American Football no Balaclava Fest - Foto Por: Beatriz Paulussen (@beaplssn)
Festival reuniu nomes de peso como American Football e Unknown Mortal Orchestra
A décima terceira edição do Balaclava Fest aconteceu no Tokio Marine Hall, em São Paulo, no domingo (19). Localizado na zona sul da cidade o espaço com capacidade para 4 mil pessoas ainda tinha ingressos disponíveis até o dia do evento. Aliás, pelo segundo ano consecutivo o festival da produtora que também atua como selo, agência, editora fonográfica e revista realiza sua maior produção anual no local.
O festival ficou marcado mais uma vez pela boa organização e pela pontualidade das apresentações. Nos merchs era possível encontrar uma camiseta customizada do American Football especialmente para o show brasileiro.
Por outro lado, é bem verdade que o palco externo prejudicou um pouco a experiência de quem assistiu os shows por ali (pelo fato do som sair vazado). Ao longo das pouco mais de 8 horas de festival, consegui entrevistar alguns presentes que comentaram que ele parecia “um puxadinho” e que o melhor seria todos os shows fossem concentrados no palco principal. O que sabemos que por motivos de logística, disposição do local, não era algo viável.
Ao todo o Balaclava Fest reuniu 8 atrações, sendo 6 internacionais e 2 nacionais. Sendo os dois nomes de mais peso escalados foram o American Football e o Unknown Mortal Orchestra.
De Chicago, a banda liderada por Mike Kinsella, que se apresentou na Casa Rockambole no dia anterior, está em atividade desde a década de 90 sendo o maior ícone do gênero midwest emo. Apesar do seu disco homônimo auto-intitulado ter sido lançado em 1999, foi a primeira vez que o grupo de Illinois se apresentou no país. A apresentação única e exclusiva no festival teve duração de 1 hora e 30 minutos.
De longe foi a banda que mais levou fãs para o festival que apostou pelo primeiro ano na tendência do revival do emo – e foi um acerto.
Às 19:15h o American Football entra no palco. Eles já começam com “Stay Home”, faixa que envolve tons quebradiços de jazz e um trompete pra mostrar o porquê são os maiores ícones do midwest emo – e todo poderio de aliar referências distintas para criar um som único. Até as luzes azuis nos teletransporta para uma realidade solitária, bucólica, de desesperança e baixa frequência imprimida no debute. Um disco feito com baixo orçamento mas que mesmo nas limitações, ficou marcado como um símbolo de uma geração. Aliás, o aniversário de 24 anos do álbum de estreia foi agora a pouco…em setembro!
As músicas ao longo da apresentação vão criando cenários e os vocais de Mike Kinsella ilustram isso de forma melancólica acentuando a intensidade de sentimentos que evoca. Até por isso os blocos de luz revezam dependendo de onde eles querem atingir. Esse tipo de detalhe faz com que mesmo com sua frieza o som do American Football consiga chegar a outros níveis de envolvimento e conexão com o público.
Kinsella chama sua companheira para fazer os vocais que Hayley Willians, do Paramore, gravou em canção do mais recente disco, III, “Uncomfortably Numb”. O som soturno vai ganhando camadas, seja das teclas, xilofones, como dos chocalhos que criam toda uma ambiência. Diferente da apresentação solo de Kinsella, com o Owen, o músico pouco interage com os fãs deixando que a música fale por si só.
Na parte final do show do American Football eles tocam “Home Is Where the Haunt Is” e “Honestly?”…e claro “Never Meant” fica pro bloco final pra coroar o show sendo cantada praticamente unissonamente.
Da Nova Zelândia, o Unknown Mortal Orchestra teve a missão de apresentar seu o pop psicodélico lo-fi, dançante e envolvente. Liderada pelo guitarrista, Ruban Nielson, os headliners que fecharam a noite vieram para promover o álbum V que foi lançado em março. O som orgânico e cheio de ambiências oriundo da fusão musical de referências tem um leque de influências vasto que vai de Prince a Steely Dan para criar uma atmosfera mágica.
O show desde a primeira música se mostra imerso na introspecção e se certa forma tem a mesma delicadeza de arranjos que o headliner principal do ano passado, o Fleet Foxes (saiba como foi). Com muito gelo seco e cores que se alternam no cenário, as melodias e arranjos se juntam ao jeito cancioneiro do vocalista e guitarrista são responsáveis por criar cenários. Algo que fez falta para um projeto que tem uma videografia incrível foi justamente trazer projeções para o palco, o que deixou o show menos impactante do que poderia ter sido.
