O isolamento social pode ser visto com diferentes olhares mas de fato ele tem mudado a nossa maneira de nos relacionar com o tempo. Curiosamente o The Outs no tributo ao Pato Fu justamente regravou “Sobre o Tempo” em disco lançado em parceria entre o Hits Perdidos e o Crush em Hi-Fi em 2017.
O tempo na Quarentena é diferente. Não adianta. É difícil pensar até em uma pessoa que não teve uma longa semana pesada dentro do confinamento e não tenha surtado. Seja pela situação do país, seja pelo desemprego ou pela saudade de ter uma vida minimamente normal. Saudade das pessoas, dos lugares, dos momentos compartilhados – e até mesmo de reclamar de tudo isso.
Nossa cabeça não opera no 100%. O fato de não sabermos até aonde isso tudo vai e as expectativas perante o nosso futuro deixam dúvidas e questionamentos em todos. O mundo da música, então, nem se fala. Impossibilitados de fazer shows, músicos onde a maior parte da sua renda era proveniente das apresentações (assim como o staff) estão tendo que se virar no meio digital. Seja para monetizar seus trabalhos, como também para se comunicar com a própria banda, o público e o mundo exterior.
Fato é que o The Outs, do Rio de Janeiro, optou por acelerar o processo do novo álbum que será lançado em breve. Como segundo single eles apresentam hoje em Premiere no Hits Perdidos, “Ficar Bem”.
O primeiro foi “Toda Essa Bad” que tem toda essa carga energética do momento e já explora novas referências. Se o álbum anterior tinha Clube da Esquina e a Psicodelia como seu norte, os novos singles apontam para uma nova direção.
Aliás mudanças são naturais e inerentes a identidade da banda. Quem acompanha desde os seus primeiros dias sabe como o Oasis e o Brit Pop faziam a cabeça do até então trio em seus primeiros lançamentos.
Não que eles tenham mudado da noite pro dia, mas além daquela cozinha da banda pode adicionar os temperos de gêneros como Hip-Hop Lo-Fi, Neo-Soul, Synth Pop e Vaporwave que tem feito a cabeça do duo carioca.
Se a mudança em “Toda a Bad” é mais singela nas guitarras, elementos, experimentações, beats e sintetizadores, nesta já vemos como outros ritmos vem para somar. “Ficar Bem” deixa a bad um pouco lado e mostra a situação por um outro ângulo. Dando até asas para a imaginação por dias melhores. Mas o que seria “ficar bem”?
A ironia ao novo normal e ao “vai ficar tudo bem” ganha a trilha da faixa que se arrisca mais na experimentação em relação a anterior. Colagens, recortes, texturas e uma experiência sensorial acabam adentrando a canção.
É notório como o synthpop, o hip-hop e o lo-fi vem entrando nas referências das bandas de rock, assim como para outras o post-punk e o dream pop vem ganhando espaço. Fato é que nosso modo de consumir música mudou e estamos cada vem mais abertos a novos ritmos e formas de nos comunicar.
Nessa faixa em específico até mesmo o soul aparece com o sax que se sobressai entre as batidas e o derreter. Algo que Ariel Pink e Frank Ocean certamente fariam.
Afeto, estilo de vida, liberdade, crises e modos de observar a construção social das nossas relações acabam sendo questionamentos abordados. A reflexão não é leve mas você se lembra qual foi o último dia em que você conseguiu colocar sua vida nos trilhos durante a Quarentena?
O clipe teve produção da Mole Enterprise e foi produzido também durante o período de reclusão (em que todos deveriam estar vivendo ainda). O vídeo tem como protagonistas Marina Mole e Carlos Tupy, Leo Fazio também atua, e tem como conceito tentar representar a necessidade quase utópica de ficar bem.
Nele os sonhos, o estilo de vida, nossa noção de liberdade, desejo e ilusão se chocam. A narrativa mostra um pouco desta confusão mental que este período de longas reflexões, e noites mal dormidas, nos proporciona. O roteiro e edição são assinados por Marina Mole e Leo Fazio ficou responsável pelas filmagens.
Conversamos com o Dennis e o Vini para saber mais sobre a Quarentena, processo criativo e mudanças na sonoridade do The Outs.
