Conexão Jamaifrica: Uma viagem no tempo e o espaço através da musicalidade africana e afro diaspórica (Parte 3)

 Conexão Jamaifrica: Uma viagem no tempo e o espaço através da musicalidade africana e afro diaspórica (Parte 3)

Conexão Jamaifrica: Uma viagem no tempo e o espaço através da musicalidade africana e afro diaspórica (Parte 3)

Segundo Ato: discotecando musicalidades africanas em Campinas

Em 2019 retornei para Campinas – uma vez que havia vivido na cidade entre 2013 e 2015 em razão do mestrado em sociologia na Unicamp depois retornado para São Paulo para realizar a pesquisa mencionada. Na cidade quatro experiências foram determinantes para a criação do projeto Conexão Jamaifrica propriamente: 1) frequentar e até trabalhar no extinto Sindicato Bar; 2) participar como integrante do Afoxé de Alá, antes da pandemia; 3) durante ela escrever para o Hits Perdidos (revista digital especializada em música), como colaborador, produzir e\ou participar de podcasts sobre música; 4) as atuais parcerias com Pedro Augusto (Anansi) e Francisco Flores (vulgo “Chile”).

O Sindicato Bar em 2019 estava localizado em Barão Geraldo sua programação cultural buscava abrir espaço para artistas iniciantes ou que não tinham acesso a cena consolidada de Campinas, passei a frequentar o espaço ainda no início de 2019 e lá fiz amizade com Felipe Bardi (funcionário), Felipe Fernandes (Pateta, dono do buteco) e Maria Furlanetti (Mahi, dona do buteco), com eles conversava acerca das pesquisas que realizava com artistas africanos e as musicalidades conhecia a partir dessa relação. Foi Mahi quem fez o convite para eu tocar no bar e Felipe e Pateta (junto a ela) sempre incentivando a tocar mais vezes. Nesse momento utilizava apenas o notebook e um um equipamento para uso do Vitual DJ que permite um retorno do segundo canal de som do aplicativo.


Conexão Jamaifrica - Discotecagem Bar Sindicato
Discotecagem no Bar SindicatoFoto: Acervo Pessoal

No bar, além de frequentar e eventualmente fazer freelance, performei com eles e a estrutura de som local. Esses incentivos que se realizavam enquanto convite, publicidade, troca de ideias, espaço para discotecar durante o ano de 2019 no Sindicato Bar gerou outros convites entre o segundo semestre do ano e início de 2020 em São Paulo e Campinas.

Na capital pude expandir o projeto se apresentando no extinto Sucessos Bar, centro da cidade, durante a quarta do Reggae e no Pós Carnaval a convite dos produtores culturais Lucas Campos e Peeh Augusto; la me apresentei na Casa Híbrida durante a festa “Bonsuar o after não oficial de São Paulo Bloco di Preto” (localizada na zona oeste a convite da produtora cultural no Teatro Oficina Uzyna Uzona (a convite da ativista pró direitos dos imigrantes e refugiados e socióloga Karina Quintanilha para organização de som e discotecagem do Sarau Multicultural Fontié ki Kwaze); e no Estúdio Toca Discos na Festa do Reggae (onde também tocaram as bandas Banda Marofa Reggae Roots e Guerreiros de Judá), a convite do guitarrista Alê Pereira; em Campinas realizei apresentações nos no Stout Café Cultura e Bar a convite de Paula produtora cultural, cozinheira e administradora do espaço e no extinto Kabana Bar (no evento #sóvem concedido a DJ´s iniciantes).

Outra experiência que contribuiu para desenvolvimento musical do projeto foi a participação no Afoxé de Alá entre o segundo semestre de 2019 e início de 2020. Esse grupo foi idealizado e liderado pelo cantor, compositor e multi instrumentista Diogo Nazareth, tratou-se de uma série de práticas musicais ao aprendizado do ritmo Ijexa com vista a formar um bloco de Afoxé os ensaios ocorreram no “Terreiro de Umbanda Mãe de Deus”. Essa vivencia resultou no aprendizado de instrumentos diversos populares e, também, motivou-me à pesquisa musical no gênero do Axé o incluindo em meu repertório, inclusive a canções “Olubajé” de seu álbum “Cultura de Existência” (2018) faz parte de meu repertório.

Nesse momento eu já assinava como “DJ Will da Leste” e promovia o projeto como “Conexão jamaifrica”. Se a vivencia em São Paulo com músicos africanos foi importante para a pesquisa sobre música a experiência entre Campinas a capital paulista como DJ foram fundamentais para a construção de repertório, performance musical, aprendizado sobre artes visuais para produção de cartazes e comunicação em rede social à produção de textos de divulgação. Com a chegada da pandemia e o fechamento dos bares, espaços culturais e o cancelamento dos eventos experimentei outra prática de produção: a curadoria musical a partir da escrita.

Durante e após o auge da Pandemia escrevi três artigos para a revista Hits Perdidos em caráter colaborativo – no caso não se tratou de um convite, mas, uma proposta de minha parte a revista que aceitou -, os artigos foram: “9 artistas da música africana que viveram ou vivem no Brasil pra ouvir durante a quarentena” (maio de 2020), “Músicas de Protesto Africanas pra te inspirar na luta contra o Racismo e o Fascismo” (julho de 2020) e “Especial 20 de novembro: Os cantos de protesto no Brasil contra o racismo e a valorização da África” (novembro de 2021), ouve, também, a convite de Pedro Torres a publicação impressa no número 1 da revista Transgressoar (Editora Maracaxá) denominado “A África e o Brasil: navegando pela musicalidade africana de ontem e hoje” (fevereiro 2021).

