illinoise estende o tapete vermelho para apresentar seu Emo Chic no single de estreia, “Bad Vibes Only”; leia entrevista exclusiva
illinoise debuta com o single “Bad Vibes Only”
De vez em quando temos a oportunidade de apresentar para vocês uma banda em primeira mão. Hoje vocês vão conhecer um pouco mais sobre a illinoise, sexteto de post-hardcore de São Paulo, que lança em Premiere no Hits Perdidos o seu single de estreia. Em sua formação o grupo conta com a vocalista Beatriz Limeres, Luisa Phoenix, no baixo e backing vocals, além de Lucas Cassoli, Danilo Lourenço (bateria), Johnny Manfredi e Rafael Marzullo.
Aliás, um diferencial deles é justamente contarem na formação com três profissionais de áudio que em seu dia a dia atuam na produção musical, Lucas, Johnny e Rafael. Danilo, por exemplo, ao longo de sua trajetória musical de mais de 20 anos, já pode contribuir com o rapper Rael. Antes da banda nascer, Beatriz foi atrás do professor de canto Bill Sandre para aperfeiçoar sua técnica vocal; ele que já deu aula para nomes como Lucas Silveira, da Fresno, Arthur Mutanen, do Bullet Bane, e Dani Buarque da The Mönic. Algo que facilitou bastante no esboço, confecção e aperfeiçoamento das primeiras composições do projeto que trás referências que vão do midwest emo, passando pelo post-rock ao rock alternativo.
Quando o assunto são influências eles não titubeiam: “Paramore, Saosin, Circa Survive e Tiny Moving Parts. Também temos como referência grandes nomes nacionais como Fresno e Bullet Bane.”. O material de estreia que deve ganhar as luzes no primeiro semestre de 2023.
“Bad Vibes Only” que tem o papel de apresentar a banda para o mundo, foi gravado em Outubro no no Estúdio Toth, e eles nos adiantam que já estão em fase de pré-produção para o EP de estreia.
illinoise “Bad Vibes Only”
“Bad Vibes Only” foi gravado e mixado no Estúdio Toth por Danilo de Souza e Fe Uehara (Bullet Bane) e tem como curiosidade da faixa ter uma história a parte já que ele surgiu a partir de frases soltas de um antigo diário da vocalista Beatriz Limeres.
Quem acompanhou a explosão do emo no Brasil provavelmente lembra da referência do “Dear Diary” e toda cultura incorporada pelos adolescentes em registrar seus dias mais intensos, e muitas vezes não os mais felizes, nestes livretos tão pessoais. O resgate de memórias assim fazem com que o elo e a profundidade daqueles versos ressoem de maneira ainda mais intensa dentro da concepção da composição.
Foi desta nostalgia pelas bandas do chamado rock alternativo dos anos 2000 que eles foram buscar os riffs e intensidade para a estética do single que apelidaram como “Emo Chique”, seus versos também elucidam a vontade de viver sonhos adormecidos. O que potencialmente pode inspirar os ouvintes a correr atrás dos próprios sonhos, seja lá quais eles foram. A proposição vai encontro a um momento onde a esperança por dias melhores tem sido a tônica dos jovens no país.
O sexteto até brinca no release para a imprensa dizendo: “as bad vibes nunca estiveram tão presentes quanto agora. É hora de olhar para elas, tomá-las para si e partilhá-las com o mundo.” O poder de cura através da música é explicitado de forma indireta na canção e na entrevista eles falam um pouco mais sobre o tema.
Basta apertar o play para ver a poeira do diário sair de cima, seja na introdução, no peso das guitarras ou nas linhas harmônicas, o mix entre o rock alternativo, de grupos como Thrice, Finch, e Funeral For A Friend, do post-hardcore de grupos como Saosin, Story Of The Year, Underoth, Senses Fail ou até mesmo The Used aparecem no instrumental que acaba trazendo referências que grupos como Samiam procuram levar para sua sonoridade até hoje. Beatriz até mesmo se arrisca até mesmo em guturais na faixa. A faixa faz as pazes com o passado para construir um futuro possível onde sonhos podem se tornar realidade.
Entrevista: illinoise
illinoise, parece brincar com o nome do estado americano em que importantes bandas da cena emo surgiram. Entre elas, Cap’nJazz, Braid, American Football, The Academy Is…, Alkaline Trio, Owls. De onde vem a origem do nome e quais as principais referências que pautaram este início de trajetória?
illinoise: “Tem muito disso mesmo! Não demorou muito pra gente perceber que as nossas maiores influências são bandas do meio-oeste estadunidense, o berço do chamado midwest-emo. Mas demorou pra chegar em Illinois. Tivemos que dar de cara no muro com muitos nomes que adoramos, mas que já tinham dono. Até que lembramos de bandas da cena que tinham nomes de cidades ou estados no nome, como Fresno e Far From Alaska. Mas tinha que fazer sentido pra nós.
