Nova MPB: Karnak, Teago Oliveira, Sessa, DINGO, Thiago França, Tori e muito mais!

 Nova MPB: Karnak, Teago Oliveira,  Sessa, DINGO, Thiago França, Tori e muito mais!

Karnak perdido por 33 anos. – Foto Por: Fernando Augusto

A Nova MPB trará conteúdos em micro-resenhas do que de melhor tem acontecido na música brasileira. Singles, discos e novidades com o radar antenado do Hits Perdidos ganham o palco em um post informativo que acompanha sempre uma playlist!

Sobre a Nova MPB

A música brasileira em permanente reinvenção.

“Nova MPB” olha para artistas que transformam a tradição em novidade, misturando gêneros, territórios e experiências pessoais em obras que falam diretamente ao nosso tempo. Aqui cabe desde o samba torto até o folk psicodélico, passando por eletrônica, afrobeats, indie ou funk. Porque MPB é muito mais do que um estilo – e não parou na década de 70.


Nova MPB - Karnak foto Fernando Augusto
Karnak perdido por 33 anos. – Foto Por: Fernando Augusto

Nova MPB #4

Karnak MESOZÓIKO

Nem sempre o storytelling nos faz mergulhar tanto na história por trás de um disco. O novo do Karnak é daqueles que sua urgência está justamente… na sua resiliência. A primeira fita-demo, confeccionada pelos integrantes há 33 anos, enfim ganha a luz do dia.

Entre as inspirações, segundo André Abujamra, está justamente a saga de George Lucas, Star Wars, que esperou o melhor momento para disponibilizar o primeiro filme. O mundo da ficção se interliga pela narrativa construída no material que é resultado de uma autoficção com detalhes dessa história, de uma fita encontrada em meio à demolição do prédio onde morava um primo do André, na Alemanha.

Tudo começou quando André fez intercâmbio nos Estados Unidos em 1982. Juntando uns trocados cortando grama, ele comprou seu primeiro gravador de quatro canais chamado Tascam Portal One. A partir disso, o músico fez a demo que futuramente integraria os materiais da banda.

A história da fita perdida

“Alguns anos depois, André foi pra Düsseldorf, visitar o seu primo Hans, que tinha uma banda de world music chamada Sgring, Sgring. A banda era formada por três gaitas de fole (Não!!!)… Quatro gaitas de fole, duas sanfonas e uma bateria. Ele achou muito louca aquela banda.

Na casa de Hans, havia uma gaita de fole sobrando. André, curioso, começou a estudar, mas nunca conseguiu tocar direito aquele instrumento. André tinha planos de continuar a viagem de trem para Stuttgart e depois pra Bremen. Ele pediu para o primo se podia levar a gaita de fole emprestada para continuar praticando.

– Acho que você pode levar, na volta você devolve, disse Hans.

Detalhe: nessa viagem à casa do primo, André levou a tal fita demo do Karnak que havia começado a compor em seu Tascam e acabou esquecendo numa gaveta no quarto onde ficara hospedado.

Ele pensou… quando devolvesse a gaita de fole pro Hans, pegava a fita de volta.

Só que na viagem para Stuttgart aconteceu um pequeno imprevisto!

Imprevisto não, uma cagada!

Uma cagada não, uma tragédia!

O trem que o André estava foi assaltado e roubaram a gaita de fole do Hans… e era uma gaita muito cara.

Então o André, em vez de voltar pra Düsseldorf, ligou pro primo e contou que havia sido roubado.

O Hans ficou muito puto e confiscou a fita k7 de André.

Nunca mais André ouviu essas primeiras músicas do Karnak porque o K7 ficou como refém com o Hans.

O André voltou triste para o Brasil, pensando em um dia ter a fita de volta.

PAUSA. FOWARD

Pula para o ano de 2024.

PLAY…

André Abujamra estava trabalhando numa trilha sonora de cinema de um filme de vampiro.

O diretor desse filme tinha uma gaita de fole que ganhou quando ainda era menino. Quando foi no escritório do diretor, André viu o instrumento num canto da sala e contou sua triste história ao diretor.

Ele entendeu a gravidade da situação e muito gentilmente deu a gaita de presente ao André.