A verdade é que o volume do microfone e dos outros instrumentos poderiam estar mais altos para impactar mais. Um show com vibe ora mais introspectiva, ora mais expansiva mas com muita técnica e deleite. Um dos momentos mais legais no quesito interação foi quando Ruban desce para tocar no meio da galera. Não contente, dá uma “volta olímpica” pela pista inteira até retornar ao palco. O roadie teve que correr junto tanto para protegê-lo como para iluminar para que ele conseguisse enxergar a notas. Uma cena definitivamente memorável.
A apresentação tem seus momentos mais intensos com solos de guitarra, outros mais pops, mostrando a versatilidade da orquestra que vai do reggae a psicodelia. Um show ameno mas assim como seus hits, com muita classe, técnica e manejo de seu lider na hora de conduzir sua pequena (grande) orquestra.
Um fato inusitado é ótimo para introduzir outra das bandas que se apresenta no festival. Se no C6 Festival tivemos o encontro inusitado no line-up de Tyler Hyde (Black Country, New Road) e Karl Hyde (Underworld), no Balaclava Fest desta ano tivemos outras destas coincidências da vida. O vocalista e baterista Julien Ehrlich, da Whitney, já foi baterista do Unknown Mortal Orchestra em 2011, logo no início da carreira do grupo.
Ao lado do guitarrista Max Kakace, Julien formou o grupo que retornou ao Brasil após 6 anos. Com quatro álbuns lançados, eles que são queridinhos de Elton John, vieram para divulgar o disco SPARK (2022) mas os clássicos de Light Upon The Lake, claro, não ficaram fora do repertório.
Com formação megalomaníaca com 5 integrantes no palco, duas baterias, dois teclados, trompete, o repertório bebe muito de gêneros como a americana, country, rhytmin & blues em sua base destacando bastante os vocais do baterista. Dá até para entende o que Elton viu neles e os porquês com facilidade.
O show é melancólico e bastante técnico com muitos arranjos, viradas e domínio das melodias e harmonias. No entanto no quesito experiência foi o mais morno do festival.
A australiana Hatchie, artista de dream pop e shoegaze, tem em seu repertório dois discos, Keepsake (2019) e Giving The World Aways (2022) mas que ganhou uma versão deluxe em 2023. Ela que chamou a atenção ainda em 2018 com o single “Sure” presente no EP lançado naquele ano, Sugar & Spice.
Acompanhado de Samira Winter, do projeto Winter, Harriette Pilbeam faz show delicado minimalista e parece se divertir no palco. Ela parece até um pouco acanhada no começo da apresentação, feito uma aluna em seu primeiro dia de aula, mas ao pouco vai se soltando. Em determinado momento até fala sobre.
Mais para o final faz uma dobradinha memorável. Toca “Sure” e em seguida é ovacionada por escolher para fechar com “Obsessed”, primeiro single de seu mais recente disco. Ela fecha com “Lights On” seguida de “Quicksand”.
São melodias doces dreamy que dão a sensação e propulsão num universo onírico e ciberespacial bastante introspectivo que se emula durante a apresentação em show curto de 9 músicas.
Com uma energia oitentista revival forte, o Thus Love fecha a ala gringa de atrações, sendo uma das apostas do festival neste ano. Os três integrantes, Echo Marshall (voz, guitarra), Lu Racine (bateria) e Nathaniel van Osdol (baixo), se identificam como artistas transgêneros gravaram sua demo ainda na pandemia e lançaram o elogiado disco Memorial pela Captured Tracks (selo nova-iorquino que revelou nomes como Mac DeMarco, DIIV, Beach Fossils e Wild Nothing).
A apresentação foi uma grata surpresa pela intensidade punk e energia rebelde com direito a muita distorção, volume alto e baterista que pesa a mão feito uma marreta. Não sei se o Placebo é uma das referências da banda mas o timbre do vocalista lembra bastante.
As guitarras tem algo de proto punk rasgado com direito a pedais que deixam a energia rock’n’roll lá em cima, feito as bandas de high energy rock’n’roll. Embora o som tenha uma alma dançante entre Blondie e Siouxie And The Banshees.
