Karen Dió volta ao Brasil com show vibrante na Casa Rockambole e consolida nova etapa da carreira
Karen Dió retorna a São Paulo com show na Casa Rockambole. – Foto Por: Rafael Chioccarello (Hits Perdidos)
O reencontro de Karen Dió com o Brasil não poderia ter acontecido de forma mais especial: cercada por amigos de longa data. Foi assim que a artista santista, atualmente radicada no Reino Unido, definiu o momento em cima do palco da Casa Rockambole, durante o show realizado nesta terça-feira (07).
Entre o público, além de amigos dos tempos em que viveu na cidade e construiu sua trajetória ao lado da banda Violet Soda, estavam também familiares — incluindo pais e avós —, que foram carinhosamente celebrados por ela em um dos momentos mais ternos da noite.
A vinda também contemplava a abertura dos shows da turnê do Avenged Sevenfold, porém devido a problemas de saúde envolvendo o vocalista M. Shadows, o grupo adiou a vinda para o país. A nova data do show que terá abertura de Mr. Bungle e A Day To Remember acontecerá no dia 31 de janeiro, no Allianz Parque, em evento organizado pela produtora 30e. Os poucos ingressos remanescentes estão disponíveis no site da Eventim (acesse aqui).
O baterista que acompanha Karen, Jamie Lee Oliver, que além de tocar no power trio de punk rock também integra as bandas U.K. Subs, SNFU, Anti Nowhere League, The Mahones, entre outros projetos, aproveita a passagem pelo país para realizar uma série de 5 shows em 3 cidades (Sorocaba, Campinas e São Paulo) com a banda Fantazmaz — sendo a data paulistana programada para o dia 17/10 no Bay Area Estúdios ao lado da Escombro HC.
“Quando fui para o Reino Unido, houve um período em que dei um passo para trás para descobrir quem eu realmente era. Não se tratava nem de decidir quem eu queria ser, mas sim de abraçar quem eu sou”, relatou Karen, em entrevista a NME.

Minutos antes do show, entre conversas com amigos, vieram à tona lembranças do primeiro material lançado por Karen Dío: o single “Do It”. Memórias que remontam a um período anterior à decisão de seguir carreira no formato banda, ao lado do Violet Soda.
Helder Sampedro, do RockAlt, recordou os tempos em que produzíamos a série de shows Contramão Gig, no extinto Bar da Avareza, na Rua Augusta. Em 2018, tivemos inclusive a oportunidade de realizar um dos primeiros shows da Karen.
Matheus Krempel, do The Bombers, chegou a me confidenciar certa vez o dilema que ela vivia naquele momento: seguir como artista solo ou apostar em uma banda. Na ocasião, ele mesmo não hesitou em opinar — “banda!”.
O restante, como se diz, é história. O Violet Soda cresceu e ganhou projeção. Lembro-me de assistir a uma apresentação em um festival do Largo da Batata e me surpreender com a evolução do grupo — já estavam prontos para voos mais altos. Após quatro anos, o grupo que além da vocalista, contava com Murilo Benites (guitarra), André Dea (bateria) e Tuti AC (baixo) na formação, mesmo em uma crescente… encerrou suas atividades.
Mas a vida tem isso, suas reviravoltas e chances de recomeços. Karen conta que ficou dois anos repensando o que faria. Em 2024 ela retomou a carreira solo com contrato com a gigante do mercado independente, Hopeless Records, e lançou o EP My World, tendo como carro-chefe os singles “Sick Ride” (assista) e “Stupid”.
Neste ano ela esteve presente em um dos festivais mais importantes do rock da Inglaterra, Download Festival, e também teve a oportunidade de acompanhar o Limp Bizkit em sua turnê Loserville que passou por países como Inglaterra, Polônia e Alemanha. Chegando até mesmo a cantar com Fred Durst a música “Break Stuff”.
A respeito desta experiência no show realizado na Casa Rockambole ela lembrou do momento em que escreveu uma música curta para vender seu merch nesta série de shows. Ela em seguida tocou a faixa que assim como clássicos do Descendents, não chegam aos 30 segundos de execução.
O show na Casa Rockambole
Cercada de seguranças, Karen Dió entrou no salão da Casa Rockambole em direção ao palco, no melhor estilo Masked Intruder. Acompanhada de Matt Bigland, que também integra a banda Dinosaur Pile-Up, e Jamie Lee Oliver, após breve introdução fala para os presentes seu rito durante apresentações no exterior. Ela revela que costuma se apresentar para os gringos de forma mais burocrática, mas que aqui ia subverter isso e se apresentar como paulista e corintiana. O que dividiu a plateia entre gritos pró e contra o time da zona leste paulistana.
“Stupid”, um dos singles do EP de estreia, aparece logo no primeiro bloco de canções para esquentar a plateia na noite fria da terça-feira. A apresentação é repleta de rodinhas punks e até mesmo alguns presentes são levantados para o ar. Não é por acaso que o bar restringia a venda de bebidas a latas, segundo eles, pois se tratava de um show de punk rock e tudo poderia acontecer.
Com o público na mão, carisma e presença de palco, Karen parece se divertir durante a apresentação, que durou cerca de 40 minutos. Um dos mais recentes singles, “Cut Your Hair”, que recentemente teve destaque na editoria Novo Rock, do Hits Perdidos, foi uma das faixas que mais levantou a casa. Ela confessa que esperava se apresentar em São Paulo há muito tempo e que reunir amigos de diferentes fases da vida era algo realmente especial. O que aproximou o público que queria interagir a todo momento.
Alguns fãs até mesmo mostrando pôsteres, como da matéria na Kerrang, e querendo chegara ainda mais perto. Com tanta intensidade e calor, alguns itens, como um relógio de pulso e chaves, foram levados até o palco, e a artista, feito uma moça do almoxarifado, ajudava a localizar os donos. Momentos como esse dizem muito sobre o espírito e a energia de troca envolvendo todos os presentes.

