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Lollapalooza Brasil: IDLES traz a selvageria para os palcos, The Libertines a nostalgia, Black Pumas a elegância e Fresno e Lulu Santos celebram o amor no terceiro dia

Após dois dias intensos de Lollapalooza Brasil, o domingo em seu line-up traria por si só um maior equilíbrio entre os artistas internacionais e nacionais. Se na sexta (25), tivemos Turnstile e Strokes (leia resenha), e no sábado (26) tivemos Alexisonfire e Miley Cyrus (leia a resenha), domingo teríamos Foo Fighters e Jane’s Addiction, porém como todos sabem os australianos tiveram problemas de saúde (COVID-19), sendo substituídos pelo The Libertines.

Já o Foo Fighters cancelou toda sua turnê após o falecimento do baterista Taylor Hawkins.  O Lolla preparou em pouco menos de 24 horas um mega show de rap com direito a EmicidaPlanet HempBivoltRael, Mano Brown, Ice Blue, Criolo, Drik Barbosa, Michele Cordeiro, Monica Agena entre outros artistas em um final apoteótico para o terceiro dia.

Marcado originalmente para o fatídico mês de março de 2020: o Lollapalooza Brasil trouxe consigo uma maré de esperança sendo o primeiro festival de grandes proporções a ser realizado após mais de 2 anos de sofrimento para o mercado da música ao vivo. Com line-up sofrendo bastantes alterações da edição de 2020 (para a de 2022), o festival chegou a ficar sob atenção devido aos números da COVID-19 no país. A poucos dias da sua realização o governo do estado de São Paulo liberou o uso de máscaras em locais abertos, o que deu ainda mais fôlego para que fosse possível viver a experiência como acontecia antes da pandemia.

Confira também a resenha do primeiro dia do Lollapalooza Brasil 2022

Leia a resenha do segundo dia do Lollapalooza Brasil 2022

Lollapalooza Brasil 2022: Dia 3


Guitarrista do IDLES celebra os 10 anos de sobriedade no meio do público durante o Lollapalooza BrasilFoto Por: Rafael Chioccarello | Hits Perdidos

Entre as atrações do terceiro dia o Palco Budweiser, maior palco do festival, reuniu: Lagum, Rashid, IDLES, The Libertines e um all-star do rap nacional com EmicidaPlanet HempBivoltRael e Mano Brown. O Palco Ônix reuniu: Aliados, Fresno e Lulu Santos, Black Pumas e Martin Garrix. O Palco Adidas em seu line-up contou com: menores atos, Planta & Raiz, Marina Sena, Djonga e Kehlani. Pautado pela música eletrônica o Palco Perry’s By Doritos trouxe para seu palco com direito a telão psicodélico: Fractall x Rocksted, Malifoo, Evokings, Fancy Inc, Cat Dealers, Goldfish, Kaytranada, Gloria Groove e Alesso.

Confira mais fotos do Terceiro Dia no Instagram do Hits Perdidos

Rashid

Na maratona que cobrir o Lollapalooza Brasil se transforma ao longo dos dias não conseguimos chegar a tempo para acompanhar o show do menores atos e Lagum mas a esperança de ver o Rashid após o cancelamento na edição anterior do festival era algo muito aguardado por todos os fãs do rap nacional.

A poucos minutos de Rashid, Planta & Raiz e Evokings subirem nos respectivos palcos o céu do Autódromo José Carlos Pace começou a ficar escuro. Na iminência de possível queda de raios no perímetro dos palcos a produção, seguranças e brigada de bombeiros começou a evacuar o local.

A apreensão nos bastidores era da possibilidade dos shows não ocorrerem. O recuo em seu início foi até o ponto onde existiam vigas de metal que poderiam eventualmente causar uma tragédia porém durante todo momento de paralização tivemos apenas um raio que caiu bem distante do festival e uma pequena garoa. Mesmo assim o público presente no Palco Budweiser foi encaminhado para traz do palco, onde tínhamos trailers e uma espécie de estacionamento repleto de estruturas metálicas, o que não fez muito sentido e poderia sim causar algum transtorno.


Organização pareceu perdida durante o terceiro dia de Lollapalooza Brasil – Foto Por: Rafael Chioccarello | Hits Perdidos

Cerca de 30 minutos depois as notícias de que o show do Rashid poderia não ser mais realizado começaram a chegar. O público após uma chuva que durou pouco tempo começou a voltar a circular pelo evento.

