Em momento delicado para a cultura, artistas comentam sobre o que mais sentem falta dos shows e festivais

 Em momento delicado para a cultura, artistas comentam sobre o que mais sentem falta dos shows e festivais

A Falta dos Shows – Foto Por: Pexels

Artistas comentam sobre A Falta dos Shows

Em março de 2020 o mundo todo foi para as suas casas. O que era para ser apenas 15 dias acabou se transformando em uma tragédia de proporções mundiais, no Brasil nos aproximamos da triste marca 600 mil mortes, resultado de uma má gestão em conter a pandemia.

As consequências do isolamento social foram sentidas nos mais diversos setores da economia, sendo o mercado de eventos um dos mais afetados – e um dos últimos a voltar. Vivemos o boom das lives que no começo ajudaram a amenizar os prejuízos dos artistas, tivemos inúmeras vaquinhas para ajudar os graxas, projetos com marcas e a abertura de editais como e Lei Aldir Blanc.

Mas a maior parte da renda vinha justamente do momento de maior satisfação e alegria de um artista: os palcos. A interação e as trocas com o público e equipe sempre fizeram a comunhão do encontro valer a pena.

Neste momento delicado, muitos artistas e bandas encerraram (ou pararam por tempo indeterminado) suas atividades, tiveram que migrar para outras atividades para obter renda, mudaram de cidade, entre outras histórias.

Por isso, conversamos com artistas para falar sobre a parte emocional da falta dos shows e festivais.

Artistas Comentam Sobre a Falta dos Shows


A Falta dos Shows Palco Vazio
A Falta dos Shows – Foto Por: Pexels

Sepultura


Sepultura - Foto Por Marcos Hermes A Falta dos Shows
SepulturaFoto Por: Marcos Hermes

“Eu acho que, verdadeiramente, essa foi a primeira falta que o músico teve porque desde que a gente começa a tocar, se prepara para apresentações ao vivo, para mostrar ao público o que fazemos. É  uma vida toda seguindo esse processo e tendo o prazer de realizar essa função. Quando isso nos é tirado do nada, sentimos uma saudade sem fim.

A música acontece no ambiente, é algo físico, de vibrações sonoras. Eu sinto muita falta disso, não só de fazer shows, mas de assistir a outros shows de artistas que eu gosto e acompanho.”, Eloy Casagrande, baterista do Sepultura

Plebe Rude


Plebe Rude completa 40 anos a falta dos shows
Plebe Rude completa 40
Anos de estrada. – Foto Por: Caru Leão

André X (Plebe Rude): “A Plebe só funciona com a energia de vocês. Reparo em shows, que quando o público está a mil, a gente no palco recebe, como em simbiose, uma energia que torna tudo uma troca divertida e marcante. Parece meio óbvio, mas no caso da Plebe é algo real. Venham aos shows, vamos trocar uma ideia e nos divertir. Música para os pés e a cabeça.”

Boogarins


Boogarins - Coquetel Molotov 2020 Entrevista Hits Perdidos
Boogarins

Dinho Almeida (Boogarins): “A falta dos shows é enorme, infinita né?
Nossa vida era guiada por eles, o fluxo das lives, rola, feito um suspiro gostoso, mas o jeito maluco de estar com outras pessoas sentindo música é intenso e essencial de mais. Tá ruim sem.”

Gabriel Thomaz


Gabriel Thomaz vocalista do Autoramas lança o Selo Maxilar


Gabriel Thomaz: “Pra mim é tudo estranho. Não viajar, nem lembro mais como é aeroporto, embarque, check-in, hotel. A gente fica viciado na adrenalina do show, nas reações das pessoas, no carinho do público. E banda é tipo turma. A gente brinca, dá risada se diverte. O Jairo tenta roubar na adedanha…10…9…8…hihihi”

WRY


WRY - crédito Ana Erica
WRY – Foto Por: Ana Érica

Mario C T Silva (WRY): “Eu acho que o que mais sinto falta dos shows é aquela comunhão, aquela sinergia da qual a gente faz parte por um breve momento, quando se está num lugar onde todo mundo está junto pelo mesmo objetivo, que é ver o show daquela determinada banda.

