Flertando com o blues, Stone House On Fire apresenta o disco “Time Is A Razor”
Após o lançamento do disco Neverending Cycle que levou a Stone House On Fire, de Volta Redonda (RJ), o quarteto apresenta Time Is A Razor. O material que carrega influências de grandes nomes do blues e do jazz se soma aos vocais ásperos e os riffs tortos dos fluminenses em um disco bastante distinto do anterior.
Além de referências de Cream, Os Mutantes, Blue Cheer, Hendrix e de nomes mais modernos como Graveyard, The Flying Eyes, Dead Meadow, eles trazem para o corpo do novo registro referências de clássicos como Howlin Wolf, Elmore James e Albert King.
Se Neverending Cycle tinha um conceito mais fechado em uma história com começo, meio e fim, em Time Is A Razor as faixas tem órbita própria e em entrevista exclusiva para o Hits Perdidos eles afirmam que todo o peso do mundo nos últimos anos acabou eclodindo no destempero, raiva e sentimentos catalisados ao longo das suas 6 faixas. O single “Waterfall”, inclusive, deve ganhar um videoclipe psicodélico e experimental nos próximos dias.
Entrevista: Stone House On Fire
Conversamos com o baterista André Leal para saber mais detalhes sobre o disco Time Is Razor.
6 anos depois do último lançamento, como enxergam os frutos do trabalho? Aliás com o Neverending Cycle vocês puderam realizar uma extensa turnê pela Europa através das parcerias com selos, contem como foi o balanço da experiência e qual país mais marcou durante a passagem (seja por recepção, empolgação com shows, interesse pela banda, história engraçada, etc….)?
André Leal (Stone House On Fire): “O Neverending Cycle sem sombra de dúvidas foi um divisor de águas pra gente, foi um disco que abriu muitas portas e fez a gente conhecer várias bandas fodas, conquistar muitas amizades tanto pelo Brasil quanto pelo mundo, foi a época em que a gente fez mais turnês e conseguiu fazer nosso som chegar pra tantas pessoas novas. Então o balanço com certeza foi muito positivo.
O Time Is A Razor era pra ter ficado pronto antes desses 6 anos, em 2019 já estávamos encaminhando o disco e com muitos planos para 2020, mas nesse período pandêmico paramos tudo e bateu um desânimo que deixamos o disco parado pelo menos um ano, porque a princípio não queríamos lançar nessa época, mas ano passado resolvemos tomar as rédeas do disco novamente, finalizar e lançar com ou sem pandemia.
Pra tirar história engraçada da gente é muito fácil, mas vai ter que reunir os quatro numa roda pro papo, porque cada um vai lembrando de pequenos detalhes que vão construindo toda a história, a memória dos quatro juntos é muito importante pra isso (risos).”
Falando em sonoridade, no último vocês foram atrás de inspirações no oriente, desta vez vocês somaram o stoner ao blues. Como foi o processo, as referências que buscaram e a definição das temáticas?
André Leal (Stone House On Fire): “A gente é bem inquieto em relação a isso, e ouve muita coisa diferente, cada um traz alguma referência de coisa que tá escutando, de tudo que é estilo, então vai virando aquele caldeirão de influências até chegarmos num ponto em que tá todo mundo curtindo.
Nesse disco em específico, dentro do rock a gente tava ouvindo muita coisa do início dos anos 70, muito power trio e eu e Kleber particularmente estávamos ouvindo bastante blues, coisas como Howlin Wolf, Elmore James, Albert King, etc, coisa que a gente já ouvia e tinha sido referência em outras fases da banda, mas pela primeira vez tendo esse protagonismo na sonoridade.
Outro ponto em comum que todos pira bastante é a música latina, então por mais que não seja tão escancarada, a gente sempre sente que tem uma latinidade, um swing, um balanço nas músicas que acaba incorporado quase que naturalmente. Pra chegar no resultado final do disco, não foi um processo tão fácil, nem rápido (muito pelo contrário, risos) e a gente passou bastante tempo lapidando riffs, grooves, jogando música praticamente pronta no lixo, pegando idéias de um lado e juntando com outro completamente diferente, enfim, acabou sendo um processo que levou mais tempo do que a gente gostaria, mas ficamos satisfeitos demais com o que surgiu disso tudo.”
Falando em temática, o disco tem um storytelling definido? Sobre o que as composições refletem?
André Leal (Stone House On Fire): “Ao contrário do disco anterior, que era uma experiência mais conceitual, com as temáticas se interligando através de um tema comum, dessa vez a gente foi por um caminho em que cada som é um universo próprio, cada um é uma experiência diferente. As composições apesar de não serem tão literais são muito mais baseadas em momentos atuais e absurdos que beiram o ridículo com o que a gente é obrigado a conviver todos os dias, com aquela pitada amarga de ceticismo, desesperança, caos, aquela sensação iminente do inevitável.”
O material conta com as Marian Sarine (Deaf Kids/Sarine/Felinto) e Leandro Tolentino (Amplexos) nas percussões. Como foi a definição para adicionar os elementos e como acreditam que o disco soará nos palcos?
André Leal (Stone House On Fire): “Primeiro de tudo é porque além de amigos, são músicos que a gente admira e toparam chegar juntos com ideias, tanto que a gente só mostrou os sons e falou: faz o que você quiser, na base da confiança de que agregariam demais, e foi o que aconteceu. Esses elementos de “estúdio”, vamos chamar assim, geralmente a gente já consegue visualizar, às vezes até ouvir no fundo da cabeça enquanto tá tocando, sabe?
Parece tão natural, que mesmo antes de gravados a gente já ouvia aquilo. O dois tocaram percussões na “Waterfall”, que é uma música que é praticamente um transe, um mantra caótico, onde tudo acontece praticamente em torno de um loop que a cada vez que se repete te leva pra um caminho diferente, são momentos de músicas em que você pode se perder e se deixar levar, ficar envolto naquele ciclo e é uma característica da banda que a gente conseguiu explorar bastante nesse disco, esses momentos de libertação, de se deixar levar pelo momento, com o clima, com abertura pra viajar sem saber se vai voltar.
Esse disco, por ter esses momentos, como momentos de energia, de cadência, de improviso e imprevisibilidade, deixa a gente bastante animado pra tocar ao vivo e fazer de cada show uma experiência particular, única. A gente sempre tenta levar aos shows o máximo dos elementos sempre que possível (dentro dos limites do que cabe no carro, risos), então é isso que a gente busca.”
Num cenário de incertezas, como acreditam que o disco pode ressoar para o ouvinte?
André Leal (Stone House On Fire): “Nesse momento tenebroso que a gente tem vivido, se o disco trouxer um bom momento, uma boa memória, um sentimento bom pra qualquer pessoa que ouvir, a gente já fica se sentindo realizado.”