Paira rompe frequências entre o onírico e o concreto no “EP01”
EP01 marca a estreia do duo mineiro Paira
O duo Paira, de Minas Gerais, resolveu juntar a força do revival do emo e do math rock com a irreverência do drum & bass, breakcore, downtempo e até mesmo influências do tão em alta UK Garage.
De Belo Horizonte, o Paira é um duo formado por André Pádua e Clara Borges justamente para explorar a experimentação de referências de sonoridades que já os agradavam isoladas.
“A Paira surgiu da vontade de explorar e combinar gêneros diferentes para tentar criar algo novo e empolgante a partir disso”, diz Clara.
Mas quais as referências? Eles comentam que Cap’n Jazz, Number Girl e Grouper, até Goldie e Squarepusher, passando pelos conterrâneos do Clube da Esquina.
“Essa lista de referências e gêneros pode parecer meio absurda, lendo assim, mas é uma sonoridade que eu e a Clara vínhamos imaginando e construindo há anos, desde um pouco antes da pandemia pra ser exato, antes de ficarmos próximos. Há dois anos começamos a banda e foi ali que a coisa começou a tomar a cara que tem agora”, comenta diz André Pádua
Sobre o surgimento do projeto, ele complementa.
“Um dia eu encontrei a Clara em um show e ela mencionou sobre esse desejo de misturar emo com drum and bass, e eu fale: tem três anos que eu tô tentando fazer isso, vamos colar junto”
Paira EP01
Eles lançam nesta quinta-feira (06/05) o EP 01. O primeiro dos mineiros chega através do selo Balaclava Records que também tem em seu casting a catarinense Gab Ferreira que através do seu Dark Pop, explora ambiências da música eletrônica e do indie.
O material foi gravado em casa entre 2022 e 2024, tendo seus vocais gravados no Estúdio Cais em 2024. Guilherme Vittoraci assina a mixagem e Pedro Lucas Ferraz (Adieu) as masters – ele que também faz participação na faixa “O Fio”, segundo single a ser disponibilizado do disco. No EP, Vinicius Cabral é o responsável por 4 das 5 letras.
Quem abre o registro é “Música Lenta” que de lenta só tem algumas partes. A mistura das ambiências e vibes logo se apresenta em seus primeiros 30 segundos com guitarras distorcidas, ecos, bateria frenética e acordes dissonantes que se chocam com os vocais calmos de Clara.
Seu refrão vai de encontro com as referências do midwest emo. É como se realmente Kinsella estivesse brincando de ouvir Massive Attack e Portishead e resolvesse bater tudo no liquidificador. Para quem está acostumado com o ritmo disperso do TikTok, a mistura sonora, e suas quebras de tempo, são uma ótima opção para quem busca manter o foco.
“O Fio”, segundo single a ser lançado do EP, chegou acompanhado de um videoclipe dirigido por Lucas Campos. Ela tem uma dinâmica diferente, uma mistura entre passar a sensação de ansiedade e de excitação, uma tônica presente no dia a dia de muitos de nós.
Seu refrão fica na cabeça, entre melodias de guitarra, e o coração que vai a boca, feito o medo de perder o chão. Guitarras vão se sobrepondo, entre efeitos, tensão e o fim da linha.
Feito uma navalha, ela despedaça o ouvinte em outra frequência. Levando a superfície a dicotomia entre o doce e o cruel, o leve e o pesado, o que é o futuro e o que é o passado, o épico e o moribundo.
A primeira audição de “Leve” lembrou até mesmo um pouco Terno Rei por sua harmonia e melodia. Até consigo imaginar o Ale Sater cantando esta possivelmente em um show. O dueto de vocais narra a história e em sua segunda parte a música cresce entre dedilhados, arranjos oníricos e atmosfera espacial.
“Como um Rio“, primeiro single a ser lançado oficialmente do projeto, em sua temática aborda sobre o tempo suspenso no qual a tristeza se transforma em aceitação. Ou seja, o conformismo.
A batida já deixa claro desde o início as referências que trazem a leveza do math rock e jazz, tão emprestada para estilos como o midwest emo, que dominou a cena alternativa de Chicago no fim dos anos 90, e as ondas pulsantes do drum & bass… trazendo uma sensação de nostalgia e driblando o sofrimento da letra.
Tudo isso sem deixar de dialogar com a sonoridade de outros artistas conterrâneos que coletivos como a Geração Perdida de Minas Gerais acabou agarrando para si ao longo dos anos. Aliás, quem gosta de Truno, outro artista da Balaclava, talvez possa curtir Paira.
A alternância de vocais ajuda a criar camadas para a narrativa, e os beats e teclados levam o ouvinte para um cenário preto e branco, onde as emoções entram em conflito, entre a vontade de mudança e a sensação de estagnação.
Quem fecha o EP01 é “19” que começa lenta, e doce, com a atmosfera introspectiva e levada de uma sessão ao vivo. Com backin vocals sussurrados, a curta canção de pouco mais de 2 minutos, tem em destaque na imersão dos vocais de Clara.
A estreia é bastante animadora e dialoga com uma cena de bandas que não necessariamente estéticamente se parecem, mas que experimentam sem medo de errar, como Squid, Dry Cleaning, black midi e Black Country, New Road.