Enquanto isso nos outros palcos nos bastidores já começava a se falar sobre a possibilidade de shows mais curtos ou até mesmo o cancelamento na íntegra. Algo que Lucas Silveira, da Fresno, revelou em sua conta pessoal no Twitter horas após a apresentação no Palco Ônix.

Após a confirmação de que o rapper não poderia realizar o seu show no Palco Budweiser, o clima entre os fãs foi de tristeza e empatia pelo fato e por saber quantas pontes – e investimento – ele fez para poder estar lá em um dos dias mais felizes de sua carreira. Visivelmente abalado, Rashid ainda teve a humildade de subir no palco, conversar brevemente com os fãs de que ele não se apresentaria, jogar uma camisa e um óculos.

Teria sido bacana ele ter um espaço dentro do próprio dia depois do cancelamento do Foo Fighters mas não foi o que aconteceu. Torcemos para que no ano que vem o Mc além de ter presença confirmada no Lollapalooza Brasil ainda possa ter um “horário nobre” dentro da programação do festival.



Fresno e Lulu Santos

Depois do caos a Fresno entrou alguns minutos depois do previsto da sua apresentação o que acarretou em um tempo menor de apresentação. Tanto é que Lucas fez questão de dizer que falaria pouco com o público pois cada minuto ali era precioso.

De fato, foram 9 músicas executadas pois eles precisariam liberar o palco para que o Black Pumas se apresentasse dentro do previsto. O que de longe tirou o brilho da apresentação dos gaúchos que souberam utilizar o palco com maestria trazendo junto consigo uma big band com direito a metais e uma ilustríssima participação especial do astro pop Lulu Santos. O carioca, inclusive, participa do mais recente álbum da Fresno, Vou Ter Que Me Virar, na faixa “Já Faz Tanto Tempo”, executada em medley com o hit “Toda Forma de Amor” – com direito a trechos alterados para contemplar nossos tempos.



Do novo disco entraram no set da Fresno “FUDEU!!!”, talvez a mais punk rock e explicitamente política de toda carreira do grupo, “Casa Assombrada”, esta cantada aos berros pelos fãs e a balada “Vou Ter Que Me Virar”. A abertura do show ficou para uma delicada versão instrumental para “Essa Coisa (Acorda-Trabalha-Repete-Mantém)” mas também teve espaço no set para “Natureza Caos”, “Manifesto” e “Quebre as Correntes”, uma canção que abraçou em cheio quem conheceu a banda em seus primeiros dias.

Durante a apresentação Silveira disse que não era revival e que eles nunca pararam de tocar e se aproximar de novos fãs com seus discos ao longo dos anos. Algo muito importante de ser dito em tempos em que se fala muito “revival emo” como se durante 20 anos as pessoas tivessem parado de acompanhar. O que de fato chega a ser surreal para quem acompanha o cenário independente de perto.

Uma apresentação digna do tamanho do festival, com arranjos, participações, suor e que merecia sim ter mais tempo de palco. Mas são esses temperos, e contornos, de só quem faz o vivo sabe sabe da possibilidade. Brilharam e representaram o emo e o rock alternativo ao lado dos parceiros do menores atos no domingo.

IDLES

O IDLES é mais uma das bandas confirmadas para a última edição do Lollapalloza Br mas que acabou tendo que amargar o cancelamento. Eles ainda tinham um show exclusivo para 300 fãs com sold out confirmado por aqui antes da pandemia o que gerou bastante comoção na época.

Além dos cultuados Brutalism (2017) e Joy as an Act of Ressistence (2018), que colocou eles no mapa do mainstream, da pandemia para cá eles lançaram Ultra Mono (2020), talvez o mais “pop” da carreira até aqui, e Crawler (2021). Mas mais do que qualquer setlist possível os ingleses além de saberem jogar bem nas escolhas, não deixando “Mr. Motivator”, “Grounds”, “I’m Scum”, “Danny Nedelko” e “Car Crash” de fora, ganham o público pela entrega, magnetismo e explosão, do começo ao fim.

A anarquia do IDLES não é apenas estética, do guitarrista Mark Bowen entrar de vestido tirando onda com a masculinidade frágil ou de Joe Talbot não ter vergonha nenhuma em se debruçar no palco para cantar os versos mais espalhafatosos. Mas também de entender que show se faz dentro, e fora, das quatro linhas (ou dos limites do palco).