The Outs: “Não dá nem para dizer que estamos conseguindo equilibrar espírito e a mente (risos). Na verdade tem sido uma constante busca de propósito no meio disso tudo. O setor cultural, principalmente dos shows, foi muito afetado por isso tudo e é um dos últimos a normalizar a situação.
Minha sensação é de que todos da área estão meio que tentando se encontrar, achar esse equilíbrio, tentando prever alguma coisa. No nosso caso, o que mais tem ajudado é compor coisas novas, estudar mixagem, usar esse tempo pra desenvolver. Também temos nos envolvido com outros projetos musicais, ajudado amigos no que a gente pode, criando uns conteúdos extras…”, conta Dennis
The Outs: “Desde metade do ano passado voltamos a compor e produzir músicas em casa, mas ainda sem um propósito. Com a vinda pra SP, nosso tempo começou a ficar muito apertado, tinha muita ideia inacabada.
Com esse break forçado pela pandemia, voltamos a trabalhar nessas músicas, terminar letras, experimentar novas sonoridades, ritmos, … No fim, foi o que acabou dando o norte desse trabalho. Foi a partir disso que surgiu a ideia de fazer um disco durante a quarentena.”, lembra Dennis
The Outs: “Tem dois fatores bem diferentes nesse novo disco: O primeiro é voltar a produzir em casa, todo esse processo na nossa mão. Se por um lado não temos a estrutura de um estúdio profissional como o da Deck, por outro temos mais tempo para fazer essas experimentações, explorar novas sonoridades, etc.
O segundo fator é que, pela primeira vez, estamos trabalhando em músicas que são “novas” pra nós também. Geralmente, esse processo de compor, gravar e lançar demora de um ano para mais. Sempre fica a sensação de que estamos soltando músicas que já “passamos da fase”. Dessa vez, as músicas são bem recentes, a maioria foi feita a partir do início desse ano.
A ideia principal foi dar continuidade ao que a gente já vinha experimentando nos dois discos anteriores, só que dessa vez levando mais além, misturando referências mais distantes do que estávamos acostumados, como Hip-Hop Lo-Fi, Neo-Soul, Synth Pop, Vaporwave, … Pra mim essas referências ficam passeando entre as músicas, e ver que a gente consegue se reinventar tá sendo bem inspirador e impolgante nesse novo trabalho.”, conta Dennis
Por mais que você esteja ali comunicando e tocando seu som, não se falava sobre como rentabilizar com isso. Depois a galera começou a “passar o chapéu”, colocando uma conta pra quem quiser doar. E é isso, a cada momento as pessoas estão se reestruturando como podem.”, comenta Vini
Eu acho que tá sendo crucial esse posicionamento online. As bandas estão tendo que achar formas de se reinventar, e acho que vejo isso com bons olhos. Nós mesmo temos pensado em novas maneiras de criar esse diálogo.
A Mole Enterprise, produtora independente encabeçada pela nossa amiga Marina Mole, resolveu embarcar com a gente na ideia de desenvolver e rodar um clipe com o que tinha disponível, durante a quarentena (além do pessoal da Eu Te Amo Records que está dando todo o suporte na produção executiva, distribuição e amor <3).
O clipe retrata um casal (estrelado pela própria Marina Mole e Carlos Tupy) se curtindo quase que de forma exagerada, sem amarras, uma necessidade de estar bem. Um sonho utópico, que no final era apenas uma ilusão.”, comenta Vini
“O clipe da música “Ficar Bem” nasceu a partir das possibilidades permitidas pelo período de isolamento e foi realizado pela produtora independente Mole Enterprise, que é composta por um grupo de pessoas que moram juntas.
Estrelado por Marina Mole e Carlos Tupy, a ideia do vídeo foi tentar representar a necessidade quase utópica de ficar bem. Estamos sempre perseguindo essa vontade do bem-estar, estamos sempre sonhando que amanhã vai ser um novo dia, e que esse dia vai ser feliz.
As imagens do clipe foram construídas a partir do desejo de se ver pleno, em um dia ensolarado, ao lado de alguém que se ama, sorrindo e se sentindo livre. Essas imagens foram pensadas para às vezes serem quase exageradas, como um sonho, como uma projeção de um dia perfeito que depois “parece que era só ilusão”.
This post was published on 2 de julho de 2020 12:57 pm
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