Eu costumava quebrar o gelo assim nos shows do WRY, quando eu sentia que precisava trazer as pessoas para aquele momento, eu usava essa coisa da comunhão porque eu queria que as pessoas não se sentissem tímidas, e que ficassem à vontade. Sempre funcionava!

O objetivo principal da música ao meu ver é essa comunhão de quem faz a música com quem escuta e vê, sinto falta disso demais.

Agora dos festivais eu sinto falta da experiência mesmo, de encontrar as pessoas e de ir de um palco para o outro, comer lanche, batata frita e aquelas porcarias gostosas. O Festival pra mim tem muito a ver com isso: bater perna e comer.”

MC Carol


MC Carol Foto Por Afroafeto


MC Carol: “Eu já passei por tanta saudade de fazer show que meio que deu a volta. To com saudade do palco, mas já to começando a ficar com saudade do perrengue, de quarto de hotel, de van, de avião.

Esses dias já tava com saudade de sentir saudade de estar em casa quando estava na rua. Fez sentido isso? Mal vejo a hora de voltar a fazer turnê e sentir vontade de estar em casa”

Ana Cañas


Ana Cañas - Foto Por Ariela Bueno A Falta dos Shows
Ana CañasFoto Por: Ariela Bueno

Ana Cañas: “Sinto falta da emoção do encontro com o público, do abraço no camarim, das trocas subjetivas que vão além do próprio show em si. São 16 meses sem sentir esse quentinho no coração…Da troca, do humano, da arte que nos transforma. Quando a gente volta pra casa depois de um show, tem sempre algo diferente que nos toca e transforma. A saudade é tão grande, que até de fila de check-in no aeroporto e amendoim no avião eu tô saudosa (risos).”

Jup do Bairro


Jup do Bairro - Foto Por Isac Oliveira
Jup do BairroFoto Por: Isac Oliveira

“Eu amo show, ouso dizer que sou uma artista do palco. É onde eu sou tomada pelo ritmo ragatanga e dou tudo de mim para performar o que eu sentia enquanto escrevia aquela composição. E os bastidores? Conhecer artistas novos, encontrar suas referências. Saudades dos caterings também.”, Jup do Bairro

Jadsa


Cantora baiana Jadsa lança disco pela Natura Musical - Foto Por João Milet Meirelles Nebulosa Baby A Falta dos Shows
JadsaFoto Por: João Milet Meirelles

“Sinto falta de observar as pessoas. De perto. Entender as intenções que a arte nos dá e olhar os detalhes. Também me faz suspirar o som do ao vivo,as cores e cheiros. Sei que logo logo estaremos nesse mesmo pique.”, conta Jadsa

Joe Silhueta


Joe Silhueta - Foto Por: Thais Mallon
Joe Silhueta – Foto Por: Thais Mallon

Guilherme: “Sinto muita falta do transe do palco, da catarse, da experiência musical ao vivo que sempre acaba sendo única e imprevisível, da eletricidade, daqueles paredões sonoros vibrando o corpo inteiro, dos ritos, dos encontros festivos.”

Gaivota: “O que mais sinto falta é de tocar sentir aquela eletricidade, sentir aquele suor, todo mundo junto coraçãooooo com coração público, banda, graxa, todes reunidos numa força orgásmica cósmica doida e sair do show e reencontrar os amigos do Brasil todo e fazer mais amigos e se jogar no público e assistir shows maravilhosoos com uma galera que nunca vi na vida AHHHHHHH que saudade de tudooooo.”

Sombrio: “Posso falar que sinto falta das drogas gratuitas que a gente consegue às vezes?”

Tagua Tagua


Tagua Tagua por Thiago Picolli
Felipe Puperi (Tagua Tagua) – Foto Por: Thiago Picolli

“O show é a consolidação da troca entre eu e as pessoas. Somos nós, juntos, realizando como cada palavra, cada melodia e cada sonoridade nos atravessa ao mesmo tempo. Eu não faço música esperando essa troca, mas ela é tão viva e tão rica que vira praticamente uma retroalimentação.

