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Seloki Records, uma onda imparável de movimentação na música independente

Seloki Records, uma onda imparável de movimentação na música independente

Muita coisa aconteceu desde a nossa série especial de selos independentes, dividida em três partes (confira: Parte I, Parte II e Parte III), e neste pós-pandemia novas movimentações artísticas e coletivos, através de selos, tem ganho lastro e importância dentro do cenário de música brasileiro. Observando o trabalho contínuo desses catalisadores que se dividem em diversas funções para suprir as demandas do mercado, damos início a uma nova série ainda mais profunda sobre este trabalho muitas vezes a muitas mãos e na base da força de vontade.

No primeiro episódio conversamos com Otto Dardenne, um dos idealizadores da Seloki Records, para contar mais sobre a importante atuação do selo e produtora, como catalisador do novo e inventivo dentro do cenário independente nacional. Definido pelo selo como uma “Onda imparável de movimentação na música independente anti nostalgia & alto grau de entusiasmo sacação workadelic bandeira DIY”, as ativações começaram oficialmente em meados de 2020, no bairro da Lapa, em São Paulo tendo o pontapé inicial “os esforços feitos por seus integrantes há mais de uma década foram reunidos numa “trouxinha” que anda por aí espalhando som, conteúdo e curtição”.

Seloki Records: Os primeiros dias e o casting

Assim como muitos selos a história ganhou mais visibilidade por conta de um estúdio. Foi quando, em 2018, os integrantes assumiram e movimentaram o Estúdio Fiaca, onde receberam mais de 200 artistas. Até o momento a Seloki Records já reúne 50 lançamentos no bandcamp, entre eles singles, EPs e Álbuns, também produzindo conteúdos como sessions, entrevistas e atuando como produtora de shows em casas de fomento da cidade de São Paulo como Cineclube Cortina, Centro da Terra, Casa Rockambole, Heavy House, Fffront e Porta.

Entre os lançamentos, o selo fonográfico não se limita ao digital e também aposta no físico através de fitas k7 produzidas pela própria equipe. O casting atual conta com artistas como os paulistas da Fernê, d’Os Fonsecas e do Eiras e Beiras, a luso-londrina Sonia Bernardo, os cariocas do Mundo Video, entre outros.



Os Próximos lançamentos

O selo tem lançamentos programados até junho, dentre eles temos o disco do Mundo Video, EP do João Lucas Ribeiro, o disco e clipes do MONCHMONCH, mais um single da Nina Maia e o single do Valentim Frateschi (d’Os Fonsecas). Além disso, sessões já gravadas a serem lançadas via YouTube, de Leo Fazio, da banda Eiras e Beiras. E bootlegs das bandas Fernê, Os Fonsecas, Gueersh (RJ) gravadas no Porta, a serem lançadas não somente em vídeo, mas também fisicamente em fitas k7.

A Seloki continua e continuará produzindo eventos e shows de bandas e coletivos, em diversas casas de shows, a fim de movimentar a cena cultural e artística.

O clipe de “VAMPIRA” do MONCHMONCH foi lançado nos últimos dias e antecede o lançamento do disco Guardilha Espanca Tato que será disponibilizado no dia 21/04 via Seloki Records. O grupo que funde em seu som punk, rock e experimental tem como referências grupos como Radiohead e CAN.

O vídeo foi dirigido por Marina Mole e a narrativa foi trabalhada em cima do expressionismo alemão, usando de referência filmes de terror antigos como ‘’Nosferatu’’ e ‘’As Mãos de Orlac’’.

”As luzes no campo de batalha do clipe estão sempre se movimentando, e toda vez que algo fica à vista, algo também fica à sombra. Acho que o que isso significa para cada um pode mudar, e a narrativa do clipe busca bem isso, que a pessoa que ajuda a encontrar algum significado disso’’, diz Marina.



Entrevista: Seloki Records

Conversamos com Otto Dardenne, um dos idealizadores da Seloki Records, para contar mais sobre a importante atuação do selo e produtora, como catalisador do novo e inventivo dentro do cenário independente nacional.

Você conta que o selo vem sendo construído aos poucos ao longo dos anos mas em meados de 2020, no meio de uma pandemia ele começou a ganhar forma de fato, conte mais sobre esse processo até o momento que entenderam que era um selo e que teria uma periodicidade de lançamentos.