E quando vimos o estado de Illinois, nos deparamos não só com bandas que surgiram lá, mas com pequenas coincidências que tinham tudo a ver com a gente: somos fissurados por Kenan e Kel, e eles são de lá! Também reparamos que dava pra separar em duas palavras “ill” (doente) e “nois” que, além da gíria, é quase “noise” (barulho). Isso reverberou na nossa cabeça, já que todo mundo da banda tem algum transtorno mental – e quem não tem hoje em dia? Acho que esses ruídos da nossa cabeça decidiram sair um pouco de lá de dentro pra fazer barulho aqui fora.”
“Bad Vibes Only” de certa forma destrava um pouco do sonho adolescente de ter uma banda de forma bastante literal. Qual foi o motivo deste ser o primeiro single a ser lançado por vocês?
Beatriz (illinoise): “Já de cara a gente conseguiu estabelecer um processo de composição bem colaborativo. Gostamos muito de ouvir as ideias de riffs e letras de cada um. E a BVO era praticamente uma anotação de diário minha, algo bem pessoal. Era a última opção que eu tinha de letra, já tinha mostrado várias outras pro pessoal. Mas um dia aqui em casa, eu decidi mostrar essa pro Johnny.
Ele ficou muito empolgado porque ele tinha composto uma harmonia que casou certinho com o que viria a ser o refrão. Além dessa coincidência do acaso, acho que acabou sendo uma das experiências mais catárticas da minha vida: eu consegui encontrar uma esperança através dessa letra. Todos nós, na verdade – todo mundo na banda tá passando por muitas mudanças. Essa música foi como uma luz no fim do túnel, uma forma inesperada de enxergar uma saída e acreditar que, de algum jeito, as coisas vão dar certo.
Outro fator interessante é justamente algo que a letra diz de dar luz a sonhos adormecidos, visto que vocês estão começando a banda agora e já não são adolescentes já tem um bom tempo. Sentem que desta forma podem inspirar outras pessoas a correrem atrás dos sonhos independente de quais forem? Como a música já inspirou vocês a irem atrás de conquistas nos mais diversos setores da vida?
Beatriz (illinoise): “Uma das coisas que nos deixam mais ansiosos é: como será que nossa música vai ressoar nos nossos amigos e na galera que curtir a banda? Apesar de as nossas letras falarem de experiências muito pessoais, sabemos que não somos só nós que passamos por elas.
A gente torce muito para que, através dessa identificação e proximidade com quem tá ouvindo a gente, a nossa música possa inspirar as pessoas a correrem atrás do que faz sentido para elas, assim como tantas bandas fizeram por nós. Aquela história de “tal banda salvou minha vida” parece exagero, mas na prática é bem por aí mesmo. Foram letras de músicas do Paramore, por exemplo, que me consolaram nos momentos mais difíceis da minha vida e me deram forças pra seguir em frente.”
O Emo no Brasil já teve algumas bandas nos anos 2000 com vocal feminino mas foi algo que foi se tornando cada vez mais raro mesmo existindo bandas como a DEF, e no passado nomes como CW7 e Lipstick.
O próprio ambiente do cenário da época afastava as meninas de começar os projetos, como observam a importância de reconquistar este território em uma cena em que a maioria das bandas é composta por homens?
Beatriz (illinoise): “Nos anos 2000, não se ouvia falar muito em feminismo, ainda mais no cenário underground.
Eu sempre ouvia que rock era coisa de homem. Mulher tinha que gostar de pop e outras coisas rotuladas como “femininas”. Não havia espaço nem para curtir o som, quanto mais para fazê-lo. Mas ainda assim, sempre houve muitas mulheres que sonhavam em viver de música.
Eu trabalhava num programa de webtv do ABC paulista e lá eu conheci muitas garotas que carregavam muito equipamento nas costas pra conseguir ir atrás do sonho delas. Acredito que se houvesse mais interesse da mídia e oportunidades de shows, por exemplo, haveria mais representatividade, ou seja, outras meninas teriam em quem se espelhar e, consequentemente, teríamos muito mais bandas compostas por garotas hoje em dia.
Apesar de sermos minoria, felizmente estamos vendo muitas bandas legais de mina na ativa, como a Putz, The Mönic, Deb and the Mentals e Miami Tiger, por exemplo. A proposta da illinoise é ser mais um desses alto-falantes de representatividade e dar forças para que as mulheres conquistem seus sonhos.”
Vocês contam com integrantes LGBTQIA + e lutam ativamente em prol do feminismo, como foi para vocês observarem as inúmeras denúncias a vários músicos do cenário? E como veem a união das bandas e movimentos em prol de combater as injustiças na cena independente como um todo?
