[Premiere] Para comemorar seus 20 anos, Carbona presenteia os fãs com o EP “Fórmula Mágica”
O texto de hoje de certa forma se confunde um pouco com a história da minha adolescência. Há 15 anos fui apresentado – meio que por acidente – por um amigo ao punk rock.
Não sabia direito o que estava ouvindo. Só sabia que tinha gostado das oitavadas do No Use For a Name no Leche Con Carne, curtia os acordes mais melódicos do Big Choise do Face To Face, me divertia com o punk rock misturado com pop do Sugarcult e estava descobrindo sons como: Blind Pigs, Adolescents, Dead Boys, Black Flag, Nitrominds, The Clash, Holly Tree, Consumed, The Bombers, Agent Orange, New York Dolls, Down By Law, Street Bulldogs, Descendents, D.O.A., Generation X e Gritando HC.
Essas bandas me apresentaram uma porrada de sons que escuto até hoje como o Operation Ivy, Fugazi, Street Dogs, Superchunk, Elvis Costello, The Specials, The Germs, The Adicts, Wire, Vibrators, Richard Hell & The Voidoids, Guitar Wolf, The Briefs, Guttermouth, Frontkick, The Queers, Pegboy, Samiam, The Revillos, Forgotten Rebels, Television, Hot Water Music, Bad Manners, Lucero, Against Me!, Bad Brains, Dag Nasty e muito mais do que o punk rock. Foi dessa inocência e vontade de conhecer sons que fui indo atrás de uma porrada de sons.
Amanhã (16/09) completo 27 anos e sim esse texto terá uma carga emocional diferente. Antes de tudo ele é um agradecimento ao punk rock de braços abertos a ter me influenciado a abrir a mente de tantas formas. A não ser um cara preconceituoso, a respeitar o próximo, a entender que nem todo mundo é legal e que o mundo é um lugar mais triste sem caras como Joey Ramone, Joe Strummer, David Bowie e Lou Reed.
Foi dessa falta de amarras que a gente vai nos despindo de tudo que a sociedade tenta nos moldar negativamente. A intolerância, a falta de amor, o ódio e mediocridade mundana.
Eu sempre penso que se eu não tivesse procurado “Left Of The Dial” – como diriam os Replacements – talvez eu não fosse tão fascinado por descobrir o novo. A entender a soma do hibridismo musical que tantas bandas tentam inovar misturando elementos de outros ritmos em sua fórmula. Porque punk rock é isso, além do faça você mesmo é vanguarda. É quebrar paradigmas, desconstruir conceitos, quebrar regras e se sentir livre.
Pensando bem o que seria a música pop nos últimos 40 anos se não fosse o punk rock? Não sei dizer ao certo. Isso daria uma bela resenha de bar mas eu acredito que ela seria completamente diferente.
Mas de certa forma no auge dos meus 15 anos o punk rock conseguia me transmitir uma certa “Felicidade Incondicional” ao ouvir os acordes simples de bandas como Carbona, Gramofocas, Flanders 72, Magaivers, Pelebrói Não Sei?, No Milk Today, Muzzarelas, Doped Dog, Gin Tonics, Capones, Tequila Baby, Flicts, Calotas Cromadas e Boobarellas.
Todas estas ramoníacas mas com letras sagazes. Algumas delas conversavam com outras gringas como Screeching Weasel, The Dickies, The Queers, The Dwarves, Spazzys, Expulsados (Arg), Los Mox! (Ch), Maradonas (It) The Copyrights, The Vapids, Groovie Ghoulies, The 5.6.7.8 (Jpn), Teen Idols, Mr. T Experience, Attaque 77 (Arg) e Riverdales. Por lá ainda temos bandas mais recentes que mantém a chama do bubblegum viva como Teenage Bottlerocket, Masked Intruder, The Dopamines e Methadones.
E é por isso que é uma alegria poder estar escrevendo a resenha para uma banda que viveu nos meus headphones em diversas situações. Em viagens, em momentos bons, em fins de ciclo, em shows e em momentos que eu precisava daquela dose de alegria.
Para mim o Carbona é isso: quando precisava de um shot de felicidade e de tentar ver o mundo de uma forma mais simples, eu simplesmente apertava o play. Era diversão garantida ouvir discos como Apuros em Cingapura (2006), Go Carbona Go (1998), Taito Não Engole Fichas (2002) e Cosmicômica (2003).
Sim se pararmos para prestar atenção, na data de lançamento de cada um, lá se vão mais de dez anos. Mas o que importa é que eles me acompanharam, sabe?
Quando mais precisava daqueles discos, eles estavam lá. Aquele abraço invisível e aperto de mão quando você mais precisa. Esta é a minha relação com os discos que eu gosto e acredito que isso se repete com muitos apaixonados por música. Tanto é que o The Mighty Mighty Bosstones até fez uma canção para isto.
Esse é um dos motivos que fazem com que este lançamento seja tão especial. Neste ano o Carbona completa 20 anos de acordes rápidos, simples e melodias chicletudas. Muitas delas que mostram a simplicidade dos casos e acasos do dia-a-dia, as alegrias e divagações sobre as conquistas, paixonites e até o adeus (“O Mundo Sem Joey”).
