30 anos de “Da Lama ao Caos”: artistas renovam legado de Chico Science em disco tributo

 30 anos de “Da Lama ao Caos”: artistas renovam legado de Chico Science em disco tributo

Sofia Freire e China gravam versão em conjunto para o disco “Replay Da Lama ao Caos”. – Foto: Divulgação

Da Lama Ao Caos, do Chico Science & Nação Zumbi, completou 30 anos em 2024

Quase 30 anos após a morte do Chico Science, que ao lado da Nação Zumbi, foi um dos responsáveis pelo Manguebeat, uma leva de novos artistas do cenário de música brasileira faz uma justíssima homenagem ao músico nascido em Olinda (PE).

Em 2003, o rapper Marcelo D2 em “Re-Batucada” o chamou de um dos verdadeiros arquitetos da música brasileira, termo justíssimo, tamanha a sua grandeza e legado vivo que a Nação Zumbi carrega consigo em 32 anos de resistência. No mesmo ano, durante a gravação do Acústico MTV, o Charlie Brown Jr., inclusive, ao lado de Marcelo, gravou uma versão icônica para “Samba Makossa” (confira no vídeo).

“Modernizar o passado
É uma evolução musical
Cadê as notas que estavam aqui
Não preciso delas!
Basta deixar tudo soando bem aos ouvidos”, trecho de “Monólogo Ao Pé Do Ouvido” da Nação Zumbi revisitada em Replay por Jup do Bairro


Replay Da Lama ao Caos - Sophia Freire e China
Sofia Freire e China gravam versão em conjunto para o disco “Replay Da Lama ao Caos”. – Foto: Divulgação / Artsy Club

Replay: Da Lama ao Caos

Agora uma nova geração que não pode conhecer sua obra ainda em vida poderá ter contato com suas canetadas em versões que justamente modernizam o passado como parte da evolução musical. A mistura perspicaz da Nação Zumbi de certa forma previu o futuro e a forma de consumir música livre das amarras dos gêneros, o grupo explora a fusão entre ritmos regionais com rock, hip-hop e música eletrônica.

“Acho que a mensagem que o Black Pantera pode transmitir por meio dessa música é pra essa nova geração. Molecada, bora ouvir Nação, bora ouvir Chico Science, porque os temas são relevantes e extremamente atuais para a sociedade que a gente vive”, diz o baterista Rodrigo Pancho, integrante do Black Pantera sobre a potência das letras e reflexões atemporais dos pernambucanos.

Cada faixa do disco, assim como os tributos aos Titãs, Pato Fu e Autoramas produzidos pelo Hits Perdidos, é reinventada com personalidade apresentando releituras carregadas da individualidade, dos ritmos e das marcas autorais de cada artista, que tiveram total liberdade de criação.

“Isso é o que faz o projeto diferente, porque cada faixa tem a cara do artista convidado, e o disco acaba ficando bem único, passeando por universos super distintos”, afirma José Francisco Tapajós, que criou e assina a direção-geral do projeto.

A diversidade e atemporalidade de Chico Science

Representante do trap nordestino, Mago De Tarso, natural de Jaboatão dos Guararapes (PE), interpreta no disco “Antene-se”, faixa presente em Da Lama ao Caos, registro do Chico Science & Nação Zumbi que completou 30 anos em 2024.

“Baseado no que Chico fazia na época dele, misturando rock com elementos regionais, como maracatu e ciranda, hoje estou tentando fazer o mesmo com trap, misturando com forró, brega funk e outros gêneros atuais.”, revelou o músico 

Em seu disco de estreia, O Som do Litoral, usou samples de Chico Science e Nação Zumbi, fazendo essa mistura acontecer na prática. “Eles me chamam de ‘novo Chico’”, canta Mago em “Caranguejo do Trap”, expressão que acabou virando um apelido do artista.

“Eu nunca quis me colocar nesse mesmo patamar, estou construindo a minha própria trajetória. Mas sempre faço questão de exaltá-lo, porque ele foi um gênio, e ainda é pouco reconhecido.”, completa Tarso, um dos nomes em maior ascensão no país.

30 anos depois, vários temas de lutas sociais continuam em voga e um deles está justamente na distância entre brasis – e o preconceito, como exalta Mago de Tarso: “Precisamos vencer esse medo de que, se falarmos com nosso sotaque, o pessoal do Sudeste não vai nos absorver. O pessoal do Sudeste não se preocupa se o Nordeste vai absorver ou não o que eles fazem. Eles simplesmente fazem a arte deles. E aqui, acabamos consumindo e colocando no pedestal.”

Os destaques de Replay: Da Lama Ao Caos

Lançado no dia 30 de maio, o projeto idealizado e dirigido por José Francisco Tapajós reúne versões de nomes como Marcelo D2, FBCJup do Bairro, Duda Beat entre outros listados abaixo.

