Após 4 EPs, eliminadorzinho lança seu álbum de estreia “Rock Jr.” via Cavaca Records
Parece clichê mas nada mais natural que bandas formadas por jovens em seus vinte e poucos anos em algum momento se questionarem sobre os dilemas da vida adulta. Por mais que vivamos numa era onde a maturidade não se vê mais em um número e idade, e sim nossas experiências e aprendizados, essa passagem acaba “batendo” de uma forma ou outra e em tempos diferentes para cada um.
O período chamado por alguns de “adultescência” pode ser bastante conflituoso e a maturidade para lidar com os problemas traz consigo várias ciladas que a vida cobra naturalmente que esse ciclo finalmente se encerre. E é exatamente sobre esse ponto que o eliminadorzinho aborda em seu novo disco, Rock Jr. A famosa “bagunça do começo da vida adulta”, inseguranças, erros, aprendizados, nostalgia e pecados acabam ecoando entre guitarras distorcidas e letras que dissertam sobre essas passagens e locais que sentem saudade, como é o caso de “Pompeia” que faz referência a ver shows no palco do famoso Sesc paulistano.
Lidar com esse sentimento Pós-Jovem, virou até podcast comandado pelo sagaz André Felipe onde os convidados comentam mais sobre esse período onde são jovens adultos ou adultos com almas jovens – e isso você entende melhor ouvindo.
Com produção de Luden Viana (EATNMPTD), Rock Jr. está sendo lançado via Cavaca Records. Após 4 EPs é chegada a hora do álbum de estreia do trio formado por Gabriel Eliott (Voz e Guitarra), João Pedro Haddad (Baixo) e Tiago Souto Schützer (Bateria); e por aqui chegamos a falar anteriormente sobre o EP ao lado do mineiro Fernando Motta.
A grande novidade fica por conta do leque de referências que refrescou e deu ares de juventude sônica a experiência. Sim, o shoegaze, o emo, o grunge, o pop e o rock continuamos entre as referências que eles citam até como os veteranos da Yo La Tengo e Polara e bandas mais novas como Title Fight e os conterrâneos do Raça. Mas por outro lado eles abraçaram referências do punk e do hardcore e a justificativa foi ótima, foram atrás de trilhas de videogames, como Tony Hawk Pro Skater, Fifa, GTA e provavelmente Burnout, onde o leque de bandas passava pelos estilos e seus adjacentes.
Eles ainda citam que filmes e até o jogo Super Smash Bros, acabou influenciando na sonoridade. Depois dessa tem que ouvir para ver se encontra algum easter egg, não é mesmo?
Entre as temáticas eles comentam que passam por dilemas e conflitos mundanos como os aprendizados com os romances, amizades, convivência, tempo e a rotina. Conflitos estes que acabam permeando toda uma geração que ainda é jovem mas já tem certa quilometragem de experiências.
A transição e o caminhar se refletem até mesmo na cronologia do disco que mostra a banda fazendo reverência aos seus ídolos de infância e adolescência, feito um tributo amplificado. “Verde”, por exemplo, nos leva para o espírito do hardcore, gênero popular no começo dos anos 2000, que tem como expoentes no Brasil nomes como Garage Fuzz. Já “Baixo Astral” tem um lado mais indie, feito Yuck, que ao mesmo tempo tem referências do pós-rock e shoegaze, ainda é extremamente pop.
Quando o papo é slowcore e referências de grupos como Title Fight, “Eu Já Sei” traz com sigo delays de guitarra e um arranjo que definitivamente os tira da zona de conforto. O hardcore melódico aparece “Em Seu Lugar”, trazendo justamente referências de Polara e de grupos que os influenciaram, como Jawbox e Jawbreaker. Os backin-vocals, inclusive, se aproximam dos de Mark Hoppus nos primeiros discos do Blink 182.
