Perto do Fim – A Trajetória da banda Alaska
A banda Alaska encerrou oficialmente as atividades no ano passado. – Foto Por: Yvã Santos
Na linha da vida tudo que nasce tem um fim, muitas vezes fazendo com que novos começos surjam. A banda Alaska anunciou seu fim no dia 14 de outubro de 2019 e pegou muitos de nós desprevenidos. Com dois shows de despedida – sendo eles no RJ e outro em SP no ano passado – fizeram com que o adeus fosse menos doloroso, mas também muito intenso como é o jeito Alaska de ser.
A partir daqui deixo a despedida de lado pra relembrar a história de uma das minhas bandas favoritas, como viveu em meio ao cenário musical brasileiro que muitas vezes é injusto e controverso. A visão de quem esteve próximo à banda, amigos e fãs.
O início
Juntos desde 2012, a Alaska foi André Ribeiro (vocal e guitarra), Wallace Schmidt (baixo), André Raeder (guitarra), Vitor Dechem (teclado, voz e guitarra) e Nicolas Csiky (bateria) – além de toda uma galera de apoio que também faz parte de todo conjunto.
O primeiro trabalho oficial da banda foi o EP Perto do Fim (2013) que conta com 5 faixas. Destaque para a faixa Euforia que foi a última escrita para o EP, a primeira a ter um clipe, e também sofreu modificações – a primeira versão era acústica.
É um tanto curioso voltar nessa época e ver a evolução da mesma conforme o passar dos anos. Não era uma banda de rock, era independente e bem humorada.
Em 2014 lançou o clipe de Vista, a produção é da própria Alaska com apoio de Guilherme Garofalo. A música foi gravada pelo projeto Converse All Star, chamado “Rubber Tracks”, no Family Mob Studio, mixada e masterizada por Leonardo Ramos no Gritaria Mix & Master.
O Disco Onda
O Onda foi um pontapé e tanto pro conhecimento que viríamos a ter da banda. Ela chegava com a bagagem de um EP e um single, então nada mais justo que lançar um álbum.
Mas como nós sabemos todo processo de gravação e lançamento de álbum custa dinheiro (e muito). Eis que surgiu a ideia de uma catarse, onde muitas bandas retribuem com “recompensas” os fãs que ajudam com os custos da produção de um disco. E deu certo, e ainda com o dobro da meta.
A produção conta com Gabriel Olivieri, além da própria Alaska. A mixagem e masterização por Ricardo Ponte e projeto gráfico elaborado pela dupla Guilherme Garofalo e Flávio Dechem.
O Onda é um álbum pra você entender aos poucos, e quando chega a compreensão isso te abre diversos caminhos reflexivos. Melancólico e cheio de despedidas. É como estar em um barco e ver sua vida passar diante os olhos, todas as tristezas, angustias. Os momentos felizes que ficaram pra trás, e tentar encontrar alguma forma de ir contra a maré que só te puxa. Mesmo depois de 5 anos ele ainda exerce grande influência em muitos fãs, uma das coisas que mais nos uniu até hoje.
Do Onda nasceram três clipes: “Alto–mar” primeiro single do disco, “Impulso” e “Correndo com Tesouras“.
A Mudança e o Ninguém Vai me Ouvir
Pra quem achou que a Alaska despontaria como uma banda de rock, na verdade, não foi bem assim. Ela nunca foi uma a banda pra ser rotulada. No NVMO ela rompeu com grande parte da sonoridade que trouxe em seu ep e álbum, mas sem perder o que ela realmente é em sua essência.
Antes de tudo a banda abriu o Curious Cat (plataforma onde você pode mandar mensagens anonimamente) para que seus fãs pudessem mandar relatos e depoimentos sobre qualquer assunto. O NVMO, veio com mensagens mais diretas – sem rodeios – sobre a maneira como tratamos nossas relações, a era digital, e muito mais reflexões. Muitos samples, sintetizadores e elementos eletrônicos.
A direção visual e criativa ficou nas mãos do Guilherme Garofalo, além de uma nova estética apresentada não só nos clipes, mas também em todo o conjunto. E não esquecendo do acréscimo do nosso querido Rafael Lira, que depois de muito acompanhar a Alaska se tornou um membro da banda.
Do NVMO saíram os clipes de “Ninguém vai me Ouvir”, “Tem que ver isso aí” e “Vazio____________”, além do lyric vídeo de “Até o Mundo Acabar”.
As Relações e Visões
A relação banda e fã nunca foi um empecilho pra Alaska. Na verdade, a sensação é de estar revendo um amigo e não apenas indo ao show da sua banda favorita. Não existe a história de banda inalcançável, mas sim uma relação de respeito em meio a muitas brincadeiras, mas também falando sério quando necessário. É uma troca sadia, sem imposições ou julgamentos.
