O Hits Perdidos costuma receber muito material e disso a gente não reclama. Porém muita coisa acaba ficando de fora não porque deixou de agradar nem nada mas por falta de tempo. Vocês estão acostumados com resenhas longas e análises profundas sobre os discos e EP’s que enviam porém na intenção de deixar o Hits um espaço ainda mais democrático resolvemos criar a coluna: Som na Caixa.
A Som na Caixa apresentará 7 bandas a cada edição e a opinião sobre o som sairá na lata. Sem frescura ou receio de dizer o que achou do trabalho em questão.
O formato será sempre brincando com os dias da semana, assim no final do post você terá uma banda para apreciar por dia. Afinal de contas tem discos que merecem ser ouvidos por mais de uma única vez ou até entrar na sua playlist no Spotify.
Segunda-Feira
Jacintho – Jacintho (Data de Lançamento: 18/04)

“O soro tem gosto de lágrimas / As flores tem cheiro de morte / A dor vai fechar esses cortes / Flores / Flores / As flores de plástico não morrem” já diziam os Titãs em 1989.
Falar de flores como força de expressão e com metáforas bem calculadas não é uma grande novidade, porém a maneira que o compositor e músico paulista – de Leme – aborda é algo novo.
Jacintho em seu primeiro EP utiliza do recurso poético destas em seu eu-lírico agênero, ou seja sem citar masculino ou feminino. As flores dão lugar também aos personagens, sujeitos e objetos das composições.
Sendo assim Gérberas, Lírios, Jacinto (da mitologia grega), rosas sendo mais do que simples elementos decorativos ou adornos. Possuindo alma, vida, sentimentos e paixão literalmente à flor da pele.
São canções que carregam uma carga emotiva e diversos conflitos comuns as intensas paixões. Seu instrumental flerta com o rock, a mpb, utilizando de recursos como o sopro, percussão, backin vocals femininos e guitarras. Talvez o Hit Perdido do EP de 4 faixas – ouça no Spotify – seja “Óculos”, uma intensa epopeia que reflete os altos e baixos do amor.
Jacintho comenta “Sobre Flores na Cama”:
“Sobre flores na cama fala sobre um fim, sem identificar gênero ou orientação sexual. Onde o eu-lírico olha ao redor dentro de uma casa e se sente perdido em meio as ‘flores’, ao passo que entende que acaba de perder algo/alguém. E dessa forma o termo “flores” serve pra representar uma infinidade de sensações e até mesmo objetos. É uma grande reflexão do fim e apresentando as flores como um sujeito que transita não só pela casa, pelo quarto, mas pela grande maioria das canções que componho. Elas servem para referenciar sensações, sentimentos e pessoas”
Sobre Jacintho
Jacintho é uma entidade romântica que narra sobre as aventuras e desventuras do amor e a alcunha do cantor e compositor paulista Murilo Henrique Jacintho. Ele tem uma longa ligação com a música, trabalhando como editor de cultura na rádio Uniara FM de Araraquara (SP), enquanto também apresentava um programa e tocava o blog  “Musicaria”, com Rafael Barone (baixista de Liniker e os Caramelows) sobre música brasileira independente, em 2011. Ele também liderou a banda de postpunk Ironias, que o fez viajar pelo país e lançou dois EPs.
Terça-Feira
SPINOSA Beijo Burocrático (Lançamento: 01/04)

Renato Spinosa apresenta seu Queer Pop em Beijo BurocráticoFoto: Pedro Nóbrega

As pistas de dança dos anos 70 e 80 através da música pop proliferaram – e deixaram -frutos em uma geração toda. Daft Punk que o diga em seu mais recente disco, Random Access Memories (2013).
Sem esta vanguarda moderna que tem nomes como Bowie, Kool & The Gang, Marvin Gaye, Funkadelic, Prince, Ennio Morricone e tantos outros provavelmente não estaríamos falando hoje sobre o primeiro registro paulista Renato Spinosa.
Renato por sua vez é um estudioso da música, inclusive bacharel em composição, pianista, regente e professor da Escola do Auditório do Ibirapuera. Formado em Composição na USP, dedicou-se à musicologia e à composição de diversas peças eruditas, trilhas para curtas de arte e canções para Os Fellas e Monique Maion.
Além de uma carreira teatral ele participou como tecladista na turnê do álbum 3, do Seychelles, e gravou com Onagra Claudique o EP A Hora e A Vez, o single “Arrebol” e o álbum Lira Auriverde.
São composições feitas ao longo do tempo, sem pressa. Algumas escritas há 15 anos. Sua bagagem por estes grupos citados fizeram com que estas fossem lapidadas ao longo do tempo. Um EP gostoso de ouvir com melodias e instrumentos bem encaixados.
Destacaria a faixa que abre “Gabriela, Sem Cravo e Sem Canela” pelo seu potencial pop em sua melodia – que fica grudada na sua cabeça logo na primeira audição. “Caso Contrário” por conseguir nos levar para as pistas de dança com seu funk ~Motown~ com vocais alá Cazuza que deixam tudo flutuando, um dos trunfos do já citado álbum do Daft Punk.
Beijo Burocrático é um EP cheio de detalhes e cada uma das músicas possuem identidade e linguagem própria, o que liga todas são seu tom romântico. É como se um amigo estivesse desabafando em uma mesa de bar.
Quarta-feira
Xoxoto “Single”

