Desde 1995 em atividade o The Bombers já pode viver diferentes momentos do cenário independente nacional. Do punk rock ao hard rock, do blues ao rap, do baião ao hardcore, a banda de Santos (SP) sempre optou por se reinventar e arriscar para criar seu próprio rock’n’roll.
Talvez esse seja o maior segredo para a longevidade: não ter medo de arriscar e se reinventar com o coração na ponta do coturno.
Evolução esta que fez até os fãs mais antigos se impressionarem ao longo do tempo com as transformações e doses de ousadia presentes em seus discos. Muitas vezes quando o Bombers poderia simplesmente se acomodar e jogar para a torcida. Mas para quem conhece a banda sabe que isso nunca foi uma condição.
Da doçura, raiva e ternura de All About Love ao liquidificador de referências e linguagens do Embracing The Sun. O que faz com que a banda se mantenha relevante independente de entraves e expectativas do sucesso ou dos números.
A conexão com quem admira o trabalho sempre foi uma relação próxima. Por mais que em outros tempos isso fosse visto como algo utópico. O que foi criando conexões além de um nicho, cidade, cena ou estratégia comercial. Sementes como esta são raras e de motivo de orgulho.
Essa caminhada no ano de lançamentos para comemorar os 25 anos, acaba por sua vez dignificando e coroando toda uma vida de luta em nome dos valores que acredita. E isso deveria inspirar os novos artistas mais do que números, estratégias de comunicação ou playlists editoriais. A importância da construção de uma vida voltada a música, o porque fazer ela e como dar a volta por cima em meio a escuridão – e outros demônios.
Conversamos com o vocalista e guitarrista Matheus Krempel para falar mais sobre o EP recém lançado Você sabia que Rubin Carter era inocente?, um registro lançado apenas no bandcamp e que conta com músicas que remetem ao passado e o futuro do The Bombers que após 25 anos não pensa em parar.
Matheus Krempel (The Bombers): “Sabe Rafa… a pandemia nos deu tempo de pensar no futuro da banda, dos nossos negócios, vida profissional e a resposta sempre esteve na nossa cara. Todos os quatro integrantes trabalham de alguma forma com música e nós temos o Bombers em comum. Aí caiu a ficha de que nós precisamos da banda para viver.
A grande questão era sobre como faríamos isso diante de um cenário apocalíptico e com integrantes morando em três cidades diferentes?
Tivemos que aprender a trabalhar à distância. Dessa experiência surgiu o EP “Bumerangue” que lançamos em Outubro do ano passado com seis faixas.
Isso nos deu a confiança que precisávamos para seguir produzindo.
Do ponto de vista pessoal e psicológico, isso foi o que nos manteve alerta e ajudou a enfrentar os males que todos nós estamos enfrentando. Quanto mais produzimos, mais as coisas pareciam menos complicadas, e não só na parte operacional da banda, mas também na parte pessoal.
Por outro lado, eu estava ficando muito cansado de lidar com as expectativas criadas com relação aos números de streaming. Comecei a ficar obcecado por isso. Me senti injustiçado por ver um trabalho ser tão elogiado e, de certa forma, ignorado na mesma proporção.
Sem querer percebi que estávamos com números cada vez menores, por não estarmos seguindo a fórmula, ou se preferir, os padrões exigidos para obter o melhor dos algoritmos.
Ao observar o que alguns artistas brasileiros, como a Letty, estavam fazendo e outros tantos no resto do mundo, nos voltamos ao Bandcamp e a sua campanha do Bandcamp Friday. Basicamente, toda primeira sexta-feira do mês, todo valor arrecadado com venda de músicas no site, são revertidos 100% (com exceção de uma mínima taxa) para o próprio artista. Sendo assim, abraçamos esse formato e nos engajamos nessa movimentação mundial, que busca uma revisão dos padrões de consumo da música atual, do formato imposto pelas plataformas de streaming e principalmente do repasse dos royalties aos artistas.”
Matheus Krempel (The Bombers): “Cara, foi muito doido. Foi como se tivesse caído uma ficha gigantesca. Como uma banda com raízes fincadas no Punk Rock é capaz de aceitar todo esse mercado explorador e nem ao menos questionar isso? Nós não esperamos, que sozinhos iremos mudar o mercado do dia para a noite, mas sabemos da importância do coletivo. E quando isso acontece, você entende a importância de ter uma atitude e de ter uma postura perante a isso.
Se você se enxerga como artista, você deveria começar a lutar pelos seus direitos como tal. E dessa reflexão vem a consciência de que sim, você precisa buscar maneiras de monetizar seu trabalho de uma forma mais justa. A não ser que sua banda seja um hobby, aí são outros quinhentos.
