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Bahsi reflete sobre dilemas da juventude em “Hey, Polar!”

Sempre penso que em um mercado independente como o nosso, se você não faz o som que você gosta, por que mesmo você faz música? E quando me deparo com um projeto como o Bahsi, eu consigo ver tal genuinidade. Seu som não quer reinventar a roda, não quer agradar críticos ou qualquer ambição fora do âmbito de fazer um som para se divertir. E isso consigo notar só de dar o play. Após uma série de singles, o debut Magu’s Party foi lançado em 2022. E nos últimos dias foi a vez de Hey, Polar! ser disponibilizado pelo selo paulista Lazy Friendzzz.

Natural de Piracicaba (SP), o cantor, compositor e guitarrista faz um passeia pela sonoridade dos anos 90 e vai do grunge, passando pelo indie rock e o pop. Entre as referências ele deixa claro, artistas como Nirvana, The Strokes e Her’s, este última que tem toda uma história triste por trás do projeto que valeria até mesmo um post sobre.

Como banda base participam do disco Bahsi (guitarra/vocais), Juca Natal (baixo), Diogo Jamal (guitarra) e Marcelo Bonin (bateria). O material foi mixado por Franco Torrezan no Casarão Music Studio, em Piracicaba, e masterizado por Max Matta, na Lab Sound, também na cidade do interior de São Paulo.

A narrativa de Hey, Polar! conta a história de Polar, um personagem que reflete sobre as ambições da juventude enquanto enfrenta a estagnação na vida e na carreira. Aquela clássica crise da virada dos 20 para os 30. Aquele papo que venderam para os millennials sobre fazer o primeiro milhão, ter sua casa própria e família é sinônimo de sucesso, antes dos 30. A vida por si só acontecendo para cada um de uma forma diferente.

Para conseguir extrair uma sonoridade que se aproximasse dos seus ídolos, Bahsi optou por gravar o álbum ao vivo. Assim, o lado garageiro, e indie dos anos 2000, bem documentado no documentário Meet Me In The Bathroom, ressoa em uma experiência daquelas que nos lembram aguardar para assistir os videoclipes na madrugada da finada MTV Brasil.


Bahsi Foto Por: Vi Trigo

Bahsi Hey, Polar!

Hey, Polar! é daqueles discos rápidos de se ouvir e tem como mérito apostar em refrães que ficam na sua cabeça. O material conta ao todo com 10 músicas e aproximadamente 28 minutos de duração. Sua capa inevitavelmente nos remete a estética de The New Abnormal (2020) do The Strokes – esta que conta com uma ilustração de ninguém menos que Jean-Michael Basquiat.

Imersa em ares vintage e guitarras melódicas, os vocais sussurrados e afinações de guitarra inevitavelmente nos levam para aquele cenário de NY no fim dos anos 90 que anos depois os Arctic Monkeys foram resgatar à moda inglesa temos “Catch 22” – expressão para é uma situação paradoxal da qual um indivíduo não pode escapar devido a regras ou limitações contraditórias.

Com um tom mais contemplativo, “Bipolar” pega emprestadas as guitarras do Libertines para narrar os dilemas de Polar.

Que banda foi o Nirvana em seu auge, não é mesmo? “Todd Pecker Syndrome” é praticamente um tributo ao grupo de Seattle. Aí entra tudo no pacote, bateria, guitarra estridente, vocais desesperados e a música como plano de fundo para quem deseja mudar o mundo… algo inerente a fase da juventude.

Daquelas para se pegar cantando junto, com refrão que fica na cabeça. Até mesmo Pat Smear, guitarrista do Nirvana, ganha de presente um verso. “Weather Changes” chegou ao mundo acompanhada de um videoclipe. Para quem gostar da música, vale conferir a versão ukulele que Bahsi preparou.



Please Take Back My MTV!

Hey, Polar! tem espaço até mesmo para um feat. E logo em uma canção em homenagem a MTV. Aquele velho ritual de virar a noite assistindo videoclipes e abrindo alguns portais para música nova. Agora imagine uma música acústica no melhor estilo do Família MTV no qual você podia ver uma banda brasileira que estivesse “bombando” tocando violão num churrasco com a família. Quem participa de “My MTV” é o paulistano Pedro Spadoni, com seu Cat Vids, que apresentará em breve um projeto bem diferente do que vocês estão acostumados.

