MITA Festival: Rüfüs du Sol transforma festival em pista de dança, Tom Misch impressiona, Gilberto Gil, Xênia França e Luedji Luna mostram o poder da música baiana no primeiro dia
Xênia França durante apresentação no MITA Festival – Foto Por: Beatriz Paulussen (@beaplssn)
Com proposta de apresentar novos nomes da música brasileira e ainda trazer grandes artistas da música internacional, o MITA Festival realizou sua primeira edição neste fim de semana em São Paulo. O evento para cerca de 20.000 pessoas por dia aconteceu na Spark Arena, localizada nas proximidades do metrô Jaguaré, na zona oeste da capital paulista.
No sábado, primeiro dia do festival, o evento reuniu Day convida Lucas Silveira, Xênia França, Black Alien, Luedji Luna, Marina Sena, Gilberto Gil in Concert, Tom Misch e Rüfüs du Sol. Tendo seu início no Palco Deezer, às 12:45h, com Day e encerramento com o Rüfüs du Sol por volta das 23h. Os australianos ainda se apresentariam um DJ Set no after oficial do evento a poucos metros ali no espaço ARCA.
“Nossa ideia com o MITA foi mostrar como a música é realmente uma linguagem universal, atingindo diferentes públicos e estimulando uma união entre gerações e grupos. Temos nomes muito consagrados com artistas jovens, que despontaram durante a pandemia.
Aliás – esse próprio período em que ficamos sem nos encontrar presencialmente mostrou que a música vai sempre encontrar seu caminho para atingir as pessoas. Muitos dos nomes que estarão nos palcos do MITA formaram suas audiências nas plataformas de streaming e tornaram a interação possível nas redes sociais.
Quisemos também ter essa mistura de ritmos – porque a música é plural e o mundo é diverso.”, frisa Luiz Guilherme Niemeyer, sócio da Bonus Track sobre a curadoria em entrevista exclusiva para o Hits Perdidos
Com proposta de ser um festival que acontece ao longo do dia, para facilitar na volta para a casa e melhorar a experiência para o público, o MITA Festival contou com uma série de acertos por parte da organização. Os shows todos foram bastante pontuais, os banheiros possuíam sabão, torneiras e pia (de verdade), os dois palcos principais eram relativamente perto e a experiência de conseguir assistir tranquilamente a todos os show é um grande gol de placa dos organizadores.
O acesso ao evento é relativamente fácil pelo metrô ou ônibus embora a falta de sinalização na saída do metrô tenha atrapalhado um pouco os que não conheciam a nova arena. Entre os erros, o festival contou com preços elevados para comidas e bebidas, o que para quem precisa almoçar e jantar para acompanhar os shows deixava a experiência bastante salgada.
Em comparação ao segundo dia, o primeiro foi um pouco mais vazio, tendo maior presença de público a partir das 17:30h. Confira a resenha completa sobre o que de melhor rolou no MITA Festival em resenha no Hits Perdidos.
Leia também a resenha do Segundo dia de Festival
Day convida Lucas Silveira
Representando o novo pop, e porque não dizer o emo nacional, a cantora Day Limns, teve a responsabilidade de fazer o primeiro show da história do MITA Festival, inclusive ela até apresentou o espaço no instagram poucos dias antes do evento. Com carreira musical ainda no começo a artista teve como carro-chefe apresentar as canções do seu primeiro álbum de estúdio, Bem-Vindo Ao Clube e até mesmo por isso a apresentação teve espaço para surpresas. A banda base ainda conta com Gee Rocha, guitarrista do NX Zero, e isso deu a canja para que durante o set rolasse uma música do grupo paulista.
A jovem artista durante a apresentação chamou ao palco Lucas Silveira, da Fresno, para além de tocar a música em parceria presente no disco, “Isso Não é Amor” pela primeira vez ao vivo, ainda fizesse um cover inesperado de “Helena”, apenas dois dias após o My Chemical Romance apresentar o single da volta (“The Foundations of Decay“). O público, claro, foi ao delírio.
Day (@daylimns), Lucas Silveira (@lucasfresno) e Gee Rocha (@geerocha) tocando “Helena” do My Chemical Romance (@MCRofficial) na semana da volta da banda.
