Crime Caqui com delicadeza mostra a vulnerabilidade do fim de ciclos no clipe “Feito Pra Durar”
A Crime Caqui, de Sorocaba (SP), passa por um momento especial dentro da carreira. Em breve as paulistas devem lançar seu álbum de estreia catalisando referências que vão do indie pop, passando pelo proto-punk ao pós-punk, mas antes, elas apresentam nesta quarta-feira (09) em Premiere no Hits Perdidos o clipe para o recém-lançado single, “Feito Para Durar”.
Uma canção que passa por um tema que ao longo da vida todos iremos vivenciar algumas vezes, o da vulnerabilidade. Ao notar que tudo é frágil, e passageiro, por mais sólido que pareça ser e todo cataclisma de emoções envolvido. Tudo sendo vivo e capaz de mudar mesmo que a princípio não seja algo que “desejamos”. O cair a ficha de que o amor se desfez traz consigo uma série de sentimentos conflitantes clássicos de um fim de ciclo.
Yolanda Oliveira é a autora e harmonizadora de “Feito Pra durar”, já Larissa Lobo foi a responsável por construir os arranjos de guitarras, bateria por Fernanda Fontolan e o toque dos sintetizadores por May Manão, que pela primeira vez troca a guitarra pelo sintetizador, trazendo novas possibilidades sonoras para o quarteto.
Crime Caqui “Feito Pra Durar”
“Curiosamente, ‘Feito Pra Durar’ foi composta para outro projeto que nada tinha a ver com a Crime Caqui: um videoclipe concebido sem música, feito por Fernanda e dois amigos, que me convidaram para escrever algo que se encaixasse no projeto. No fim das contas, o clipe acabou ganhando outra canção, mas a inspiração visual, que narrava um relacionamento tumultuado e sensual entre dois homens, foi essencial para a composição da letra e melodia”, explica Yolanda.
Até por isso a melancolia se insere nos enquadramentos e no ritmo do vídeo que dilacera o coração de quem acompanha por sua forma intensa que mostra os takes – e o período de assimilação do fim de ciclo. Com concepção da própria banda, o material tem direção de cena, fotografia, edição e cor por Rafael Augusto e produção das próprias integrantes; Yolanda Oliva e Fernanda Fontolan.
Já a faixa foi gravada no Estúdio Aurora em São Paulo por Carlos Freitas e Carina Reno, gravação de bateria por JH Miotto, com produção musical de Mônica Agena (Moxine), mixagem de Alejandra Luciani e masterização de Katia Dotto.
Entrevista: Crime Caqui
Como enxergam o momento do tão esperado primeiro disco e como observam que os lançamentos anteriores ajudaram a maturar o trabalho de vocês?
Fernanda: “Esse momento atual que estamos, o de lançar o primeiro disco, parece uma batalha vencida. Olhar para a trajetória da banda e ver que cada passo que demos foi muito firme e necessário, e que cada lançamento que fizemos ampliou nossa voz e nos trouxe novas perspectivas, realmente nos dá fôlego pra fazer tudo da melhor forma possível, com planejamento, qualidade, paixão, paciência, porque nem sempre é possível apressar alguma etapa.
No ano passado, decidimos recorrer ao financiamento coletivo pra conseguir gravar e concretizar o disco da forma que queríamos, com produção musical, gravação em estúdio, assessoria de imprensa e outros, sem falar dos profissionais que sonhávamos trabalhar.
Nesse processo do financiamento, percebemos que nossa trajetória ali estava sendo validada, por ter uma troca mais pessoal com quem nos apoia, e também ver que estamos no caminho certo e que muita gente acredita e quer estar junto desse sonho nosso.
Essa validação realmente foi ultra significativa e nos fortalece a continuar. Afinal, conseguir lançar música de forma independente é uma luta, algumas vezes precisamos fazer escolhas que priorizam o nosso trabalho e deixar nosso projeto musical em segundo plano, mas mesmo dessa forma a gente tem caminhado e estado imensamente feliz com o que a Crime Caqui tem nos alcançado.”
No campo das referências para as composições e sonoridade? O que andou no radar de vocês que pode surpreender?
