Exclusivo: Artistas revelam os bastidores de “Nebulosa Baby” e comentam sobre as parcerias com GIO que lança um dos Melhores Discos do Ano
Giovani Cidreira, que assina sua nova fase como GIO, sempre teve muito a dizer e também a desconstruir. Em Nebulosa Baby (Risco), seu segundo disco, o cantor baiano transcende em um disco experimental, conceitual, afrofuturista, ancestral, periférico e com raízes nordestinas.
Assim como seus últimos lançamentos Mix$take (2019), Estreite e MANO*MAGO (2020), além da produção de Benke Ferraz, dos Boogarins, o músico propôs expandir os horizontes e a sua criatividade.
Sem medo de se arriscar e se permitir, ele traz samples, efeitos, delays, misturas e diversas participações especiais. Ousado por natureza, a experiência de ouvir ressoa um tanto quanto antropológica, onde ele deixa clara desde a sua introdução a energia cósmica, o poder dos encontros e suas raízes como força motriz.
Eletrificado pelas ondas eletrônicas minimalistas, ele expande seu conceito e conectando ritmos, pessoas e nos transportando para diferentes lugares.
“As gravações orgânicas se fundem de tal maneira aos recursos eletrônicos e às intervenções de efeitos de mixagem de Benke e Gui Jesus, que não dá pra saber exatamente quem é quem dentro dos elementos dispostos.
A canção, com forte ligação à MPB setentista continua ali ainda melhor abraçada pela sonoridade mais contemporânea ligada ao R&B, hip hop e indie rock. As influências do disco vão de Jup do Bairro (que participa da faixa que abre o disco) a Tyler The Creator, misturados a Roberto Carlos, Clube da Esquina e Blood Orange. Caminho pro futuro sem esquecer do que me formou musicalmente, nada fica pra trás.”, pontua GIO.
Parte das músicas foi gravada no estúdio da Red Bull Station em São Paulo, por GIO (voz, pianos e violão) acompanhado pelos músicos Ynaiã Benthroldo (Boogarins – bateria, bateria eletrônica, Lucas Martins (Maglore – baixo e sintetizador), Filipe Castro (percussão), e Cuca Ferreira (Bixiga 70 – sax). Alguns overdubs foram adicionados em casa pelo cantor e Benke.
“As letras continuam existencialistas e descrevem experiências vividas cotidianamente e que nos marcam profundamente, mas agora com um tom mais sério e mais direto, ao passo que começo a escrever sobre racismo, drogas, solidão da população negra, a exemplo de Joias.”, revela GIO
O Álbum Visual
O álbum visual traz consigo uma animação com paisagens em retratos e propõe uma busca da ficção histórica e do realismo mágico, em crítica e reflexão a respeito da solidão do povo negro suas ressignificações e potencialidades, e apontam para possibilidades de futuro firmadas nas raízes da memória e das ações presentes.
“É sobre não esquecer que somos pessoas iluminadas, detentoras de um poder ancestral, de um potencial que o sistema racista, que nos mata todos os dias e nos entrega sobras, descarta e nos faz esquecer, retirando o direito de existir na memória, na musicalidade e nas experiências culturais desse país”, afirma GIO.
Os Bastidores: GIO Nebulosa Baby
Tivemos a oportunidade de conversar com os artistas que fizeram participações especiais no grandioso e experimental Nebulosa Baby, um dos discos mais quentes lançados em 2021.
Ao todo o disco conta com 14 faixas e as participações de Jup do Bairro inicia o disco, Luiza Lian se encontra com Dinho (Boogarins), Luê performa junto à Maglore e Ava Rocha, Obinrin Trio canta junto com Alice Caymmi, Josyara tem um solo, Jadsa é presença forte no disco e Vandal entra no álbum por meio de sampler feito por Benke.
Perguntamos para este time de peso da música independente brasileira sobre o disco, como se viram num projeto como esse, como foi o momento de produção e como foi a sensação a ouvir pronto pela primeira vez depois de pronto. O resultado é único e irá emocionar quem passou as últimas semanas ouvindo o disco do GIO.
“É sempre muito importante, justamente, trazer as minhas e criar essa nova forma de produção. Trazer pessoas da periferia pra trabalhar comigo, trazer pessoas de recortes geográficos pra estar comigo nessa ascensão.
