Indie Neon BR: Quem é Você Alice?, Ana Paia, Mulato, Viridiana, Babycarpets e mais!

Dennehy é destaque na Indie Neon. – Foto: Divulgação
A Indie Neon BR traz conteúdos em micro-resenhas do que de melhor tem acontecido no Indie Nacional. Singles, discos e novidades com o radar antenado do Hits Perdidos ganham o palco em um post informativo que acompanha sempre uma playlist!
Sobre a Indie Neon BR
A Indie Neon BR visa apresentar novidades de artistas contemporâneos aliados à identidade do Hits Perdidos com foco em artistas que usem artifícios como sintetizadores, experimentem texturas oníricas e flutuem entre gêneros correlatos ao Indie Rock e seus afluentes. Por aqui você encontrará sons alternativos fora do convencional empurrado goela abaixo todos os dias, nosso Lado B reunirá micro-resenhas, listas e playlists alimentadas aos poucos.
Do synthpop ao lo-fi de quarto, passando por dream pop tropical, post-punk revival e beats cheios de vapor estético — aqui é o lugar do underground.
Uma editoria dedicada ao indie brasileiro com sintetizador, identidade e com o espírito DIY (faça você mesmo). Pra quem faz som em casa, na garagem ou com estética além do lado esquerdo do dial — e quer ser descoberto por quem escuta além do algoritmo.

Indie Neon BR #4
Quem é Você Alice? nem tudo é sobre amor
Dez anos após sua estreia, a Quem é você, Alice?, trio porto-alegrense também conhecido pelos fãs como QEVA, lança o sucessor do seu álbum de estreia, rolê trevas pt.II (2023), nem tudo é sobre amor. Segundo os integrantes, o novo material marca o amadurecimento artístico e pessoal com referências de artistas como Slowdive, Title Fight, Fresno e terraplana. O material chega ao mundo um ano após o hiato e com mudança na formação, contando atualmente com Conrad (bateria e vocais), Milena (guitarra e vocais) e Pires (baixo e vocais).
A produção é assinada pelo Selo Naïf e segundo os integrantes: “nem tudo é sobre amor’, é uma constatação arriscada, quase impossível de se sustentar em um mundo onde tudo parece girar em torno dele. O álbum nasce da decepção com caminhos que parecem não te levar a lugar algum, da raiva que te consome nos momentos mais sombrios, do confronto de sentimentos que vêm com a traição e, por fim, da aceitação que chega mostrando que nem tudo é sobre amor, mas sim sobre crescer.”
O conflito, a melancolia, a sombra e a lamúria, realmente moram em cada canto do álbum que se comparado com o registro anterior tem uma guinada significativa para o rock alternativo, com outras referências anteriores sendo deixadas de lado. De certa forma, podemos ver isso como um renascimento após uma série de conflitos que afetaram o entorno do grupo gaúcho.
Camadas de shoegaze, post-rock, pop rock e o que muitos rotularam na cena como rock triste, entram no escopo. A nova jornada ainda conta com parcerias pontuais de grupos paulistas como Morro Fuji (ABC paulista), em “eskibar”, e Chão de Taco (Piracicaba / SP), em “tenho medo de te encontrar na rua”.
Ana Paia “5h da Manhã”
Quem tá preparando seu álbum de estreia é Ana Paia, de Sorocaba (SP). Após disponibilizar a faixa “Pra Onde Eu Não Sei” que ganhou até mesmo videoclipe dirigido por André Fidalgo, foi a vez do segundo single do vindouro disco, “5h da Manhã” ganhar a luz do dia. A faixa, inclusive, teve sua versão acústica divulgada no canal de YouTube da artista.
O quarteto nos contou que teve influência do emo dos anos 2000 em “5h da Manhã” e citam artistas como Jimmy Eat World, Pitty, e clássicos dos anos 90, como Nirvana e Sunny Day Real Estate, como referências diretas. Reflexiva, a canção com estética lo-fi, e 3 minutos de duração, carrega tom desesperado de quem busca pela reconciliação e tem medo de se distanciar ainda mais.
corama “SVNQD” feat. Matheus Who
O álbum de estreia da corama será lançado em novembro, mas bem antes disso, o primeiro single do trabalho foi revelado. O projeto capitaneado por Luiza Ribeiro, com referências de nomes como Men I Trust e The Marías, disponibilizou “se você não quer desaparecer”, parceria com o fluminense Matheus Who.
A temática da delirante e dream pop, “SVNQD”, é justamente sobre as fases do fim de um relacionamento e a indiferença que a superação traz. O clipe que acompanha o lançamento foi dirigido por Elbi e conta com corama e Matheus como atores. Na produção, imagens psicodélicas e letárgicas, feito os comerciais da MTV Brasil, ajudam com que o ouvinte entre na lombra musical e expanda os sentimentos.