Por muitos anos tivemos aquela incógnita de por onde andavam as bandas de rock que poderiam se garantir tocando em estádios sem perder a postura e elevando entretenimento para as massas. Se no passado tivemos Nirvana levando o punk para as massas, o IDLES imprime esse ritmo dando um murro em sua própria face, rindo de si mesmo e criticando todos os clichês de uma banda de rock. Mas nem por isso eles deixam de lado a postura anti-fascista e condenam o autoritarismo ao longo de vários momentos ao longo da apresentação.

Também teve espaço para uma breve homenagem ao Taylor Hawkins citado em discurso de Joe Talbot.

A satirização é constante dentro do show da banda de Bristol que em “Love Song”, com direito ao guitarrista Lee Kiernan descer para o palco – fez isso duas vezes durante a apresentação – cantou em tom irônico feito um karaokê punk: “Nothing Compares 2 U” (Sinéad O’Connor) ” Wonderwall” (Oasis), “Let’s Make Love and Listen Death from Above”, lembrando que o primeiro baterista da banda tocou por um tempo no CSS, “Happy Birthday to You”, em celebração aos 10 anos de sobriedade de Lee; e “All I Want For Christmas Is You” de Mariah Carrey.



Com direito a rodinha com participação de Kiernan que durou praticamente 10 minutos do Set, público entregue, surf crowding de Bowen e adrenalina do começo ao fim, não é difícil elencar o show dos ingleses como o melhor de todo o festival com sobras.

Sem precisar se segurar de grandes produções, ou na psicodelia dos telões, para incrementar a apresentação, eles transformaram o palco gigante da Budweiser em um clube pequeno de Londres. E quando isso acontece é porque temos em nossa frente algo diferente.

É bem verdade que a banda tem uma série de inimigos dentro da cena de post-punk e alternativo por sua origem mais abastada, e apropriação de discursos da classe média operária, mas a partir do momento que sobem no palco tudo isso parece ruir e virar uma arena selvagem onde tudo é possível. Mas se o The Clash podia fazer isso, porque eles não?


Mark Bowen sendo levantado pelo público – Foto Por: Rafael Chioccarello | Hits Perdidos
O guitarrista Lee Kiernan celebrou os 10 anos de sobriedade tocando seu instrumento no meio do público presente. – Foto Por: Rafael Chioccarello | Hits Perdidos

Black Pumas

Um dos shows mais aguardados foi o do Black Pumas que também tinha data confirmada pela produtora Balaclava no Cine Joia mas que acabou sendo cancelada nos últimos dias. Formada por Eric Burton e Adrian Quesada o grupo já foi indicado ao Grammy em três categorias, tendo a faixa “Colors” como seu carro-chefe e indicada como a melhor performance durante a premiação em 2021.

Fato é que ir a um show do Black Pumas é uma celebração por si só, um show que é mais elegante e não tem muito a atmosfera de um festival – com certeza em um espaço mais intimista ganharia mais corpo e absorção do público que pareceu desconhecer boa parte do repertório deles. Com muito groove, swing e participações especiais do coral que os acompanha o lado espiritual e ancestral é evocado ao longo do show que entre um riff de guitarra mais distorcido e uma vocalização mais intensa, te leva para outra atmosfera.

A competência dos músicos é algo fantástico e nos lembra um pouco a sensação que o Alabama Shakes nos trouxe durante lollas passados. O soul, o blues e o R&B ainda não são protagonistas no Lollapalooza Brasil mas a cada aposta mas vemos como acertos dos programadores e nos faz sonhar com a possibilidade de algum dia termos apresentações de nomes como Moses Sumney e Thundercat por lá. Fato é que muito além de “Colors” o show traz pérolas como “Old Man”, “Oct 33”, “Fire” e até mesmo uma deliciosa versão para “Sugar Man” de Rodriguez que para quem já viu o documentário Searching For Sugar Man (2013) soa ainda mais emocionante.


