Em uma geração onde tudo tem que ser de certa forma rápido e instantâneo o youtube acaba sendo uma das principais plataformas para que o alcance do trabalho dos artistas e bandas seja ainda maior. Tanto que nos últimos anos começaram a surgir diversos canais de youtube focados em música como o Canal Riff, o Minuto Indie, Tá Na Capa, The Cookie Collector, Debbie Records, Alta Fidelidade, Kazagastão são alguns que apresentam material de qualidade dentro do nicho.
As sessions também vem se mostrando uma ótima maneira de mostrar o trabalho não só dos artistas, como dos canais e estúdios. Um excelente exemplo foram as Orange Sessions organizadas pelo Alexandre e o Gustavo do Minuto Indie e que acompanhamos vídeo a vídeo aqui no Hits Perdidos. Estas que foram registradas no Estúdio Casa da Vó localizado na Zona Norte de São Paulo.
Para quem acompanha o independente claro que já ouviu falar sobre a ótima programação do Showlivre, do projeto Sofar Sounds, dos vídeos da produtora Pé de Macaco S/A e das sessions do Estúdio Lavanderia.
Na “gringa” projetos desse tipo também são bastante populares, muitos destes registrados em luxuosos estúdios de grandes rádios, outros gravados em estúdios e alguns registrados em lugares exóticos. Cada um com sua estrutura e alcance porém com o mesmo princípio: divulgar o trabalho das bandas de uma maneira atrativa e documentar uma época.
De pouco em pouco essas iniciativas vão se popularizando por aqui também. Hoje vamos falar de duas em específico que estão agora no processo de divulgação. A primeira é a Inhame Sessions idealizada pelo Inhamestúdio de Cotia (SP), já a segunda é o Projeto Gravadeira idealizado pelo coletivo e selo, Torto Records com o conceito de musicar lugares históricos de certa forma abandonados.

Felipe Neiva foi o escolhido para inaugurar as Inhame Sessions. – Foto: Isabella de Paiva

Inhame Sessions

No fim do ano passado em uma das vindas do músico Felipe Neiva e sua banda eles foram convidados pelo Rubens Adati (Vladvostock) para gravarem uma session em seu Estúdio.
O carioca, natural de Niterói, gravou uma session ao vivo com duas canções. Sendo uma delas inédita, “Fora”, e outra já conhecida dos fãs, “(X) Factor”do último EP de Neiva – mEu EP ou À Vida e Seu Potencial Sarcástico Infinito lançado em setembro.
Além de Neiva a banda é formada por Marcelo Trengrouse (na bateria), Victor Oliver (na guitarra) e Marcos Thanus (no baixo). A nova faixa “Fora” é direcionada a toda onda de conservadorismo político, tema debatido em outros ótimos discos contemporâneos como o Amor Só de Mãe do Giallos, nesse verdadeiro caos que temos vivido. A session traz imagens aleatórias mescladas a banda tocando com filmagem no melhor estilo “VHS” dos anos 90.
O Estúdio é comandado por Rubens Adati, que assina tanto a edição dos vídeos como a mixagem (junto a Ablan Namur). Quem comanda as câmeras é a fotografa e designer Kalaf Lopes.



Na semana passada foi a vez como já citado do vídeo de “(X) Factor” canção do último EP do grupo ter sua gravação divulgada. Sobre a origem da canção o vocalista comenta:
“Foi uma música que fiz para uma ex-namorada (que era atual à época da composição, mas que já era ex (X) no momento do lançamento, daí o título), tentando expressar harmônica e liricamente a sensação que a nossa relação me dava, por que realmente era um sonho pra mim… foi a primeira vez que eu assumi um relacionamento na minha vida e era uma sensação incrível. Daí a baladinha”



Projeto “Gravadeira”