Ao vivo no @mitafestival pic.twitter.com/26QQv31mM9
— Hits Perdidos (@HitsPerdidos) May 14, 2022
Além de “Geminiana”, “Jurei que não ia falar de amor”, “Clube dos Sonhos Frustrados” e “Fugitivos”, o setlist ainda teve espaço para outro cover, “Na Sua Estante” da roqueira baiana Pitty.
Xênia França
Uma das representantes da sempre fortíssima cena de MPB da Bahia, Xênia França, natural de Candeias, fez um show pautado em sua estreia Xênia (2017), e de seu novo trabalho, “Em Nome da Estrela”, que no dia 3 de junho ganhará a luz do dia. Bastante carismática, ela mostra a potência da sua voz e em falas politizadas reflete sobre o papel na sociedade e o momento político de fazer arte.
O show ainda reservou espaço para uma versão de “Magia” de Djavan com projeção do mostre Letieres Leite, uma das duras perdas da música brasileira para a COVID-19 em momento emblemático na tarde de sábado.
Black Alien
Gustavo de Almeida Ribeiro, o Black Alien, está escalado para os principais festivais brasileiros em 2022 e com muitos méritos. Mr. Niterói continua colhendo os frutos de Abaixo de Zero: Hello Hell (2019) que não pode colher os frutos na época por conta da pandemia. Por aqui, inclusive, entrou em primeiro lugar na lista de 50 Melhores Álbuns Nacionais de 2019.
O repertório além do disco que narra sua trajetória de largar o vício de forma bastante intensa, e no qual tem a produção e beats de Papatinho, conta com faixas de Babylon By Gus Vol. 1: O Ano do Macaco (2004). Até por isso o telão apenas indica o nome do músico e atrás dele as pick-ups tem a companhia do DJ que em certo momento até improvisa no freestyle para mostrar sua habilidade nas turntables.
A primeira parte do show começa com tudo com “Área 51” seguida de “Chuck Berry”, a balada “Vai Baby” e um dos pontos mais altos do disco “Carta pra Amy”, primeira a ficar pronta de todo o material. Após isso ele mistura canções dos dois discos, destaques para “Babylon by Gus” e a sequência “Au Revoir” e “Como eu te quero”, momento que se o show tivesse acontecido durante a noite seria o de ligar a luz do celular.
Já no trecho final “Aniversário de Sobriedade” dá o tom para a subida do show que ainda conta com a novíssima “Pique Peaky Blinders“, que ganho um clipe todo tarantinesco, “Jamais Serão” no qual ele fez um manifesto anti-Bolsonaro e a excelente escolha para fechar o set com “Que nem o meu cachorro”.
Luedji Luna
De Salvador, Luedji Luna subiu no palco principal do MITA Festival para apresentar essencialmente em seu repertório o ótimo Bom Mesmo é Estar Debaixo D’Água (2020), tocado praticamente na sequência, com uma ou outra mudando. Além disso, no fim do show ela reservou espaço para duas canções de Um Corpo no Mundo (2017), “Dentro Ali” e “Um Banho de Folhas”.
Ao fundo o show ainda contou com o excelente álbum visual que foi lançado em conjunto com o disco, deixando a experiência ainda mais imersiva. A artista ainda deixou claro em diversos momentos o cunho político de suas músicas e não deixou de manifestas suas ideias e valores por trás de sua arte. Vale destacar a performance da banda que transforma todo o ritual como se estivéssemos em um palco de arena.
Marina Sena
O fenômeno de Taiobeiras, interior de Minas Gerais, Marina Sena tem sido escalada para os principais festivais brasileiros durante a retomada das atividades e ainda tem tido que lidar com a diferença entre realizar um show solo e a missão de ter que conquistar públicos que não foram lá exatamente para assistí-la.
Fenômeno no Tiktok e destaque durante a pandemia com o disco De Primeira, ela ainda tenta fugir de ser marcada pelo peso do hit “Por Supuesto”. Para isso ela traz dançarinas e faz dancinhas que poderiam virar coreografias para a rede social chinesa, conta histórias antes das músicas e por diversas vezes performa no palco várias poses “instagramáveis”.
