Beaufort enfrenta os próprios demônios em clipe para “Sísmico”
Uma nova banda para conhecer é a Beaufort que em sua formação conta com Zema (guitarra, Ralo), Ulisses (vocal, Hümanö/ex-Choldra), Minoru (guitarra, Huey), Guito (bateria, Ralo) e Guilherme (baixo, ex-Fungos Funk), veteranos do cenário de rock alternativo paulista.
A ideia para lançar a banda veio ainda no ano passado sob um cenário onde era praticamente impossível prever qualquer tipo de pandemia.
“Queria buscar coisas novas, uma sonoridade mais focada nas guitarras e nos vocais, para que pudéssemos transmitir uma mensagem por meio das letras”, conta Zema
O nome Beaufort vem justamente da canção de mesmo nome de uma das influências do grupo, o He Is A Legend; banda de post-hardcore/southern rock da Carolina do Norte. Além do Post-Hardcore, o Grunge, o Metalcore, referências acumuladas na bagagem de uma vida toda e outros estilos acabam entrando na panela.
O primeiro álbum reunirá 13 canções dos primeiros dias da banda e passará por temas do nosso cotidiano – e aflorados durante a pandemia – como a ansiedade, o stress, a depressão, a meritocracia e a frieza de São Paulo.
Beaufort “Sísmico”
“O single, “Sísmico”, fala sobre os problemas mais comuns na sociedade atual que são depressão, crises de ansiedade e síndrome do pânico.
Com a vida pré-pandemia já sofríamos desses males, e com o isolamento social, crise econômica gerando milhões de desempregos e dívidas, os cuidados com a saúde mental precisam se intensificar.”, conta Ulisses em entrevista exclusiva para o Hits Perdidos
A luta contra as doenças que afetam o nosso psicológico ganham uma fresta de luz na faixa que passa uma mensagem empática e encorajadora. Mostrando como as subidas e quedas fazem parte do processo de levantar a cabeça. Passando pelas noites mal dormidas, o peso dos pensamentos e as dores físicas.
O Videoclipe
O videoclipe foi gravado durante a quarentena do COVID-19 em maio de 2020, com seus integrantes gravando suas partes separadamente atendendo às regras de distanciamento social como Ulisses conta na entrevista.
A produção ganhou filtros vermelhos e brancos para mostrar os conflitos entre as luzes, ilustrando a esperança, e as trevas, refletindo os demônios internos. Segundo a própria Beaufort o fato deles trabalharem com edição de vídeos facilitou bastante com que chegassem no resultado final.
Entrevista: Beaufort
Conversamos com o Ulisses para saber mais sobre o que esperar do álbum de estreia da Beaufort.
Gostaria que contassem um pouco sobre como surgiu a ideia e como foram se estabelecendo as conexões para a formação do projeto.
Ulisses: “A ideia partiu do Zema, um dos nossos guitarristas que também toca no Ralo, banda de rock instrumental. Ele compôs as músicas pensando num formato com voz.
Pra isso chamou o Guito, também baterista do Ralo, e compuseram 8 músicas. Com elas prontas, me convidaram. Eu já era fã do Ralo e do Zema, assim como sou amigo do Guito desde o começo dos anos 2000 de quando eu era vocalista no Choldra.
O Convite
Antes de ouvir os sons, eu já tinha aceitado o convite. Quando ouvi as composições pirei mais ainda e, assim, passei a me encontrar com o Zema semanalmente para construirmos as melodias de voz. Às vezes eu chegava com ideias prontas, outras sem nada e criávamos juntos as linhas de voz.
Após isso passei a escrever as letras e nesse meio tempo convidamos outros dois amigos de longa data, Gui Steiner (Fungos Funk) e o Minoru (Huey). Das 8 músicas que tínhamos, com a entrada do Gui e do Minoru, o gás aumentou, a sinergia só cresceu e em pouco tempo já tínhamos 15 músicas. Foi tudo pensado, mas o melhor de tudo é que organicamente ou musicalmente tudo vem se encaixando de forma muito positiva e leve.”
Quais são as referências? Por aqui particularmente senti um pouco de metalcore e post-hardcore mas gostaria de saber por parte de vocês o que podemos esperar do disco.