André então rapidamente “devolveu” a gaita ao primo Hans na intenção de reaver a fita demo do Karnak

Quando Hans recebeu a gaita de fole ficou surpreso e emocionado, mas a antiga casa onde morou em Düsseldorf estava sendo demolida para dar lugar a um moderno edifício.

Hans correu vasculhar os destroços e por um milagre, encontrou a velha fita K7 numa caçamba no meio do entulho.

Hoje, com o advento da tecnologia, conseguimos reformar essa raridade semi-destruída e juntar os dois canais (o normal e ao contrário). Conseguimos recuperar as primeiras músicas do Karnak.”

Em nossa audição foi possível notar todo tom experimental de quem se diverte com uma variedade de estilos e vestígios ricos do pop oitentista. Estética essa que dialoga com a inventividade de grupos como DEVO e o universo sem freios de artistas contemporâneos da música brasileira como Arnaldo Antunes e John Ulhoa. O último, parceiro de Abujamra no divertidíssimo ABCYÇWÖK (leia entrevista).

Nosso Veredito

Os sopros presentes, unidos à poética e aos arranjos criativos deixam a narrativa ainda mais envolvente. “Quero Beijar Você”, por exemplo, evoca melodias divertidas como as dos Beach Boys, mas sem perder a aura dançante e narrativa lúdica. O rock é inclusive um estilo que entra no emaranhado com guitarras de estilos como hard rock e blues – o que pela crítica foi chamado de AOR (Álbum-Oriented Rock).

Outro detalhe a se atentar é a capa repleta de brinquedos, algo que nos remete justamente a esse espírito de revisitar o passado dando aquele refresh. São canções que podem ilustrar dias mundanos e analógicos de um cidadão comum, e por essa razão, lembram tempos diferentes.

Um exemplo disso é a astuta “Só Tenho Bip”. Tecnologia obsoleta na qual muitos que estão lendo nem devem saber do que se trata. A orquestra de sopros que os acompanha ao longo do disco, uma hora nos leva para o jazz e outrora para o ska, forró e a música oriental. Tudo isso fruto da vasta pesquisa por sonoridades que se expande ao longo da discografia do Abu.

Toda a história da Tascam de 4 canais, ele conta na faixa que fecha, “Escombros Revelados”, com direito a narrador de filme, o que fecha o conceito de disco de forma divertida.

Lara Klaus “Qual sabor a paixão tem?” feat. Jr Black, Lisa LeBlanc

Fundadora do trio LADAMA, a recifense Lara Klaus, hoje em dia, reside em Montreal, no Canadá, e disponibilizou na semana passada o single “Qual sabor a paixão tem?” parceria com o conterrâneo Jr Black que nos deixou em 2022.

“Conheci Black provavelmente em meados de 2006, quando já admirava muito sua voz e sua presença como líder da banda Negroove. Na época, eu tocava na Profiterolis, e sempre nos cruzávamos. A amizade foi se estreitando com o passar dos anos e, durante a pandemia, conversávamos muito e começamos a ideia de um projeto em duo.

Fomos amadurecendo a ideia e começamos a escrever músicas juntos. Black, inclusive, me apresentou o trabalho de Cyane Pacheco, que assina a arte da capa. Também convidei Juliano Holanda (baixo e guitarra) e Tomaz Alves (guitarra), ambos muito próximos de Black, para gravarem comigo na faixa. Me sinto muito honrada e feliz em ter criado com ele e de poder compartilhar com o público essa criação, um pedacinho do que Black representa pra nossa arte e cultura, e ajudar a fazer ecoar sua sábia voz ainda mais adiante”, comenta Lara.

A paixão em movimento, sensações, mutações e curvas aparecem ao longo da narrativa de forma lúdica com timbres e grooves. Suas batidas cadenciadas criam imagens visuais e deixam tudo palatável. Participam também da faixa, a cantora canadense Lisa Leblanc (vocais e banjo), a cantora brasileira Bianca Rocha (vocais) e da tecladista canadense Kat Pereira (synth).

Tori “Ilha Úmida”

A artista sergipana, Tori, disponibilizou o single e videoclipe para “Ilha Úmida”, faixa que faz a conexão entre corpo e natureza e que integrará seu próximo álbum, Areia e Voz, com lançamento marcado para o mês de outubro. A composição é fruto da parceria feita a quatro mãos com João Bernardo. Vitória que também é a responsável pela produção com apoio de Domênico Lancelotti.