Otto Dardenne (Seloki Records): “Cara, a gente tá envolvido com música pra valer desde 2015 quando começamos a gravar nossas músicas em casa, o que veio a se tornar os primeiros lançamentos da Goldenloki e Gumes. Mas nunca foi só fazer a música em si, a parte de gravação, produção, lançamento, cavucar espaços pra shows e a busca de conexões que pudessem expandir o trampo sempre esteve presente no nosso corre. Mais bandas começaram a aparecer pra gravar e sempre nos víamos na situação de “pensar o lançamento”.

Tudo isso aconteceu no que foi o primeiro Estúdio Mameloki, no Pacaembu, casa que eu e meu irmão Yann morávamos com meus pais. Ali também rolaram algumas festas quando minha mãe viajava, desmontávamos toda a sala e colocávamos as bandas pra tocar, tipo Oruã, Raça, Ombu, Gran Tormenta, Viratempo, entre outras bandas. Teve uma fase muito marcante pra gente, quando organizamos a vinda da banda argentina Toy Mashin, eles viriam pra fazer 03 shows e passar 03 semanas mas acabaram ficando 3 meses e fazendo 15 shows, além de termos ido ao Rio de Janeiro e Juiz de Fora (MG), ainda ouvimos críticas de que fizemos “shows demais” (risos). Toda essa produção nos trouxe uma ideia do que poderíamos mergulhar mais a fundo.

Nos mudamos para o Estúdio Fiaca em 2018, outro momento importante e muito maluco, era uma espécie de lar/estúdio/casa de show e nosso envolvimento com vários artistas aumentou até que realmente bateu na nossa a cara a necessidade de se assumir como um selo, visto que muita gente já perguntava se a gente era um, aí foi só aceitar a condição e trabalhar com o movimento que acontecia ali, isso era janeiro/20. Mesmo com a Pandemia rolando, fizemos diversos lançamentos, entre eles Vintilamor, Fernê, a luso britânica Bernardo, Leo Fazio, a partir daí foi impossível parar.”


Estúdio FiacaFoto: Acervo Pessoal

Vocês definem curiosamente o selo como “Onda imparável de movimentação na música independente anti nostalgia & alto grau de entusiasmo sacação workadelic bandeira DIY”, conte mais sobre isso.

Otto Dardenne (Seloki Records): “(risos) Isso apareceu na necessidade de utilizar termos pra dizer o que a gente pensava, como atuava, vai da interpretação de cada um também, não tem como controlar isso. Mas é basicamente sobre ser um núcleo de cultura independente atuante & constante, sem ficar se baseando em como era ser músico antigamente & que fazemos tudo na maior diversão&seriedade.”

O selo não se prende a ritmos ou estilos, como definiria as possibilidades de nichos que vocês querem dialogar? Como se posicionam no mercado?

Otto Dardenne (Seloki Records): “A gente gosta de produções ousadas, criativas e inusitadas. Não tem como fechar num gênero apenas tendo em mãos quase todos os registros musicais de todas as fases da história da produção fonográfica disponíveis na internet, são muitas ondas, diversas estéticas, e o trabalho do selo acaba sendo uma ferramenta de registro do nosso tempo.

Também é muito sobre as pessoas que estão por trás das músicas, onde a gente precisa ter uma certa relação, uma amizade, não tem como. Não somos uma empresa que sai contratando adoidado visando só o lucro, o que não quer dizer que não precisamos disso, mas trabalhamos com quem temos uma afinidade, ligação e admiração artística mútua. Nossa pegada não é muito um formato agência de publicidade maquiada de selo musical, respeito mas não é da nossa personalidade. Sobre os estilos e ritmos, moramos no Brasil, sinto que os artistas gostam muito de mesclar dentro das próprias possibilidades dos universos que eles criam.”

Quais pilares o trabalho do selo atua dentro das demandas artísticas?

Otto Dardenne (Seloki Records): “Além de produzir shows, colaboramos no gerenciamento de carreira dos artistas com apoio na produção, distribuição, planejamento de lançamentos e direção artística. Temos o Estúdio Mameloki que pode servir como base para uma pré-produção, gravação e ensaios.”


Evento Seloki Records no Porta – Arte Por: Letricia

Quais têm sido os principais critérios para um artista trabalhar com a Seloki Recods?