Incentivado por amigos realizei três podcasts o primeiro – Conexão Jamaifrica 1 – voltado a curadoria no formato playlist, o segundo – Conexão Jamaifrica segundo set list – relacionando a curadoria e a rádio, e o terceiro – Conexão Jamaifrica Soundcloud Terceiro – formato programa de rádio de título “Baixaria Sonora” especial de aniversário de 2 anos da Internova Web Radio, convite do músico Jean Paz. Outros podcasts foram a convites de Felipe Suna integrante da banda punk Tara Bipolar, o primeiro participei com Natália Matos (Punho de Mahin) do “Clássicos do Punk #17 National Wake – Walki in Áfrika (1979-81)”, dedicado a análise da musicalidade desse album e o contexto político cultural em que se inseria a banda punk sul africana National Wake. O segundo foi “DS #283 – Música Africana de resistência ontem e hoje” conversa entre Suna e eu sobre a relação entre a música africana e os movimentos políticos musicais no século XX e XXI no continente.


Conexão Jamaifrica - Podcast


Em 2021, com continuidade em 2022, duas novas pessoas com seus respectivos projetos cruzam meu caminho e o contato com elas confirmam o método de trabalho que acredito render bons frutos: as parcerias. São eles Francisco Flores e Pedro Augusto. Com Francisco o contato se deu a partir do espaço Goma Arte e Cultura localizado em Barão Geraldo.

Criamos o “Conexão Diáspora” projeto dedicado a mesclar atuação política, apresentações musicais, exposições fotográficas e de artes plásticas em geral, exibição de filmes, debate políticos. Exibimos, até aqui, o documentário “Orí” (1986) com apoio logístico audiovisual do Cine Clube Terracota e exposição de obras da revista Transgressoar (editora Maracaxa); roda de conversa sobre o “20 de Novembro” com participações de Andrea Mendes, Silvio Shina e Pedro Anansi com exposições de obras do sebo “Palavras são Navalhas” e da “Sikudhani” e discotecagem do DJ Rogin e minha; exibimos o filme “Libertem Angela Davis” (2012) com apoio do mesmo coletivo e da Anansi Editora Impressora, no dia ocorreu debate que contou com a participação dos ativistas e artistas Andrea Mendes, Pedro Anan sy e Sílvio Shina; realizamos roda de conversa com o músico de jazz e ativista anti racista “Du Kiddy” para abordar seu conceito de navio branqueiro e outra roda acerca dos movimentos negros e a cultura afro brasileira com o pesquisador anti racista “Fabiano Mestre”; na ocasião produzimos apresentações musicais de “Du Kiddy e “DJ Pedro Peixoto” participação do Poeta “Bafô”; a convite de Francisco participei como DJ de duas edições da “Meso Mercado Autoral” (2021 & 2022), por fim, em 2021 fiz residência musical as quintas feiras a noite no espaço do Goma.



Esses eventos foram importantes ao desenvolvimento da performance musical, da visibilidade do projeto e a produção cultural. A partir dessas experiências, nesse espaço, conheci Pedro Anansi (pedagogo, produtor editorial e pós graduado em matriz africana) com quem co-produzi e trabalhei como apoiador de duas edições da festa “O Jazz é primo do Samba?”.

A primeira foi o lançamento do nº 10 da revista Sikudhani em janeiro de 2022, essa edição contou com um debate cujo tema foi Cristianismo e Negritude” em que estiveram a mesa Emiliano Jamba (teólogo e historiador social), Raquel Horonato (socióloga e educadora) e Joyce Nascimento (artista visual), exposição das obras de Everaldo Luiz cuja temática aborda a diáspora africana; apresentações musicais do Grupo N´Goma (samba), Quarteto Candieiro (jazz), participação especial de Débora Silva e Deusa Nagô, e eu com o projeto Conexão Jamaifrica.

A segunda foi a 11ª edição da revista e ocorreu em março e contou novamente com exposição das obras de Everaldo Luiz, apresentações musicais do Grupo N´Goma (samba), Du Kiddy (jazz), performance e exposição de Kyo Dias (artista, desenhista e performer), o debate de lançamento ocorreu entre Mel Baba (mulher cis amarela, artista independente, dançarina, provocadora de movimento e educadora da dança), Janaina Jara (bailarina-intérprete criadora, formada a nível técnico pela Escola de Artes) e Joyce Nascimento, houve, também, a exposição dos trabalhos de Helder Kawabata (artista visual e encadernador) da editora Costuradus Experimentos gráficos e outra vez minha discotecagem.

As descrições acima foram apenas algumas experiências de pesquisa, produção, trocas, incentivos e parcerias que vivenciei no Atlântico Negro brasileiro – houveram outras não inclusas aqui – que levaram a criação do projeto “Conexão Jamaifrica”, ele continua ativo agora nessa versão texto para nova edição para o Hits Perdidos.

Leia também a Parte 1 e a Parte 2

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