Beatriz (illinoise): “Acho que isso tem muito a ver com o que falamos agora há pouco. A maioria das bandas da cena ainda é composta integralmente por homens héteros. Então, apesar de ser um absurdo, não estranhamos quando ouvimos esse tipo de denúncia. É o que eu sempre falo: a gente tem que parar de dar palco pra gente idiota e começar a abraçar e dar mais oportunidade pra bandas cujos membros fazem parte de minorias. Temos que ocupar todos os lugares, principalmente a cena emo/hardcore.
É como a Hayley falou em um dos shows do When We Were Young – a cena veio pra abrir espaço pra quem é diferente. Apesar de ser um movimento natural pra gente, sabemos da importância que é poder falar que a maior parte da nossa banda é da comunidade LGBTQIA +.
A gente vibra quando conhece alguma banda nova como a Sweet Pill ou a Pigeon Pit que tem membros dessa comunidade, porque conseguimos nos enxergar neles. Isso nos dá motivação e identificação. É fundamental essa união das bandas e ver esse assunto se tornar uma pauta recorrente dentro da cena. Mas só isso não basta, tem que vir de cima também. Cabe agora aos produtores de festas, organizadores de festivais e patrocinadores não apenas querer ganhar dinheiro em cima de um estilo musical que está voltando a ser moda, mas entender a verdadeira essência dele, que é dar voz a quem não é ouvido.”
Inclusive, grandes festivais do segmento ainda não abrem muito espaço para bandas com mulheres e reciclam nomes do passado ao invés de renovar a cena. Quais acreditam que sejam as melhores formas de ocupar esses espaços?
Beatriz (illinoise): “Tem que ser uma luta em conjunto. O público que curte bandas independentes precisa apoiar as bandas nas redes e fora delas, seja fazendo um pré-save ou comprando um merch, até mesmo comentando naqueles posts onde os festivais pedem sugestões. Ao mesmo tempo, é preciso que os produtores sérios de festas, shows e festivais se conscientizem da importância de levar essa representatividade e novos nomes para os palcos.
Entendo que nomes conhecidos trazem mais público e isso pesa muito pros organizadores, mas por que não aproveitar e oferecer novidade para esse mesmo público? Acho que o Oxigênio Festival foi um bom exemplo disso – ainda que a maioria das bandas era composta apenas por homens, eles abriram espaço pra muita banda nova e isso já é um começo.”
Vocês trabalharam com o Danilo de Souza e Fe Uehara da Bullet Bane, como foi a primeira experiência em estúdio? Como foi a parte de definição de estética, amadurecimento, produção e caminhos para o projeto?
Beatriz (illinoise): “Eu tenho muita sorte de estar em uma banda com gente tão talentosa. Em menor ou maior grau, quase todo mundo sabe mexer com DAWs e entende pelo menos o básico de produção de áudio, então felizmente nossas demos acabam surgindo muito rapidamente.
Nosso primeiro single, por exemplo, surgiu a partir desse trabalho colaborativo: eu gravei o refrão aqui em casa com o Johnny, a gente mandou pro Lucas, ele já somou com o baixo e a bateria no Ableton e quando a gente viu, tava com a estrutura da música toda já pré-produzida. Deu muito orgulho chegar no Estúdio Toth e ouvir do Dan e do Fe que a demo tava melhor que muita música do Spotify. Isso vindo de dois caras que a gente tem profunda admiração e respeito, no palco, no estúdio e na vida.
Falando em respeito, foi impressionante o tato deles com a gente e a comunicação aberta que a gente teve pra poder explicar qual era nossa proposta, nossas referências. Gravar lá foi uma escolha muito certeira, porque parecia que eles liam nossos pensamentos: o Lucas disse que queria um som bem pesado e orgânico, com aquele “punch” dos singles de sucesso do começo dos anos 2000, e na hora o Dan falou: “Ah, tipo Underoath antigão, né?” E a gente surtou, porque era exatamente isso.
Achei muito legal que logo no começo eles perguntaram qual era nossa intenção com a faixa e pudemos explicar que a gente queria que as pessoas se identificassem com ela, que ressoasse de alguma forma dentro do coração de quem ouvisse. Já foi o bastante para eles entenderem como trazer essa sensação de conexão com a música, em vez de propor uma fórmula simples que funciona, mas que acaba indo pra esse lado mais plástico e comercial.
Acho que é por isso que a gente brinca dizendo que a gente é o Emo Chic, porque a gente tem muita essa preocupação com a estética da música pela música. Seja na melodia, que reflete os sons que tocam nossa alma, até as letras que compomos juntos numa espécie de terapia em grupo. Aliado a isso, tentamos nos afastar dessa reciclagem do gênero que tem rolado muito, principalmente por parte de artistas que nunca nem foram emo, nem lá atrás e nem agora.”
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