Otto Dardenne (Seloki Records): “Primeiro que a gente tem que gostar da música, não dá pra fugir disso. Segundo que passa por um lugar de confiança muito específico, por não ser algo simples, o ato de lançar suas músicas e trabalhar o lançamento. Terceiro é a maneira como enxergamos o comprometimento perante a carreira, ao material e o alinhamento de expectativas, não dá pra achar que vai comprar uma fazenda lol. E também a ousadia, o grau de inventividade do som, o quão pra frente ele é, sem querer parecer banda X, que seja inusitado, curioso, o quão sincero e isso a gente acaba sentindo no tato, no dia a dia e nas trocas de ideia entre as pessoas envolvidas.

Não somos uma empresa que contratamos bandas, é diferente, não é agência de publicidade, é selo de música, a parceria e companheirismo sempre fez muito parte. A gente tem recebido muita mensagem de pessoas enviando suas músicas, te falar que é muito difícil gostar instantaneamente de algo assim, pode ser que aconteça mas eu acho difícil.

Acho que é melhor conhecer pessoalmente ou que faça uma conexão a partir de pessoas que já conhecemos, parte de uma rede mesmo. Muitas vezes as mensagens parecem ser automáticas “Oi galera do selo Kirecords blz?? vcs são um selo, gostamos muito de vcs, querem lançar nosso som?”. Não sei se acredito muito nesse caminho, mas também entendo a vontade de fazer acontecer, vai da postura de cada um sei lá.”

Como observam o momento do cenário de música independente no país e as possibilidades?

Otto Dardenne (Seloki Records): “É difícil de analisar, por ser um período pós-pandemia com troca de governo, Spotify, TikTok, lei do psiu aqui em SP, centro perigoso, festivais espalhados pelo BR com os mesmos lineups, os algoritmos comandam, é uma mutação constante parece… Um mercado que não aparenta ser frutífero pra investir, tudo parece meio estagnado sem grandes novidades, mas torço que seja só um momento.

Queria que tivessem mais bandas se amontoando num carro e indo tocar em cidades vizinhas, estados mais próximos, arriscando turnês, fazendo merch, zines. A cultura independente vive disso, da movimentação geográfica, as bandas têm que ir pra outras cidades, falando especificamente aqui de São Paulo, não dá pra ficar apenas na Zona Oeste ou no Centro, já tocou em todos os lugares que dava? Comece a ir pra cidades vizinhas, encontre as bandas similares a sua e faça a conexão.

Lembro de uma entrevista do (Alexandre) Capilé (Sugar Kane) onde ele falava que mandava fita k7 por correio, marcava show por carta, se comunicava por orelhão no meio da turnê. Pra mim isso é muito emblemático. Onde eu mais aprendi sobre essa cultura foi estando na estrada, ver o Escritório da Transfusão Noise Records, ver as zines da Pug Records, Papelote Press, o Du (Eduardo Bento) é um cara que ensinou muita coisa pra gente, nem sei se ele tem noção disso. Fico muito de olho nas bandas novas, galera de 18/20 anos, o que eles tão ouvindo, que tipo de som tão querendo fazer, o que eles tão almejando, é louco.”


Eiras e Beiras no Centro da Terra Foto Por: Dani Mach

Para você, qual o maior desafio atual dos selos independentes atualmente?

Otto Dardenne (Seloki Records): “Acredito que criar um público sólido que ouça as músicas, compareça aos eventos, compre os merchs, apresente o selo para outras pessoas. Cair no gosto de marcas pra criar parcerias que possibilitem a gente fazer eventos maiores, aumentar as produções, trazer mais público etc.”

Atualmente quais artistas integram o selo e como tem sido a produção das fitas k7? Tem sido uma demanda recorrente?

Otto Dardenne (Seloki Records): “A gente costuma dizer que trabalhamos por lançamento, não fechamos uma exclusividade, combinamos por single, EP, ou álbum. Ninguém tem cadeira fixa assim como também todo mundo é livre pra caminhar o percurso que quiser. Como também sempre estamos envolvidos com shows, temos no radar diversas bandas e artistas que podemos incluir na curadoria, tendo lançado material com a gente ou não.

As fitas k7 vem de uma necessidade em materializar a música e também fazer como as bandas que a gente gosta fazem. A Várias Fita é uma iniciativa do Danileira, que sempre foi um acumulador nato e entusiasta de tralhas. Um dia ficamos trocando ideia sobre quem produzia fitas k7 no Brasil, que precisávamos dos contatos pra entender a produção, lembro de procurar no google “fita cassete brasil” e achei uma matéria da Cláudia Assef no Music Non Stop conversando com um pessoal, anotamos o nome deles e o Danileira foi atrás.

