POPLOAD Festival tem como destaques Pixies, Jack White, Cat Power e Chet Faker; estreia do Tum e argentinas do Perotá Chingó

 POPLOAD Festival tem como destaques Pixies, Jack White, Cat Power e Chet Faker; estreia do Tum e argentinas do Perotá Chingó

Pixies em 1:15h toca 24 músicas. – Foto Por Beatriz Paulussen

Com grandes expectativas do seu retorno após o período pandêmico, o POPLOAD Festival trazia consigo uma série de perguntas. A primeira foi revelada já há algum tempo: Qual seria o line up da primeira edição agora como festival produzido pela T4F?. Na escalação inicial o festival contava com Pixies, Jack White, Chet Faker, Cat Power, Years & Years, Perotá Chingó e Jup do Bairro.

Algo que teve que ser ajustado devido ao cancelamento dos ingleses do Years & Years, e três dias antes da realização do festival, o show da Fresno com participação da Pitty foi remanejado para o seu lugar. Com diferente do Lollapalooza Brasil, e focado no público 30+, o festival procurou focar em experiências mais alinhadas com a expectativa. Dos drinks mais caprichados a 19 restaurantes espalhados pelo Centro Esportivo Tietê, o festival foi planejado para receber 15.000 pessoas.

A Estrutura do POPLOAD Festival 2022

Aliás, o próprio local era uma das outras perguntas. Visto que poucos conheciam o local. Para isso a organização disponibilizou uma série de informações e serviços para a experiência ser a melhor possível. Dos mapas do metrô, nas redes sociais, passando pela opção de vans, a lockers disponíveis para serem alugados até antes mesmo do início do festival.

A experiência de não necessitar ir de carro e de estar a poucos metros do metrô foi bastante elogiada a quem esteve presente. Outro fator positivo foi a experiência de se sentir como se estivesse em um parque durante o feriado que o gramado sintético e o local arborizado proporcionavam.

Claro que nem tudo foi um sucesso em termos de organização. Algo bastante comentado por parte do público presente foram as longas filas para os caixas e para pegar comidas e bebidas. Mesmo com ambulantes se desdobrando para ajudar as tendas, isto acabou atrapalhando a vida de quem gostaria de assistir mais shows. Os banheiros longe do palco principal também foram motivo de frustração para quem não queria perder muito tempo das apresentações.

Quando o fator eram os valores de comidas e bebidas, algo bastante questionado por quem não pôde comparecer, o chopp Heineken era salgado (R$18), os drinks de gin também não ficavam muito para trás (a partir de R$35). Já para comer um Taco não saia por menos de R$22, um hambúrguer por R$35 e um poke (R$54,50).

Os merchs das bandas também não estavam com valor muito atrativo. Uma camiseta do Pixies, por exemplo, não saia por menos de R$180, já uma jaqueta corta vento chegava ao valor de R$300. Tudo isso é algo que estamos cada vez mais acostumados em presenciar em festivais, mas nem por isso deixa de assustar, ou afastar um público que gostaria de se fazer presente.

Espaço Heineken

Além do palco principal, a edição 2022, que aconteceu no feriado de 12 de Outubro, ainda contou com um pequeno palco da cervejaria patrocinadora. Com curadoria que apesar de antenada com o momento da música brasileira, e fenômenos da internet, soou destoada do main stage.

As transições entre shows, que vale salientar, foram bastante pontuais, pareciam não ter muito diálogo entre si. Apesar de apostar em novidade, não pareceu conversar com o público presente. Uma pena pois em outros festivais seria um sucesso devido a novidades de quem está mais próximo da cena de música brasileira. Mas esse ainda não é a fatia principal do público habituê do POPLOAD Festival.

Passaram por lá Tum, a rapper indígena Brisa Flow, Number Teddie, BADSISTA, Mu540, Rincon Sapiência além do próprio Lúcio Ribeiro.

Com o formato de pocket shows, e com pouca distância do público, as apresentações se iniciavam segundos após o palco principal desligar o som, o que fazia a dinâmica da programação ter sempre algum lugar para ouvir música ao vivo.

Quem abriu o palco após a apresentação da Jup do Bairro, foi a estreia do projeto Tum, duo formado por Chuck Hipolitho (Forgotten Boys, Vespas Mandarinas) e Lovefoxxx (CSS). Sem nenhuma música oficialmente lançada, o projeto ainda rascunha canções e o que apresentou está longe de serem versões finais. A graça mesmo estava em ver o encontro de dois nomes onde seus projetos marcaram toda uma geração do indie brasileiro. O carisma e a surpresa pelo encontro acabaram chamando por si só a atenção de quem passava pelo POPLOAD Festival e ainda não sabia da existência do projeto.

