MONCHMONCH aponta 5 referências não musicais presentes em “MARTEMORTE”
Lucas, idealizador da MONCHMONCH. – Foto Por: Marina Mole
Nesta terça-feira (17) o projeto experimental MONCHMONCH lança o disco MARTEMORTE. O material foi gravado entre Brasil e Portugal e lançado pelos selos Saliva Diva (PT) e Seloki Records (BR). Inclusive, com vinil a caminho que contará com uma faixa inédita, exclusiva da versão física.
Idealizado pelo paulistano Lucas Monch, suas referências sonoras passam pelo punk rock, jazz, experimental e pós-punk, o que ele curiosamente categoriza como Punk Tropical. Já no campo das referências além do som, os videogames, HQs e o capitalismo tardio são as maiores inspirações do disco com menos de 19 minutos de duração.
O registro sucede os EPs Inato (2017), Perturbação Constante (2020), Charlie Mordidinha Jr (2021) e Sucata (2021). Em 2023, lançou o disco Guardilha Espanca Tato pela Seloki Records.
A concepção de MARTEMORTE
O punk torto dos suecos do Viagra Boys e a poesia concreta do Tom Zé, estão dentro das influências perceptíveis ao longo da odisseia do material que usa elementos de spoken word, cacofonias e pedais de distorção como seus aliados.
Anárquico por natureza, a ideia inicial era ser um EP com poucas faixas com a formação da formação brasileira do MONCHMONCH (sim, tem uma portuguesa também). Porém, o projeto acabou ganhando corpo, tanto em seu conceito como na interdisciplinaridade das linguagens que compõem seu cerne.
O universo de magnatas das big techs com planos de dominação intraestelar e absurdos normalizados na cultura do pós-moderno ganham contextos e anedotas em forma de canções ácidas e irreverentes. É a partir daí que o universo sci-fi cruza com a imaginação e sarcasmo das HQ’s e a materialização de cenários para lá de 2049.

O processo colaborativo separado por um oceano
Parcerias com produtores como cleozinhu (Duo Chipa, Manobra Feroz) e Sammy Shirts compuseram o primeiro esboço do projeto. Depois expandiu-se para Portugal, onde o artista montou outra formação da banda, com integrantes que também fazem parte do projeto Baleia Baleia Baleia, e produziu faixas que refletem suas vivências como imigrante em situação precária.
No Brasil, participam da banda de MONCHMONCH: Alice Rocha (backing vocal), Omar da Matta (bateria), José Victor Barroso e Caio Colasante (guitarras) e Valentim Frateschi (baixo). Já em Portugal, participam: Manuel Molarinho (baixo), Ricardo Cabral (bateria), Matias Ferreira (guitarra) e José Silva (synth e guitarra).
A HQ e o Vinil de MARTEMORTE
Essa narrativa do disco, além do vinil, também terá uma HQ que será vendida nos shows. Participam da MARTEMORTE os artistas Atópico, Luvas Novas, Lori Rodrigues, Marcilío Pires, Violenciazinha, Sophia Tegoshi, Sofia Belém, Bruno Xavier e Luís Barreto. A arte do prefácio é de Bia Oliveira, e o design e a edição foram feitos por Alice Rocha.
“Senti a necessidade de colocar tudo isso em imagem, e desde sempre fui muito ligado a histórias em quadrinhos, não à toa, o próprio nome MONCHMONCH vem daí. É uma onomatopeia para expressar algo sendo devorado”, conta Lucas Monch
O vinil trará um lado B exclusivo: um segundo disco, intitulado “DOS ENTULHOS LOUCOS CAVAM SOL” com produção de Ukaro Yamoto — alter-ego de um produtor português que flerta com o anonimato ficcional. Nessa face B, MONCHMONCH explora outra frequência: violões, sintetizadores, arranjos e letras que falam menos do mundo e mais do lado de dentro.
Segundo o release oficial, nas canções, o artista divide os violões com Omar (que na versão brasileira da banda participa como baterista), e se afasta da crônica social para se aproximar da melancolia de referências como Radiohead e Elliott Smith.
5 referências não musicais de MARTEMORTE por MONCHMONCH
Com exclusividade para o Hits Perdidos, Lucas Monch aponta 5 referências não musicais por trás de MARTEMORTE. Confira!
HERZOG, SARA DOSA, KATIA E MAURICE KRAFFT
Todo o conceito do álbum-quadrinho tem essa cronologia: começa extremamente humano, como em “City Bunda” e “Jeff Bezos Paga um Pão de Queijo”, em que a desgraça é muito social e o terror ecológico vai se pondo de plano de fundo; mas ao caminhar para o fim do disco o humano vai perdendo o rumo, como em “Prédios”, em que se sugere o fim da humanidade como solução ao capitalismo. Desesperançoso e terrível? Com certeza.
Fiz o álbum pensando sobre a fantasia de vencer o capitalismo e bla bla bla, e no final passei a acreditar mais nas gaivotas, nos gatos, nos polvos e nos fungos, estes e mais outros já vivem de maneira equilibrada com o mundo e definitivamente merecem muito mais do que nós. É claro que eu sigo nesta vida acreditando, tendo alguma esperança. Mas racionalmente, é muito mais provável que vamos simplesmente continuar com esta estupidez e nos acabar.
