40 anos de Ratos de Porão: João Gordo & Asteroides Trio, live e muitas surpresas!
O Ratos de Porão chegará aos 40 anos em 2021 e já prepara uma série de celebrações ainda em 2020. Um dos principais símbolos do punk brasileiro, o grupo formado por João Gordo, Jão, Boka e Juninho fará uma live às 19 horas no dia 28/11 diretamente do estúdio Family Mob que será transmitida no canal de youtube do Central Panelaço.
Além das músicas rolarão depoimentos, imagens raras e prometem até mesmo interatividade, a produção da live é assinada pela Powerline Music & Books. Entre os convidados para os depoimentos estão nomes como Andreas Kisser (Sepultura), Supla, Mano Brown, Rodrigo Lima (Dead Fish) entre outros.
João Gordo & Asteroides Trio “Crucificados Pelo Sistema”
Asteroides Trio é um power tio de Arujá (SP) que em seu rockabilly incorpora elementos do punk rock entre outros estilos. Naturalmente o conjunto formado por Leandro Franco, aka. Franco Kid (Vocal e Bateria), Weasel Rocker (Baixo Acústico) e Formiga (Guitarra), já explorou por versões tanto no disco Punkabilly, como no Tributo aos Autoramas – A 300 KM Por Hora, organizado pelo Hits Perdidos. Eles se juntam ao João Gordo para lançar uma justa homenagem aos 40 anos do Ratos de Porão.
O álbum tributo a icônica banda de hardcore brasileira contará com faixas de álbuns clássicos como o tão assustadoramente atual Brasil, produzido pelo renomado produtor Harris Johns e lançado em 1989 via Roadrunner Records. A primeira amostra foi o single “Direito de Fumar”, faixa presente no disco Feijoada Acidente?(1995) que ganhou uma versão punkabilly com o adendo dos vocais do João Gordo.
Confira Entrevista Exclusiva com
João Gordo & Asteroides Trio
A Versão para “Crucificados Pelo Sistema” (Ratos de Porão)
Agora é a vez do clássico “Crucificados Pelo Sistema” que também dá o nome ao álbum de estreia do grupo paulista. A versão rockabilly que ganhou uma nova entonação do João Gordo nos vocais ganhou um videoclipe produzido pelo cartunista Leandro Franco que já se destacou produzindo vídeos para artistas como Supla, Autoramas, Nervochaos e inúmeras bandas independentes Brasil afora. Franco também assume os vocais e bateria na Asteroides Trio.
Já a faixa foi gravada e produzida por Joe Marshall do Hotjail Studio, já a mixagem e masterização é assinada pelo Estúdio Fuzza. Em 2021 será lançado via All Music Matters e Neves Records o vinil com as demais versões.
Outras Surpresas
“O projeto com os Asteroides Trio está de vento em popa. Somente esperando passar a pandemia para voltar a ensaiar e gravar. O tributo de rap é um pouco mais complicado por conta de produção.
Andei conversando com o Ganjaman (produtor de rap), que também produziu o nosso disco Homem inimigo do homem (Alternative Tentacles – 2006). Conversei também com o Thaíde, Sandrão, Helião, Djonga, Marcelo D2. No entanto, preciso correr atrás disso. Tem muito trabalho pela frente.”
O Ratos é aquela novela. Enquanto estou fazendo um monte de projetos, o Ratos nem tchungas. Cada um pro seu lado, meio desanimados. Mas é isso aí, Ratos é Ratos.”, contou João Gordo em entrevista exclusiva para o Hits Perdidos agora é esperar para ver se ganha corpo
A Resistência do Ratos de Porão
Sobre o espírito de resistência do Ratos De Porão ao longo dos 40 anos ele crava:
“A resistência do Ratos vem de sempre. Sempre nadamos contra a maré. Vimos vários panoramas políticos retardados nesse paisinho de merda nosso. Esse sem dúvida é o mais bizarro. A banda vem desde os anos 80, da época da ditadura, vimos os caras pintadas, Fernando Collor, Fernando Henrique, Lula, cruzerio, cruzado, cruzado novo, “cata e deixa” na poupança, etc.
Cada disco nosso é marcado por uma época bizarra dessa daí. E no momento atual, não faltam ideias para fazer letras, só que estamos parados e a militância nossa é de sempre. Por exemplo, o disco Brasil parece que foi feito ontem, a capa, as letras, etc. Estou esperando uma chance para poder compor e manter nossa militância. que é bem importante e influencia um monte de gente.
As pessoas necessitam de formadores de opinião que pensam no papo reto. Somos bem esclarecidos nesse assunto de política. Enxergamos o que não presta já faz um tempo.
Em 2013 já prevíamos a ascensão do nazismo no Brasil, dos fascistas, e muitos ficavam me xingando, dizendo que eu estava viajando na maionese… e agora estamos aí, a beira de um colapso social.
Os caras com eugenia, querendo matar velhos, pobres e pretos às custas da pandemia. É complicado. Mas vai chegar uma hora que vamos conseguir deslanchar e abortar um disco novo, como sempre.”
Punk, Thrash Metal, Hardcore e os Gringos
“Quando a gente lançou o segundo disco, Descanse em Paz (1986), já tinha um pouco disso, né? E a gente tinha uma tentativa tosca de ser Metal, com influência de bandas inglesas, né? Tipo Concrete Sox, English Dogs. A gente era uma banda tosca ainda, né? A gente começou a ensaiar na Vila Piauí direto, no quarto do Jão e foi tomando jeito lá. Pegando essa onda mais Metal na Vila Piauí ensaiando quase todo Sábado e Domingo.
O ‘Cada Dia Mais Sujo e Agressivo’ (1987) ainda é bem tosco, né? A união do thrash metal com o Punk. Mas a batida que o [baterista] Spaghetti fazia, que era aquela batida do Extreme Noise Terror, que hoje se chama D-Beat, ela não se encaixava com as palhetadas do Jão, então era meio desconjuntado o negócio.
A banda só pegou a disciplina do Metal mesmo quando a gente alugou uma casa do lado ali, um barraco, começamos a ensaiar todo dia e fizemos o Spaghetti mudar de som, né? O que ele mais tinha de bom era a batida D-Beat dele, e a gente falou ‘não, não é assim, cara. É tá-tum tá-tum tá-tum, thrash metal, igual o Igor toca.’
A partir dali a gente começou a compor o ‘Brasil’, né? Pode ver que o ‘Brasil’ é quase todo ‘tá-tum tá-tum tá-tum’, e ficou super preciso. Aquela precisão rápida que veio de ensaio todo dia.
A gente conseguiu lançar um disco que é um divisor de água em nossas vidas, que é o ‘Brasil’. Antes disso a gente era uma banda super tosca com as nossas ideologias também. Depois que a gente foi pra Europa e começou a ver como funcionava o movimento Punk dos squats, cara. Isso aí abriu muito a nossa cabeça.
Outra coisa que abriu muito a nossa cabeça foi ver o show do RKL, o Rich Kids on LSD. Quando a gente viu o show dos caras, aqueles americanos dando uns pulos…
E a gente era tão tosquinho, tão engessado, aí quando viu os caras muito loucos, dando pulo, isso aí mudou a nossa vida também, cara. A gente falou ‘meu, como a gente é tosco! A gente tem que ser igual esses caras.’
A partir daí, começamos a virar profissionais do Hardcore, Metal, Crossover. A partir desse contato com os gringos”.