Nós viemos com uma espécie de chip de alta tecnologia de adaptação ao tempo, mas que precisa de manutenção. Então, essa manutenção precisa ser a partir dessas mentiras dessas novas criações do que a gente nem existe.
E nós chegamos num lugar que tantas mentiras já foram inventadas pra que pudéssemos ter essas nomeações, que o potinho transbordou, e hoje nós estamos inventando novas possibilidades enquanto mentiras, inclusive pra que possam se tornar verdades. Não sei o que vai ser daqui pra frente, mas eu tô escrevendo essa história.”, diz a introdução de Nebulosa Baby na voz de Jup do Bairro que empodera o sentimento de coletividade presente no disco
Benke (produziu Nebulosa Baby e os EPs Mix$take e MANO*MAGO)
“Desde os primeiros processos onde construíamos as demos, a noção de Giovani sobre o que queria era fundamental. Foram poucos momentos onde desvirtuei totalmente e construí algo novo em cima de uma ideia sua, sons como “Entrelaçados” e “Luzes da Cidade” foram apresentados nesse modo mais afetado ali na Mix$take (“ngm + vai te ver triste” e “Seu cigano flow”).
Minha presença foi realmente mais como um produtor de disco clássico, mesmo quando eu estava ali sozinho com ele sentado na frente do PC, usando as minhas ferramentas para contar a história dele e adicionando arranjos pontuais para ajudar amarrar toda a construção que ele já expressava bem, às vezes tocando ao mesmo tempo o teclado Casio, a roland emprestada do Dustan Gallas (de onde eles sampleou e criou maioria dos beats presentes no disco) e cantando.”
Jadsa
“Eu vi o Nebulosa nascer. Vi também fazer todo o caminho até chegar no estúdio. O que Giovani diz ser o Nebulosa Baby é uma partícula de um mundo novo. Um espaço recém descoberto que conseguiu unir tanto as experiências pessoais antiga como novas referências que chegaram com a sua pesquisa dentro da música vivendo em São Paulo.
Participar do disco foi um “plus”, estávamos quase que morando juntos na Casa Vulva, dando muitas ideias uns aos outros. Foi importante demais pra mim porque consegui ter um contato mais profundo com a criação efetiva dentro de um mega estúdio e a oportunidade de conhecer muitos outros músicos que abrilhantaram esse disco lindo. Agradeço demais a troca nesses anos. Sou fã do Gio.”
Ava Rocha
Dinho Almeida (Boogarins)
“Foi muito especial ter a chance de participar de algum jeito nesse disco do Gio. Desde de que ele começou a fazer os lances com o Benke a gente acompanhou meio de perto o desenrolar desse disco e é lindo como a música dele cresceu nesse processo.
O que já era bonito ganhou uma profundidade muito única. Eu morria de medo de estragar a música e lembro que achei difícil a esticada de voz que eles me pediram, mas lembro de cantar junto com Giovani e ganhar mais segurança pra fazer rolar, o resultado final ficou lindo demais. Nem parece eu cantando.”
Jup do Bairro
“GIO é um dos maiores letristas que já conheci e sem dúvidas um dos artistas contemporâneos que mais me atravessam. Quando o Giovani me mandou mensagem falando do disco, foi um acalanto.
Foi um dia que eu precisava ouvir a voz dele, principalmente sobre o que viria. Futuro, presente, tempo. Nebulosa Baby nos convida a viajar num universo de possibilidades sensoriais, me sinto honrada de participar dessa viagem com as minhas mentiras.”
Luê
É lindo ver esse disco pronto agora e eu sei que ele fez com muito amor, aquele mesmo amor que eu via ele cantando e que emocionava todo mundo ao redor.
É uma honra pra mim fazer parte desse disco.”
Luiza Lian
“Quando o Giovani me convidou pra gravar no disco dele eu fiquei muito feliz. Eu já estava fissurada no som dele desde o lançamento da Mix$take e sinto uma afinidade gigante com o rumo que o seu trabalho tomou nos últimos trabalhos. Já conhecia uma outra versão de “Entrelaçados” e já havia me encantado com a música, então foi muito orgânico cantar ela colando minha voz no GIO.
O dia da gravação em si foi um episódio à parte e daqueles que me dão saudades especiais nesses tempos pandêmicos. O antigo estúdio da Redbull possibilitava esse clima de festa nas gravações pois cabe muita gente na técnica.