Entre os destaques fica para a coreografada, e chiclete, “Me Toca” e “Tamborim” que também aposta no duplo sentido. Para quebrar um pouco o ritmo de show pop, ela dispensa parte da banda e acompanhada de um violão canta “Apenas Um Neném” com direito a versos melosos. Algo que já tinha acontecido recentemente durante apresentação no festival Rock The Mountain.
Marina Sena (@amarinasena) na edição do MITA Festival (@mitafestival) de São Paulo.
Neste fim de semana tem mais no Rio de Janeiro.
Leia a resenha completa do primeiro dia do festival: https://t.co/SCA2LCYgOa pic.twitter.com/ntdNybgqAg
— Hits Perdidos (@HitsPerdidos) May 19, 2022
Após isso ela abre a sequência final com destaques para seu maior hit, este sim o momento em que o público ligado nas redes sociais mais se exalta, “Ombrim” que ela mesmo conta das dificuldades de ter banda – fazendo um mini desabafo sobre os bastidores da Rosa Neon – e “Pelejei” com direito a um final extendido.
Gilberto Gil in Concert
Poder assistir Gilberto Gil após a pandemia é um sinal de esperança para muitos que amam a trajetória de um dos maiores música da história da música brasileira, o baiano que em breve completa 80 anos, superou momentos difíceis com a saúde debilitada e para o palco do MITA Festival traz parte da sua família. Bem Gil toca guitarra e Flor acompanhou o vocal de algumas canções, a mãe, Bela Gil até dança com ela já no fim do show.
Na plateia, inclusive, o show reuniu artistas como Sérgio Marrone e a atriz Alessandra Negrini na área VIP. Ao todo o repertório do show conta com 20 canções e hits não faltam. “Expresso 2222”, abre o show, “Panis Et Circenses” (Caetano Veloso, Os Mutantes e Tom Zé), é dedicada a Caetano, “Aquele Abraço”, “Stir It Up” (Bob Marley) e uma versão belíssima de “Tempo Rei” deixam o show ainda mais contagiante em uma apresentação com clima de reunião em família para fechar a tarde de domingo. No bis, Gil separou para tocar “Madalena” e “Toda Menina Baiana”.
Tom Misch
Thomas Abraham Misch, ou apenas Tom Misch, é um músico e produtor inglês que começou lançar músicas no SoundCloud ainda em 2012. Seu primeiro álbum de estúdio Geography foi lançado em 2018, sendo um fenômeno meteórico que lhe rendeu bons frutos como, antes disso ele já havia lançado duas Beat Tapes.
Seu som mistura hip-hop, disco e jazz, o que permite parcerias com músicos do mais alto nível com Yussef Dayes no incrível What Kinda Music, lançado em 2020, e também parceria com o saxofonista que pode trazer junto para o palco do MITA Festival. Ainda durante a pandemia lançou uma Quarantine Sessions na qual Marcos Valle contribui em “Parabéns”, o que o conectou ainda mais com o Brasil.
O repertório permeia os lançamentos citados acima e ainda traz uma excelente surpresa que o é cover para “Money” do grandioso Michael Kiwanuka. Destaques para “Tidal Wave”, “Lost In Paris”, “Losing My Way” e “Nightrider”. Confira o setlist completo clicando aqui.
Rüfüs du Sol
Quem teve o papel de fechar o primeiro dia de MITA Festival foram os australianos do Rüfüs du Sol com sua capacidade incrível de transformar o palco em uma noite que vai do eletrônico mais obscuro oitentista ao pop soturno para as pistas. A apresentação do trio formado por Tyrone Lindqvist, Jon George e James Hunt é a segunda no país, a primeira havia sido no Lollapalooza de 2019.
Com shows de luzes, flashes e com foco sensorial, a apresentação conta com três plataformas onde os músicos com excessão do vocalista ficam focados em seus teclados, percussão e pads colocando efeitos e dosando a energia da grande pista de dançar que vira a Spark Arena.
No repertório, o grupo focou nos álbuns Surrender (2021) e em seu registro mais conhecido do público, o disco Bloom (2016). A atitude rock e performática lembra até a de uma banda de rock em alguns momentos ficando entre a atitude soturna do Kraftwerk e a pose do Depeche Mode. Um projeto de música eletrônica pensado para grandes arenas. Quem ficou por lá após o MITA Festival pôde ainda curtir um after com DJ Set da banda.