del claro circunda um emaranhado de emoções em seu disco de estreia, “Keep This Pace”

 del claro circunda um emaranhado de emoções em seu disco de estreia, “Keep This Pace”

del claro lança o álbum de estreia, “Keep This Pace” – Foto: Divulgação

Não é de hoje que projetos lo-fi com aquela estética “indie de apartamento” ganham o mundo através de trilhas e playlists internet a fora. Explorando gêneros como slacker rock, bedroom pop, surf rock e indie rock, o mineiro Matheus Del Claro lança nesta sexta-feira (23/02) em Premiere no Hits Perdidos seu álbum de estreia, Keep This Pace.

Antes deste lançamento o músico que assina seu projeto solo apenas como del claro havia disponibilizado três EPs, del claro (2020), Been Dreaming (2020) e o mais recente, Passing Time (2023). Assim como a maioria das suas referências, como Mac Demarco, Homeshake e Mild High Club, o músico tem o hábito de produzir e gravar seus materiais em casa.

Keep The Pace tem o mesmo caminho mas também conta com duas colaborações especiais. Jacob Cummings, no saxofone na faixa “Tug of War, e Adam Thein (do projeto Djo) na produção de “Lay Low”.

Segundo o músico as letras retratam sentimentos e reflexões, além de falar sobre amores passados e arrependimentos. Ao todo o material reúne 9 faixas, conta com masterização de Alex Previty, conhecido pelo seu trabalho em God of War: Ragnarök (2022), Spider-Man (2018) e Spider-Man 2 (2023), e capa elaborada por Gabriel Muniz.


del claro - Keep This Pace
del claro lança o álbum de estreia, “Keep This Pace” – Foto: Divulgação

del claro Keep This Pace

Entre ondas sonoras e uma energia que flerta com a leveza dos sons do oriente, “Goodbye” foi a escolhida para abrir o trabalho do del claro. Explorando as ambiências do dream pop e da funk music, as linhas de teclados e o baixo acabam se destacando. “Where Nothing Takes Place” tem uma energia mais ensolarada, ao mesmo tempo que nostálgica, para falar sobre o emaranhado de sentimentos. Seu refrão é daqueles para os indies cantarem junto.

Já a faixa título, “Keep This Pace” chega junto do som do mar entre ondas de teclados distorcidos e um ar de mistério. Ela progride no melhor estilo do bedroom pop mesmo, feito uma trilha de um anime. Fãs de Mac Demarco vão gostar dos acordes mais despojados “surfistas” da música. O refrão possui uma carga positiva daquelas que lembra o ouvinte que é preciso manter a cabeça erguida.

Lançado como último single antes do disco (ainda no dia 16), “Lay Low”, foi produzida por Adam Thein (do projeto Djo). A escolha como um dos carros chefes do disco faz todo sentido por si só. Com linha concisa e melodia marcante, assim como as canções do Crumb costumam ser elaboradas, os teclados ritmados – e sua percussão – criam toda uma atmosfera única e nos levam para um cenário de filme. 

“Too Late” chega numa frequência mais baixa, com um vocal mais lento, para contar a sua história de coração partido. Com um ar explicito de lamentação e tristeza, ela é calcada também nos synths e no pensamento “e se tudo tivesse sido diferente”. O solo de guitarra em sua parte final com pedal distorcido ajuda a embalar o estado de inércia perante a situação onde o indivíduo não consegue se libertar.

A densidade das emoções

Já com a cabeça mais leve “Time Has Passed” discorre sobre pensamentos conflituosos sobre a vida, amores e outros devaneios. Entre a desilusão e o mar nada calmo de uma mente irrequieta.

“Tug of War” é a faixa que conta com Jacob Cummings, no saxofone, e se o mar aparece na outra canção, agora quem entra é o elemento da chuva para criar toda a ambientação antes do sopro sintetizar por si só o clima.

Bastante atmosférica, ela começa a se desdobrar a partir do segundo minuto, quando Matheus assume os vocais e linhas sutis de guitarra. A introspecção e análise sobre os sentimentos transparece até mesmo em versos sobre “estar se escondendo dentro da própria concha” e a dificuldade por se emancipar de sentimentos não muito bons.

Já na parte final, “Sunny Windy Days” também cria cenários para que a nostalgia ganhe novos contornos. Até mesmo por ser bastante descritiva na forma com que fala sobre como gosta desses dias e de estar imerso nesse sentimento. Certamente, esse disco tem muita influência da música japonesa. Os detalhes são minimalistas, mas estão ali, seja em colagens, como na riqueza dos elementos.

Quem fecha o disco é “Concerns and Regrets”, que faz uma mistura curiosa entre a bossa nova, flautas e cordas de nylon em sua introdução de um minuto e vinte. Para terem ideia, a faixa tem 7:20 minutos de duração, e faz reflexões sobre virtudes e defeitos.

O fato de estar preso nos fatos que o motivaram a compor o disco, gera uma série de pensamentos conflituosos, ente autossabotagem e julgamentos. A partir do quinto minuto, a experimentação corre solta, entre reverbs e delays como se estivéssemos dentro da própria mente de del claro.

É daqueles discos em que sentimos que o músico exorcizou seus demônios.

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