O palco alternou entre shows com ativismo, como o da rapper indígena Brisa Flow e set de DJs, como Mu540 que levou o funk para a pequena arena. O ativismo e a luta por melhores espaços para artistas periféricos acabou sendo a bandeira levantada pela curadoria do espaço.


POPLOAD Festival com Jack White e Tum - Foto Por Beatriz Paulussen
Tum, duo composto por Lovefoxxx e Chuck Hipolitho estreou durante o festival. – Foto Por: Beatriz Paulussen

O Palco Heineken e o clima das eleições

Programado para acabar antes das 22 horas por conta da Lei do Silêncio, o Palco Heineken abriu seus trabalhos pontualmente às 12:10h com o show da Jup do Bairro. A artista além de levar seu show ainda mais focado no rock, teve em sua companhia a revelação cearense Mateus Fazeno Rock e o rapper guarulhense Edgar.

O show estava bom, com direito a boa performance nas percussões, bom humor de Jup e a lembrança que aquele espaço era uma conquista para a música periférica e preta. Tudo caminhava para um final que coroaria a passagem da artista no POPLOAD Festival quando faltando cerca de 2 minutos para o final da sua última música, o som sorrateiramente foi cortado.

Ela e os músicos continuaram tocar. A artista assim como no Lollapalooza Brasil jogou notas de dinheiro com sua face estampada para a plateia. Se ouvia “Aumenta o som! Volta!”, seguido de protestos por parte do público que não compreendia a razão porque aquilo foi feito já que ainda havia tempo para finalizar a apresentação.

Os integrantes da banda quando notaram olharam para si desacreditados e o show acabou de maneira melancólica suspenso pela produção. Jup postou logo após o ocorrido um tweet em suas redes sociais fazendo bastante barulho (veja os stories). A assessoria ainda soltará uma nota oficial sobre o ocorrido.


Popload Festival com Jack White, Pixies, Jup do Bairro - Foto Por Beatriz Paulussen
Jup do Bairro durante apresentação no POPLOAD FestivalFoto Por: Beatriz Paulussen

Outra marca de todo festival foi o clima das eleições. Não era muito difícil olhar muitos dos presentes trajando vestimentas vermelhas, broches, adesivos, cangas e bonés do MST. Durante os shows no telão, era possível ver pessoas fazendo o L com os dedos e em momentos pontuais como no show da Fresno, o “Ei Bolsonaro v….” foi entoado. Talvez o momento mais contundente de manifestação política foi em “Steady, as She Goes” quando Jack White pediu para cantarem o refrão e o público entregou a mesma frase política contra o presidente de forma ritmada. O que provavelmente nem o próprio White entendeu.

Perotá Chingó

Um show que surpreendeu tanto por ser escalado, como de maneira positiva, foi o das carismáticas argentinas do Perotá Chingó. Tendo como premissa a música sensorial, o telão também aproximava o público da experiência com imagens da natureza misturadas a imagens coloridas dos integrantes do quarteto. Inclusive, permitindo participações especiais e diferentes arranjos a cada nova música.

Cumbia, reggae, rock, pop, indie entre outros gêneros acabam entrando na atmosfera do show que permite até mesmo rimas e momentos mais contemplativos. Quem entrou de surpresa também foi o carismático André Abujamra para cantar uma composição de sua autoria que elas frisam que amam, “Alma Não Tem Cor” que inclusive em 2012 já tocavam (assista ao vídeo delas se apresentando em Santiago, no Chile, ainda em 2012). Trajado de maneira elegante com seu terno vermelho, o músico brincou adaptando alguns trechos para o idioma espanhol e sendo muito cortês com as hermanas.

O fato de misturar o lado orgânico e o lado mais dançante faz do show delas um momento de poder esperar tudo – e uma grata surpresa para quem ainda chegava e adentrava o local com sua taça de gin. Um show para lá de refrescante e que evidencia como deveria ser mais comum termos artistas latinos em nossos line ups. Algo que o Lollapalooza Brasil parece que ainda não entendeu a existência da demanda.


Popload com Jack White e Perotá Chingó da Argentina - Foto Por Beatriz Paulussen
Perotá Chingó da Argentina foi uma grata surpresa. – Foto Por: Beatriz Paulussen

Fresno e Pitty

Escalados apenas 3 dias antes do festival, Fresno e Pitty tiveram um ensaio relâmpago para conseguir com que a parceria adentrasse ao palco do POPLOAD Festival. Focado nas canções do álbum Vou Ter que Me Virar (2021), o trio composto por Lucas Silveira, Vavo e Guerra, subiu acompanhado de sua banda de apoio que tem até mesmo o produtor Lucs Romero como tecladista.

