Os ares frios do post-punk ainda reverberam mesmo após quase quatro décadas de “sua era de ouro”. Não é incomum vermos bandas que buscam recursos e influências no estilo.
Franz Ferdinand assume que se não fosse o Wire talvez não existisse. Já o Strokes por diversas vezes disse que sem o rock cabeçudo do Television nada teria sido feito enquanto banda. O que seria do Interpol sem o Joy Division? Placebo sem David Bowie?
Não é a toa que os Cigarettes After Sex agora foram “descobertos” para um público de massa. E no dia 13/12 se apresentam no palco do Cine Joia com lotes voando. O interesse pela estética, linguagem e sonoridade continuam a chamar a atenção das novas gerações.
O interessante de 2017 é ver que bandas que antes eram vistas como influenciadas lá para o começo dos anos 00 agora também tem o papel de passar o bastão. É deste misto que estão as influências da banda que iremos lançar a PREMIERE de seu novo single.
A Warmest Winter do Rio de Janeiro tem como influências citadas as bandas oitentistas como Joy Division, Wire, The Cure e Siouxsie and the Banshees, porém também abraça artistas diretamente influenciados por estes primeiros – e bem mais novos – como Interpol, The National e Bon Iver.
Nem por isso o som deixa de dialogar com diversas bandas do atual cenário como Herzegovina, Sky Down, Der Baum, In Venus, Fleeting Circus e tantas outras que propõe esse resgate da década.
O projeto começou em 2015 como um projeto solo de Tiago Duarte Dias tendo lançado até então dois EPS Warmest Winter (2015) e I Feel Your Absence (2016). Para que as apresentações pudessem ser executadas ao vivo o projeto começou a aos poucos ter a entrada de membros.
Hoje em dia a banda é composta por Tiago (Guitarrista / Vocalista), Denny Visser (Guitarrista / Vocalista), Luiz Badia (Baixista) e Daniel Vellutini (Bateria). A entrada dos membros também transformou o som da banda que também passou a incorporar elementos de shoegaze.
Porém 2017 tem sido o ano de consolidação do projeto. Tendo feito shows no Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte eles apresentaram seu primeiro single enquanto banda, “Mary Ann”.
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Este que foi lançado no dia 11/08 e é também o primeiro single do primeiro disco do grupo fluminense, The World is a Terrible Place Yet I’m Terrified of Dying. O álbum que ainda não tem data para ser lançado. A mixagem e masterização da faixa foram feitas por João Carvalho.
Na canção podemos sentir toda energia fria de grupos como Cold Cave, Iceage, Interpol mesclados a guitarras flutuantes do shoegaze e post-rock. Uma boa prévia do que está por vir e já adiantando um pouco da levada que poderemos encontrar no disco.
Warmest Winter – We Should Go Out Tonight
Em 2011 os ingleses do The Vaccines lançaram o ótimo álbum What Did You Expect from The Vaccines? este que resgatava recursos do post-punk nova iorquino do Wire e Television e esse disco reverbera na introdução do single em sua introdução.
O lado aparentemente “desleixado” também é utilizado como recurso durante a canção, lembrando até um pouco outro disco que tem as mesmas influências, Is This It (2001) do Strokes.
“We Should Go Out Tonight” faz aquela ponte entre o shoegaze, post-rock e dream pop conseguindo fundir o som noventista com o setentista.
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A atmosfera da letra também tem seu enfoque no mundo dos sonhos e de não conseguir alcançá-los. A desesperança é a tônica da letra que fala sobre sonhos grandes porém realidade medíocre.
Algo muito próximo a realidade vivida por milhares de jovens que aceitam empregos que pagam pouco com sonho de crescer e quando veem: vivem para trabalhar. A desilusão que o amadurecer o traria conforto e oportunidades versus a realidade do jovem dos dias de hoje ingressando no mercado de trabalho.
Muitos que não entendem essa realidade dizem que “é drama dos millennials”, que não “sofreram o suficiente”. Mas sabemos que não é bem assim. Os sonhos que alimentaram durante a infância, e adolescência, e o discurso que esta geração ia transformar o mundo venderam uma ilusão – e muitas expectativas.
Esta frustrada logo no momento em que a responsabilidade vem, já os encargos e benefícios não o acompanham, fazendo com que aqueles sonhos permaneçam no plano das ideias.
[Hits Perdidos] Queria que falassem um pouco sobre o momento que estão vivendo. Principalmente de como rolou essa transição de projeto solo para banda e como tem sido as gravações do disco.
Tiago: “Bem, o momento que vivemos agora, após passarmos quase 1 ano fazendo shows no Rio, Niterói com uma certa frequência, além de shows também em BH e SP, tem sido bastante positivo e de certa maneira introspectivo. Nessa fase atual, com menos compromissos de show, nos temos conseguido focar mais em terminar o nosso disco, em fazer as baterias em estúdio, em pensar nas guitarras/baixos/vocais.
A transição de projeto solo para banda, da minha parte, foi uma das melhores coisas que eu poderia ter feito. Eu tinha esses dois EPs, e através deles, ao posta-los em grupos de FB daqui de Niterói, eu acabei conhecendo o Luiz e o Denny. E nós três, de cara, nos demos super bem, tanto pessoalmente quanto musicalmente. Alguns meses depois, após tentarmos alguns bateristas, acabamos por encontrar o Daniel, que é amigo de um grande amigo meu, o Nino. E já no primeiro ensaio com ele, eu tive o mesmo sentimento que tive com o Denny e o Luiz, de que, bem, é isso. É o cara certo para a banda.
