Em fase ainda mais cintilante, Oxy viaja pelas ondas do shoegaze no single “PRWG”

A Oxy é de Brasília mas poderia ser de Toronto, Melbourne ou até mesmo do Texas. Sua conectividade com o cenário alternativo global, e nível das produções, sempre me deixa pensativo em relação ao possível hype que poderiam ter. Tanto é que se você colocar eles em uma playlist ao lado de bandas como Protomartyr, Phantogram, Chromatics, Cigarettes After Sex, Fazerdaze o som deles encaixa na playlist com certa facilidade.

O álbum de estréia da Oxy

Em 2018 eles lançaram FITA (leia mais) que inclusive entrou no Top 5 entre nossos 50 Melhores do Ano (Confira). Na época definimos o debut como:

“O primeiro álbum da Oxy de Brasília (DF) viaja por diferentes frequências para nos mostrar o quanto estamos conectados e interligados com o universo a nossa volta. É um disco sensorial, sentimental e reverberante.

Sem pretensão de soar original ou revolucionário, o registro faz um passeio por distintos universos. Do Dream Pop ao New Wave, passando pelo rock psicodélico e estendendo o tapete para as pistas de dança. Com diferentes narrativas ao longo das 10 “fitas”, ele busca viajar pelos sentimentos mais profundos e confissões. Tudo isso através de melodias que flutuam entre o pop e o alternativo.

Um bom disco para ouvir enquanto lê um artigo sobre o mundo pós-apocalíptico, pois o universo futurista dos anos 80 tem espaço dentro de sua narrativa.”

A Nostalgia e o Universo dos Filmes

Feito uma fita a estreia rebobina memórias e isso acabou se firmando até mesmo na identidade do grupo. O primeiro single do segundo disco, Don’t You Think The Air Is STUFFY?”, tem como fio condutor o sentimento de nostalgia mas tem inspiração em até mesmo no universo dos animes. Parte disso tem a ver com a pesquisa de Blandu por bandas de shoegaze do Japão. 


Oxy prepara disco de inéditas para 2020. – Foto: Divulgação

Premiere: O single “PRWG”

Nesta segunda-feira (16) a Oxy lança seu primeiro single no ano. Este que é o segundo que estará presente no novo disco que ainda não tem nome nem data de lançamento revelados.

A veia política e o momento global

“PRWG” é uma sigla para “Personal Red Wine and the Government”. É uma distopia global que incomoda a nós todos como indivíduos, certo?

O vinho entra como uma metáfora dionisíaca sobre o que é nosso e está sendo gasto indefinidamente sem nosso consentimento, e no meio disso tudo tem o governo, mas aí já viagem nossa – o resto é interpretação.”, comenta a Oxy em entrevista

A faixa deixa claro o descontentamento com a atual situação do governo. Onde a intolerância cresce a cada dia mundo afora. Não se restringindo apenas a Bolsonaro, Boris Johnson e Trump mas sim a grande parte das lideranças mundiais. Até por isso vemos o crescimento de discursos de ódio e racismo. Ler ou assistir os noticiários acaba deixando qualquer um um pouco enojado pelos rumos do planeta.

Assim como o single anterior o peso parece ter entrado de vez nas melodias da Oxy. O shoegaze cada vez mais se funde com o post-punk de grupos como IDLES, Savages, The Underground Youth e dos suecos do Viagra Boys.

Feita para se ouvir no repeat, “PRWG” é cintilante e revigorante. Ela coloca o ouvinte em uma imersão completa, entre a nostalgia e o desconforto. Em transe, ela parece estar no meio de um labirinto, entre emoções e frustrações, após mais um bombardeio de notícias bizarras e uma enxurrada de fake news.



Oxy: Entrevista

Conversamos com a banda de Brasília (DF) para entender mais sobre a nova fase, os próximos passos e a primeira canção com veia política da discografia dos candangos.

Vocês tinham planos de lançar o segundo álbum no ano passado e acabaram adiando. Qual será a previsão de lançamento?

Oxy: “No momento, nós estamos trabalhando nisso, estamos produzindo e pensando a melhor forma de como e quando lançá-lo, por isso decidimos postergar o lançamento. Queremos que ele saia no segundo semestre de 2020.”