Já fizemos a fita do Eiras e Beiras, do Choraz lá de Brasília, d’Os Fonsecas, a Coletânea Seloki Vol.1…”

Recentemente também lançaram uma coletânea feita em parceria com a Várias Fita celebrando o primeiro ano com artistas do Brasil e do exterior. Como foi a confecção e quais foram os critérios para selecionar as bandas que não integram o selo? Aliás, o que chamou a atenção em cada uma delas?

Otto Dardenne (Seloki Records): “Foi bem louco (risos). Fazer coletânea é uma coisa bem gostosa, talvez das partes mais legais de se ter um selo, parece que quanto mais ideia maluca tiver, melhor. Nesta edição, a fita vem dentro de um ZIPLOKI com adesivos e uma Zine que não tem Loki no nome com cada artista comentando uma música de outro artista presente na coletânea.

A curadoria dessa primeira foi bem sobre quem tava perto, alguns lançamentos já estavam disponíveis, algumas são versões ao vivo das Kimané Sessions (projeto que realizamos na pandemia, tudo no nosso canal do youtube), e tem a inédita “Dog Dilema” da super banda baiana Tangolo Mangos, era uma demo que tinham no soundcloud deles com o Felipe Vaqueiro cantando bem novinho, voz e violão se não me engano e eles repaginaram toda a instrumentação mantendo a voz original, um sonzasso com um adolescente cantando, coisa bem maluca, tipo de coisa que a gente adora. Foi divertido unir tudo.”


Capa da Coletânea SELOKI VOL.1Arte Por: Manuella Silveira

A coletânea reúne os artistas: Lauiz, Bernardo, Leo Fazio, Ventilamor, Amarelo Manga & Mineiros da Lua, Tangolo Mangos, Eiras e Beiras, Fernê, Os Fonsecas, MONCHMONCH, João Lucas Ribeiro.

Para este ano quais são os projetos mais desafiadores? E como tem sido os eventos organizados por vocês? Como é a relação de vocês com os coletivos?

Otto Dardenne (Seloki Records): “Os eventos vêm de um lugar muito natural nosso, gostamos de festa e os artistas nos procuram pra isso. Temos feito periodicamente no Porta, espaço que fica na Vila Madalena, do Rapha (Lodo Boards), Paula (Rakta) e Brunão. Acolheram nossas ideias e ainda fizemos uma banda com eles (em breve novas informações), mas também já fizemos no Cineclube Cortina, FFFront, Casa Rockambole, Estúdio Lâmina, tivemos o lançamento do João Lucas Ribeiro no Bar Alto com o show da Paula Rebellato também…Todos espaços incríveis que cumprem um papel fundamental no que é chamado de “cena”, mas vejo também como muitas vezes o dia dos shows fica pra quinta ou quarta-feira, porque na sexta, sábado ou domingo são os dias que as festas (DJ’s tocando) rendem mais. Não é uma crítica, entendo como funcionam os estabelecimentos, é uma constatação de como andam os shows do nosso circuito em São Paulo.”


Os Fonsecas @ Casa RockamboleFoto: Acervo Pessoal

Conte um pouco mais sobre os planos para este ano e quais lançamentos está ansioso para ver indo para a rua.

Otto Dardenne (Seloki Records): “Temos o EP de estréia do Mundo Video, projeto do Gael Sonkin (Ovo ou Bicho) com Vitor Terra, tem participações da Gab Ferreira, Bruno Berle, Marina Nemésio, um trampo muito curioso, exploraram diversas sonoridades e vários hits entre elas. Nina Maia (Eiras e Beiras) também tem singles pra sair esse ano, acabou de sair o EP do João Lucas Ribeiro, cantor capixaba com uma potência na voz de cair o queixo.

Tem o disco “Guardilha Espanca Tato” do MONCHMONCH, gravamos durante a pandemia e em Maio ganha vida, algo entre Thee oh Sees e Arrigo Barnabé. O Leo Fazio, que agora está na Argentina, vem com disco pra lançar, tem álbum cheio d’Os Fonsecas, single do Valentim Frateschi, que é baixista d’Os Fonsecas, Os Últimos Dias Disso tem disco pra lançar. Uma coisa complicada é receber muito material, temos recebido muita coisa e os artistas sempre numa pressa de lançar, já querendo impor uma data de lançamento não tendo ainda nem a masterização das músicas prontas,”

This post was published on 13 de abril de 2023 10:18 am

Rafael Chioccarello

Editor-Chefe e Fundador do Hits Perdidos.

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