Mas que raios seria Xoxoto? Foi o que me questionei quando arremessaram um disquete nas minhas costas durante o show do E a Terra Me Pareceu Tão Distante e Ventre que rolou dentro da programação do Dia da Música. Peguei o disquete e guardei no bolso.
A primeira coisa que me veio a cabeça seria: um disquete? 2017? WTF! Depois me lembrei de toda onda ~VaPoRwaVe~ de grupos como o Supervão e do lado de fora da casa fui escutar o single no soundcloud.
Na primeira audição achei algo que combinaria com Moblins e OZU pelo lance desconstruído e experimental da ousada canção “Single”. Com samples de sirenes e escutas da polícia mesclados a uma gravação lo-fi um tanto quanto Fugazi e matemática com interferências de teclados.
Daí que recebi o release da banda e nada mais fez sentido. Não que tivesse feito antes, claro. Que contava uma história um tanto quanto misteriosa como dadaísta sobre a origem do projeto.
Antes de tudo quem assina o e-mail é Lalaa, segundo o texto “irmã do Xoxoto”. Segundo ela Xoxoto é um cara do bem, ou nem tanto, nascido nos idos de 1960 em Muzambinho (MG). Cidade que inclusive tem como cidadão ilustre, o comentarista, Milton Neves.
Aparentemente dois jovens – os quais não revelam os nomes algo meio Gorillaz né? – encontraram uma pilha de disquetes, aqueles da época do Windows 95, repletos de canções. E feito uma mini “caça ao tesouro” foram conhecendo a obra do artista regional Xoxoto. Para mim pouco importa se essa história é real ou não, mas que é instigante para irmos atrás e darmos o play: sem sombra de dúvidas.
Segundo eles a faixa ilustra uma passagem histórica da cidade de Muzambinho 
“A faixa mostra uma ação da policia de NY que sondou a cidade de Muzambinho, na ocasião os moradores perderam sua paz e chegaram acreditar que tudo se tratava de uma atividade paranormal, coisa de outro planeta mesmo, mas tudo era coisa de Americano querendo entender como era a vida nesta cidade. O acontecido mudou a vida dos moradores e Xoxoto emprestou sua sensibilidade para está música, explosiva e abstrata.”
Quinta-feira
Hammerhead Blues Caravan Of Light (Lançamento: 21/04)
Hammerhead Blues durante abertura para o Samsara Blues Experiment. – Foto: Camila Cara

O show do Hammerhead Blues ainda está fresco em minha memória. Pude vê-los na véspera do lançamento do novo álbum da banda na sexta-feira (20/04) ao lado dos gaúchos da Cattarse. Ambas bandas fazem parte do selo carioca, Abraxas.
Com 3 anos na ativa a banda paulista se refugiou no Studio Pub (Santo André / SP) entre novembro e dezembro para gravar o sucessor do EP Hammerhead Blues. Com 9 faixas o disco passeia pelo hard rock, pelas ondas psicodélicas e pelo rock progressivo.
A apresentação que pude ver no Pico do Macaco mostrou que eles tem muita energia e atitude rock’n’roll no volume da apresentação. O baterista toca alto e desce a mão nos pratos – coitados – a guitarra também tem seus arranjos e fritação que nos levam para os anos 80. Se você já assistiu “Heavy Metal Parking Lot” sabe exatamente do que eu estou falando: visual, estilo de vida, álcool, mulheres e curtição.
É bem nessa linha que o disco discorre ao longo das 9 canções, resgatar esses espírito “farofeiro” e elaborado. Um resgate de uma época que produziu muita coisa boa – assim como muitas outras ruins – mas confesse você sabe cantar ao menos umas 3 canções do Poison e ficou animado com a confirmação do Def Leppard no Rock In Rio?
Destaque para “Lion Queen” que me lembrou muito as desventuras de Bon Jovi, “Hammerhead Blues” que tem aquele ar de Thin Lizzy, e a balada “Led Zeppeliana”, “St James Infirmary”.



