[Premiere] Após o fogo, Antiprisma apresenta o “Caos” da escuridão em novo single

 [Premiere] Após o fogo, Antiprisma apresenta o “Caos” da escuridão em novo single

O Antiprisma é o resultado da técnica aliada a doçura. Ainda diria que o quesito busca por referências e por aprimorar suas habilidades também faz parte deste composto. Equilíbrio este que assim como a arte é propício para instaurar o caos.

Entre a leveza e fragilidade da voz de Elisa e a técnica da viola de Victor José, o projeto se encontra em constante evolução. Explorando por si só diversas possibilidades, tanto de criação, arranjos a até mesmo de colaboração com outros músicos.

É deste caos, por muitas vezes silencioso, e potente feito uma chama, que notamos aos poucos a evolução deles. De 2016 para cá, quando lançaram seu primeiro álbum (Planos Para Esta Encarnação), eles tocaram e tocaram bastante. Com bandas de diversos estilos, contextos e até mesmo tiveram a oportunidade de sair do estado de São Paulo para fazer o que mais amam: tocar.

Além disso puderam fazer testes e colaborar com outros artistas, seja através do novo selo que fazem parte (Alcalina Records), no palco explorando uma formação maior, como em parcerias em novas canções.

Recentemente eles até disponibilizaram a ardente – e psicodélica – “Fogo Mais Fogo”, faixa em parceria com Gabriela Deptulski (My Magical Glowing Lens) que ganhou um belo videoclipe com imagens um tanto quanto desérticas e misteriosas.



Com planos de lançar em breve seu segundo álbum, eles lançaram recentemente também o single “Só Porque Você Não Se Encontrou” e desta vez em Premiere no Hits Perdidos chegam com o mais obscuro – e folk – “Caos”. As três faixas estarão presentes em Hemisférios, disco que sairá nos próximos meses.

Antiprisma “Caos” (28/02/2019)

“Enquanto as outras duas já lançadas em 2018 indicam caminhos eletrificados, com uma banda cheia e às vezes mais agressivo do que o que a gente já lançou desde então, vemos em “Caos” o oposto disso tudo. Levando essa observação pro álbum, vejo isso como uma questão de luz e sombra e de entender como equilibrar essas duas perspectivas.

Essa coisa de fazer o som com duas pessoas é algo que queremos conservar também. Isso é parte crucial da nossa sonoridade, independente do que a gente for criar”, afirma Victor.

Como ressaltado anteriormente a busca por referências faz parte da identidade – e caminho criativo – do Antiprisma e de certa forma “Caos” vai de encontro com as raízes do folk.

“A composição dessa música é bem equilibrada no sentido de que, pelo menos para nós, tem muito a cara e a energia dos dois. Surgiu de uma linha de violão que o Victor mostrou um dia, essa pegada bem Roy Harper ou Bert Jansch, bem ‘folkona’.

A partir dela eu fiz a melodia da voz e o Victor fez a letra. A letra tem essa vibe meio misteriosa, mística talvez, que é o que essas coisas ‘folkonas’ mais remetem para nós. Diria que é uma composição mais ‘escura’, menos solar do que as nossas canções de voz e violão dos trabalhos anteriores”, explica Elisa.

Ouça também:  Deezer |  Itunes Soundcloud



Entrevista

Para saber mais sobre este momento, single, fase e aprendizados conversamos com a Elisa e o Victor. Confira abaixo a entrevista exclusiva para o Hits Perdidos.

[Hits Perdidos] Depois de tanto tempo conversando com vocês nas mais diversas situações, e até ouvindo demos, finalmente chegou o momento de entrevistá-los. Antes de comentarem sobre os novos lançamentos gostaria que falassem sobre tudo que mudou desde o lançamento do primeiro disco, dos shows, passando pelo novo formato do projeto e dos aprendizados sobre o mercado da música.

Elisa: “Acho que desde o nosso primeiro disco, nós aprendemos muito sobre nós mesmos e o que buscamos com a banda, tanto a nível pessoal quanto criativo. Isso ficou meio que selado quando resolvemos que tínhamos que passar pelo processo de gravar o próximo disco por conta própria, e foi o que fizemos.

Nós queremos ser livres em tudo na vida, mas enquanto a maioria das coisas da vida não permite isso (risos), pelo menos o Antiprisma deve ser uma fonte de liberdade para nós – sempre foi, na verdade.

Por isso que quando nós percebemos que novas composições foram surgindo e pedindo outros instrumentos e uma “cozinha”, percebemos que finalmente chegou a hora de experimentarmos o formato banda. É uma nova fase e um novo processo para nós, tá sendo muito divertido – trabalhoso, mas divertido.”