Crime Caqui: “Juntamente da Mônica Agena, a produtora musical do disco, buscamos referências que alinhassem nossas expectativas à sonoridade da banda, a busca vai dos indie e pop dos anos 90′ e 00′ até um bedroom pop que vai de encontro com o tom confessional do álbum. Como textura para bateria, por exemplo, a banda Wallows veio como uma grande referência, o que contribuiu pra bateria encontrar novas potências, inclusive existem elementos sonoros bem presentes na própria Feito pra Durar.
O último disco da Billie Eilish, o Happier Than Ever, foi uma referência importante pra espacialidade, texturas e mixagem, a banda Beach Fossils nos trouxe o lo-fi para intenções específicas, a banda Mourn trouxe um peso pontual que sentíamos falta, e a Warpaint diríamos que é a referência geral de dream-pop que predomina o nosso som.”
“Feito Pra Durar” é uma composição forte que pode ser interpretada tanto pelo lado de resolução amorosa mas também para fins de ciclos nos mais diversos sentidos que a vida nos permite. Sentimento este aflorado nos últimos 3 anos. Contém mais sobre a faixa.
Yolanda: “É curioso mesmo pensar no significado que uma música adquire conforme vai passando o tempo. A “Feito pra Durar”, por exemplo, foi composta a uns 4 anos atrás mais ou menos, nasceu impregnada dessa nostalgia de fim de ciclo, porém, como foi longo o caminho até finalmente ser gravada, acumulou outros significados pra além.
Com o acontecimento da pandemia e tudo que ela acarretou, parece que entramos num processo de luto muito intenso que tem se arrastado e tem sido bastante doloroso e essa música também trata desse assunto, de como lidar com o sentimento de perda, como aceitar que tudo o que vivenciamos é efêmero.”
Tanto o clipe como a canção tem uma história toda curiosa por trás, contém mais detalhes sobre as reviravoltas e bastidores da produção.
Larissa: “Essa música tem uma trajetória curiosa. Faz alguns anos que existiu esse filme/ clipe, uma produção de uns amigos da Fer e que precisava de uma música, a história era sobre duas pessoas que viveram uma paixão intensa que acaba e então a Yo fez a letra com a melodia e assim nasceu a primeira versão de Feito pra Durar.
Anos mais tarde, na primeira imersão que fizemos com a nova formação da banda, já começando os ensaios do que viria a ser esse primeiro disco, a Yo nos trouxe essa canção e de cara a gente já fechou um novo arranjo. Depois de todo o trabalho de produção ela cresceu tanto que, além de se tornar um single, escolhemos também fazer um registro audiovisual, captado pelas lentes atentas do Rafael Augusto, da Lobotomia, que nos ajudou a traduzir em videoclipe esse sentimento de perda, trazendo um cenário sóbrio em contraste com elementos que remetem a efemeridade das coisas.”
Neste momento de retomada cultural como observam os movimentos, união entre as bandas e como a internet pode ajudar com que o trabalho de vocês chegue mais longe?
May: “Percebemos um movimento que se renova, se recicla, com muita resiliência. Aqui em Sorocaba, por exemplo, tem o Lobotomia (produtora que realizou nosso novo clipe “Feito Pra Durar”) que com muito esforço conseguiu fazer o primeiro show (Ventilas e Camargo), num espaço que também esteve batalhando muito para conseguir se manter aberto, depois desse período de restrições de quase 2 anos, que é a Maloca Cultural.
E definitivamente a internet tem sido um espaço essencial para chegarmos em novos lugares/pessoas com a lógica das distribuições feita pelas plataformas de streaming. Inclusive, pasmem: um tempo atrás descobrimos que o lugar onde nossa música era mais tocada é Singapura!!!! Chocadas e felizes! Rs. E, claro, a internet contribuiu muito também para que o diálogo e apoio entre bandas fosse possível, mesmo que online.
Neste período tivemos muitas boas trocas com bandas como O Acaso Mora Ao Lado (São Paulo/Itu), Mais Uma, Exclusive e Os Cabides e a rádio Peep FM (Florianópolis). Não fazemos ideia de como teria sido sem ela, a internet s2.”