 “A música e o clipe retratam a saída da solidão. O eu lírico apaixonado tem medo do afogamento, mas também vontade de se tornar céu para e com o outro. A ilha é solitária, mas também um oásis”, comenta Tori que gravou o videoclipe em Itanhaém (SP).

A sensibilidade, e refino nos arranjos, ilustra a canção com imagens coloridas de uma paixão. A percussão e as camadas que vão sendo adicionadas aos poucos chamam o ouvinte para mais perto para que o universo se construa aos poucos. O drama, entre o receio e a vontade de se entregar, ganham curvas e melodias delirantes.

A respeito das referências presentes no futuro disco, ela aponta nomes como Fiona AppleAlceu Valença.



Teago Oliveira “Não Se Demore”

Com carreira sólida e consolidada, como cantor e compositor, o baiano Teago Oliveira, da Maglore, deu o pontapé inicial para o seu novo disco solo, “Não Se Demore”, single que integrará Canções do Velho Mundo, programado para o dia 10 de outubro via Meia-noite FM.

Em sua narrativa a faixa discorre sobre colapso, espiritualidade e resistência, explorando a ideia de viver o instante antes que ele se dissolva. A melodia, e seus backing vocals, percorrem esse caminho leve que grupos contemporâneos como Jungle costumam explorar com maestria.

Os arranjos de violino deixam tudo ainda mais dramático em meio a versos fortes como “a verdade tá desmoronando ao fervilhar do sol / e a nave mãe chamando como um grande farol/você piscou e o grande irmão te pegou na ratoeira/tem lobisomem solto em noite sem lua cheia”.

“É uma música que nasceu dentro do processo de gravação do disco. Uma canção que fala sobre um estado de vibração, de não ter pressa, mas também não deixar o tempo passar, ao mesmo tempo que compõe com elementos imagéticos o caminho que o mundo está tomando”, explica Teago.

Infinito Latente “Fora do Ar”

O duo Infinito Latente, está prestes de lançar o álbum de estreia, Sem Início Nem Fim, e antes disso nos apresentou o single “Fora do Ar”, repleto de camadas oníricas em uma faixa moderna que funde o pop e a MPB.

Para dar vida a essa roupagem experimental, eles utilizaram máquinas de sample como Korg Volca Sample e Roland SP 404 SX para criar o beat e processar efeitos. A faixa ainda conta com a participação da celista Esther Fietz e o lançamento vem através da Retalho Music.

O material foi gravado no Cavalo Estúdio, em São Paulo, e ganhou um videoclipe em animação dirigido pelo artista visual Marcio Mota. Inspirado pela ideia do existir “dentro e fora”, ele criou um universo onírico representando os personagens Maira e João em múltiplas formas de um universo próprio que dialogam com a temática da canção.



manny moura “Lemons and Limerence”

Explorando o folk e o pop, com referências que vão de Phoebe Bridgers e Gracie Abrams a até mesmo Taylor Swift, manny moura lançou “Lemons and Limerence” que brinca com a temática do “se a vida te der limões, faça uma limonada”. A produção musical é assinada por Nathan Dies e Fernando Tavares – e tem arranjo de voz/BGVs por Rebeca Sauwen.

 “Descobri essa palavra por acaso e fiquei fascinada pelo som e pelo significado. Mesmo sem saber como usaria isso em uma música, sabia que um dia a ideia viria. E veio, de repente, como um presente completo na minha cabeça”, conta a artista carioca radicada em Los Angeles.

A respeito do clipe, a diretora Gabriela Grafolin comenta: “O conceito de “Lemons and Limerance” gira em torno da romantização da dor, aquela sensação agridoce de transformar situações ruins em algo bonito e intenso, quase como um vício emocional. Os visuais reforçam visualmente essa dualidade entre ilusão e consciência, trazendo uma estética que mistura delicadeza e inquietação. Por fim, expõe uma vulnerabilidade encantada sobre o momento onde o sentir vem antes do entender”.

Raissa Lago a home to call mine

A cantora e compositora Raissa Lago em seu álbum de estreia, A Home To Call Mine, explora o minimalismo da voz e das cordas de nylon do seu violão para criar ambiências etéreas. Ela mesma conta que a experiência é simples, mas profunda e imersiva sobre suas vivências, entre fugir de casa, conflitos, amores e finitudes.