Black Plumas traz a elegância para o Palco Ônix. – Foto Por: Rafael Chioccarello | Hits Perdidos

The Libertines

Escalados de última hora após o imprevisto do cancelamento do Jane’s Addiction, banda liderada inclusive por Perry Farrell, o The Libertines ganhou um belo horário dentro do Palco Budweiser. Saindo do show do Black Pumas nas curvas de Interlagos já era possível ouvir os primeiros acordes de “The Delaney”, o curioso caso de que havia esquecido e sem bateria no celular sai correndo para pegar grade por motivos de nostalgia.

Em 2016 com sua formação original o The Libertines se apresentou no palco do Popload Festival em uma noite, digamos assim, pouco feliz. Entorpecido Pete Doherty muitas vezes errada e Carl Barat corria para corrigir. A impressão na época foi justamente de uma banda com hits de toda uma geração mas que a a atitude engraçadinha e o pouco jeito no palco acabavam minando um pouco do potencial da proposta revival do punk dançante dos libertinos. Na época canções como “Death On The Stairs” e a balada “What Became of the Likely Lads” ficaram de fora, algo que foi recompensado no palco do Lollapalooza Brasil em 2022.


The Libertines entrega hits no palco do LollapaloozaFoto Por: Marcelo Brandt / G1

Assistir a um show do The Libertines está longe de ser esperar a perfeição, técnica, performance de ir para o encontro do público e tudo mais. Não é e nunca foi a deles, chamar de “rock de bêbado” também é uma forma de tentar diminuir os good old days dos trio que tem de fato como melhor músico o incrível, e carismático, Gary Powell que até mesmo emulou com muita técnica a entrada de uma escola de samba em Interlagos. Se os Strokes tivessem dado 10% da entrega que eles deram, talvez estaríamos ouvindo elogios por semanas mas não foi o caso.

Os Libs emplacaram 18 faixas ao longo do seu show com direito a canções dos três discos de estúdio, é bem verdade que estão devendo um novo, mas abro aqui algumas aspas com “seria isso necessário mesmo após o mediado último disco?”. De qualquer forma o set contou com sequências bem pensadas com sentimentalismo entre “What Katie Did”, cantada por Carl Barat porque Pete adora ser blasé nessas horas e a balada “You’re My Waterloo”.

Depois disso aí o show de hits parece aberto e o público embala com uma sequência com “Boys in the Band”, “Can’t Stand Me Now”, “Music When The Lights Go Out” (com a ajuda do violão) e “Horrorshow”. O bis final ainda teve referência ao rock do passado com “The Good Old Days”, que reverencia o porque a música importa, a minha preferida deles “Death On The Stairs” (que abro aspas para falar que caiu um cisco no olho na hora por não esperar), o hit “Don’t Look Back Into The Sun” e “Time For Heros”.

No fim é sobre isso, uma banda quando entrega um pouco mais do que era esperado, e no caso deles é bom sempre ter baixas expectativas, é algo para se brindar com Gin, como Pete Doherty fez durante a apresentação oferecendo a dose para o público.

Gloria Groove e Alesso

Gloria Groove se apresentou no Palco Perry by Doritos e por lá não deixo de trazer hits como “Bonekinha”, “Modo Avião” em um medley com “A Tua Voz”, “700 por hora” e “Radar”, além de “Coisa Boa”. Ela ainda estreou no palco a faixa “Jogo Perigoso”, “Apenas Um Neném”, “Greta” e “Sobrevivi” com direito a participação especial de Priscilla Alcantara.

Entre um show de psicodelia no telão, coreografias e performances ritmadas das dançarinas, a artista mostrou porque é atualmente uma das maiores performers do pop nacional.

Já o produtor de EDM sueco, Alessandro Lindblad, mais conhecido como Alesso, que já produziu parcerias e acumula produções para artistas como Avicii, OneRepublic, Calvin Harris, Usher, David Guetta e Sebastian Ingrosso foi o responsável por fechar o palco eletrônico do festival. Energético e com show de luzes, ele mostrou porque é um dos mais renomados do estilo e transformou o palco gigante do festival em uma pista de dança cheia de efeitos pirotécnicos.

Aliás é interessante observar ao longo dos anos como esse palco que começou como uma tenda hoje supera em tamanho por exemplo o Palco Adidas, um sinal como o Lollapalooza Brasil abre cada vez mais os olhos para a e-music. Um ponto bastante positivo para a organização do festival.

No ano que vem tem mais!

This post was published on 31 de março de 2022 11:00 am

Rafael Chioccarello

Editor-Chefe e Fundador do Hits Perdidos.

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