Tava o Gio, o Benke, a Jadsa, o Filipe e uma galera celebrando a concepção desse disco. Hoje, olhando para trás e passado um ano e meio de confinamento, vi como foi um grande privilégio poder testemunhar um pouco dessa energia na gravação de “Entrelaçados” e das outras músicas que rolaram naquele dia.”
Lelo (Maglore)
“Bom, eu acompanho Gio desde que a gente começou na música em Salvador. Eu na Maglore e ele na Velotroz. Sempre fui fã de suas composições e me tornei fã dele também enquanto pessoa com a convivência na estrada e no estúdio quando ele me chamou pra tocar.
Gio é sempre uma pessoa muito generosa e criativa, conhece muito de música, já ouviu muita coisa, e está sempre em busca de ouvir as pessoas e o que tem rolado de novidade de som. Cheguei a gravar com ele no Japanese Food e integrei a banda (junto com meus companheiros de Maglore) até as gravações do Nebulosa Baby, disco em que participamos na faixa “Claridades”.
Nessa gravação, em especial, acho que ele conseguiu juntar todos os amigos que fez na estrada e os que fez enquanto morava em SP. Muitas músicas surgiram no período em que a gente fazia os shows do Japanese Food, lá em 2018.
Vê-lo criando, modificando as músicas e dando forma até a gravação foi um processo bem especial. Tem muito do que ele viveu nesse período no disco, recém chegado à cidade, vivendo, absorvendo e traduzindo tudo. Tem muito do que vivemos juntos também com a banda. Até mesmo uns trechos de letras que parecem conversas que rolavam e imagens que todos vimos. Acho que é uma lembrança que deve ficar guardada na memória de todo mundo que participou desse processo dele e com ele.”
Josyara
“Para mim foi uma alegria quando o Giovani me convidou para participar deste novo álbum. Eu não sabia ao certo o que eu ia fazer, sabia que ia tocar algum violão, cantar em algum trecho e daí me deu uma clareza linda, maravilhosa, ao escutar o álbum todo, porque, essa minha participação em uma vinheta em que ele reconstrói com o título o nosso encontro, aquele momento em que essa música foi feita, a gente voltando do Rio de Janeiro, diante de a várias circunstâncias e perrengue, tudo, então, foi muito emocionante ouvir essa canção ali com tantas vozes no repertório incrível e ver que ele brincou com esse título que é saudade de Josy, fiquei muito emocionada.
Em seguida entra “Anos Incríveis” que é uma música que ele gravou comigo no álbum Estreite e ali me derreteu totalmente o coração. É muito importante poder tá com o Giovani nesse momento de amadurecimento, de crescimento, de experimentações, né?
É lindo ver um artista se transformando e expandindo, rompendo as fronteiras, arregaçando as linhas mesmo, as demarcações, do que pode ser uma pessoa, do que pode ser um artista. O que é um território. Isso é muito bonito, eu fiquei muito feliz com todo o resultado.”
Vandal
“Pra mim, foi muito importante participar. Um dos pontos principais é essa relação com o Benke, a gente acabou se encontrando em Salvador, conversamos bastante eu, ele e o Russo Passapusso (BaianaSystem).
Já faz alguns anos isso. Foi quando o Benke veio pra Salvador ministrar uma palestra, tive esse primeiro contato e daí surgiu esse estreitamento de contato. Benke já tinha falado comigo sobre a minha música “Amores”, que ele sempre se identificou, gostou e nas nossas conversas eu tinha mandado pra ela a capela desta música. Já com Giovani vem dessa ligação com o bairro da Cidade Nova.
Foi muito importante o Giovani com a Velotroz (antiga banda de Gio), os meninos que encabeçaram um processo desse indie baiano, tem toda uma linha histórica que culminou nessa faixa, que eu acho muito importante. Acho muito linda essa música, fiquei muito feliz com o resultado. Pra mim foi uma entrega necessária, até porque juntou tudo isso que eu falei anteriormente e dessa linha de tempo que culminou na faixa desse disco interessante, desse novo Giovani Cidreira, o GIO.
É uma participação que deixa esse gosto de quero mais e que abre esse leque de possibilidades pra esses nomes todos: o Vandal, o GIO, a Jadsa, a Josyara, o Benke, o Boogarins e tantos outros nomes que fazem essa nossa nova música brasileira.Com certeza trabalhos futuros virão dessas parcerias, a participação com o Giovani abre o leque para várias possibilidades.”