Após “MA” estrelar entre os melhores do ano, Huey conta detalhes sobre sua turnê nordestina
O Huey em sua formação conta com Vina, Dane e Minoru nas guitarras, Vellozo no baixo e Rato na bateria. Até então o quinteto lançou o disco de estreia, Ace (2014), o EP ¡Qué no me chingues wey! (2010), e os singles “Por Detrás de Los Ojos“ (2012), “Valsa de Dois Toques” (2014), “Adeus Flor Morta” (2016) e “Pei” (2017). Este último já servindo de aquecendo para o elogiadíssimo MA lançado em março do ano passado via Sinewave e Black Hole Productions.
O disco foi gravado e produzido pelo norte-americano Steve Evetts (The Dillinger Escape Plan/Sepultura/The Cure) no estúdio paulistano Family Mob. Já a masterização é assinada por Alan Douches (Baroness/Year of No Light/Earth).
O álbum inclusive teve ótima recepção entre público e imprensa, sendo listado pelas principais listas de Melhores do Ano de 2018. Na época de seu lançamento até resenhamos por aqui:
“Um disco que prova que o tempo para maturar as composições, arranjos e fusões fez bem. A banda paulistana ousa em fundir estilos como blues, stoner, doom, post-rock, noise rock a música experimental.
Faz um passeio sem ter medo de ser julgado, por horas progressivo, por outras calmo, em outras agitado e angustiante. Ele não é um álbum fácil mas pensando bem nem Marquee Moon é, talvez seja por isso que nos instigue e provoque com que ouçamos não apenas uma vez mas como várias para captar toda sua transgressão – e energia dissipada.”
Após a boa repercussão, eles foram convidados para participar do Festival DoSol, um dos principais do país que acontece todo ano em Natal, no Rio Grande do Norte. Além desta apresentação eles estenderam sua rota para uma mini turnê pelo nordeste passando por cidades como Mossoró (RN) e Olinda (BA).
Onde puderam tocar, prestigiar o trabalho de outras bandas, curtir a praia e até mesmo gravar um videoclipe de última hora. O responsável pelo vídeo foi justamente Estevam Romera (Family Mob), que assina a direção, edição e montagem. Já a produção foi feita em parceria entre a banda e Romera.
“Fogo Nosso” conta com imagens registradas em locais paradisíacos como a da salina Augusto Severo CIASAL, localizada em Água Branca, e as belezas naturais da natureza nordestina. Estas intercaladas com imagens das apresentações do Huey e a rotina de turnê, entre saídas de ônibus e momentos de descontração. Boa parte delas foi possível graças ao auxílio de um Drone.
Segundo eles o vídeo “aposta na proximidade visceral da música em tomadas fechadas nos integrantes da banda e na observação respeitosa da natureza.”
Entrevista
Conversamos com o Dane EL para saber mais sobre dicas para bandas que querem se aventurar em uma turnê que cruze o país e experiências trazidas na bagagem.
[Hits Perdidos] Vocês fizeram a turnê pelo Nordeste no fim do ano passado. Tendo tocado em Mossoró e no Festival DoSol, em Natal (RN). Como foi o planejamento para tudo isso rolar e a experiência? Trazem na bagagem alguma história ou lugar marcante?
Dane EL: “O planejamento partiu do convite para tocarmos no Festival DoSol em Natal, um dos eventos mais completos e bem organizados do rolê de bandas alternativas. Sempre alternando estilos e ficando na vanguarda de lançamentos incríveis. Partindo desta data, começamos a conversar com produtores, amigos e contatos no Nordeste, porque já que iríamos para lá, seria ótimo aproveitarmos para tocar em lugares novos.
Sobre histórias e lugares marcantes, tocar no DoSol, em um palco em frente a praia, com tantas bandas que gostamos, foi realmente mágico. Todos ficam em um mesmo hotel e a troca de ideias, bebedeiras e conversas já valem o rolê. Gravar o DoSol Sessions no estúdio deles foi um registro lindo também.
Depois fomos para Mossoró, onde os amigos do Heavenless que organizaram e nos receberam de uma maneira incrível, mostrando que a cena por lá possui um público muito fiel e honesto. Aproveitamos para visitar uma Salina e daí surgiu a ideia de fazermos um clipe, porque o cenário era estonteante e o Estevam Romera (Desalmado) estava nos acompanhando para registrar a tour para seu canal no Youtube, mas ele é tão cheio de ideias que resolvemos fazer o clipe na noite anterior e não pensamos duas vezes. Em seguida voltamos para Natal para fazer um show extra no EL Rock e terminamos em Olinda (BA), em um centro cultural lindo e emocionante.”
[Hits Perdidos] Sabemos que conseguir organizar uma turnê longe de casa e com dias contados, muitas vezes equilibrando dias das férias para poder rolar é complicado. Quais recomendações dariam para as bandas que estejam pensando em fazer o mesmo, seja para o Brasil, como para fora?