Com este pensamento, deixo aqui uma das maiores referências para este álbum: Werner Herzog. Menciono especialmente o filme “Into the Inferno”, do Herzog, e também o filme “Fire of Love”, de Sara Dosa, que trata sobre o casal apaixonadamente obcecado por vulcões Katia e Maurice Krafft. Esses filmes mostram o poder absoluto, belo e sombrio da natureza que vai um dia arrebatar toda nossa inútil arrogância e retornar o equilíbrio que foi perdido.
LOURENÇO MUTARELLI
Vivi toda minha infância até a vida adulta na zona sul de São Paulo, numa rua paralela à Rua Palmares, e o que isso importa? Não muito, além do fato de que conforme fui crescendo, por algum motivo, comecei a ficar fissurado em um artista que depois fui descobrir que também viveu sua infância na mesma rua que eu.
Acho este fato muito engraçado, porque eu já fazia música antes de conhecer o Mutarelli, mas pra mim é louco que temos um tipo de abordagem muito parecida com a maneira de fazer arte: um olhar escatológico, ridículo, e igualmente sensível.
Passei a devorar todos os seus livros, como se tivesse encontrado um irmão de uma geração atrás. Ele tem um livro que se passa justamente no meu bairro. A obra dele se cravou no meu eu mais profundo, e não só me fez ir mais fundo no trabalho que eu já fazia, como me fez ir mais longe no mundo dos quadrinhos. Não acho que este álbum estaria completo sem a sua parte cartunesca, que tem um protagonismo total.
Deixo aqui em evidência aqui as minhas obras favoritas dele: “Eu era dois em meu quintal”, “O Livro dos Mortos”, “A Arte de produzir efeito sem causa” e, é claro, o sórdido “Diomedes”.
CAPITALISMO, INFELIZMENTE
Definitivamente tenho que colocar aqui, afinal o objeto de estudo deste álbum é este belíssimo sistema capitalista que só traz felicidade para nós, meros mortais. Nada seria possível sem esta oportunidade única de atropelos para pagar quantidades grandiosas de pães de queijo para monarcas fazedores de nada. Muito obrigado a todos os imperadores brasileiros, portugueses e alemães que me concederam a oportunidade de estudar o nosso lindo sistema.
Forte agradecimento aos péssimos (mas também aos super razoáveis e às vezes até divertidos) freelas, também ao Nubank que me concedeu o dinheiro necessário para o álbum e para a primeira tour na Europa. O meu pulmão esquerdo que vocês tomaram de juros, é só um preço deste investimento. FAÇO UM CHAMADO AQUI PARA QUE A NUBANK PATROCINE O PRÓXIMO DISCO, AFINAL NÃO CONSIGO DAR MEU OUTRO PULMÃO. OBRIGADO.
MANGÁS E CARTOONS
Impossível, para mim, não mencionar como referência esta fonte para elaborar o universo de MARTEMORTE.
Definitivamente fiz uma fusão de mundos primos, como os de Dorohedoro, Cowboy Bebop e Looney Tunes. Um destaque especial para o Marciano e para o Taz – que fez feat em “Bolinha de Ferro”. Entre estes e mais outros, pude usar de lenha para a pira no meu crânio, para dar cor, forma, cheiro e gosto para os cenários e narrativas que se constroem em MARTEMORTE.
O próprio nome MONCHMONCH vem do mundo das HQs, como onomatopeia para mastigar. Acho que existem muitos compositores que começam as coisas pelo som, normalmente eu começo pelas imagens.
DOSES VOLUPTUOSAS DE JOGOS
Definitivamente quem me conhece pessoalmente sabe que eu sou extremamente viciado em jogos, tem quem fume, tem quem beba, eu gosto de jogar e competir. Desde pequeno sempre fui fascinado por jogos, RPGS, FPS, jogos retro, RTS, jogos eletrônicos, de tabuleiro, mas também jogos de carne e osso, como vôlei, queimada, pega-pegas, sinucas e petelecos. Absolutamente todos me divertem.
No entanto, deixo aqui em especial algumas menções para relação com o álbum, e aqui inevitavelmente irei focar no mundo digital, pela carga de fantasia que se relaciona totalmente com o disco. Sem sombra de dúvida, todo o universo de Fallout, em especial o F03 e New Vegas, o humor, a sujeira e a desgraça são gêmeas do universo que imaginei para o álbum.
A minha maior recente paixão é Disco Elysium, que, aliás, parece uma história do Lourenço Mutarelli e me tira todo tipo de emoção. Também o meu favorito de infância Ratchet e Clank. Um de tabuleiro que tem tudo a ver, obviamente, é o Terraforming Mars, mas também mencionarei honrosamente o Scrabble, que com certeza esquentou minha cabeça para encontrar alguma palavra para uma letra.
Turnê em Portugal
Antes de se apresentar em solo brasileiro, MONCHMONCH vai realizar uma turnê em Portugal, que começa no dia 21 de junho, no festival Basqueiral, em Santa Maria de Lamas.
21.06 | Basqueiral – Santa Maria de Lamas
22.06 | RCA/Radioclube Agramonte – Porto (Festa de lançamento do disco)
26.06 | Damas – Lisboa
27.06 | Carpe Diem – Santo Tirso
28.06 | Artolas Fest – Arco de Baúlhe
05.07| Lúcia-Lima Associação Cultural – Cantanhede
06.07 | Bragança – Museu do Abade de Baçal
12.07 | Festival ROCKinBARCO – Guimarães
14.07 | TBA