“Este álbum é um conjunto de sentimentos melancólicos. Eu, particularmente, escrevo quando estou triste, então quando estava sentindo e guardando demais meio que surgiram as músicas.
As faixas narram meus sentimentos e o momento que estava passando, sobre tentar esquecer tanto alguém, sobre ainda esperar uma resposta mesmo quando aquilo te magoa. [O disco] fala principalmente sobre você saber exatamente como é, quem melhor que você pra saber que você sente demais?”, conta Luiza.
A faixa tem a produção, mix e master de Yasmin Moura e Roberto Freire; a composição é de corama e Matheus Who.
raphaelö “Fantasma”
O carioca raphaelö explora em sua sonoridade referências entre o synthpop e o darkwave como segundo ele mesmo aponta: com repertório focado para as pistas de dança.
A estética bastante eletrônica, com peso de sintetizadores, vai beber justamente da estética gótica oitentista, algo resgatado por artistas do pop nos últimos anos com força, como Lady Gaga, em seu último disco, Mayhem, e Charli XCX, em Brat. O single “Fantasma” é bastante atmosférico, turbulento, sombrio e passa por temas como o tédio e a solidão em episódios depressivos.
A faixa que foi produzida pelo maranhense YELL, tem como identidade visual, um misto entre terror, queerness e energia clubber. Além das artistas pop supracitadas, Siouxsie & The Banshees e The Cure, estão no campo de referências do artista.
Viridiana “Navalha”
A artista gaúcha, Viridiana, anunciou recentemente seu segundo álbum, Coisas Frágeis, que deve sair logo mais no mês de outubro. O novo trabalho terá participações especiais de nomes como Clarice Falcão, CATTO e Navalha Carrera. Revigorado, o material fará a fusão entre o pop eletrônico, o indie rock e o dance punk para explorar temas como a potência da fragilidade, explorando amor, desamor e vulnerabilidade de forma intensa e honesta.
Quem assina a produção é o núcleo criativo batizado de ViridiBoys (André Garbini, Bernard Simon e Ricardo de Carli, da recreio). Entre as referências o disco tem como influências nomes como Daft Punk e New Order a Marina Lima, Fernanda Abreu, Madonna e LCD Soundsystem.
A respeito da primeira amostra, “Navalha”, Viridiana comenta: “É uma que tocamos ao vivo várias vezes já, e pra mim é uma das músicas mais Viridiana que eu já fiz. Tem muito de tudo, muitos synths, muita percussão, e a virada de bateria icônica que a Madonna popularizou nos anos 90. Pra mim ela resume muito a nossa ideia de fazer um disco que produzisse um show legal, ela ao vivo é uma explosão linda de ver”.
Entre a fantasia e o desamparo, as curvas neon da faixa se escoram nos sintetizadores e arranjos que vão em direção da dance music para brilhar na pista de dança. Entre sensualizar e declamar versos ardentes, a pressão dos beats dão toda a narrativa dramática que a faixa pede.
Mulato “Criatura”
Acompanhamos a carreira do Matheus Antonio, que antes utilizava o nome artístico Theuzitz, já tem muito tempo. Ele até participou d’O Mundo Ainda Não Está Pronto (2017), coletânea que homenageia o Pato Fu, projeto do Hits Perdidos em parceria com o Crush em Hi-Fi, com uma versão para “Ruído Rosa”.
Agora, sob a alcunha de Mulato, o músico natural de Jandira (SP) abraça uma nova estética. Mais pop, ao mesmo tempo que mantendo a chama do indie/lo-fi de outrora, parece condensar toda a evolução sonora e o acúmulo de conhecimentos adquiridos ao longo dos anos no campo da produção.
A riqueza de elementos e nuances ao longo da faixa, é algo a se destacar, até mesmo a viola caipira entra como elemento. Sentimental e reflexiva, ela parece que vai se esculpindo ao longo do seu andamento, com uma progressão interessante com o intuito de dialogar consigo mesmo. Sua segunda parte vai ficando ainda mais cheia, com direito a ecos, guitarras etéreas e atmosfera vibrante feito o despertar de um sonho.
O lançamento é bastante simbólico justamente por ser uma versão de uma música que ele escreveu aos 19 anos.
“Criatura foi uma das primeiras músicas que eu escrevi, exatamente aos 19 anos, e nasceu desse grande rompimento que eu passei naquele momento me tornando um adulto. É uma conversa com o divino, as vozes do meu inconsciente, a minha criança interior e outras faces que ainda não haviam se revelado pra mim com tanta intensidade.”, aponta Matheus.
