Owen vai do céu ao inferno em apresentação conturbada na Casa Rockambole
Copo meio cheio ou meio vazio. É uma expressão e escolha pessoal que casa bem com o que foi a apresentação de Mike Kinsella com seu projeto paralelo Owen na Casa Rockambole, em Pinheiros, São Paulo. Considerado um dos artistas mais influentes da cena musica emo de Chicago, desde o início dos anos 90, ele é conhecido por ser o vocalista do American Football e também por fazer parte de grupos como o Joan of Arc e Cap’n Jazz.
Em seu projeto solo, Owen, o músico mostra sua versatilidade no modo desplugado apostando em uma sonoridade folk com melodias calmas e camadas de guitarras. Kinsella já lançou até agora dez álbuns com o Owen, tendo iniciado o projeto em 2001. O último deles sendo The Avalanche lançado em 2020 pela Polyvinyl.
Owen na Casa Rockambole – 18/11/2023
Já se passavam das 22 horas no relógio quando Mike Kinsella de supetão entra no palco, senta na cadeira e fica olhando para baixo. Desde o primeiro momento ele deixa claro seu humor ácido e sutil dizendo que não acreditava que tinha tanta gente para ouvir músicas tristes e chatas. O que, claro, causa risos da plateia. Ele revela que se sente velho no sentido de só agora estar se apresentando pela primeira vez no Brasil depois de tanto tempo.
No segundo andar da Casa Rockambole estão os outros integrantes do American Football acompanhando a apresentação do amigo. Aliás se teve algo marcante na noite foi o fácil acesso deles com os fãs. Por lá, andavam tranquilos pela casa e muitos abordavam para trocar ideia ou apenas tirar uma foto. O que causou algumas pequenas filas ao longo da noite. Apesar de não ter sido uma noite “sold out”, era possível ver um bom público que se deslocou até o reduto boêmio da zona oeste paulistana.
Mike Kinsella é um cara reservado ao mesmo tempo que cativa com seu humor bem característico. Logo nas primeiras músicas é possível reparar nos olhos atentos dos fãs ansiosos pela apresentação de domingo no Tokio Marine Hall. É verdade que grande parte de quem esteve presente estava mais esperando alguma versão do lendário grupo emo do que ouvir as canções autorais do projeto. Foram poucos momentos do set em que pudemos ouvir boa parte da casa cantando os tristes refrães do músico.
Muitas músicas sobre desilusões, términos, solidão, ressaca e busca por dias melhores. Embora as letras das suas outras bandas não sejam das mais otimistas, o mergulho é mais profundo no Owen e em algumas canções é possível sentir a intensidade de suas vivências e como isso reverbera nos presentes.
Os altos e baixos
Ele comenta que está em São Paulo já a alguns dias e que o calor foi algo que o surpreendeu bastante. Relata até mesmo que esteve com a sua namorada, que ele mesmo relata ser mais nova, e que foi a alguns restaurantes. Até brinca que tem até uma espécie de tara em vê-la comendo. O que causa risadas na plateia.
Após duas músicas o jogo que parecia ganho já no aquecimento tem um outro destino. É bem verdade que é apenas o quinto show no ano de Owen e Mike mesmo confessa bastante frustração com o que aconteceu durante a apresentação. Durante uma música um chiado é sentido, ele ignora e continua tocando mas ele vai piorando. O som da microfonação do seu violão se assemelhando a frequência de uma rádio pirata. Ele chama o roadie para o palco que tenta resolver o contratempo mas ele volta acontecer.
Por mais bom humor que o músico tenha, ele transparece um desconforto latente com o ocorrido. Corta a vibe e de certa forma o músico não conseguiu voltar. Kinsella até tem a ajuda da equipe da casa e consegue solucionar o problema mas a cabeça do músico parece distante. Parecendo perdido em muitos momentos.
Para balancear o contratempo, ele começa a fazer mais piadas, brinca muito que iria tocar “Even Flow” do Pearl Jam. Faz essa brincadeira por mais de uma vez. O show é irregular, e caótico, tendo sim seus bons momentos, mas se transformando em um pocket show se fosse pra “deixar pro DVD” os melhores momentos. Kinsella até brinca em certa hora dizendo que amanhã (domingo) a banda pagará uma equipe para garantir que tudo funcione bem.
Caipirinha
O momento mais memorável foi quando no meio de sua confusão, e tentativa de melhorar o clima da apresentação, pede uma caipirinha. Pede tantas vezes seguidas que ela realmente chega. Como o bar do segundo andar fazia bastante barulho, era possível ouvir os drinks nos momentos de silêncio sendo preparados. Com a chegada do drink, Mike Kinsella faz questão de retribuir oferecendo água do palco para a produção. Ele toma uns goles e diz “I think caipirinha is kickin'” e pergunta como se fala mesmo, o público responde e ele fala que poderia ficar só ouvindo eles falando essa palavra que talvez pudesse se tornar uma música.
Depois disso o show cresce em ritmo e ele parece bem mais a vontade. Avisa que tocaria mais duas músicas mas dependendo do público poderia tocar mais. Pedem “Anchor” entre outras que ele até brinca que ama as músicas e cita que outra é a sua música favorita composta na vida mas que infelizmente não sabe tocar elas. Deixando os fãs com o gosto agridoce na boca. Restava a esperança de tocar “Never Meant”, hino de sua banda principal, mas esse momento não chega e o show se encerra com uma saída ríspida do palco.
Copo meio cheio ou meio vazio. É a escolha. Para quem queria estar mais perto do vocalista e apenas vê-lo tocar, copo meio cheio. Para quem tinha expectativa de uma performance que honrasse o projeto com várias músicas favoritas de anos no set, copo meio vazio. A verdade é que o show do domingo é o que realmente importa mesmo para a maioria dos que estiveram presentes.
UPDATE: Mike Kinsella gostou tanto da Capirinha que decidiu tatuar como se “pronuncia” para nunca mais errar.
quanto você gosta de caipirinha?
bastante
o suficiente para fazer uma tatuagem?
sim!
you are the best @mybandowen pic.twitter.com/i1lxdqG7RE
— Balaclava Records (@balaclavarecs) November 22, 2023
Setlist Owen no Brasil – Casa Rockambole – 18/11/2023
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