  1. Jup do Bairro interpreta “Monólogo ao Pé do Ouvido”
  2. Marcelo D2 e Zegon interpretam “Banditismo Por Uma Questão de Classe”
  3. Black Pantera interpreta “Rios, Pontes e Overdrives”
  4. Chico Chico & Machete Bomb interpretam “A Cidade”
  5. UANA interpreta “A Praiera”
  6. FBC interpreta “Samba Makossa”
  7. Duda Beat interpreta “Da Lama ao Caos”
  8. Barbarize interpreta “Maracatu de Tiro Certeiro”
  9. Sofia Freire & China interpretam “Salustiano Song”
  10. Mago de Tarso interpreta “Antene-se”
  11. Louise interpreta “Risoflora”
  12. Luana Flores interpreta “Lixo do Mangue”

A paulistana Jup do Bairro tem a responsabilidade de abrir o projeto com seu corpo sem juízo em uma versão eletrizada com batidas eletrônicas repletas de irreverência em “Monólogo ao Pé do Ouvido”. Marcelo D2 não podia ficar de fora e em sua versão convoca o produtor Zegon (Tropkillaz), leva consigo a potência do hip-hop para ilustrar com teatralidade uma composição que denúncia a repressão policial nos subúrbios. Até mesmo samples de cítara indiana podem ser ouvidos ao longo da recriação de “Banditismo Por Uma Questão de Classe”.

Os mineiros do Black Pantera optaram por uma versão que mantém os ritmos regionais aliados ao peso do rock com direito a slaps e tensão no ar em “Rios, Pontes e Overdrives”. Em “A Cidade”, o carioca Chico Chico ao lado dos curitibanos da Machete Bomb, fazem uma collab que soa um pouco improvável – e talvez essa seja a graça. Ritmos como o samba, o rock e samples de hip-hop ganham a trilha.

A força dos artistas do Nordeste

Com a responsabilidade de realizar a releitura de um dos maiores hits do disco, a pernambucana UANA traz elementos do brega-funk para “A Praiera”. O que a deixou refrescante como a cerveja mencionada nos versos. O rapper mineiro FBC escolheu o rap old school com batidas de Drum & Bass e samples de samba para colorir seu “Samba Makossa”. Nem tudo são flores, a releitura oitentista da Duda Beat para a faixa título não traduz a grandeza da composição – e por essa razão é um dos pontos mais baixos do disco.

Natural da comunidade do Bode, no bairro do Pina (zona sul de Recife), o duo Barbarize faz uma versão para lá de futurista para “Maracatu de Tiro Certeiro” cheia de veneno. Representando também o estado, Sofia Freire e China (“Salustiano Song”) fizeram talvez a versão com mais respeito ao que Chico Science amaria ouvir. Uma versão que transgride, traz texturas e que mostra os novos horizontes da música pernambucana, misturando um jovem nome e um veterano de forma que um complementa o outro.

Mago de Tarso leva pros beats seu entendimento da obra de Chico. Ainda brinca com ser “Mangue Boy”, com o apelido de caranguejo que herdou. A guitarra tem o mesmo peso do eletrônico em uma versão que tem até mesmo o forró dentro da sua panela.

Louise aparece já na parte final com “Riso Flora”, envolve em seu pop detalhes minimalistas e aproveita a oportunidade para mostrar a força do seu canto. Luana Flores fecha o registro conectando Pernambuco a Paraíba sem escalas na acelerada, tensa e eletrizante “Lixo do Mangue”. Colocando ela em destaque entre as mais marcantes do disco.


Jup do Bairro - Replay Do Caos A Lama (2025)
Jup do Bairro abre o disco “Replay Do Caos A Lama” – Foto: Divulgação / Artsy Club

Agenda de exibição no Canal BIS

A cada sexta no canal Bis, às 21h, passa a segunda temporada do projeto. Na primeira temporada, o projeto regravou o clássico Acabou, Chorare, com Maria Gadú, Xênia França, Francisco El hombre, Gilsons, Marcelo Jeneci, Onze e vinte, Afrocidade, João Cavalcanti, Letrux e Céu. Replay: Da Lama Ao Caos é idealizado pela Mescla Entretenimento.

Ao todo, serão oito episódios de 24 minutos que trarão os bastidores do processo de gravação do seminal álbum Da Lama ao Caos, de Chico Science & Nação Zumbi, que aconteceu nos estúdios Artsy Club, em São Paulo, em dezembro de 2024.

  • 13 de junho – A Praieira (Uana) e Samba Makossa (FBC)
  • 20 de junho – Da Lama ao Caos (Duda Beat)
  • 27 de junho – Maracatu de Tiro Certeiro (Barbarize) e Salustiano Song (Sofia Freire e Chinaina)
  • 4 de julho – Antene-se (Mago de Tarso) e Lixo do Mangue (Luana Flores)
  • 11 de julho – Risoflora (Louise)
  • 18 de julho – Audição com Liminha (Lucio Maia)
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