Mesmo com poucas músicas no repertório, a dinâmica de escolher elas para o melhor momento, é algo a se destacar. Reservando, por exemplo, covers para a metade do show. “Casual” hit da revelação pop Chappell Roan, que estará no Lollapalooza Brasil, e “I Wanna Be”, da Pitty, entram neste momento.
“A versão original tem esse clima de negação. Eu quis trazer a fase da raiva. Não tem nada mais punk do que drag queens e amor queer”, contou ela sobre a versão para a música da Chappell.
As versões fazem parte da série Artistas para Ficar de Olho 2025, da Amazon Music, porém já estão disponíveis nas demais plataformas de streaming, como ela mesma relembra durante a apresentação.
“A Pitty foi uma das razões pelas quais comecei a me interessar pela música brasileira. ‘I Wanna Be’ pode não ser a mais conhecida dela, mas é poderosa. Lembro de ouvir essa música no meu Walkman aos 13 anos — e ainda amo cada verso.”, relembrou a artista durante o lançamento.
Dessas coincidências da vida, a artista tocou a versão no dia 07/10, em São Paulo, data em que a artista baiana completou 48 anos de vida. Alguém no show relembra o fato e ela sorri ao comentar sobre. Dali para frente o show acelera.
“Do It”, primeira composição a ir para os streamings, emenda com “3AM” em que ela comenta que seria o momento perfeito para abrir a maior roda punk possível na casa. De fato, a intensidade que lembra grupos de hardcore punk californianos da década de 80, como Black Flag e Circle Jerks, evoca uma explosão no público com direito a uma roda furiosa ao longo dos seus pouco menos de 50 segundos que a música ao vivo tem de duração.
A música escolhida para encerrar a apresentação foi justamente “Sick Ride” com direito a duas execuções, segundo ela: “porque foda-se”. Na segunda vez que toca, se empolga e pula no público que ergue Dió. Em seu retorno ao palco encerra a apresentação e o DJ coloca para tocar “We Like To Party! (The Vengabus)” dos Vengaboys, o público abraça a brincadeira e começa a dançar (assista).

Setlist: Karen Dió em São Paulo
Intro
Stupid
Cut Your Hair
So Funny
Poor Man
I Hope You Know It’s Not Me
Bexy
Casual (Chappell Roan cover)
I Wanna Be (Pitty cover)
Buy My Merch
Do It
3am
Sick Ride
Sick Ride