Ale Sater revela o segredo da longevidade do Terno Rei em entrevista exclusiva

 Ale Sater revela o segredo da longevidade do Terno Rei em entrevista exclusiva

Ale Sater – Foto Por: Thais Jacoponi

Ale Sater, está em um ano bastante produtivo. O vocalista do Terno Rei no momento prepara seu álbum de estreia solo e o próximo disco da sua banda. Lançamentos que sucederão, respectivamente, o pandêmico EP Fantasmas (2021) e Gêmeos (2022), ambos lançamentos da Balaclava Records.

Nascido no Rio de Janeiro mas residente em São Paulo há muitos anos, o músico lançou em 2016 seu primeiro EP solo como solista, Japão, e nesse meio tempo veio o disco que consolidou o Terno Rei no cenário nacional, Violeta (2019). Diferente do projeto ao lado da banda, em seu voo solo o artista explora as inúmeras possibilidades da música folk, acústica lo-fi, com violões e vozes acompanhadas por teclas e sintetizadores.

Antes de apresentar seu primeiro álbum oficial como solista, ele se apresentará no 5 Bandas, do Minuto Indie. Além do músico, até o momento foram anunciadas como atrações do festival a banda Paira e Hoovaranas.

O Hits Perdidos é media partner do festival e em breve vocês saberão mais!

“Fico muito feliz que o 5 Bandas tá de volta. Eu ia quando o festival rolava pré-pandemia e sempre me fez conhecer novos sons e artistas, então fico muito feliz de fazer parte do line-up e poder mostrar um pouco do meu trabalho”, comenta Ale.


Ale Sater - crédito_Thais_Jacoponi
Ale Sater. – Foto Por: Thais Jacoponi

Entrevista: Ale Sater

Você está em meio a produção do seu primeiro disco solo, bem como do quinto disco do Terno Rei. Quais as diferenças e semelhanças desses dois processos que estão acontecendo simultaneamente?

Ale Sater: “No solo eu tô desde dezembro trabalhando no disco e com a banda a gente começou a trabalhar mais esse ano, mas é aquela coisa né, já faz anos que eu tô trabalhando nessas músicas, compondo elas aos poucos e juntou uma quantidade boa pra fazer os dois processos. Acho que a diferença é que no caso do solo você se sente muito mais sozinho, né? 

Eu tenho sorte de ter o produtor, Gustavo Schirmer, que me ajuda muito, mas querendo ou não na banda tem um sentimento de unidade, o sentimento de todo mundo dividir as decisões e todo mundo ter que embarcar junto em ideias de músicas.

Então os dois processos são divertidos de forma diferente, mas eu acho que o processo de banda tem um certo romantismo assim que o processo solo não tem. Mas é isso, eu já estou há quase um ano só na criação. A gente quase não fez show esse ano, alguns poucos shows solo e alguns poucos com o Terno Rei. Então tá um processo de criação muito forte, com muitas músicas.”

Eu imagino que o contexto dessa criação esteja completamente diferente dessa vez, já que seu último EP solo saiu em um período de pandemia ainda.

Ale Sater: O EP sempre tem um quê de experimental, são menos músicas e tal. Era um momento da pandemia que a gente estava meio aflito de não estar fazendo nada e eu peguei quatro músicas que eram de tempos muito diferentes. Músicas que eu tinha feito em 2014, em 2017, em 2020… 

Então elas não eram do mesmo momento, eram só músicas que eu amava muito e queria colocá-las no mundo e o processo foi quase todo a distância. A gente só fechou o processo juntos, de terminar a gravação juntos, foi muito rápido assim, tipo dois dias e pronto. Então foi muito experimental e muito mais efêmero ali para o que o momento pedia. Agora não, é um disco né? 

É um pouco mais sério, eu fiz com mais afinco, com mais detalhe, mais produção, mais horas, com mais tudo. E com mais expectativa também. O EP tem esse lado né, tipo “Soltei, tá lá no mundo”. Foi bem legal, muita gente gosta, os shows rodam muito bem. E agora com o disco vai ser mais legal ainda de fazer show, essas coisas.”