Eu dou pra eles e eles me dão de volta. Me faz falta isso, essa energia que não tem como mensurar, o olho no olho, a satisfação das pessoas de ver e ouvir em tempo real aquilo que faz tanto sentido pra elas. O show é a materialização dessa experiência”, conta Felipe Puperi (Tagua Tagua)

ATR


ATR fala sobre a Falta dos Shows
ATRFoto Por: Luz Vermelha

Juliano Parreira: “A ATR sempre foi uma banda que circulou muito para shows e turnês. Pegávamos o carro e rodávamos por vários dias, inclusive, para regiões bem distantes. Fizemos, por exemplo, o Nordeste e o Sul do Brasil, Argentina e Uruguai neste esquema. E sempre que tínhamos oportunidades em festivais e feiras maiores aproveitávamos para marcar shows em cidades próximas e fazer uma rota maior.

Esta era nossa maior estratégia de formação de público e quando também conhecíamos e encontrávamos muitos produtores e artistas que se tornavam nossos parceiros para ações e colaborações futuras. Então, é disso que sentimos mais falta: de conquistar novos públicos tocando ao vivo e de conectar com os colegas da cena”.

Marinho


Marinho - Foto Por Lucas Nóbrega A Falta dos Shows
MarinhoFoto Por: Lucas Nóbrega

“Talvez, o que mais faça falta é o elemento coletivo da música ao vivo. O “estar junto”. Acho que todos nós, antes de pegarmos um instrumento pra tocar, somos fãs de música e grande parte do nosso consumo de música tem essa dimensão coletiva.

Indicar uma música pra uma pessoa próxima, dividir uma plateia com amigos, tudo isso vai criando esse aspecto coletivo de um consumo que parece individual. Mas tem muito da nossa relação com a música que é social, acho que a minha saudade dos shows tá aí.”, Victor de Almeida, da banda Marinho

Taco de Golfe


A banda sergipana Taco de Golfe comenta sobre a Falta dos Shows
Taco de GolfeFoto: Divulgação

“Difícil dizer o que mais sinto falta. Tocar ao lado dos meus amigos, rir dos próprios erros no palco, bater cabeça. Até dos estresses eu sinto saudade, tipo a correria,  a impaciência na passagem de som, corda quebrada no meio do show, e por aí vai. Tudo. Ver os amigos na platéia, conhecer gente, aff. Tudo.”, Gabriel Galvão, da Taco de Golfe

Érika Martins


Autoramas Érica Martins A Falta de Shows


Érika Martins: “Além do show, é claro, o que mais me faz falta é a interação no backstage (conhecer gente nova, de cidades e países diferentes), escutar sons que não conhecia e fuçar as cidades (andar, ver arquitetura, garimpar em brechós e sebos…). Só de pensar já dói!”

Gabriela Terra (My Magical Glowing Lens)


Gabriela Terra (My Magical Glowing Lens) comenta sobre a falta dos shows
Gabriela Terra (My Magical Glowing Lens) – Foto: Divulgação

“O que mais sinto falta nos shows são dos encontros. A gente trabalha muito, fica muito focado em produzir e fazer grana e os shows eram os momentos que a gente conseguia se encontrar pra trabalhar; só que ao mesmo tempo de uma maneira divertida, né?

Algumas pessoas acham que trabalho de banda é só estar ali no palco, quando tem todo um trabalho por trás disso. Estar no palco ali é o momento mais especial, pois finalmente o show é partilhado com o público. Toda essa produção que tem ali por trás do palco, e nesse processo todo, a gente faz amizade. A gente conhece muitas pessoas e tem um contato direto com elas, principalmente em festivais, onde você lida com outros artistas, galera da produção, dos bastidores, galera da luz, pessoas da limpeza, as que carregam as coisas, pessoas que estão ali para organizar os técnicos de som, os diretores de palco, de arte…

Tem toda uma estrutura por trás do show que alimenta não somente uma cadeia financeira do mercado mundial, mas também uma rede de amizades, de troca. O público tá indo ali também para se divertir, pra curtir, né? Mesmo que para pensar, quando é um som mais contemplativo, mas para pensar curtindo. E eu, enquanto público, sinto falta disso, de estar ali com as minhas amizades, compartilhando uma coisa que a gente ama muito, que é a energia da música, essa energia transformadora da música.

Então sinto falta desde os shows pequenos até shows grandes, que você olha para frente e aí não conhece ninguém. Tipo, todas pessoas desconhecidas, shows em festivais são assim!