Outro dia vi alguém postar em alguma rede social que brasileiro não paga por download de música e muito menos compra ingresso para show on-line. Mas sabe… nós pagamos pra ver. E está sendo a maior descoberta da história dessa banda.
Só podemos agradecer a todo apoio que estamos recebendo. É uma delícia produzir um material com tanto esforço e entregar ele com exclusividade, sabendo que ele será consumido e valorizado por quem realmente gosta e respeita o seu trabalho.
Nós vimos as fitas K7 morrerem e renascerem. Vimos o CD aparecer e desaparecer. Vimos o MySpace, Trama Virtual e Napster revolucionarem o mercado e depois sumirem. Nós sempre existimos. Não me venha dizer que o artista é escravo do mercado ou de plataforma X ou Y.
Os EPs tem raridades, lados Bs, diferentes acabamentos, estilos e propostas entre as músicas. Como tem sentido o calor dos fãs em relação a isso? Quais são as favoritas até aqui?
Está sendo muito divertido. A gente recebeu um feedback bem legal de uma galera do Reino Unido e da Espanha, mesmo com a maioria das músicas terem sido lançadas em português, o que foi muito doido.
Daqui do Brasil, rola uma cobrança. Semana retrasada, foi sexta feira dia 30 e teve umas duas pessoas perguntando pelo EP daquele mês e eu precisei lembrar de que o lançamento era na primeira sexta do mês.
Pelos relatórios de vendas e reproduções e feedbacks, “A Morte” e “O Abismo” foram muito bem, assim como a “Lua Vazia”. E para a galera que é chegada em ska, “Mudamento” pegou legal.”
Matheus Krempel (The Bombers): “Pode crer…o não cover do Antiprisma, que é a “Sonho ou Pesadelo”. A letra é minha, mas eles lançaram primeiro na coletânea “Emaranhado”. Nesse EP ela aparece com a nossa versão demo, que foi desenvolvida com o Gustavo Trivela que eu achei genial.
Na verdade, todos os lançamentos são decididos por nós, mês a mês. A única regra é de que nenhuma música pode soar igual, ou parecida, uma com a outra.”
Matheus Krempel (The Bombers): “O que inspirou “Mudamento” foi toda a covardia que envolve esses julgamentos morais e comportamentais, sempre unilaterais e sem direito a resposta ou a defesa.
Estamos todos sujeitos a isso. Eu e você podemos ser… digamos… cancelados a qualquer instante. Porque somos humanos e falhos por natureza. “Você sabia que Rubin Carter era inocente?”
Eu não chamo isso de cancelamento. Isso é linchamento virtual e é só mais um sintoma de uma sociedade doente, cruel e impiedosa.
Estamos vivendo uma fase de transição comportamental, revendo valores, destruindo dogmas ultrapassados e transmitindo novos valores para uma nova geração. Isso é lindo. Não podemos deixar o linchamento estragar todo esse trabalho.”
Matheus Krempel (The Bombers): “Os momentos de catarse. Aqueles que envolvem você escutar as pessoas da platéia cantarem mais alto do que o seu próprio retorno. Esses momentos, sempre foram os melhores. Quando as pessoas dançam deliberadamente quando você toca uma música nova no show.
O Bombers sempre foi uma banda de palco. Está sendo difícil esse momento de distanciamento social.
Sobre a “Baby can i Hold you”, essa foi a nossa primeira versão. Bolamos ela em 1996 e era um dos pontos altos dos nossos shows. Sempre quis poder gravar esse som. Sempre enchi o saco do Estefan para gravarmos e agora acho que fizemos justiça a ela. Assim como foi mês passado quando gravamos a inédita “Help Me” e que data da mesma época.”
Matheus Krempel (The Bombers): “Para mim, o rock é e sempre foi sobre liberdade. Eu odeio essa quantidade enorme de subgêneros. Todos eles sempre carregam consigo um manual de condutas e condições para que você seja aceito. Eu não quero ser aceito. Aceitação e conformismo não fazem minha praia e nem a de nenhum outro integrante do Bombers.
Nunca quis alguém me dizendo como eu deveria andar, me vestir, o que comer ou como pensar. Como banda, nós sempre lutamos por essa liberdade. Nunca quisemos fazer parte de nenhum clube específico.
Nós vivemos em uma eterna busca por nossa própria personalidade. Nossa própria sonoridade. Não se trata de querer ser o Bad Religion brasileiro ou o Paralamas da nossa geração. Nós somos o Bombers de Santos e só isso já é o suficiente para nós.”
This post was published on 17 de maio de 2021 8:31 pm
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