Sexta-Feira
Céu de Vênus Instrospecto (Lançamento: 17/03)

Na semana passada escrevemos sobre o The Tape Disaster banda porto alegrense com 10 anos de estrada que faz um som experimental na linha do math rock e lançou um senhor disco pela Sinewave.
Para fazer um contraponto, desta vez pousamos em Curitiba (PR) para falar de outra banda que também está lançando seu material pelo selo paulista porém com um detalhe: é o EP de estreia. A fase que as bandas precisam mais de apoio mesmo de selos, algo bacana. Um detalhe é que os quatro integrantes são estudantes universitários de música.
O post-rock, os ritmos brasileiros e o math rock são o berço das composições do Céu de Vênus que está na ativa desde 2014. A música deles é feita para ser sentida feito um golpe no peito, um abraço, um colorir de uma paisagem cinza e desperta emoções através dos acordes milimetricamente calculados.
Cada faixa equivale a uma orquestra que nos toca exatamente por sua pluralidade e arranjos emotivos. Os altos e baixos do math rock que inclusive falamos na resenha do The Tape Disaster se escancaram nos acordes progressivos e na intensidade.
A calmaria de “Janela” me lembra um pouco o ótimo álbum Rasura (2014) dos conterrâneos do ruído m/m. O lado da música brasileira, caipira e de raíz pode ser notado em nuances de “Doce” que soa como uma triste cantiga. “Movimento” faz você querer sofrer junto conforme o movimentar dos dedilhados e recaídas emocionais da canção, um outro grande destaque da obra.
Céu de Vênus, a música que carrega sentimento e pesa feito uma pluma.



Sábado
FITA Stick The Crazy (Lançamento: 24/04)

Que Fita! Foi exatamente essa reação que tive ao receber o EP Stick The Crazy em minha caixa de e-mails. Confesso que fiquei horas ouvindo o disquinho para entender melhor todas as múltiplas referências e camadas que ele possuí. A mesma reação que tive quando surgiu lá para 2006 a tal da “New Rave”, que durou o que.. uns dois meses antes de cair no ostracismo do hype.
Mas o projeto capitaneado por André Ronca mergulha por outros oceanos. E a gama de estilos que ele vai atrás é um tanto quanto interessante de Trent Reznor, passando por trip hop, Synth Pop, industrial e os inferninhos do post-punk.
O EP reflete uma viagem sonora através de territórios jamais explorados de nosso inconsciente. Gosto das camadas e da linguagem atemporal que cada uma das 5 faixas te leva na garupa.
“Take to the ride tonight” tem aquele Q de M83 com a música de discoteca de outros tempos com elementos interessantes de trip hop, principalmente em sua versão remix. “Radio Delay” que abre o trabalho sabe brincar com as frequências e abusa das baterias eletrônicas que embalavam os hits dos anos 80 de grupos como por exemplo DEVO em seu clássico, “Whip It”.
O lado dark se faz presente em “Lies” que poderia facilmente estar no disco Adore Life (2016) das contemporâneas do Savages. O minimalismo está presente em “Looking For You” que me remete a grupos como Boards Of Canada e Daft Punk em seu ilustre Homework (1997). FITA é com certeza um projeto atemporal e que com certeza dá boas trilhas para séries da Netflix, concorda?
Domingo
Cidade Estéril  Cegos Pugilistas (Lançamento: 11/04)

O coletivo Geração TrisTherezina planejou em 2016 um ano cheio de lançamentos e movimentação do cenário cultural do Piauí. São lançamentos de livros, curtas, clipes, EP’s e discos que serão disponibilizados ao longo do ano. Muitas novidades por vir. A não tanto tempo atrás entrevistamos o Eletrique Zamba que lançou um disco cheio de referências a cultura local e mundial.
Dessa vez a veia que eles vão cavucar fundo é o pop. Termo que muitos olham com desdém antes de analisar a qualidade do material. Embriagado de rock’n’roll e com poesias do dia-a-dia de um cidadão de Teresina, ele dialoga com os moradores da região, suas paixões, indignações, hábitos e sentimento de transformação.
Cegos Pugilistas tem em “Castelo” uma balada triste que dialoga com grupos contemporâneos como os cariocas da Ventre e os baianos do Vivendo do Ócio. “Ilhas Temporárias” explora o pop/rock dos anos 90 com melodias que lembram Cássia Eller e Skank porém a letra dialoga com as paixões ardentes de Teresina, talvez por isso tenha um riff de guitarra alá Carlos Santana.
A bossa tem espaço na confessional “Seu Zé” e representa os dramas de um morador de rua, o personagem se culpa por esta desigualdade latente da realidade não só de Teresina como de várias capitais do país. “Mais Um Prato” é aquela balada pronta para tocar na rádio, se alguns discos atuais tentam fisgar essa fatia de mercado e falham miseravelmente eles vão para a cara do gol e conseguem agradar fãs de Cícero, Legião Urbana e Los Hermanos de uma vez só.
Em uma geração Z onde muitas vezes não se dá o trabalho de ouvir um disco cheio, nada como 5 canções diretas e retas para dialogar de braços abertos.


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This post was published on 25 de abril de 2017 7:42 pm

Rafael Chioccarello

Editor-Chefe e Fundador do Hits Perdidos.

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