Nesse tempo, do Fantasmas até agora, aconteceram muitas coisas: Terno Rei lançou Gêmeos, que popularizou ainda mais a banda; a banda tocou em vários festivais grandes e conseguiu rodar o Brasil, lotando várias casas de show importantes do país; no âmbito pessoal, você se casou. Muito mudou depois do turbilhão da pandemia. Isso tudo afetou a produção desse disco? Podemos esperar um trabalho mais “solar”?

Ale Sater: É, minha vida mudou muito. A forma como eu encaro música e arte mudaram muito também. Tipo, antes sempre foi um sonho pra mim e aí de repente eu realizei. Meu sonho era tocar no Primavera Sound Porto em um horário bom e isso rolou, além de vários outros festivais, foi muito gostoso. Mas aí as coisas passam e você precisa seguir. 

Então hoje pra mim o que é diferente é que eu nunca tinha trabalhado mesmo com isso, sabe? Até o Gêmeos também, porque ele foi feito na pandemia. Essa é a primeira vez que eu tô sentindo que tô trabalhando com isso. Lógico que é um tipo de trabalho diferente, tem um outro ritmo, uma outra concisão. Mas é a primeira vez que eu tô trabalhando, então tem uma pressão diferente. Agora talvez eu me iluda menos com as coisas depois de tudo. As coisas aconteceram, eu realizei vários sonhos, sou muito contente e grato por isso tudo, mas agora eu levo as novas coisas com um pouco mais de sobriedade, sem tirar o pé do chão. Manter ainda mais o pé no chão, na verdade. 

Do ponto de vista das músicas, é um pouco mais solar, sim, mas eu acho que no final o Gêmeos foi o disco mais solar que a gente conseguiu fazer e pra muita gente ainda é bem introspectivo e melancólico. Mas isso tem a ver com as referências, com tudo que eu ouvi na vida. Smashing Pumpkins, Radiohead, a época do grunge… Na música brasileira também, com Tom Jobim, coisas que são mais melancólicas mesmo e é difícil tirar esse selo porque realmente é a onda que eu gosto. Mas sim, tem algumas coisas mais solares e tem tudo a ver com esse momento de realização.”

Nesse processo de composição e produção você tem trabalhado só com o produtor ou a banda que está excursionando com você participou também?

Ale Sater: O processo foi todo eu e o produtor. A gente gravou tudo. Eu fui umas três ou quatro vezes para Curitiba, cada vez passando cerca de cinco dias lá. Estamos falando de uns 20 dias de trabalho. Eu gravei as músicas em casa, eu pré-produzi com os equipamentos que tenho aqui no meu estúdio e levei para o produtor. A gente reproduziu elas, ou nem reproduziu, algumas ficaram até bem parecidas com o que eu tinha feito inicialmente. 

Então foi um processo a quatro mãos, só nós dois mesmo, meio solitário (risos). Mas foi muito legal, muito divertido, teve muita magia assim, as músicas cresceram muito. A mix não tá pronta ainda, mas a edição das músicas, depois de ter visto o resultado, eu fiquei bem satisfeito. Eu ouço e fico feliz. Tô muito ansioso para lançar. No caso, o show desse festival 5 bandas vai ser no dia 31 de agosto, quando eu espero já ter lançado duas músicas, vamos ver. Aí já vai estar na boca do lançamento do disco, que será no comecinho de setembro.”


Cine Joia (2024) - durante show do Terno Rei Ale Sater Créditos - Reprodução:Facebook
Show do Terno Rei no Cine Joia. – Foto: Reprodução/Facebook

Puxando esse gancho, você acabou de ser anunciado como headliner do festival 5 bandas, promovido pelo Minuto Indie. Qual a sensação de ser headliner com esse outro projeto e qual a sua expectativa pro festival?