Com o ideal de contracultura enraizado o coletivo/selo Torto Records surgiu como coletivo de bandas interessados em fazer uma estrutura sustentável para os excluídos da grande mídia.
O conceito é deveras interessante e diferente de muitos outros formatos de sessions que encontramos por aí. Além de trazer bandas “esquecidas”, eles também foram atrás de resgatar o valor histórico de locais esquecidos.
Mas nada como chamar um dos idealizadores do projeto para explicar melhor sobre o que é o Projeto Torto, qual a trajetória que levou eles a idealizarem ele e explicar melhor o conceito do “Gravadeira“. Sendo assim deixo Mauro Cesar Terra Pinto (Porno Massacre) com a palavra.
“O Projeto Torto, ou Torto Records, é um projeto derivado do Tendal Independente, por isso vou contar a história do tendal independente apesar de não estar nele desde o início. O Tendal Independente foi um evento criado pelo Rodrigo Romani (Johnny Apgar Zero, Alcoóliques) e Isaac Silva (Alcoóliques) a partir das cessão de espaço por parte do Tendal da Lapa.
Eles teriam um final de semana por mês pra fazer um festival com bandas independentes. Sozinhos eles disponibilizavam o back line pras bandas e faziam o festival, o Tendal da Lapa infelizmente não tinha muito o q ajudar por conta do descaso da prefeitura. Fizeram isso de maio de 2013 até outubro de 2014, quando o Isaac tinha compromissos que não permitiriam ele ajudar nos eventos, fazendo o Rodrigo procurar ajuda através do Facebook.
Eu, o Bruno Gozzi (Porno Massacre) e o André Astro (O Grande Ogro) nos candidatamos e começamos a ajudar, dando um gás novo e tornando o evento em um coletivo. Passaram mais de 80 bandas no evento, sempre com um caráter colaborativo (as bandas ajudavam levando equipamento), gratuito e com intuito de integrar as bandas entre si, trocando contatos e experiências.
Já chegamos a disponibilizar o espaço para artistas plásticos, quadrinistas, exposições, mas não era o mais comum. A partir de 2016 o Tendal da Lapa convidou o coletivo Pobres Independentes para dividir esse espaço com a gente, o que ajudou um pouco na questão de produção dos eventos. Também pediram para que mudássemos o nome do evento para Rock no Tendal. A partir daí decidimos que o projeto deveria ser maior, queremos ser um selo mesmo, integrando bandas que ajudem nesse trabalho, daí surgiu o Projeto Torto.
O Projeto Torto em 2016 integrou como novo membro Danilo Leite (Danilovers) e realizou diversos eventos, como as edições do rock no Tendal, o Dia dá Música (fazendo a grana render dois dias de evento) e uma intervenção na Virada Cultural, esses últimos em parceria com os grandes manos do Rock Ex Machina.
Por fim fizemos o Gravadeira com as bandas O Grande Ogro e Z13. O Gravadeira foi uma ideia pra consolidar nosso trabalho, disponibilizar um material para as bandas que participassem e valorizar o Tendal da Lapa, um espaço histórico e hoje um pouco esquecido.
O Gravadeira então é uma tentativa de mostrarmos algo mais elaborado, além dos festivais. Sabemos que não é uma ideia super diferente mas foi uma fórmula factível e alcançável. Por outro lado o trabalho ficou maior pois tivemos que além de captar áudio e vídeo tivemos que editar, mixar e masterizar, o que acabou levando um tempo.
Creio que hoje nossos objetivos são crescer como coletivo, nos consolidarmos como selo, ocupar outros espaços além do Tendal da Lapa, ao mesmo tempo queremos integrar o espaço do Tendal no circuito underground valorizando um lugar tão rico de história artística independente, e, por fim, dar espaço ao rock independente, tão carente de pessoas que se dispõem a brigar por isso.
Nosso futuro ainda é incerto pois não vivemos desse trabalho e muitas vezes é difícil conciliar o planejamento com outros aspectos de nossas vidas, como trabalho, família e banda, mas queremos esse ano fazer mais dois gravadeiras, vamos fazer o Dia dá música novamente, queremos fazer parcerias com selos e coletivos para fazerem festivais no Tendal da Lapa e queremos integrar mais gente no projeto porque as vezes falta fôlego e braço. Hoje já contamos com ajuda do Robson Wendel, baixista da Atos de Vingança, que tem ajudado desde o começo do ano e já está ajudando a planejar eventos como o 40 anos de punk no Brasil, que terá uma edição no Tendal da Lapa em junho com a nossa organização.”
Confira o vídeo com as bandas Z13 e O Grande Ogro.


This post was published on 10 de abril de 2017 9:20 am

Rafael Chioccarello

Editor-Chefe e Fundador do Hits Perdidos.

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