Mita 2023 em São Paulo: Jehnny Beth mostra as garras, BADBADNOTGOOD exalta Arthur Verocai, Djonga e BK’ fazem boa dobradinha e Lana Del Rey atrasa 40 minutos no primeiro dia

 Mita 2023 em São Paulo: Jehnny Beth mostra as garras, BADBADNOTGOOD exalta Arthur Verocai, Djonga e BK’ fazem boa dobradinha e Lana Del Rey atrasa 40 minutos no primeiro dia

Lana Del Rey no Mita 2023 em São Paulo – Foto Por: Rafael Chioccarello

No primeiro fim de semana de junho aconteceu a segunda edição do Mita 2023 em São Paulo (confira como foi a do Rio de Janeiro), desta vez com novo local, o Vale do Anhangabaú, no centro de São Paulo. A escolha foi alvo de muitas reclamações desde o anúncio visto que a primeira edição (veja como foi o dia 1 | veja como foi o dia 2) teve pontualidade e localização bastante elogiados.

As críticas se davam principalmente a segurança da região que passa por um momento delicado, o que afastou muitos do festival, o segundo dia tendo atraído um público menor em relação ao primeiro que teve como headliner a Lana Del Rey.

O reforço do policiamento na região e a orientação para a chegada aos metrôs mais próximos foi reforçado ao longo da saída. Mas isso não facilitou a saída no primeiro dia onde houveram muitos relatos de pessoas que demoraram de 2 a 3 horas para conseguir se deslocar até suas casas. Quem buscava um uber ou taxí, por exemplo, poderia encontrar uma corrida no valor de R$120 em um evento em que a pista comum chegava perto da casa dos R$500.

Outro fator bastante comentado por quem esteve presente foi o fato da grade da pista comum ficar cerca de 200 metros do palco principal, o que foi alvo de reclamações. Era possível ver muitos se aglutinando perto das entradas da pista premium, o que consequentemente gerou até dificuldade para quem queria entrar no “cercadinho”.

Por outro lado, a pontualidade dos shows foi mais uma vez um motivo algo para ser elogiado na experiência, assim como os banheiros, era possível ao longo do evento ouvir comentários positivos em relação a boa demanda de WC’s.

No sábado (03/06), Lana Del Rey foi o único motivo de reclamação no núcleo artístico. A artista atrasou 40 minutos sua apresentação, e conforme apurado, por escolha própria. O que fez com que seu show passasse bastante do horário combinado com a prefeitura (possivelmente gerando uma multa), e era possível ver muitos fãs esgotados na grade da pista comum.

Opções de comidas bastante variadas estavam espalhadas ao longo da estrutura do evento em pequenas praças de alimentação com um leque de comidas que ia do fast food a restaurantes gourmets.

Os preços das bebidas no Mita 2023 (em São Paulo)

Os preços das bebidas também eram salgados, um copo de Heineken de 400 ml (R$18 com álcool | R$16 sem álcool), Lagunitas ou Blue Moon de 400 ml (R$22), água de 500 ml (R$10), refrigerantes (R$12), Gin com energético (R$38) e vodka com energético (R$35).


BADBADGOOD no Mita 2023 em São Paulo
BADBADNOTGOOD no Mita 2023 em São PauloFoto Por: Rafael Chioccarello

Mita 2023 em São Paulo: Os shows do primeiro dia

O sábado do Mita 2023 em São Paulo começou com shows da N.I.N.A, às 11:55h, e do duo Avuá & Rodrigo Alarcon, às 12:50h, ambos shows não pudermos acompanhar.

Jehnny Beth

Chegamos e já tinha iniciado o show da Jehnny Beth que conseguiu emplacar logo de cara o melhor show do dia. Vocalista do grupo de post-punk inglês Savages, que já se apresentou anteriormente no país, ela veio desta vez para apresentar seu projeto solo no qual conta com a companhia de uma tecladista/synths (e backin vocal) e um guitarrista.

A francesa, nascida com o nome de Camille Berthomier, lançou seu primeiro álbum, To Love Is to Live, em 2020 e nele tem colaborações com o Joe Talbot do IDLES, arranjos e produção de Atticus Ross (que colabora frequentemente com Trent Reznor), e o vocalista Romy Croft do the xx.