O show surpreende tanto pela atitude e perfomance no palco como pela variedade de arranjos, em certa música é possível comparar a intensidade juvenil ao Nirvana. Faz muito sentido eles que moram quase na divisa com o Canadá terem excursionado com o Dry Cleaning (leia entrevista exclusiva).
A parte mais eletrônica, pós-punker, disco e cintilante do festival ficou sob a responsabilidade do trio inglês PVA que chegou munido dos seus sintetizadores e beats. A banda ganhou notoriedade em 2019 com o lançamento do single “Divine Intervention” pelo selo Speedy Wunderground, seguido pelo EP Toner (2020), pela Ninja Tune.
Show bastante elétrico em alta voltagem (mesmo!). A vocalista, Ella Harris, é muito performática. Já o tecladista, Josh Baxter, entra no palco trajado com roupa de surfe e também parece se divertir não somente performando como sentindo a música. A bateria seca, conduzida por Louis Satchell, chega junto pra dar o tom de pista de dança underground.
Juntos eles conseguem transmitir uma energia caótica gélida como bandas de new rave e grupos com Ra Ra Riot e Crystal Castles, costumavam fazer no começo dos anos 00, principalmente pelos efeitos de teclados que dialogam com a trilha sonora de séries como Skins.
A vibe revival e iluminação verde deixa tudo ainda mais vivo. Agradecem a Nina, que fica na mesa de som, em um dos momentos mais gentis da apresentação. Até diz que eles são caóticos em suas criações e que ela é um anjo em aceitar os desafios operacionais que o som do trio exige por si só.
Após música que tem duelo de bateria versus vocais, o tecladista troca de lugar com a vocalista pra parte mais acid house do set que se funde com experimentações próximas do post-punk. Definitivamente um dos grandes acertos do festival.
Na ala brasileira, abrindo o festival, tivemos o show em conjunto de conterrâneos em show especial. Shower Curtain e terraplana, que se conheceram desde o embrião dos projetos. Ambos, inclusive, integram o casting da Balaclava Records. Neste ano o terraplana lançou o ótimo disco olhar pra trás (será que vão entrar na nossa lista de melhores do ano?) que recentemente ganhou uma live session gravada diretamente de uma vinícola (assista). Já Victoria lançou o EP, Something Instead, em 2021 pelo selo paulista e em breve apresentará seu álbum de estreia.
Show começa solo, falam do entrosamento pela amizade de longa data e começam a partilhar o palco menor do festival. Aproveitam para tocar uma música em parceria. A apresentação tenta emular o clima nublado e acinzentado do shoegaze e foi interessante ver como parte do público conhecia as músicas e fazia duelos de air guitar. Eles fecham com o lead single do novo disco, “Conversas”.
O set contou com 9 músicas, sendo 4 de cada e o feat lançado no dia 10/11, via Balaclava Records, “Meus Passos”.
Stay Home
The One With the Wurlitzer
I Can’t Feel You
Silhouettes
Play Video
Uncomfortably Numb
Heir Apparent
My Instincts Are the Enemy
Trumpet Solo
Every Wave to Ever Rise
Give Me the Gun
I Need a Drink (or Two or Three)
Home Is Where the Haunt Is
Honestly?
Encore:
You Know I Should Be Leaving Soon
I’ll See You When We’re Both Not So Emotional
Never Meant
The Garden
From the Sun
Swim and Sleep (Like a Shark)
The Opposite of Afternoon
Thought Ballune
Little Blu House
Necessary Evil / Monki / Necessary Evil
In the Rear View
Ministry of Alienation
Waves of Confidence
Nadja
So Good at Being in Trouble
Layla
Multi-Love
Encore:
Weekend Run
Meshuggah
That Life
Hunnybee
Can’t Keep Checking My Phone
Thinking Of
Sugar & Spice
Try
Her Own Heart
This Enchanted
Obsessed
Sure
Lights On
Quicksand
Memórias (terraplana)
Amanhecer (terraplana)
I Keep Trying (Shower Curtain)
Take Me Home (Shower Curtain)
You’re Like Me (Shower Curtain)
Edgar (Shower Curtain)
Meus Passos (terraplana + Shower Curtain)
Cais (terraplana)
Conversas (terraplana)
This post was published on 22 de novembro de 2023 10:00 am
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