O sentimento de fuga da realidade e o grunge/punk/emo, de bandas como Violet Soho, acabam aparecendo na pungente, arrojada, reflexiva e crescente, “Canção Pro Tony Andar De Skate”. Como o próprio nome diz: faz homenagem a trilha do jogo que nos últimos tempos passou dos 20 anos.
“Ainda somos jovens pero no mucho” seria uma boa frase para fechar a soundtrack do trio.
Faixa a Faixa “Rock Jr.” por eliminadorzinho
“Bastante inspirada nos riffs pegados do Yo La Tengo. A música é bem potente, mas não tem transições bruscas. A gente se especializou nos últimos tempos a fazer uma atmosfera de som bem densa, presente no nosso primeiro EP Nada Mais Restará (2016), e trouxemos essa experiência pro álbum também, mas de um jeito mais seco do que antes.”
“A letra veio como um grito entalado sobre se encarar com seus próprios fantasmas. Uma das poucas músicas que a letra veio antes do riff de guitarra, mas também sem muita pretensão de ser um hino. Bastante inspirada no Polara, uma influência em comum entre os três.”
“Veio como um desabafo sobre nossos primeiros empregos e namoros, com algumas imagens abstratas e outras bastante diretas. Trabalhávamos e frequentávamos muito a região da Pompeia, em São Paulo, então além de tudo é uma homenagem ao Sesc Pompeia e à saudosa Breve.”
“Uma das músicas que surgiu com a ideia de fazer o disco, e que lançamos como single em 2019. Na época gravamos às pressas pra divulgar nosso show com o Cloud Nothings, o que acabou fazendo com que ela ficasse bastante distante do que a gente queria, então achamos justo regravar pra caber com o resto das músicas. Encapsula bem o tema geral do disco, as ansiedades da passagem do tempo e a questão do envelhecer.”
“Sobre relacionamentos, sejam românticos, familiares ou de amizade, e sobre perdas. Quando começamos a criar essa música nos deparamos com um novo jeito de compor, dando mais atenção às vozes e também criando uma narrativa com diferentes sensações. Deixar a música nos trinques foi um desafio, talvez seja o nosso arranjo mais ambicioso até agora.
“Um dos primeiros riffs que foi se tornando música em um processo bastante consciente de composição, de sentar e escrever. É por isso uma das nossas letras mais diferentes. Destaque pra produção do Luden, que nos incentivou a trabalhar as melodias – o que é visível no disco inteiro.”
“Requinte de melancolia na noite paulistana, e talvez nossa única música explicitamente sobre términos. Ecos das nossas primeiras influências de slowcore, shoegaze e post-rock, ainda mais pela guitarra do Luden, que foi uma grande referência pra nós quanto a esses gêneros.”
“A música mais antiga do disco, de 2018. Grande inspiração na banda Raça, nossos colegas com quem já tocamos algumas vezes. A ideia foi fazer um punk brabo hardcore, que não era uma grande influência no começo da banda, mas foi transparecendo. Resolvemos regravar por que ela praticamente liderou essas novas composições, esse novo espírito da banda que é retratado no disco. É uma das nossas favoritas ao vivo.”
“Um dos processos criativos mais divertidos do disco, a música nasceu de uma gravação amadora, em que começamos a cantar frases soltas e tocar despretensiosamente. Quando ouvimos a gravação adoramos o resultado, e a estrutura final foi bem baseada nessa primeira gravação (com mudanças bruscas, uma letra bem humorada etc).”
O material foi gravado entre 2019 e 2020 nos estúdios Espaço Som e Cavalo Estúdio em São Paulo, por Alyson Borges, Gabriel Olivieri e Tamires Pistoresi, “Rock Jr.” foi editado, mixado e masterizado por Gabriel Olivieri, Gabriel Arbex e Ali Zaher e conta ainda com o projeto gráfico das capas assinado por Carlos Dias (Ao Seu Alcance, e vocalista das bandas Polara / caxabaxa).
This post was published on 5 de novembro de 2021 12:04 am
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