Dane EL: “A gente tenta fazer com a maior antecedência possível, porque fica realmente difícil bater a agenda de todo mundo, já que fazemos vários outros trampos fora o Huey. O modo mais fácil é partir de uma data de um show maior, com uma certa estrutura e retorno financeiro e a partir daí, buscar locais próximos, mesmo que sejam shows menores ou com menos cachê, é importante aproveitar o máximo possível, pois na real, o maior gasto é o transporte até lá.
Mesmo em um show que não haja bilheteria por exemplo, você consegue ganhar vendendo merch, por exemplo. E nem sempre o dinheiro é o melhor parâmetro para escolha de lugares e shows, muitas vezes, conhecer pessoas, criar público e trocar informações para algo no futuro também é um retorno importante. Sugiro também, caso seja a primeira tour, escolher lugares e pessoas que você conheça mais, para evitar calotes e roubadas logo de cara.”
[Hits Perdidos] Soube até que quando estiveram na praia, encontraram o Victor da Bratislava, que me contou que estavam debaixo do guarda-sol na “gruta Huey” com a caixinha de som tocando músicas que amam e contrastando com o ambiente tranquilo e paradisíaco praiano (enquanto apreciavam uma boa gelada). É esse o espírito de vocês?
Dane EL: “O nosso espírito é de amizade e companheirismo, adoramos estar juntos e aproveitamos muito quando temos esse tempo de 24 horas podendo viver para o Huey em uma viagem.
São em momentos assim que os laços se fortalecem, novas ideias de músicas aparecem e podemos sentir a verdadeira sensação de cumplicidade. Porque sempre existem perrengues e o modo como lidamos com isso entre a gente sempre é muito leve e divertido.
Estar no palco é nossa maior vontade e realização. Encontrar bandas amigas fora de SP também é uma alegria imensa. Fazemos questão de celebrar todos os momentos que temos juntos e a cerveja com certeza é a sexta integrante da banda.”
[Hits Perdidos] O MA tem saído nas principais listas de melhores do ano de 2018. Com elogios as camadas e toda imersão que o registro proporciona, vi até alguns dizendo que em uma música só vocês tinham riffs suficientes para fazer um álbum inteiro. Como é para vocês ver a recepção tanto da crítica, como do público?
Dane EL: “É hipocrisia quem diz que não liga pra crítica, porque é ótimo saber que aquele riff, melodia ou harmonia, feitos muitas vezes solitariamente e depois somados e divididos com todos da banda, vira algo que emociona outras pessoas. Mas fundamentalmente, fazemos música que gostaríamos de ouvir, sem muita regra ou com base em algo existente.
Ao criarmos um som novo, nunca dissemos “vamos fazer algo parecido com a banda X ou Y”. Claro que todas nossas referências aparecem, mas não de forma direta e racional.
Por sermos uma banda instrumental, tem um certo limite comercial a ser atingido, portanto, é importante e muito prazeroso receber um retorno positivo.
Principalmente do público, porque nosso show reflete o disco, sempre gravamos tudo ao vivo, então, é o registro do que realmente somos. Motiva e nos dá ainda mais vontade de continuar criando. Gostando ou não, nossa verdade está ali e se alguém se identifica com isso, aquece nossos corações.”
[Hits Perdidos] Além do MA, quais outros discos chamaram a atenção de vocês no ano passado? E quais shows puderam ver lá no Nordeste que gostariam de assistir em São Paulo?
Dane EL: “A gente ouve muita coisa diferente e isso é ótimo porque não limita as referências sonoras e nem engessa nossa criação. Falando por cima algumas bandas que estamos ouvindo ou que nunca paramos de escutar posso citar Edgar, Baco Exu do Blues, King Gizzard and the Lizard Wizard, Faith No More, Television, Desalmado, Test, Deftones, Smashing Pumpkins, Napalm Death, Fugazi, Interpol, John Coltrane, Rush, Racionais e até Bob Marley.
Especialmente rodando o Brasil, a gente percebe quão vasta é a gama de bandas excelentes tocando hoje em dia. No nordeste vimos muitas bandas foderosas, como Molho Negro, Ator Morto, Camarones Orquestra Guitarrística, Pense, Cosmo Grão, Heavenless, Mad Grinders, Galactic Gulag e Facada. Tem para todos os gostos, é só sair de casa. É importante o público apoiar indo em shows, divulgando e mantendo viva a chama de quem faz música com a alma.”
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[…] conta com Zema (guitarra, Ralo), Ulisses (vocal, Hümanö/ex-Choldra), Minoru (guitarra, Huey), Guito (bateria, Ralo) e Guilherme (baixo, ex-Fungos Funk), veteranos do cenário de rock […]