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Antiprisma está prestes de lançar seu segundo disco. – Foto Por: Elisa Moreira Oieno

[Hits Perdidos] Antes vocês trabalhavam com um selo do nicho folk, agora mais desprendidos de rótulos e com uma sonoridade que passeia por mais lugares como tem sido trabalhar junto da Alcalina Records e colaborar com mais pessoas? Aliás, como surgiu a parceria com a Gabi do My Magical Glowing Lens?

Victor: “Estamos curtindo muito perceber essas mudanças criativas e viver essas coisas tão pessoais pra nós. O folk é parte de nossa personalidade, mas desde sempre a gente soube que outras características se manifestariam mais cedo ou mais tarde. Participar de praticamente todo o processo da criação do seu projeto é um caminho meio árduo, entre compor do zero e masterizar suas músicas tem praticamente uma jornada!

E poder compartilhar um pouco disso com gente que divide esse mesmo gosto é um privilégio. O pessoal da Alcalina faz um trampo bom demais, e sempre junto com as bandas. Gosto mesmo do crivo deles, Leza, Fluhe, Simön… admiramos todos como artistas e pessoas. Você vê, o fato de a Gabi ter participado de um dos singles do disco tem muito a ver com isso. A admiração é mútua, My Magical Glowing Lens é incrível.

Surgiu essa vontade de gravarmos um som quando tocamos lá em Vitória. Acabou que deu certo de levar a Gabi pra um estúdio durante uma das passagens dela por aqui em São Paulo. Acho que numas três horas a gente trocou uma ideia, tocamos um tempinho pra sacar o som, e aí ela gravou aquela guitarra lindona. As ideias bateram de um jeito especial. Na verdade, essa foi a primeira coisa que gravamos do novo disco, em dezembro de 2017.”

[Hits Perdidos] Sempre que ouço o som de vocês consigo notar um casamento entre o antigo com o moderno, de clássicos a “achados” do passado mas também buscando algo contemporâneo. É uma busca constante para vocês? Como acreditam que as influências foram maturando em vocês com o passar do tempo?

Elisa: “Que legal que você percebe isso, porque é mesmo uma preocupação nossa! Se for “contabilizar”, acho que acabamos usando mais coisas antigas do que novas como referências, mas a nossa intenção é que o nosso som seja contemporâneo e um reflexo do tempo que vivemos agora. Então é uma busca, de fato. E acho que as nossas influências vão se maturando quanto mais nós tocamos, conhecemos pessoas e trocamos influências com as outras bandas. Isso acaba sendo um processo de “autoconhecimento criativo”, até.”

Victor: “Acho que a gente tem essa coisa de buscar entender na raíz tudo aquilo que nos interessa, não é só na música isso. A gente vai buscando conhecer esses sons das antigas não tão famosos e meio que acabo me encantando com um monte de coisa que consigo associar com algo contemporâneo. Com a Elisa é a mesma coisa. Reparar nesses detalhes importa muito pra quando a gente vai criar, mesmo! Na real tanto faz quando que foi feita a música, algum aspecto dela sobrevive de qualquer jeito, e perceber isso é muito valioso pra mim.”

[Hits Perdidos] Até o momento já foram lançados três singles e cada um tem uma proposta diferente dentro da sua sonoridade, entre a viola e o elétrico vocês constroem composições desafiadoras e cheias de metáforas, o que une o conceito que querem para o álbum?

Victor: “Agora que tá bem no fim esse processo todo de gravação, eu posso dizer que o que foi que fez a diferença nesse tempo todo foi a vontade de deixar as músicas soando bem do jeito que a gente imaginou, sem passar vontade, e tudo compartilhado entre nós espontaneamente. Tem muito da criatividade de nós dois o tempo todo. Esses singles traduzem bem o que a gente acabou montando.

Gravamos arranjos em duo, gravamos algumas outras com arranjos de banda… até uma bateria eletrônica em loop a gente conseguiu encaixar numas das faixas, gostei demais! E mesmo com tudo isso mudando pra nós, ainda assim sinto que ali tá a essência do Antiprisma inteirinho.

Aliás a ideia é continuar também experimentando muita coisa do folk mais intimista, feito em duo, gente curte muito isso. Mas tocar elétrico te dá uma amplitude que também te preenche. Essa sensação de experimentar as polaridades serve meio que como um norte da vibe do álbum.”