Na segunda música eles já levam para o palco a mais punk rock do disco, “FUDEU”, com direito a telão piscando pedindo para o público votar direito. “Vou Ter Que Me Virar” e “Já Faz Tanto Tempo” também acabam sendo destaques do mais recente trabalho dos gaúchos. Em certo momento Lucas fala sobre o envelhecimento do público se referindo aos “emos velhos” e que muitos parecem não ter mudado muito, elogiando a beleza.

A primeira parte do show ainda teve “Quebre as Correntes” em que o vocalista comenta que era uma canção de 2006 muito importante para a história do grupo, e ainda uma participação de Lio Soares, da Tuyo, em “Cada Acidente”. A artista que não estava oficialmente escalada para cantar, mas que estava assistindo o show ao lado do palco, foi convidada por Silveira, o que deu certo trabalho para a produção em ter que arranjar um microfone para ela poder se soltar sem ficar refém do mic do vocalista. No fim deu tudo certo e acabou sendo um momento repleto de ternura durante a apresentação.


Popload com Fresno e Jack White - Foto Por Beatriz Paulussen
Fresno fez show combativo em momento marcado pelas eleições – Foto Por: Beatriz Paulussen

O encontro tão aguardado com a Pitty veio justamente na música “Casa Mal Assombrada”, um dos singles do novo disco da Fresno. Nela a baiana cantou apenas alguns trechos mas se fez presente, ainda parecendo aprender a letras, o que é perfeitamente normal de ser compreendido, visto o show ter sido marcado feito um relâmpago.

A participação especial ainda contou com a execução dos hits “Na Sua Estante” e “Máscara”, esta em que Lucas frisa que era o momento mais aguardado por ele, com direito ao trecho final em inglês ser dividido entre o duo de vocais. Vale lembrar que durante a virada cultural deste ano, há pouco mais de 4 meses, o encontro no palco entre eles já havia ocorrido.


Fresno e Pitty no POPLOAD Festival com Jack White - Foto Por Beatriz Paulussen
Encontro entre Fresno e Pitty no POPLOAD Festival. – Foto Por: Beatriz Paulussen

Chet Faker

O dia estava lindo com sol mas um pouco antes do australiano Chet Faker pisar no palco do POPLOAD Festival: nuvens se acumularam, o céu ficou escuro e um pequeno temporal se instaurou. A dúvida era se ela ia perdurar e atrapalhar o show do músico mas felizmente em pouco menos de 15 minutos o cenário mudou.

Alias, seria um crime o show do músico passar por problemas, já que 8 anos antes durante sua última passagem com o projeto pelo país, ele sofreu com o extravio de seu equipamento e o abreviamento de sua apresentação no Converse Rubber Tracks. O músico não economizou e fez um set com 15 músicas, tendo espaço para canções de seus três discos [Thinking In Textures (2012), Built On Glass (2004) e Hotel Surrender (2021)]. Com direito a “Drop the Game”, parceria dele com o Flume, e “No Diggity”, um cover dos Backstreet Boys.

Sua performance impressiona justamente por fazer tudo sozinho, fazendo parecer fácil a transição entre o piano e os sintetizadores e habilidade nos vocais. Autor de músicas aclamadas e chamadas e sex songs, o músico mostra como a música eletrônica foi ganhando ainda mais corpo ao longo da sua carreira. Com show de luzes e de telas, o músico se despede agradecendo ao público e desejando já voltar.


Chet Faker no POPLOAD Festival que teve Jack White - Foto Por Beatriz Paulussen
Chet Faker retorna ao país 8 anos depois do Converse Rubber Tracks. – Foto Por: Beatriz Paulussen

Cat Power

Talvez nenhum artista se dedicou tanto em entregar um show para os fãs como Cat Power fez. O repertório que passou por diversas fases de sua carreira  com direito a inclusão de faixas como “The Greatest”, “Metal Heart”  “Nude as the News”, “Manhattan”, “Say”, “Good Woman” e “Cross Bones Style”. Ela ainda dedicou “I Want to Be the Boy to Warm Your Mother’s Heart” para Jack White em um momento fofo.

Como a turnê era do disco Covers, entre as 12 faixas que entraram no repertório da artista que canta empunhando dois microfones ao mesmo tempo, versões para “Bad Religion”, de Frank Ocean, “(I Can’t Get No) Satisfaction)”, dos Rolling Stones, “White Mustang”, da Lana Del Rey, “Shivers”, do The Boys Next Door, e “New York, New York”, do Frank Sinatra, acabam aparecendo. A verdade é que o show por ser intimista encaixaria melhor em um anfiteatro, o que fez boa parte do público dispersar um pouco, mas não que isso tirasse o brilho ou a qualidade da apresentação da artista.


