Sem limites para as curvas do som. Seria uma ótima forma de definir a cozinha sonora que a BAGUM vem apresentando ao longo dos seus quatro anos de existência. De Salvador (BA), o trio composto por Pedro Leonelli, Gabriel Burgos e Pedro Tourinho experimenta a cada lançamento com personalidade. Tanto é que se você ouve um dos quatro registros lançados até aqui notará que o som deles não permite barreiras.
Leve, pulsante e expressivo, o som não se define completamente por rótulos e abraça de fato a música instrumental, o jazz, o funk, o soul e até mesmo o progressivo. Jazz Fusion talvez seja o termo mais próximo se tivéssemos que rotular. Fato é que se você gosta de Mahmed, Taco de Golfe e Sick provavelmente irá gostar da viagem sonora.
A nostalgia serve de embalo para o novo EP, Vento (2020), produzido por Diego Santos, recria imagens que passam pelo universo dos sonhos e das boas memórias. O encontro produtor com experiência em música eletrônica acabou por sua vez dialogando com a veia jazzística dos baianos.
A gravação do EP aconteceu pela primeira vez de maneira caseira o que ajudou a aprimorar técnica, digerir o processo, testar efeitos, mixagens e redescobrir para onde o som do trio poderia caminhar. Um processo bastante imersivo e satisfatório como eles mesmo relatam em entrevista exclusiva para o Hits Perdidos.
As gravações de baixo e bateria com Tiago Simões (amigo e criador do Cremenow Studio) foram seguidas de muitas outras sessões de overdubs, edições, mixagem e masterização em home studio como eles mesmo relatam sobre o processo. A capa é assinada por Milena Abreu e Vic Zacconi.
A ilha de Bom Jesus dos Passos, na Baía de Todos os Santos, é um lugar de afetividade e cenário criativo da BAGUM. E até por isso o videoclipe que engloba as três faixas do EP, acaba fazendo parte da narrativa. Mas isso eles contarão mais na entrevista.
“Rito de Passagem” como eles mesmo chegam a citar se aproxima de um jazz atmosférico e as curvas das linhas de baixo ganham a combustão da bateria ritmada.
O cenário ainda vai ganhando ondas no imaginário do ouvinte e a sensação de conforto é captada pelas linhas suaves das guitarras. A canção vai progredindo e elevando o ânimo do ouvinte que acaba de chegar a uma ilha deserta e relembra da vida em câmera lenta.
“Quintal” já acelera a frequência mas sem perder o compasso traz uma sensação de leveza e contemplação da bela vista do horizonte ao seu redor. Suas camadas chamam a atenção conforme os elementos vão adentrando e assim como o som da Kalouv te transporta facilmente para uma fase de videogame de campo aberto.
Quem fecha o registro de pouco mais de 8 minutos é “Grauçá” e se aproxima do matemático e progressivo math rock em sua construção, mas claro, sem deixar o jazz de lado. O baixo duela com a guitarra e a bateria tem a função de conduzir a orquestra.
Conversamos com o trio de Salvador (BA) para saber mais detalhes sobre o EP, sonoridade, influências e plasticidade sonora.
BAGUM: “O nome BAGUM surgiu como uma adaptação de “bagunça”, bem no começo do projeto quando a gente decidiu escolher um nome pra representar as primeiras composições e quem tava fazendo. Tem essas semelhanças com bagulho, bagunço, bagunça e a gente considera também as assimilações.
Acredito que hoje o nome BAGUM também representa mais essa mecânica nossa de adaptar o já feito/existente ao nosso gosto e nossa forma de expressão, que acaba criando o espaço pro novo. (Gabriel Burgos, baterista).”
BAGUM: “Essa questão da classificação sempre foi complexa pra nós, mas entendemos a importância disso pra acessibilidade do nosso trabalho. A gente acabou abraçando o jazz pra assumir esse papel de gênero principal da banda, mas tem algumas ressalvas necessárias: quando se fala de jazz, uma série de coisas vêm à cabeça das pessoas e algumas delas não são adequadas à BAGUM.