Em 2021 ela também lançou um álbum em dueto com Bobby Gillepsie, Utopian Ashes, no qual também foi bem recepcionado pela crítica. Ela já colaborou também em projetos homenageando David Bowie, fez versão para canção de Lydia Lunch ao lado de Julian Casablancas, gravou participação em “We Are Dreamers” do Tindersticks e já colaborou com o Gorillaz no single “We Got Power” – faixa que Noel Gallagher também faz backin vocals.

O calor é algo que chama bastante a atenção no horário, fico até imaginando como deveria estar o show da N.I.N.A marcado para o meio-dia. Com muita intensidade e ainda mais pulsante do que seu álbum em estúdio, o som trás referências de darkwave, post-punk e rock industrial o que se traduz em muita energia ao vivo.

Um show que tem um protagonismo e atitude muito latentes em cada gesto e tensão que ela crava ao longo do bom uso da extensão do palco. Muita entrega, visceralidade, sintetizadores e beats energéticos não deixam com que o tom baixe ao longo da apresentação. Nela existe um mix acertado de músicas mais introspectivas com mais pesadas e divide o protagonismo com a tecladista que uma hora canta – e impressiona por sua habilidade em dominar o palco.

Bastante carismática e tendo o desafio de conquistar novos fãs, tocando num horário ingrato, a francesa elogia o inglês do público quando pede para cantar um trecho de uma das suas músicas.

Já na parte final, Jehnny Beth apresenta sua versão de “Closer” do Nine Inch Nails. Um dos pontos mais altos da apresentação foio fechaento quando o trio executa a intensa “I’m The Man”.


Jehnny Beth no Mita 2023 em São Paulo
Jehnny Beth no Mita 2023 em São PauloFoto Por: Rafael Chioccarello

Setlist

Innocence
Heroine
We Will Sin Together
Flower
God Is That You
More Adrenaline
New World
Closer (Nine Inch Nails cover)
How Could You
I’m The Man

Duda Beat

Quem pode acompanhar o show do seu disco Te Amo Lá Fora, lançado em 2021, além de um álbum de remixes que a artista lançou, este que re-oxigenam seus hits. Quem conhece o andamento das apresentações da pernambucana, nota que cada vez mais ela se preocupa em trazer um corpo de dançarinas coeso e como capricha nos figurinos. É bom ver como ela vem crescendo neste sentido desde o lançamento de Sinto Muito (2018). O show contou ainda com participação de Felipe Veloso, em “Tangerina”, feat com Tiago Iorc.

Durante a apresentação, Duda Beat parece dar indireta a artistas que dançam, e não cantam, e fala que não faz playback – e por isso sempre está se desafiando, tanto na performance e nos vocais, o que a motiva a cada vez evoluir mais. Ela também trás para o palco, um naipe de metais, o que diz ser algo muito chique de poder ter a companhia.

Aproveitando a deixa de ter Lana Del Rey tocando no mesmo dia ela puxa pro set a canção “Chapadinha na Praia”, uma versão para um dos hits da cantora estadounidense. Apesar de existir há 4 anos, ela nunca lançou oficialmente para evitar batalhas jurídicas. No telão foi possível ver durante a execução a hashtag #LiberaLana, ambas viriam a se encontrar no backstage do festival mais tarde.


Duda Beat no Mita 2023 em São Paulo
Duda Beat no Mita 2023 em São PauloFoto Por: Rafael Chioccarello

Setlist

Tu e eu
Chega
Parece Pouco
Nem um pouquinho
Bolo de rolo
Bédi Beat
Tangerina (TIAGO IORC cover)
Meu pisêro
Meu Jeito de Amar
Chapadinha (Lana Del Rey cover)
Bixinho
Tocar você

BADBADNOTGOOD

O segundo melhor show do dia foi o dos canadenses do BADBADNOTGOOD, de Toronto. Com seis álbuns de estúdio, sendo o mais recente, Talk Memory (2021), o show do grupo pareceu bastante isolado dentro da programação do festival em que uma banda de jazz psicodélica experimental era bastante diferente da base do line up.

A apresentação é bastante intimista, com andamento feito com muito respeito a nossa cultura e reverenciando a Bossa Nova e lendas nacionais. Com muitas viradas, eles mostram um ganho significativo no quesito experiência do que a banda que se apresentou anos atrás no Cine Joia.

