Supercolisor viaja ao fim da noite para encontrar a sua essência

 Supercolisor viaja ao fim da noite para encontrar a sua essência

Da esquerda para a direita: Ian Fonseca, Jérôme Gras, Natan Fonseca e Henrique Meyer

A viagem começou muito antes da partida e a jornada ainda mais. O Supercolisor já passa dos 10 anos de estrada entre começos e recomeços, respeitando a mutabilidade da vida e levando consigo os aprendizados da vida. Entre o último disco e Viagem ao Fim da Noite se passaram 5 anos, tempo este que contrasta com um mundo a cada dia mais imediatista onde timing, exposição virtual e marketing muitas vezes são colocados na frente da música.

2020 era o ano em que o disco finalmente ganharia a luz do dia e a pandemia acabou mudando os planos de diversos artistas. A estratégia de divulgação teve que mudar. Tendo começado a apresentar os singles ainda em 2019, a Supercolisor seguiu o curso de disponibilizar seus videoclipes, estes com propostas diferentes. Boa parte conta com a direção de Alberto Whyte, que teve como proposta fazer vídeos bem diferentes entre si.

“Acho que justamente porque estávamos experimentando com a linguagem da imagem, sabendo que era possível que houvesse um próximo e que por isso cada clipe poderia ser a sua ‘própria coisa’, isso foi nos ‘viciando’ conforme acontecia, alargando o arcabouço estético que entregamos pro público”, detalha Ian sobre a nova obsessão.

Supercolisor “Nada É Melhor”

Para coroar o lançamento do álbum eles apresentam hoje o video para “Nada É Melhor” faixa que abre o registro.

“Estruturamos uma história como subtexto que nos guiasse dentro da coreografia inspirada pela letra, e essa nossa história fala sobre memória, mais especificamente a afetiva. Uma mulher surge no cenário aparentemente sozinha e aos poucos uma segunda presença a encontra: um homem está ali personificando os momentos que eles viveram juntos, uma memória”, explicam os dançarinos Marcel Anselmé e Carolina Martinelli, que coreografaram e protagonizam o vídeo, desenvolvendo os conceitos juntamente aos coreógrafos Isa Kokay e João Corrêa.



Antes disso eles já tinham lançado 6 videoclipes e você pode assistir todos aqui. Com dez faixas, sendo uma delas uma reprise de “Torto” em feat com Maurício Pereira, o álbum trata de destilar sentimentos e situações do nosso cotidiano através de melodias e arranjos sensíveis que nos transportam para memórias feito uma viagem (no tempo e espaço).

Supercolisor Viagem ao Fim da Noite

Viagem ao Fim da Noite foi produzido por Ian Fonseca e Jérôme Gras que se multiplicam em funções, Ian, por exemplo assina também a engenharia de áudio, já Jérôme, os arranjos. A co-produção foi realizada pelo guitarrista Henrique Meyer. 

O disco foi gravado nos estúdios Invern, Family Mob, Gramofone, AnimalCordel e Veredas, entre São Paulo e Curitiba. Já a mixagem e a masterização foram realizadas por Bruno Giorgi no estúdio O Quarto (Rio de Janeiro). Você pode conferir a extensa ficha técnica no site oficial do Supercolisor.

Além da participação de Maurício, a banda ainda conta com feats com Maurício a Tuyo (“Um e Meio”), Leo Fressato (“Sempre”) e Victor Meira, da Bratislava (“Incêndios”).

Ao descrever o disco Ian filosofa e diz “A vida no hoje desesperadamente permeada do ontem e do amanhã.”, o Supercolisor busca também se reinventar musicalmente e também como comunicadores.


Supercolisor Viagem Ao Fim Da Noite (2021)
Da esquerda para a direita: Ian Fonseca, Jérôme Gras, Natan Fonseca e Henrique Meyer

Em “Nada É Melhor” eles olham no retrovisor para reavaliar experiências, aprendizados e desejos, o que ganha mais intensidade com o piano que guia até o choque com o peso e intensidade que vai crescendo exponencialmente. É interessante como elementos de outros estilos acabam agregando nos arranjos e criando uma atmosfera acolhedora e equilibrada feito uma dança a dois.

“Um e Meio”, o feat com a Tuyo, já buscar uma proposta que liga o acústico ao vocal aveludado dos curitibanos. A temática das inseguranças, e recomeços, a dois acaba sendo o cerne da canção. A jornada do amor que busca mostrar as tormentas neste oceano de sentimentos.

“Torto” é pop e descreve as curvas – e desdobramentos – que as situações de convivência podem ter. A faixa também conta com marcante presença de metais. Já na versão com Maurício Pereira ela ganha arranjos ainda mais delicados com direito a um poema verso livre do músico paulistano, feito um epílogo.

Com assobios que chegam do horizonte “Pardal” vai buscar referências distintas com direito a sanfonas por Marc Thiessen. Uma canção com cara de trilha sonora de minissérie ou até mesmo novela das 6 por suas doces açucaradas de ternura destilada em meio de metáforas com o bichano.

“Sempre”, parceria com Leo Fressato, também ganhou um belo clipe que acabou entrando na nossa lista de Melhores Clipes mensal, mas também se destaca pela delicadeza dos arranjos e a cumplicidade dos vocais de Ian ao cantar seus versos. A nostalgia ganha novos elementos, e correntes marítmas que acentuam a carga emocional, no encontro com os vocais de Fressato.

Os Aclives da Viagem

“Estrada” discorre sobre a jornada e o lidar com as despedidas, recomeços e reviravoltas. Tudo isso sobre o plano do observador que muitas vezes procura na estrada uma razão para viver entre sonhos, tormentas e reflexões. Como elemento surpresa elementos do reggae/dub entram em sua parte final com trechos em francês, vale lembrar que Jérôme nasceu na França. A quem gostar recomendamos fortemente ouvir o trabalho Blundetto

Primeira a ser revelada “Incêndios” conta com a participação de Victor Meira (Bratislava), amigo de longa data do grupo, o “fogo”, que também dá título ao último álbum da banda paulistana, também move as metáforas da canção que discorre sobre essas forças sobrenaturais que nos conduzem feito faísca. Assim como Pereira, Victor recita um poema para que não esqueçamos dos sonhos, da normalidade das incertezas da vida e dos inevitáveis finais de ciclo.

Já se aproximando do fim do disco, “Eu Não Te Esqueci” fala das pequenas alegrias dos silêncios a dois, de compartilhar lembranças, conquistas, percalços e rotina. A relatividade do tempo e a importância de cultivar momentos e memórias se ressignifica na canção. A dualidade da letra também faz com que a canção também encaixe com a interpretação de ser uma lembrança de alguém que marcou muito mas agora não está mais por perto – e talvez essa seja a magia da composição.

“Viagem ao Fim da Noite” vem para fechar o ciclo do disco em uma balada soturna com os sentimentos à flor da pele. Entre devaneios e o som peso das guitarras que em maior parte do disco estiveram num tom mais calmo para mostra a procura por um abrigo em meio a escuridão. No fim a viagem volta para o ponto de partida e os novos capítulos apenas começaram a ser escritos.


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