Ale Sater: É muito gostoso! Tem uma certa responsabilidade que é boa, quero fazer um show bom. Me entregar lá no palco, que é a parte mais gostosa. Cantar também músicas do Terno Rei que eu aposto que vai ter gente querendo ouvir. E com banda é muito legal, a banda tá com cada vez mais classe e a gente vai ter até um Cultura Livre uns dias antes, então a gente vai estar bem ensaiado para entregar um show que faça jus ser o headliner.

Mas também acredito que os outros nomes que vi no festival são muito bons. Acho que vai ser um festival legal, eu já participei antes do 5 bandas, fiquei triste quando parou e tô muito feliz que voltou agora. Acho que é um ativo muito bom para termos no nosso circuito de São Paulo.”

Terno Rei foi uma banda que circulou por muitos festivais, que abriu para vários artistas, muito parecido com o momento de algumas das outras bandas do festival. Como você acha que essa rodagem inicial contribuiu para o patamar atual da banda?

Ale Sater: A gente fez tudo muito aos poucos. Quase como uma moda antiga, tipo fazer um disco, curtir ele por dois ou três anos, depois fazendo um novo disco… Tentando sempre se reinventar de uma forma que sempre fosse um tesão fazer música. De forma que a gente consiga arrepiar os pelos quando ouvir uma música pronta. 

Ao longo desse tempo vieram essas coisas, os festivais, as aberturas de shows grandes, isso tudo é experiência. Até quando dá errado, isso se torna experiência para em uma próxima vez dar certo. 

Outra experiência que é sempre muito forte é dividir o palco. Ano passado, por exemplo, fizemos aquele show com a Mahmundi e a Fernanda Takai, né? Aqueles ensaios, aqueles estúdios, é tudo experiência que a gente acumula para tentar fazer melhor e curtir melhor o lance de fazer música.”

Você falou dessas colaborações, tem algum artista brasileiro que você gostaria de colaborar no futuro?

Ale Sater: Tem muitos! Acho que mesmo nesse line-up tem a Paira, duo que a Balaclava assinou, que é muito legal, eu até vi um show deles, uma coisa muito especial que rola ali. Tem também o Bruno Berle que é incrível, músicas incríveis. Esse cara vai fazer discos maravilhosos aí pela frente.

A Ana Frango Elétrico também, não é à toa que ela lançou dois discos nota 10, embora seja mais distante do som do Terno Rei, mas admiro muito, não tem o que falar. Mas acho que é legal pensar na galera nova que surge, mas também em artistas que já estão mais velhos, tipo Os Paralamas do Sucesso. Pô, eu adoraria fazer algo com os Paralamas, com o Herbert Vianna. Ou com o Guilherme Arantes. Tem pros dois lados, né?”

Claro, as referências de vocês também. Vocês trabalharam com o Samuel Rosa também, né?

Ale Sater: “Sim, e seria um sonho gravar algo com o Samuel Rosa também. Com a própria Fernanda Takai, a Mahmundi. Acho que tem esses dois lados, gostaria de colaborar com muita gente que surgiu junto conosco, ou até mais novos, mas também com os mais velhos.”



Falando um pouco mais do processo desse disco novo do Terno Rei, que está em etapas mais iniciais como você falou. No Violeta, vocês citaram bandas como Land of Talk e Cocteau Twins como referências, coisas mais dream pop. O Gêmeos, por sua vez, tem bem a cara do rock alternativo dos anos 90. Para esse próximo disco, tem alguma coisa específica que vocês estejam ouvindo? Quais as referências que vocês têm falado sobre?

Ale Sater: Acho que todas essas coisas do passado seguem referências. Acho que The Smiths, The Cure, Joy Division, essas bandas clássicas do pós-punk estão muito no que a gente faz e tem muitas músicas que estão para esse lado.

Radiohead também, um pouco mais sintético e mais novo que essas outras. Acho que o lado que aparece no Gêmeos, essa coisa mais “guitarreira chiclete dos anos 90”, tá muito presente também. De coisa nova tem duas bandas novas que pegaram muito a gente, que foram a Bar Italia e o Wu-Lu

Bar Italia é muito bom, a gente viu dois shows deles no Primavera Sound, bem na época que a gente estava ouvindo muito. O Wu-Lu não parece muito com nosso som, mas eu me inspiro muito, é um artista de Londres, é um nome que eu citaria. E é legal que você lembrou do Land of Talk, na época do Violeta eu ouvia demais, era minha banda favorita. Não sei como aquele disco deles, Life After Youth, não explodiu no mundo. Esse disco é muito lindo, eu ouvia sem parar. Tem também o Homeshake, que continua fazendo produções incríveis. Várias coisas!”