[Hits Perdidos] Algo que acho bacana de vocês é que vocês “fogem dos clichês” de andar somente com o público do folk, e não é incomum ver apresentação ao lado de artistas de outros gêneros. Como veem que essas misturas podem contribuir? Digo isso desde parcerias a até mesmo no campo das conexões. Vocês acham que falta isso no “rolê independente”? Como lidam com panelas?

Elisa: “Pois é, isso de nos apresentarmos ao lado de artistas de vários gêneros acontece desde quando começamos a tocar. Mesmo na época em que fazíamos parte de um selo mais voltado para o folk, tivemos a sorte de muito frequentemente sermos convidados por várias bandas de muitos estilos diferentes para fazer show juntos, e acabamos percebendo que nos identificamos mais com outros gêneros do que com a “cena” folk no fim das contas.

Isso sem dúvida é muito positivo para nós, pois por mais que o folk seja uma referência forte para o nosso som, nós gostamos de ser livres para permear o estilo que der na telha. E trocar experiências com artistas de estilos diferentes do nosso nos ajuda a manter a cabeça sempre aberta. Talvez por isso mesmo nós acabamos nunca fazendo parte de nenhuma panela.

Sobre panelas, eu não vejo problema em as bandas e produtores que têm uma identificação entre si se juntarem e organizar coisas juntos etc – é até bom que exista essa organização para todo mundo se fortalecer. Acho que isso só fica ruim quando esses grupos se fecham demais ou empinam o nariz para outras bandas, isso atrapalha o trabalho de todo mundo e deixa a cena meio embotada (risos). Nós já vimos as duas situações acontecerem.”

Victor: “É muito bom poder trocar ideia e se aproximar das bandas e de todas as pessoas que fazem isso acontecer, é uma das melhores coisas de todo esse rolê. Assistir os shows, procurar conversar, agradecer sempre quem trabalhou no dia em que você tocou. Isso é questão de respeito também, né?

Existem panelas com certeza, mas nem sempre aquele pessoal que parece fechado é de fato fechado como se pensa. Isso já foi bem pior, pelo menos se vê menos esse tipo de coisa. Sei lá, no fim das contas dar verdadeira atenção ao que as pessoas estão fazendo da vida ajuda a quebrar o gelo, e mais cedo ou mais tarde as pessoas vão se conhecendo.”


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Eles lançam hoje o terceiro single de Hemisférios que sairá pelo selo Alcalina Records. – Foto Por: Fernando José

[Hits Perdidos] O disco se chamará Hemisférios e até então parece ter a ardência do fogo mas também caminhar as margens da escuridão? Seria algo por aí? Como veem este rumo e como esperam “provocar o ouvinte” mais cuidadoso?

Elisa: “É bem por aí mesmo. Nossa ideia toda para este disco é abordar a dualidade que se funde e se completa, começando pelo feminino/masculino, criação/destruição…”

Victor: “E o que tem me agradado bastante é que esse tema permeia naturalmente por todas as músicas, mas nunca de maneira totalmente direta, às vezes até oculta num timbre de guitarra ou num verso. Mas ouvindo o álbum inteiro você percebe que esse contraste tá lá presente o tempo todo.”

[Hits Perdidos] Para fechar queria que comentassem mais sobre a faixa “Caos”. Como acredita que ela se relaciona com o mundo que estamos vivendo hoje?

Victor: “Me deixa feliz ouvir “Caos” e perceber como aquela melodia da Elisa se encaixa com o violão cantando junto, em harmonia. É uma coisa muito sincera. O caos tem sido um tema muito inspirador pra nós, seja pelo momento conturbado em que vivemos ou pelas possibilidades que ele te mostra.

A questão do caos é que ele é um aspecto das nossas vidas que mal nos damos conta, quase tratado como maldito, mas que está sempre aí, oferecendo qualquer possibilidade, vários caminhos. No caos tudo é permitido, dele sai tudo, é algo latente. Isso pode te assustar, te libertar… Depende da sua perspectiva. Cada um pode ter uma noção bem íntima do que isso possa significar.”

Elisa: “Eu gosto de pensar na ideia do Caos como sendo o ponto a partir do qual qualquer coisa se desenvolve, e esse ponto é constante na natureza… ou seja, estamos constantemente criando e desenvolvendo possibilidades em cada coisa que fazemos, então é melhor nós tratarmos de fazer o que for profundamente verdadeiro para nós, né?

Em vez de seguir papagaiadas (risos). Enfim, essa música veio dessa reflexão, desse aspecto “misterioso” do Caos. Esse tema, pelo menos na nossa cabeça, combina com o som folkão dessa música.”

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