Ulisses: “São inúmeras, pois vivemos dentro da música há pelo menos 25 anos na média, mas acho que você apontou estilos que ouvimos muito além de bandas clássicas do grunge. Bandas como He is Legend, Norma Jean, Deftones, Alice in Chains, Junius entre várias outras. Esse disco tem muito da atmosfera dessas bandas que amamos e que naturalmente apareceram nas composições.”
A canção tem esse tom de falar sobre o isolamento e a busca pelo autoconhecimento. Como tem sido para vocês este momento
Ulisses: Pois é, vínhamos a mil por hora, produzindo muito com intuito de lançarmos o álbum no meio desse ano. Então, eis que surge a pior pandemia dos últimos 100 anos. Por sorte, 90% das músicas já estavam prontas, então estamos gravando literalmente separados de forma bem mais devagar do que gostaríamos. Apesar que considero 2020 um ano morto no que diz respeito à shows e festivais.
Portanto, pensamos em lançar o disco no começo de 2021 torcendo para que a pandemia esteja controlada. O single, “Sísmico”, fala sobre os problemas mais comuns na sociedade atual que são depressão, crises de ansiedade e síndrome do pânico.
Com a vida pré-pandemia já sofríamos desses males, e com o isolamento social, crise econômica gerando milhões de desempregos e dívidas, os cuidados com a saúde mental precisam se intensificar e, como um ser humano comum passei e passo por vários desses problemas, assim a letra dessa música foi mais expelida do que realmente pensada. Não devemos menosprezar nossa saúde mental, principalmente agora com todos esses desafios impostos pela pandemia.”
O clipe inclusive me lembrou um pouco a estética do Deftones. Como foi o processo de cada um gravar de um canto? Foi um desafio na hora de editar para criar esse clima de unidade?
Ulisses: “Sim, Deftones é uma referência estética forte, pois é uma banda que a gente praticamente respira do tanto que ela marca nossas vidas, porém tivemos que usar da criatividade para conseguirmos um resultado que curtíssemos e que respeitasse as regras de isolamento social.
Assim, há imagens gravadas no Gotan Studio onde o Zema, o Guito e o Gui gravaram em dias separados. O Minoru mora em Ilhabela e trabalha em São Paulo, porém nesse período ele está permanentemente na ilha, então ele captou suas próprias imagens.
No meu caso, liguei pro Gui e disse, vamos fazer uma missão de guerra, você cola aqui, com álcool gel até no cabelo (risos), máscara, descalço e filmamos na minha própria sala de casa. Deu super certo! Acho que não foi um desafio tão grande pois 90% da banda trabalha com produção de vídeos, então eles planejaram bem tudo antes de colocar a mão na massa.”
Por quais outros temas o disco abordará? Como veem esse período da humanidade em que estamos vivendo?
Ulisses: “Eu estava curioso comigo mesmo pra saber como sairiam as letras desse disco, pois não escrevia há anos. Cheguei a buscar referências em meus “pergaminhos” de quase vinte anos atrás que tenho guardado. Separei algumas coisas, mas na hora de escrever saiu tudo novo. O ponto positivo do isolamento foi que me deixou mais reflexivo do que já sou e ajudou muito para escrever as letras. Falaremos de recomeços, de viver o agora, sobre a falácia da meritocracia, a frieza de São Paulo, sobre amores e outros sentimentos pós-pandemia.
Creio que as pessoas estão atônitas com tudo que está acontecendo. Um avião que cai e mata 100 pessoas é uma tragédia, mas em poucos meses quase 80 mil brasileiros já morreram, milhões infectados e parece que não há a mesma comoção. É um período muito triste pra humanidade, pesado, desgovernado politicamente, e realmente é difícil tirar algo positivo.
Porém, precisamos nos esforçar pra isso, a humanidade precisa se reinventar. A pandemia escancarou isso. Como disse Foucalt, precisamos eliminar o fascismo da nossa vida cotidiana desde os sentimentos mais preconceituosos até os mais amenos, se é que isso existe, pra uma vida de mais empatia, respeito e amor. O egoísmo globalizado do modelo econômico mundial vem se mostrando ineficaz há tempos e mais ainda durante esta pandemia.”
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