Abajur Always On “No Alcance de Mim”
De Goiânia (GO), a Abajur Always On, em sua formação, conta com Virgínia Perê (voz, guitarra, violão), Luís Feitoza (Baixo, Sintetizador) e Renato Marciano (Bateria). Iniciando sua trajetória no formato duo, a banda ao longo do tempo teve a entrada de Renato Marciano (Carta Bomba, Sixxen, Urumbeta do Espaço), que assumiu as baterias e Luis (Riso do Abismo, can sad), nos baixos e teclados.
Após se apresentarem pela primeira vez em um grande festival do circuito independente, Goiânia Noise, eles gravaram o primeiro single oficial da banda em estúdio, “No Alcance de Mim”. O registro foi gravado no Estúdio Rocklab com produção e engenharia de som assinadas por Gustavo Vazquez (Macaco Bong, Violins, Black Drawing Chalks, Valentina).
“No Alcance de Mim” é uma música-manifesto, sobre os desafios e a potência de ser resistência num mundo normativo, enquanto pessoa e mulher. Ela reúne muito bem o que queremos fazer: uma música autoral disruptiva, com atmosfera própria, talvez indie, talvez pop, talvez rock… mas que desperte curiosidade, e diversos outros sentimentos, através de explorações rítmicas e melódicas que se misturem à complexidade da mensagem poética.”, conta o trio.
Com melodias e progressões lentas experimentais, algo que nos remete à natureza dramática de artistas como Radiohead, Adrianne Lenker e Fiona Apple, a faixa se agarra no campo sentimental, entre a necessidade de expansão e a liberdade de se expressar livremente. A repetição dos acordes ao longo da sua execução contribui para a experiência de angústia inerente ao processo.
Dennehy “vapor”
Ambiências pop eletrônicas ganham corpo em “vapor”. O single, inclusive, é apontado pelo quarteto brasiliense como o material mais pop produzido até o momento. Dennehy conta em material enviado à imprensa referências que vão de Lana Del Rey, passando por Billie Eilish a até mesmo Blur e Pixies.
Ao longo da nossa audição para nós, fragmentos de Lorde, Halsey e Twenty One Pilots também são latentes. Sua temática passa pelo drama do abuso de substâncias como ferramenta de diversão e escapismo. O peso se desmembra entre os beats, guitarras, samples e efeitos na voz.
cleozinhu Fragmentos de Estrela
cleozinhu é bastante ativo no cenário independente, participando de projetos como Duo Chipa, Manobra Feroz, e mais recentemente na banda Guandu. Além de toca bateria nos projetos da Marina Mole e do cantor sertanejo LLEZ. Seu álbum, Fragmentos de Estrela, assim como seus outros projetos, é bastante aberto quando o assunto são referências. Indie rock e cloudrap, entram no embalo assim como trap, alt-rock, midwest emo e math rock, também fazem parte das suas experimentações em softwares como Ableton e FL Studio.
Então, fica fácil entender toda essa equalização de sons se você já conhece a atmosfera de grupos como Duo Chipa, Paira, DUPLA 02 e Mundo Video. Inventivo, o som vai progredindo ao longo das faixas com distintas referências, entre colagens, samples, autotunes, efeitos, bateria midi, escapismo e uma imensidão de universos paralelos. Tudo isso para compor sua narrativa quebradiça, desapegada, repleta de reflexões e reverberando a dinâmica hiperconectada dos tempos.
Entre esboços, variações, soluções sonoras diversas, remixes tortos e parcerias com artistas como arcoverde, obwa, Lice, MARRRS, vituuou, omar, Disast3r, Jubba, mateamargo e Azael o Terrível; o material vira os quarteirões da cidade para ilustrar as mais variadas situações mundanas – e não tem medo de se mostrar vulnerável. Em “dias frios”, por exemplo, discorre sobre inseguranças e a perda de pessoas próximas.
Babycarpets Different Lifetime
Direto de São Luís, no Maranhão, a Babycarpets acaba de lançar seu segundo disco Different Lifetime com sonoridade que flutua entre o indie rock e a neopsicodelia. Eles mesmos afirmam ter como influências um leque de artistas que vai de Yuck ao Brian Jonestown Massacre.
“Mother Says”, por exemplo, por aqui nos remeteu ao britpop do Pulp. As soluções sonoras, orbitam também por melodias mais marcantes e guitarras repletas de distorção, até por isso a referência ao Yuck que foi beber bastante do rock noventista, cai bem. “Zombie” deixa isso claro.
A melancolia, as reflexões e o drama aparecem ao longo das canções que também tem a carga de nomes como Dinosaur Jr. e Sonic Youth. A psicodelia e o blues, aparecem com mais força em faixas como “Doom Folks” e na derradeira, “Jesus”.
O material lançado pela Brisa Discos tem condução de Lucas Ferreira e foi gravado no Doc Studio, entre 2021 e 2022, ainda durante a pandemia.