Em agosto vocês encerram o ciclo do Gêmeos com um show já esgotado no Terra SP. Vocês também fizeram um show no Bar Alto recentemente, como forma de juntar recursos para o Rio Grande do Sul, para pouquíssimas pessoas, um show mais parecido com os que vocês faziam no começo da carreira do que com esses mais recentes. Como é essa dicotomia para vocês, em 2024 tocar um show para poucas pessoas em um lugar pequeno e pouco tempo depois tocar em uma grande arena com ingressos esgotados?

Ale Sater: “Eu adoro os dois tipos, sabe? Gosto do show super pequeno, gosto do show nosso em uma arena, tipo a Autêntica em Belo Horizonte, ou o Cine Joia aqui em São Paulo. Esse show de uma banda só eu acho muito especial, porque sempre estão os fãs da banda lá e a energia sempre fica de um jeito muito incrível. E é legal o festival também porque é sempre um desafio, sempre bate uma adrenalina assim. 

Com o projeto solo também eu tenho feito muitos shows pequenos, e é sempre especial, a conexão de estar do lado da pessoa, cantando na frente dela, é uma coisa que eu já não lembrava mais como era. 

Eu fiz um show em Curitiba com o projeto solo e agora esse no Bar Alto com a banda, eu não lembrava como era ver as pessoas assim tão perto de você, é uma brisa diferente também. Eu gosto de todos os tipos. Gostaria muito de continuar fazendo shows pequenos. Eu valorizo muito esses shows pequenos, mas também valorizo os shows em festivais e shows de arena.”



Esses shows pequenos são importantes até para movimentar esse ecossistema de casas de show, né? Hoje temos muitas casas incríveis para fazer esses shows para um público menor.

Ale Sater: Sim, com certeza. E como consumidor, eu tenho uma preferência. Eu prefiro os shows pequenos e os shows de arena aos shows de festival.

Eu, como consumidor, não sou aquele cara que “pô, preciso ir nos três dias do Lolla” porque eu não aguento ver mais do que cinco ou seis shows, sendo sincero. Mas eu tenho amigos que vão no primeiro horário e saem de madrugada, vê tudo e é de boa. Eu, tem uma hora que a minha cabeça dá tilt, eu gosto de ver no máximo quatro ou cinco bandas. Isso já faz a minha cabeça.”

Para finalizar, já falamos sobre o quanto a banda cresceu, saindo da cena alternativa e indo para o mainstream nesses anos de trabalho. Quais você acha que são os maiores desafios para a banda continuar crescendo e se mantendo relevante nesse cenário?

Ale Sater: Acho que nós temos que nos manter fiéis a nós mesmos como pessoas. Temos que continuar fazendo música de alguma forma que continuem subindo os pelinhos do braço, que a gente tenha vontade de ouvir aquilo e fique empolgado. Essa energia é muito importante para que a coisa continue. 

Nesse disco novo que a gente tá fazendo, tá super rolando isso e eu tô muito feliz. Eu estava gravando umas vozes hoje aqui para fazer as letras e fiquei amarradão, ouvi umas dez vezes a mesma música. 

E a terceira coisa, que acho que é a mais simples, é não deixar a peteca cair, não acabar. O Greg sempre fala: “O segredo é não acabar, não desistir”. Então é isso. Tentar ficar fiel a si mesmo, tentar fazer música de uma forma que todo mundo da banda goste e não acabar.”

Festival 5 Bandas

com Ale Sater + hoovaranas + Paira  e + duas atrações a serem reveladas
31 de agosto – sábado
Casa Rockambole
Belmiro Braga, 119 – Pinheiros
Venda online

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