Estão mais performáticos, carismáticos e postura mais solta na apresentação, mostrando como a técnica aliada a estrada fazem deste um grande segredo para um excelente show. Os metais cada vez tem mais protagonismo porém a dificuldade de interação com um público que não foi vê-los era algo notório embora a grande coesão tenha sido a grande assinatura da apresentação.

“O corpo humano é 70 por cento assim como os oceanos que circundam esse país. Amamos esse país, as pessoas, a experiência com o Arthur Verocai foi inesquecível, pessoas lindas, somos muito gratos a todas experiências que estamos vivendo aqui.”, diz o baterista Alexander Sowinski bastante entusiasmado

Pedem pro público pular e parte entra na brincadeira mas no meio de tanto fã de Lana Del Rey guardando a grade e sem paciência para entrar no clima do jazz, parece que a plateia ficou com reações divididas. Chegando a ser vergonhoso, constrangedor e com muita falta de respeito, o fato de alguns comemorarem o fim da apresentação. Se o público brasileiro costuma dar exemplo de receptividade, desta vez o que aconteceu foi um gol contra. Quem esteve por lá e ama música chegou a retrucar.


BADBADNOTGOOD no Mita 2023 em São Paulo
BADBADNOTGOOD no Mita 2023 em São PauloFoto Por: Rafael Chioccarello

Djonga convida BK’

Um dos grandes fenômenos do rap mineiro é o rapper Djonga, ativista e carismático, ele se revela a cada apresentação um grande mestre de cerimônias. Com discos lançados em sequência, e participando de várias colaborações, ele também é dono de um selo de música independente, A Quadrilha, e tem sido fundamental para todo seu entorno cada vez crescer mais. Tendo raízes no grupo DV tribo, ao lado de Hot, o mega grupo contava com nomes que depois se revelariam também importantes da cena mineira como FBC, Clara Lima, Oreia e seu companheiro de beats, Coyote Beats que o acompanha país afora.


Djonga no Mita 2023 em São Paulo
Djonga no Mita 2023 em São Paulo Foto Por: Rafael Chioccarello

Seu show costuma fazer um mix entre canções de Histórias da Minha Área, O Menino Que Queria Ser Deus e Ladrão. Com momentos bastante estratégicos, já que ele não teria o habitual tempo longo de show que costuma ter em festivais do circuito independente, e de suas apresentações solos, ele e Coyote fazem um set estratégico planejado para não perder nenhum minuto.

Chama a atenção a proposta de chamar casais para o palco em “LEAL”, em que casais de todas as formas de amor sobem ao palco, como o próprio músico ressalta, todos se ajoelham e se declaram durante a execução da música. Após o fim, um casal mais velho fica um pouco mais de tempo no palco e Djonga faz questão de abrir o mic para eles poderem falar um pouco, mandam um beijo para uma conhecida e aproveitam para entoar “Fogo nos Racistas”. A apresentação ainda teve um parabéns surpresa com direito a bolo e velas no palco, o músico se lambuzou ficando com o rosto cheio de creme do bolo na parte final do show.

O que é uma deixa para o rapper carioca BK’ entrar no palco para feat, ambos interagem com sagacidade e admiração, tendo até momento em que pede para improvisar o beat com a boca, já que a base não estava pronta, e eles se viram bem com a saia justa. BK’ também canta músicas próprias e depois que eles cantam uma faixa que fala sobre beber a última cerveja, o carioca brinca que quer beber a cerveja que tá no camarim.


Djonga e BK'no Mita 2023 em São Paulo - Foto Por Rafael Chioccarello
Djonga e BK’ no Mita 2023 em São PauloFoto Por: Rafael Chioccarello

Flume

Tem uma rave no esquenta da Lana Del Rey, foi essa a reação do público que se dividia na pista de dança que Harley Edward Streten, conhecido profissionalmente como Flume, levou para o festival em uma sequência de shows no mínimo exótica, tendo Flume, depois Natiruts e Lana fechando. Assim como o show do BADBADNOTGOOD isso causou um pouco de estranhamento por parte dos fãs da cantora que estavam já a muitas horas na grade.