“She Cut Her Own Hair”, apesar do nome que remete a “Cut Your Hair” do Pavement, e verso que cita “Needle in the Hay” (música do Elliot Smith), vocal em sinergia com Rivers Cuomo (Weezer) e algumas ambiências de grupos como Sonic Youth, Pixies e The Smashing Pumpkins, conquista o ouvinte justamente por uma nostalgia de algo que provavelmente nunca viveu.

Antes de entrar na parte final, Bahsi vai para as teclas em um interlúdio um tanto quanto radioheadiano em “Tiny”. “Last Song” para mim é uma das mais legais do disco. Daquelas com uma construção concisa que te prepara para o refrão com referências do surf rock que os Pixies, mas sem deixar o lado desesperançoso do Placebo do combo.

As guitarras mais estridentes voltam a ganhar protagonismo em “Another You” e agradarão muito aos fãs do Sky Down, banda de Santo André que também tem referências claras do Nirvana e Germs, outra banda de Pat Smear.

Quem fecha o álbum é “Garlic And Oil” com linhas funkeadas de baixo. Sua bateria seca tem até algo de drum & bass em sua essência e a guitarra fica livre para dançar. É até legal ouvir essa música na semana que o TV On The Radio anunciou o seu retorno. Outro grupo que se divertia com essa combinação é o Minutemen, uma das bandas favoritas do Kurt Cobain.

A lista de álbuns da vida de Kurt Cobain

Sendo assim, vou fechar esse post com uma lista a mão feita por Kurt Cobain dos 50 álbuns que o influenciaram ele de uma forma ou outra. Façam bom proveito explorando!


A lista de Kurt Cobain

1. Iggy and the Stooges, “Raw Power”
2. Pixies, “Surfer Rosa”
3. The Breeders, “Pod”
4. The Vaselines, “Pink EP”
5. The Shaggs, “Philosophy of the World”
6. Fang, “Landshark”
7. MDC, “Millions of Dead Cops”
8. Scratch Acid, “Scratch Acid EP”
9. Saccharine Trust, “Paganicons”
10. Butthole Surfers, “Pee Pee the Sailor” aka “Brown Reason to Live”
11. Black Flag, “My War”
12. Bad Brains, “Rock for Light”
13. Gang of Four, “Entertainment!”
14. Sex Pistols, “Never Mind the Bollocks”
15. The Frogs, “It’s Only Right and Natural”
16. PJ Harvey, “Dry”
17. Sonic Youth, “Daydream Nation”
18. The Knack, “Get the Knack”
19. The Saints, “Know Your Product”
20. anything by Kleenex
21. The Raincoats, “The Raincoats”
22. Young Marble Giants, “Colossal Youth”
23. Aerosmith, “Rocks”
24. Various Artists, “What Is It”
25. R.E.M., “Green”
26. Shonen Knife, “Burning Farm”
27. The Slits, “Typical Girls”
28. The Clash, “Combat Rock”
29. The Faith/Void, “Split EP”
30. Rites of Spring, “Rites of Spring”
31. Beat Happening, “Jamboree”
32. Tales of Terror, “Tales of Terror”
33. Leadbelly, “Leadbelly’s Last Sessions Vol. 1″
34. Mudhoney, “Superfuzz Bigmuff”
35. Daniel Johnston, “Yip/Jump Music”
36. Flipper, “Generic Flipper”
37. The Beatles, “Meet the Beatles”
38. Half Japanese, “We Are They Who Ache With Amorous Love”
39. Butthole Surfers, “Locust Abortion Technician”
40. Black Flag, “Damaged”
41. Fear, “The Record”
42. PiL, “Flowers of Romance”
43. Public Enemy, “It Takes a Nation of Millions to Hold Us Back”
44. Marine Girls, “Beach Party”
45. David Bowie, “The Man Who Sold the World”
46. Wipers, “Is This Real?”
47. Wipers, “Youth of America”
48. Wipers, “Over the Edge”
49. Mazzy Star, “She Hangs Brightly”
50. Swans, “Young God”


This post was published on 9 de setembro de 2024 9:31 am

Rafael Chioccarello

Editor-Chefe e Fundador do Hits Perdidos.

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