Troquei uma ideia com algumas bandas que contaram um pouquinho de como foi a convivência, de como viram a Alaska de um angulo onde a visão pode ser um pouco (ou não) diferente.
Testemunho: Luiz Felipe (Contando Bicicletas)
Para o Luiz Felipe (Contando Bicicletas) o NVMO fez com que a banda chegasse em uma sonoridade muito especial, com personalidade, moderna, puxando pra frente a música brasileira e com estilo. Isso sem falar nas letras, sinceras e potentes.
O mesmo ainda conta que conheceu a banda pelo twitter na mesma época que onde conheceu várias outras bandas pela rede social e foi uma das que mais marcou.
“Fui em um show deles aqui no Rio e ao vivo eles são igualmente bons, quem sabe até melhores! Nunca tinha visto tanto profissionalismo numa banda dessas mais independente e o som era incrível.
Virou referência pra mim. Eu conheci os caras finalmente naquele dia e disse isso. E depois fiquei enchendo o saco dos meus colegas de banda dizendo isso pra eles. Fico triste que não terei outras oportunidades de ver esse show e inclusive de levá-los pra ver” – conta Luiz Felipe.
Testemunho: Igor Pinto (Kanagawa)
Já para Igor Pinto (Kanagawa) a história é um pouco engraçada. Ele já conhecia a banda de alguns vídeos no youtube, e quando a Alaska se apresentou no Rio de Janeiro o mesmo mostrou para os amigos da banda Two Places At Once (que infelizmente encerrou suas atividades este mês) e sugeriu que ambos fizessem algo juntos.
“Esse show foi incrível, por que foi logo no momento que o Onda tinha acabado de sair e eu estava muito no hype das músicas, cantando tudo (O Ribeiro até me chamou pra cantar a parte do Gustavo em exílio, nunca vou esquecer), e aí deu match demais, a galera toda acabou se conectando muito depois do show”.
A banda tem um papel muito importante na vida de Igor, de acordo com o mesmo a Alaska tem uma parcela de culpa pelo mesmo ter se esforçado para aflorar seu lado artístico “É bem diferente pensar que não vai ter mais Alaska, os shows deles sempre foram um ponto de encontro, seja no sentido de vê-los, ou de ver pessoas que tenho um carinho imenso que acabaram surgindo por conta da banda. Mas por outro lado sei que de alguma forma esse pessoal todo vai dar um jeito de se encontrar, talvez não da mesma forma, talvez não na mesma frequência, mas a vida sempre se acerta e sempre encontra um jeitinho” – conta Igor.
Testemunho: Viratempo
Já a banda Viratempo conhecia a Alaska de nome antes mesmo do show que as duas dividiram no rio de Janeiro “O nosso selo, Eu Te Amo Records organizou esse rolê. Ficamos impressionados com o show, as músicas e toda estética. Além de tudo, o profissionalismo e a simpatia marcaram muito esse rolê” conta a banda.
A notícia da despedida também os deixou um pouco chateados, principalmente porque a música independente perdia um nome de peso – “Mas no final de tudo, a música independente é isso, a gente continua fazendo enquanto for sincero. A vida é muito grande, e temos certeza de que essas coisas são mais comuns do que imaginamos, é um relacionamento desafiador ter uma banda independente. Esperamos o melhor para a banda e cada profissional que se envolveu com eles de alguma forma”.
André Ribeiro e o EP Cidades
Na sexta-feira (06) André Ribeiro lançou seu primeiro EP solo intitulado Cidades. Ao todo são 4 faixas, todas tem como base sons gravados no celular em cada uma das cidades onde esteve em 2018, usando esse tempo para reflexão e enfrentar questões pessoais.
Obrigada, Alaska!
Esse texto nada mais é que uma forma de carinho ao retribuir um pouco do quanto a Alaska significou não só pra mim, mas também pra tantos outros que abraçaram a causa e se tornaram amigos em comum. É a forma de dizer um adeus menos doloroso, pois se vai a banda, mas ficam as músicas e tudo o que veio com elas.
Nós que amamos música somos eternamente gratos por aqueles que nos ajudam em diversas situações. Onde compartilhamos dos mesmos sentimentos, ou que se encaixam como trilha sonora pra diversos momentos na vida.
A Alaska foi muito mais que uma banda. Ela foi um marco na vida de muitos e da própria cena, além dos próprios integrantes. E pra você que não teve a honra de assistir um show ou que tenha conhecido só agora, leve cada palavra no seu coração e compartilhe com quem quiser.