Cat Power se apresenta no Popload Festival ao lado de Jack White e Pixies - Foto Por Beatriz Paulussen
Cat Power leva show intimista para o palco do POPLOAD Festival. – Foto Por: Beatriz Paulussen

Jack White

Jack White é daqueles artistas que adora ressignificar o conceito do que é ser artista. Ele não gosta de ver a arte como uma fórmula e não se prende a clichês para se expressar. Talvez seja por isso que gostamos da forma como ele gosta de ensinar e contar a história da música através dos seus shows.

Para começar, ele entra no palco com “Kick Out The Jam” do MC5, traz consigo uma banda de primeira linha que se diverte em trabalhar arranjos que fazem crescer as canções, brinca, sorri para o público, empunha a guitarra feito um operário da música e se diverte mostrando todos seus jogos.

Improviso, espírito de jam session e muitas quebras, ele apresenta canções dos seus discos solo com muito groove e com a luz azul acompanhando criando uma identidade meio Eraserhead para a execução da música. Em sua parte final ele decide abraçar o público e emenda uma sequência de seus hits mais pops como “Fell in Love With a Girl” dos White Stripes,  “Steady as She Goes” do The Racounters, em versão desconstruída e com direito a “Ei Bolsonaro v….” entoado pela plateia e o hino “Seven Nation Army” para encerrar. Como nada é óbvio no show dele, ele apresenta a banda só apenas que o show acaba. E mais uma regra é quebrada com 100% de aproveitamento.


Jack White no POPLOAD Festival 2022 - Foto Por Beatriz Paulussen
Jack White faz show memorável no POPLOAD Festival. – Foto Por: Beatriz Paulussen

Pixies

O Pixies tinha um plano e nele consistia entregar o melhor show possível em um curto espaço de tempo. Com show programado para 20:45h e o encerramento do festival marcado para às 22h, o relógio não estava do lado do grupo de Frank Black. Com show bastante superior do pouco entrosado e nervoso do Lollapalooza em 2014, eles já emendaram de entrada uma sequência com “Gouge Away”, abrindo seguida de “Wave Of Mutilation”, na versão de estúdio, e “Head On”, clássico cover de The Jesus and Mary Chain).

O show logo emendou “Something Against You”, “Isla de Encanta”, “Gigantic” em que Paz se sentiu bastante à vontade para cantar, “Caribou e “Cecilia Ann (cover do The Surftones). Tudo isso feito um petardo e sem descanso. Feito uma chuva de hits, muitos deles ainda da primeira encarnação da banda, nos anos 90, “Hey”, “Mr. Grieves”,” Debaser” e “Planet Of Sound” fizeram os fãs cantarem bastante.

A sequência forma do show ficou por conta de “Vault of Heaven”, “Who’s More Sorry Now?” e “There’s a Moon On”, presentes nos últimos discos pós 2004 que pouco apelo tem com os fãs mais antigos. Já com seu violão e lutando contra o relógio, faixas nostálgicas ganham o último tiro do show. A distópica “Vamos” emenda na balada ironicamente radiofônica “Here Comes Your Man” e de presente a tríade ainda tem espaço para uma versão lenta de “Wave of Mutilation” em versão surf music.

O trecho final ainda abaixa a frequência em “Ana”, levanta de novo com “Where Is My Mind?”, consagrada pelo uso no cinema e na TV e encerra com uma versão deliciosamente quebradiça para “Winterlong, de Neil Young. Quando menos podemos perceber o show acaba e o sentimento que ficou nos presentes foi “mas não vai ter Bis?”; e não teve, o festival se encerrou 21:58h.


Pixies e Jack White são destaques no POPLOAD Festival - Foto Por Beatriz Paulussen
Pixies faz seu melhor show no país durante o POPLOAD Festival. – Foto Por: Beatriz Paulussen

Em nota enviada para imprensa Lúcio Ribeiro crava a edição de 2023. Agora é aguardar o que está por vir!

“Foi um dia de muitos encontros e momentos incríveis para os fãs de música. No ano que vem, tem mais”, comenta Lúcio Ribeiro, idealizador da POPLOAD.


Pixies fecha POPLOAD Festival 2022 que também teve Jack White - Foto Por Beatriz Paulussen
Pixies em 1:15h toca 24 músicas. – Foto Por Beatriz Paulussen
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