Como vem a mudança de vocês em relação ao debut? O que trarão de conceito para o novo lançamento? Continuaremos a ter um álbum visual? Se sim, quais serão as inspirações além do campo da música?

Oxy: “Nesse período de 2019 pra cá nós temos escutado muitas coisas, inclusive fora da língua inglesa. Algumas pessoas falaram pra gente que “Don’t You Think The Air Is STUFFY?” parece uma trilha sonora de anime – e nós concordamos. O Blandu, por exemplo, tem escutado muito shoegaze japonês, e isso tem influenciado bastante em nossa produção. A questão de nos relacionarem à um instrumento visual, como no caso do anime, e como no caso do FITA, permanece, novamente, pela questão da nostalgia. Conscientemente ou não, sempre voltamos pra essa questão de um sentimento que resgata algo.

Continuaremos a ter um álbum visual, pois faz sentido pra Oxy, é a forma que gostaríamos que as pessoas absorvessem a nossa mensagem, além do fato de que a forma que as pessoas consomem música mudou, vai além do formato áudio. Nossas principais inspirações vem dos filmes que assistimos, da nossa memória visual/nostálgica, e de várias outras formas de arte. É um pouco do que buscamos, também, em “STUFFY”: 

Bring it to me, the nostalgia

You say you want some

Lyricism about the fire

you had when you were young

Sleeping by the TV

Bright gaming colors

Waking up alone in a room

full of good boredom”

Nesse meio tempo vocês acabaram lançando um selo e produtora de shows. Contem mais sobre isso. Como tem sido a experiência e os aprendizados?

Oxy: “Desde o início da Oxy nós sempre fomos muito independentes, e acabamos sentindo a necessidade de movimentar o cenário cultural brasiliense. Nós estávamos com a faca e o queijo na mão, e pensamos, por que não?

Acaba que hoje somos uma equipe de 13 pessoas, trazendo bandas de fora de Brasília, trabalhando do jeito que acreditamos ser correto, e isso é muito gratificante – como produtores e músicos, temos aprendido bastante.”

O novo single “PRWG” talvez seja a primeira canção politizada que vocês lançam oficialmente. Contem mais sobre o background e como tem absorvido a normalização de notícias bizarras e comportamentos tão autoritários dos líderes mundiais. O que fazem para tentar abstrair um pouco de tudo isso?

Oxy: “Introduzimos essa ideia no refrão de “STUFFY”, e em “PRWG”, é como se estivéssemos nos sentindo sufocados com todas essas notícias tortas e inacreditáveis, no Brasil e no mundo. Nós sempre sentimos a necessidade de nos afirmarmos enquanto banda, porque pra nós é impossível separar arte e política, música e artista, representação e coletividade, ainda mais tendo a Sara, uma mulher, como nossa vocalista.

Abstraímos esse sentimento escrevendo e compondo sobre isso, e escrevendo sobre como não conseguimos escrever direito sobre isso haha por ser algo que nos choca. Na forma literal, “PRWG” é uma sigla para “Personal Red Wine and the Government”. É uma distopia global que incomoda a nós todos como indivíduos, certo?

O vinho entra como uma metáfora dionisíaca sobre o que é nosso e está sendo gasto indefinidamente sem nosso consentimento, e no meio disso tudo tem o governo, mas aí já viagem nossa – o resto é interpretação.”



No ano passado vocês lançaram o primeiro single “Don’t You Think The Air Is Stuffy?” com uma energia mais pulsante que o material anterior mas ao mesmo tempo ainda nostálgica. Comentem mais sobre a confusão que a música acaba trazendo a tona.

Oxy: “É uma melodia mais forte, né? A música é rápida, passa o sentimento de que as coisas são efêmeras, e por isso queríamos que ela fosse acelerada. No trecho em que ela fica mais lenta, soando somente uma frase de guitarra bastante reverberada, é como se a gente percebesse que o tempo passou rápido demais, e depois ela volta a ficar acelerada, e então os vocais pedem: “bring it to me, the nostalgia”. O nosso tempo realmente tem passado rápido demais.”


This post was published on 16 de março de 2020 12:03 am

Rafael Chioccarello

Editor-Chefe e Fundador do Hits Perdidos.

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