Dinâmica do show é interessante justamente por ele fazer questão de trazer duas vocalistas que se revezam ao longo da apresentação criando toda uma atmosfera propícia para uma grande festa. a sensação de sair de um show pulsante e cair num habitualmente morno, como o da norte-americana, deixou o palco meio com um mood diferente.

A apresentação é bastante colorida, com boas animações nos telões e experiência imersiva mas talvez o horário não tenha sido o melhor para a escalação, funcionaria muito melhor em um after oficial do evento.

Durante o espetáulo, a superlotação do festival era perceptível, as pessoas da pista comum querendo cercar a área vip para ter uma visão melhor do show atrapalhavam quem queria acessar a área. A produção pareceu não entender muito como contornar isso no dia – fato que foi resolvido no segundo dia. O que gerou estresse de quem havia desembolsado uma experiência premium. Além disso, era possível notar filas gigantes para os poucos caixas disponíveis na pista.


Mita 2023 em São Paulo - Flume
Flume durante o Mita em São Paulo – Foto Por: Rafael Chioccarello

Lana Del Rey

Depois da polêmica envolvendo o membro da equipe no Rio de Janeiro, no qual publicou nas redes após ser assaltado ofensas – e generalizações – descabidas ao povo brasileiro, a expectativa pela volta da artista nova iorquina a São Paulo era alta.

Com 40 minutos de atraso, o show da Lana Del Rey pode ser lido das mais diferentes formas.

Um fã poderá dizer que “foi perfeito” atendeu pedidos e entregou o som e experiência que queria. Mas tem um outro fator a ser considerado, estar em um festival onde existe curiosidade e uma demanda diferente. Isso muda tudo pois um público que conhece hits e espera algo que guie uma apresentação com ritmo envolvente: fica esperando algo a mais (que nunca chega). E quem já viu um show dela no passado sabe como ele é feito de momentos bastante distintos. Entre momentos amenos de introspecção e outros mais dançantes.

O show começa frio e vai aos poucos ficando morno. Ela parece em muitos momentos insegura e confusa com o seu andamento, algo que se faz ainda mais evidente quando comenta que não sabe se lembra tal letra de uma música ou joga para o público cantar notavelmente emocionada. É receptiva e amorosa com o público, se mostra bastante grata por tê-los ali, quando precisa soltar a voz procura entregar mas no fim é um show irregular que não prende a atenção de quem abre o coração para se impressionar pelo novo. Parece um show feito para fãs de Lana Del Rey e não preocupado em construir novos públicos.

Sua banda, coral e cenário que a acompanha por outro lado são do mais alto nível.

Porém falta ritmo na construção do setlist. O show de quase 2 horas se torna muitas horas cansativo, e seus hits servem como uma muleta, para um conjunto da obra feito para um público específico. Não foi difícil, tanto pelo horário, já que o atraso impactou bastante o cronograma, como pelo ritmo do show, ver muitos indo embora antes do fim.

Fato é que a postura afeta também o andamento do show que tem potencial de entregar mais se passasse por alguns ajustes. O destaque mesmo fica para o bloco final de canções.


Mita 2023 em São Paulo - Lana Del Rey
Lana Del Rey no Mita 2023 em São PauloFoto Por: Rafael Chioccarello

Setlist

A&W (versão curta)
Young and Beautiful
Bartender (Instrumental)
Bartender (Versão extendida)
The Grants (Versão Curta)
Flipside (Introdução longa; versão curta)
Cherry (Versão Extendida com pontes nos vocais)
Pretty When You Cry
Ride Monologue (Com vídeos no telão de vários clipes)
Ride (Versão Curta; novos vocais nos refrães)
Born to Die (Versão Curta)
Blue Jeans (Com introdução longa)
Norman Fucking Rockwell
Arcadia (Versão Curta)
Ultraviolence
White Mustang (Introdução Estendida)
Candy Necklace (Introdução Estendida)
Venice Bitch (Versão curta, com outros elementos)
Diet Mountain Dew (Versão curta, com vocais atravessados)
Summertime Sadness (Versão Remix)
Get Free (Pedida pelo público)
Did You Know That There’s a Tunnel Under Ocean Blvd
Cinnamon Girl (Pedida pelo público)
Video Games (Versão Estendida)

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