Mesmo nesses shows que não têm pessoas conhecidas ali vendo o nosso show ou, eu mesma, quando estou vendo o show e não conheço as pessoas que estão ao meu redor vendo o show comigo, a gente tá compartilhando de alguma coisa ali que vai além do que eu posso explicar nesse plano. A música! Assim… isso é muito interessante. Disso sinto muita falta.”, explica Gabriela Terra do My Magical Glowing Lens

Carbona


Carbona_Divulgação_sofa
CarbonaFoto: Divulgação

“Sem hipocrisia, mas minha vida sempre girou em torno de shows e festivais. Ou estava ensaiando e preparando repertório para um, ou estava comparecendo a shows, ou planejando a viagem para algum festival no Brasil e, mais saudosamente ainda, sonhando concretamente com a presença em algum festival lá fora.

Talvez a realização mais importante até agora da minha carreira tenha sido meu livro, que contava o orgulho a marca de subir ao palco mil vezes. E de repente tudo ficou em suspenso. Nesse ano e meio eu precisei repensar a vida pra entender e lidar melhor com esse período sem isso.

Ao mesmo tempo, vejo muito longe de acabar. Já tenho amigos que fizeram show, ainda mais amigos que moram fora, mas ainda não enxergo um prazo claro para o retorno aqui. Eu sigo não pretendendo subir num palco nem comparecer a um show enquanto 70% da população não tiver recebido a segunda dose.

Agora, passado mais tempo, também não me parece impossível que a gente nunca atinja esse número (misturando pessoas que não querem vacinar – COMO ASSIM MEU DEUS? – e  gente que vai ignorar a segunda dose). Talvez precise reavaliar mais adiante.

Eu sinto muita falta dos shows e festivais. Mais do que eu senti de qualquer outra coisa na vida. Como músico, o fato de não interagir mais numa mesma sala com outros músicos e ter isso por ora como uma lembrança distante é uma dor.

Agora uma das minhas bandas começou a falar de reencontrar pra ensaio, ainda que por enquanto sem datas de show, só pra tirar a ferrugem. E outra tá combinando gravar um disco ainda esse ano, então dá pra sentir um pouco de vida retornando. Dá pra sentir a vida voltando, ainda que devagar.”, conta Melvin Ribeiro, que além do Carbona atualmente conta com os projetos Melvin & Os Inoxidáveis e Tripa Seca

Rico Dalasam


Rico Dalasam comenta sobre a falta dos shows
Rico DalasamFoto Por: Mauricio Nahas

Rico Dalasam: “Sinto falta de encontrar meu bonde no aeroporto viajando junto pra tocar!.”

Fica o Apelo do Badauí do CPM 22



A Volta dos Shows em São Paulo

A volta dos shows em São Paulo parece estar mais próxima do que imaginamos, por mais que o cenário não seja dos mais animadores com a chegada da variante Delta, a partir do dia 17/08 eventos sociais, museus e feiras corporativas, com controle de público, estarão liberados no estado, desde que não gerem aglomerações e que sigam os protocolos de saúde e higiene. Nessa data, cai a restrição de horário e de público.

“O grande salto do dia 17 de agosto é a retirada da restrição de horário, porque isso vai permitir que restaurantes funcionem, que eventos sociais sejam planejados, que as pessoas possam celebrar, que os donos desses tipos de estabelecimentos possam ter planejamento de seus negócios, mas com segurança”, afirmou a secretária de Desenvolvimento Econômico, Patrícia Ellen.

Apesar do ânimo que a notícia dá para os artistas e bandas:

Shows com público em pé, torcidas e pistas de danças continuam proibidos até 1º de novembro, quando 90% dos adultos devem ter sido completamente vacinados. Nesta data, segundo o governo, todos os eventos estarão liberados no estado (segundo apurado pelo G1)

“Os eventos passam a ser permitidos em um modelo onde não há restrição de ocupação , mas permanece a restrição de distanciamento. Então, o cálculo de ocupação precisa ser realizado, porque não pode haver aglomeração, e as pessoas precisam estar distanciadas. O uso de máscaras permanece. Todos os eventos que geram aglomerações não estão liberados, ou mesmo risco de aglomerações., disse Patrícia Ellen.


A volta dos shows dia 1/11 em São Paulo - A Falta dos Shows

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