Nós não explicitamos um domínio teórico e virtuosidade instrumental que são características comumente atribuídas aos grupos instrumentais desse gênero. Não somos uma banda de improviso sobre acorde e dificilmente ouve-se solos extensos de um instrumento nas nossas músicas.
O que nos identifica com o jazz é principalmente a liberdade harmônica, melódica e rítmica e os timbres que usamos geralmente. Esses são dois dos principais pilares do nosso som.
No nosso processo criativo essa questão da liberdade é muito forte. O que guia o processo é muito mais o momento, o encontro das nossas sensações ali e nossa expressão delas através dos nossos instrumentos. Cada um traz também outras referências de outros gêneros que acabam marcando o som, mas não é isso que guia o encontro, é o coletivo.
Tem um tom de improviso muito forte sempre, diferente do improviso clássico do jazz, mas muito claro também. É dessa espontaneidade momentânea que surgem nossas composições e acreditamos que isso que faz com que muitas pessoas (inclusive nós mesmos) identifiquem a BAGUM como uma banda de jazz.” (Pedro Leonelli, Guitarrista)
BAGUM: “Sants, que produziu o EP com a gente, foi fundamental pra todas as etapas de produção das músicas, pela sua experiência em gravação, características criativas e também por ter abraçado a ideia de colar num esquema mais precário, junto com Tiago Simões, do Cremenow Estúdio.
Produzir o EP em casa em várias sessões, explorando dois microfones numa bateria com bumbo, caixa, hihat e ride, gravando as cordas em linha, lidando com ruídos, testando efeitos, fez com a gente aprendesse durante o processo. No caso, aprendesse e compreendesse que era um processo de gravação caseira, e que o resultado seria de uma gravação caseira.
Isso fez com que a chegada nas versões finais dos sons fosse mais que satisfatória, justamente por esse lance da gente não ter tido uma referência em mente ao ter começado, mas que no final teve um fruto com uma cara muito singular e com os temas mais “fechados”, seja pelo desenvolvimento e estética da gravação, ou por conseguir identificar nossas características individuais, da BAGUM e de sants em cada faixa.” (Gabriel Burgos, Baterista)
BAGUM: “Uma parte muito significativa de “Vento” é o curta, que saiu no youtube semana passada. As imagens foram todas feitas na Ilha de Bom Jesus dos Passos, que fica na Baía de Todos os Santos.
Gabriel tem família lá, desde o início da banda nós três passamos algumas temporadas lá juntos e isso fez com que criássemos uma relação afetiva muito forte com o lugar. Significa muito pra a gente enquanto grupo. Essa afetividade coletiva foi ficando cada vez mais intensa e perceptível, ao ponto em que, no meio da produção das músicas, percebemos que fazia todo sentido incluirmos Bom Jesus no resultado final.
Como já rolava a ideia de fazermos um trabalho visual que permeasse todo o EP, as coisas acabaram se encaixando. Aí é que entram os principais responsáveis por essa obra linda que é o curta, Milena Abreu e Alan dos Anjos.
Foram eles que nos escutaram e, com toda paciência, disposição e profissionalismo do mundo, nos ajudaram, trazendo ideias estéticas e fizeram a produção real do vídeo, contanto também com colaboração Vic Zacconi, que é quem assina o design e a capa junto a eles. Colamos nós três, Sants e eles dois na Ilha e durante cinco dias fizemos todas as imagens.
Vento (o vídeo) traz muitas texturas, imagens que trazem uma dimensão pouco usual mas muito sensorial. É um senso particular de mar, de vivência tropical, que se comunica através de coisas simples. Não esconde sua simplicidade e ao mesmo tempo não limita sua beleza. É a melhor tradução visual que poderíamos ter para nossas três músicas, somos muito gratos a Milena e Alan por isso.” (Pedro Tourinho, Baixista)
This post was published on 3 de julho de 2020 1:56 pm
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Essa banda Bagum é uma das boas surpresas da música baiana. Som de qualidade. Muito bom.