicken Heart (2019 / RISCO)

Ao longo de suas 8 faixas tem espaço para referências dos anos 50, humor, corações partidos, poesia, improviso, mágoas, medos, afetos e muita intensidade. Tudo isso por sua vez acaba refletindo na atitude e força que impõe.

A evolução em relação ao primeiro disco é notável e que bom estar podendo dizer isso. Um trabalho de construção, reconstrução e ressignificação, deveria sempre passar por estas etapas.

Ela mesmo procura trazer novas versões de canções de seu primeiro disco durante seu espetáculo, saindo da zona de conforto e propondo um diálogo com o público. Se Ana Frango Elétrico costuma trazer para o palco provocações e poesia, em seus novos shows ela apurou também a teatralidade.


Ana Frango Elétrico durante o show de lançamento do álbum no Sesc Avenida PaulistaFoto Por: Rafael Chioccarello

Show de Lançamento

Estive presente no show de lançamento que aconteceu na noite da sexta-feira (18/10) no Sesc Av. Paulista.

Em sua banda Ana Frango Elétrico para a ocasião chegou acompanhada de Guilherme Lírio, nas guitarras, Marcelo Callado na bateria; Vovô Bebê no baixo, Antônio Neves no trombone e arranjos, e Amilcar Rodrigues no trompete e Joana Queiroz no clarone e flauta transversal.

O Samba no Pé

Potência esta que reverbera nos arranjos, volumes, timbres e possibilidades; estas que fazem as canções do novo e antigo álbum ganharem novos voos. As releituras se somatizam a capacidade da artista em experimentar de seu carisma no palco.

Ela brinca com a guitarra, faz caras e bocas, interage com a banda, improvisa na poesia, mostra bom humor, sarcasmo e brinda os fãs. Alguns acompanhados de seu copo de vinho – cantando as canções feito uma ciranda –  e até mesmo trazendo artifícios para interagir.

Foi o caso de uma fã que em “Picles” tirou logo uma caixinha de McDonalds para brincar com o verso:

“Quando era pequenina
Não gostava de picles
E sempre pedia pra tirar de seu hambúrguer (X3)
O picles

Ela só queria o brinde
Do Mclanche Happy…”, Ana Frango Elétrico “Picles”

Os metais ao vivo são um destaque a parte e seu show tem momentos para balada, seriedade, protesto político (contra o abominável), trocas de sorrisos com a plateia, piadas, pausa para um suco de laranja, dancinhas e cortesia com os fãs.

Sua personalidade se destaca e mostra como está leve e pronta a encarar os desafios que aparecerão pelo caminho. Por outro lado a “Big Band”, e sua energia pulsante, dá o tom do espetáculo que não esquece de uma das funções mais importantes: entreter.



Entrevista

Conversamos com a Ana Frango Elétrico para saber mais sobre as curvas e desafios que envolveram a construção deste disco que tem tudo para figurar nossa lista melhores do ano. Confira!

As Subjetividades & a Produção

Little Electric Chicken heart saiu de uma vontade de pensar e repensar a produção musical. Pensar mas receitas de bolo que a gente já conhece. Pensando na quantidade de homens produtores e na contagem nos dedos das produtoras mulheres.

Pensando nas subjetividades e intenções e como isso refletia no resultado final. Também pensando a importância de Yoko Ono nas produções de alguns discos solo do john. A importância da concepção artística do álbum como um todo.”

A Virada de Chave

“Eu sabia alguns lugares que queria chegar nessa produção, Nora Ney virou uma chave pra mim, tanto em termos de me abrir pra uma vontade de cantar com um pouco mais de calma com uma liberdade emocional quanto pra um gosto imenso por alguns sons e timbres dos anos 50.

Ela foi fundamental para eu decidir que iria começar a gravar meu segundo álbum. Percebi que queria um som de bateria que fosse pouco close. E sim um som de sala grande uma outra atmosfera. Microfones de fita. E pra isso chamei o Martin Scian pra produzir comigo, que ele seria aliás o engenheiro de som também e faria mix master.”

As Experimentações

E aí fomos experimentando testando Escolhi o microfone RCA pra gravar o disco inteiro. Levamos todos equipamentos para o estúdio verde no Cosme velho no RJ e fizemos um primeiro intensivo de bases ao vivo.

Fui entendendo ao longo do processo o que eu queria de influência “antigas” e o que queria de “moderno”. Gravamos as bases com um núcleo que era a banda que apresentava o mormaço queima.

Antônio Neves em algumas baterias. E que também fez os arranjos de sopros e tocou trombone, trompete e piano da introdução. Guilherme lírio em algumas baterias e 2 guitarras e 2 baixos bases (as que eu não tocava) e Vovô bebê nos baixos. E eu cantando produzindo e em 6 guitarras. E depois vieram os overdubs, pensamentos, ouvidas e etc.”

Referências & Atual Momento

“Foram muitas referências. Muitos discos ouvidos. Foi uma imersão musical pra mim principalmente no campo da produção. Alguns erros alguns acertos.

Agora já estou pensando nos próximos e descobrindo esse novo show do LECH e essas novas formas de algumas do Mormaço (Queima). Descobrindo meu corpo no palco quando não estou tocando em algumas do show. E começando essa nova jornada de som. Porque o Mormaço eu lancei em 2018 mas apresento desde 2016 o repertório dele.”

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