As gravações do disco tem sido excelentes. Nós fizemos as baterias em estúdio, as guitarras e os baixos em linha, no ateliê do Luiz, e os vocais, nós fizemos no mesmo estúdio que a gente ensaia, só que com o nosso equipamento mesmo. Tem sido bastante legal essa parte. Foi interessante que em algumas músicas, o Daniel gravou algumas linhas de guitarra que ficaram bem bacanas. A real é que nessa gravação eu, pessoalmente, senti bastante como a Warmest Winter cresceu musicalmente ao virar uma banda. Como o fundador do projeto, eu me sinto extremamente feliz ao criar música com 3 músicos tão criativos, e ver como as minhas composições (e as do Denny, o disco tem 3 músicas dele) ficam tão mais ricas.”
[Hits Perdidos] O nome do futuro álbum seria um trocadilho com o nome da banda This World Is a Beautiful Place & I Am no Longer Afraid to Die? Se não, porque The World is a Terrible Place Yet I’m Terrified of Dying?
Tiago: Sim! De certa maneira, sim! Eu descobri a The World is a Beautiful Place ao ler uma resenha da Pitchfork, e achei o nome da banda bacana, apesar de otimista demais, pra ser sincero. Eu vejo o mundo como um lugar com muito mais coisas ruins que boas, mas ao mesmo tempo, a maioria de nós nos apegamos a ele de maneira extremamente visceral e até grotesca em diversos sentidos. Sobreviver, apesar de tudo, é um ato igualmente de coragem e de estupidez. É o que nos faz fragilmente humanos.
[Hits Perdidos] Vocês fazem um misto de referências entre o proto-punk, post-punk e o rock alternativo dos anos 90. Como é a hora de construir uma canção e como tem sido estes primeiros shows com a formação?
Tiago: “Bem, isso varia, na real. Algumas vezes, eu trago uma letra e um esboço de acordes. Outras vezes, o Denny traz uma letra e a mesma coisa, em outras, o Luiz tem uma linha de baixo, o Daniel acompanha na bateria, e eu trago alguma coisa que eu havia escrito. Ou seja, varia. O que é meio que constante é que eu e o Denny trazemos a letra mais ou menos pronta. E os primeiros shows tem sido muito bacanas. Tocamos em bastante lugares diferentes. Tocamos no Motim, na Audio Rebel, no Estúdio Fórum, n’A Obra em BH, em SP no Pico do Macaco e na Sensorial. Tanto pelo ponto de vista musical, quanto pessoal, tem sido uma experiência excelente compartilhar o palco entre nós 4.”
Daniel: “É legal porque mesmo tendo algumas referências em comum, cada um traz o seu próprio leque de inspirações. Um vem com uma coisa bem do pós-punk, outro traz elementos de shoegaze, aí surge uma coisa mais dum rock clássico e assim a gente vai misturando, tentando achar o que tá soando legal. Não é algo premeditado tipo “vamos soar assim”, é de momento.
Aí as vezes depois da música e ficar pronta a gente pensar “nossa, soa muito como tal banda hein?”. Tem vezes que as coisas se encaixam de cara, mas tem outras que a gente fica voltando na ideia mais tempo pra lapidar. E essa criação coletiva, a partir de uma pequena ideia de uma pessoa tem sido muito interessante e produtiva já desde os primeiros ensaios.”
[Hits Perdidos] Consigo ver uma preocupação estética nos até agora dois singles lançados. Quais as inspirações e quem foi o responsável pelas artes?
Luiz: “A arte é uma ideia maturada pelos 4 integrantes e manufaturada pelo designer da banda, Denny Visser. O conceito de usar arte clássica é uma forma atemporal de criar uma estranheza com a música contemporânea da banda.”
[Hits Perdidos] A letra do single que estão lançando hoje carrega bastante frustração. Ter sonhos grandes mas dificuldade de alcançá-los. Me lembrando a dificuldade em que a nova geração tem em cravar seu espaço no mercado de trabalho e lutar para alcançar seus objetivos. Claro que isto é uma interpretação, mas para vocês, qual o significado da letra?
Tiago: “Eu, como autor da letra, pensei no mesmo que você em relação a interpretação dela. É claro que música acaba sendo algo multivocal, e provavelmente haverá gente pensando algo diferente em relação a letra, mas eu a escrevi pensando nisso. Em como a nossa geração tem sido, não só no Brasil, mas em diversos outros país, privada de oportunidades.
E a real é que o otimismo de alguns atrás se foi. Teremos uma geração na qual o niilismo junto com a estupidez de um Trump, de um Bolsonaro, de uma Le Pen, de um Nigel Farage tem ditado as regras e muita gente não consegue compreender ainda o por quê.”
Playlist Exclusiva de Lançamento no Spotify
Para fechar a entrevista pedi para que eles montassem uma playlist com sons que estão ajudando a construir essa nova fase da banda. O resultado foi bastante interessante e nomes como Serge Gainsbourg, Beat Happening, Ludovic, Cartola, Spiritualized, J.J. Cale, Alvvays, The National, Toro Fuerte, Arnaldo Baptista, Tom Waits e Ruído/mm foram citados.
This post was published on 17 de outubro de 2017 9:50 am
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