São justamente as melodias e camadas de vozes que permitem que a experiência da audição ressoe como um abraço. Entre suas referências sua música flutua entre o folk e o blues.

O disco está disponível apenas no BandCamp.

Sessa “Vale a Pena”

O paulistano Sergio Sayeg, o Sessa, para anunciar o seu novo álbum Pequena Viagem de Amor que será lançado no dia 7 de novembro, via Mexican Summer, disponibilizou o single “Vale a Pena” gravado estúdio Cosmo (fundado por Sessa e Biel Basile). Entre as novidades apontadas no novo disco está a maior ênfase no ritmo, experimentações vocais , e instrumentos.

Entre eles pianos, sintetizador, guitarra wah-wah e baterias eletrônicas rudimentares. No single, Sessa canta ao piano elétrico Suette, raro teclado brasileiro comparável ao Fender Rhodes, e tem referências de Erasmo Carlos. A canção com tema reflexivo, envolve o ouvinte com versos simples de auto-ajuda e com leveza de uma imersão meditativa.

“Um pouco mais noturno, aberto, torto e funkeado, trazendo influências que vão do soul norte-americano (Shuggie Otis, Roy Ayers, Sly Stone) ao Brasil de Erasmo Carlos, Tim Maia e Hyldon. Tenho uma teoria de que a música pela qual você se apaixona na adolescência ou no começo da vida adulta mancha sua alma para sempre.

Essas canções são uma mistura de crônicas pessoais e meditações silenciosas sobre a vida diante de grandes mudanças. Pela primeira vez, vi a música sair do centro da minha vida para ocupar um lugar mais secundário. Isso reorganizou minhas prioridades e trouxe novas oportunidades artísticas. De um jeito curioso, a  música se misturou mais com o meu cotidiano.”, comenta o artista sobre o vindouro disco que terá 9 faixas.

DINGO “Eu Não Sei Chorar”

A DINGO, de Porto Alegre (RS), dá à luz a um tema delicado, íntimo e peculiar: a dificuldade algumas pessoas têm dificuldade de chorar, mesmo que ainda sintam dor, mas não conseguem aliviá-la desta forma. A faixa, menos roqueira que o habitual, tem nas teclas, contornos e sentimentalismo são sua força. A balada tem Rodrigo Fischmann, nos vocais, e o visualizer ganhou imagens do músico ainda em sua infância.

Thiago França e Marcelo Cabral Samples e Naipes

Thiago França (saxofones e flautas) decidiu, como exercício, revisitar com a flauta como instrumento principal ao invés do saxofone tanto pelo diferencial das originais quanto pela vontade de aprofundar os estudos do instrumento, que havia se proposto a fazer durante a pandemia. A ideia era justamente não repetir o formato presente no disco Bodiado.

Ele entregou o resultado das quatro faixas para Marcelo Cabral (samples, sintetizadores e baixo elétrico) com carta branca para mexer como quisesse. Cabral entrou de cabeça na música não apenas focado nas melodias, solo, mas também nas respirações e os timbres que os instrumentos de sopros produzem. O EP acabou ganhando um caminho eletrônico com batidas sintéticas sequenciais, colagens, baixo punk ou graves orquestrais.

Amanda Magalhães “amores vêm e vão”

A cantora, compositora, produtora musical e atriz Amanda Magalhães no dia 16/09 disponibilizou o single “amores vêm e vão” via Boia Fria Produções. Entre as referências estão a MPB, o pop e o pagodão baiano em uma faixa que tem como tema o romance. Em sua companhia a artista tem teclados e violões de Vico Piovani, guitarras de Fernanda Aimê e percussões de Tuto Ferraz que assina também a mixagem e a masterização.

Para o ouvinte, a sensação de amor de verão, daquele que não sobe a serra, é uma das possíveis formas de interpretar. Uma faixa sobre desapego e recomeço. A canção ganhou um videoclipe no melhor estilo faça você mesmo.

“É impressionante o tanto de composições visuais que temos a possibilidade de criar utilizando apenas ferramentas como o CapCut e o Canva! Achei que a combinação de animações e colagens ajudou a trazer um toque de criatividade para o universo da canção. Me diverti muito no processo de edição e acho super legal a autonomia que temos hoje de explorar e brincar com esses recursos com tanta independência.”, revela Amanda.



Playlist: Nova MPB

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