A astúcia para celebrar este momento da carreira do grupo que hoje conta com alguns de seus membros morando fora do Brasil se traduz logo no título do EP, Fórmula Mágica. A sagacidade também vive na escolha do nome, afinal de contas não há uma fórmula mágica para depois de tanto tempo ainda continuarem a fazer música juntos.
Algo que Henrique Badke vai até falar na entrevista concedida ao Hits Perdidos. A verdadeira terapia que o amor pela música consegue lhe passar. No fim é isto, né? Dos Beatles até Kiss é tudo movido a amor, a não desistir e de fazer verdadeiras loucuras em nome do que acredita ser o certo.
De riffs açucarados a boas sacadas, a história foi construída e o EP também chega para consolidar um novo ciclo na carreira de Badke. Este que é o primeiro lançamento oficial de seu novíssimo selo, a Morcego Records.
Após muitos anos trabalhando com o mercado digital ele decidiu realizar o sonho de ter uma gravadora de rock’n’roll. Observando comportamentos de mercado e as necessidades diferentes que uma banda necessita ele resolveu tirar a ideia do papel.
Com alguns lançamentos já engatilhados para este último trimestre de 2017, boas ideias, amigos de longa data no front e muitas bandas para nos mostrar. Esse também será um dos temas da entrevista.
Carbona – Fórmula Mágica (15/09/2017)
Mas antes disso claro que falaremos sobre o EP que está sendo lançado com PREMIERE no Hits Perdidos, Fórmula Mágica.
Produzido por Alexandre Griva e masterizado por Davi Pacote, o EP conta com a participação especial de Victor Stephan, vocalista dos Estudantes em “Manfrini” e ainda “Christian Satã” da banda gaúcha Julio Igrejas, autor da música “Amor em Doses Homeopáticas”.
Este que além do lançamento digital realizado hoje também contará com cópias limitadas em vinil 7 polegadas.
O EP começa logo com o single “Fórmula Mágica” este que foi lançado no dia 01/09. Single que tem alguns riffs punk’n’roll na sua introdução alá Cock Sparrer – que me lembram “We Are They Now” – mas que desenboca em um punk rock bubblegum reto e direto como os riffs açucarados do The Queers.
A paixão de Badke pela música é expressa em seus versos fazendo menções a artistas e bandas que o inspiram das mais diversas formas como Júpiter Maçã, Billy Bragg, Neil Young, Ramones (cita “Brain Drain”). A fórmula mágica em sí, não se trata de procurar um padrão sonoro mas sim de plantar o amor através das melodias.
A seguinte “Escafandro” traduz a visão de mundo de Badke. A forma que vê a beleza nos mais minuciosos detalhes da cidade que cruza todos os dias. O nome da canção inclusive é como ele chama seus óculos escuros e headphones.
A música e a paisagem sendo parte da sua rotina, do vai e vem da correria. Como a música faz parte da sua vida não só quando está em cima de um palco mas nos mais diversos momentos de seu dia-a-dia. É como desligar de tudo que é ruim como o trânsito, a desigualdade, as injustiças, os percalços e apreciar a beleza que é se sentir vivo. Ouvindo aquelas novas e velhas bandas que acompanham desde sempre. Um agradecimento também a todas melodias e contornos da vida.
A terceira faixa do EP é “Eu Automaticamente” que passa como um tiro. São 57 segundos de canção no melhor estilo Ramones de simplificar as coisas. Se seguirem a fórmula dos caras é capaz de ao vivo ela ser executa em apenas 30 segundos, feito as versões da coletânea da Fat Wreck Chords, Short Music for Short People (1999).
A velocidade desenfreada dos acontecimentos do mundo são o tema de reflexão da canção. Esse ritmo de certa forma nos deixa louco e a canção assim como outras do EP propõe justamente o escapismo de toda a loucura que o mundo tem vivido.
O sentimento de fuga mora no título da seguinte, “Planos de Escape”. Esta que até clama pela abdução dizendo que o mundo em que estamos vivendo “continua meio baixo astral”.
Assim como os Ramones, Zumbis do Espaço e os Muzzarelas que sempre brincaram com a temática alienígena para traduzir diferentes sentimentos. Isso somado a vontade de fugir para bem longe daqui. A canção ruma para outros universos paralelos para nos mostrar todo esse descontentamento.
A quinta faixa conta com o fator fã. Quando Badke ouviu “Amor em Doses Homeopáticas” do Julio Igrejas ele só teve uma certeza: queria ter escrito aquela canção. Bom mas como sabemos depois de feita o máximo que pode ser feito é justamente fazer uma versão. E foi essa a epopeia que Badke após conversar com os outros carbonas se postou a fazer.
Como poderão ler na entrevista, logo menos, não foi um processo muito simples, o que resultou para o convite para a participação do Christian Satã da banda gaúcha. A faixa é outra que passa na velocidade da luz e brinca com a temática do amor “em gotas” ao longo do dia feito uma homeopatia. Não poderia ser mais literal.
Para fechar o EP temos “Manfrini”, uma faixa escrita ainda nos anos 90 entre viagens feitas para ver shows em outras cidades. Nostalgia pura e para isso chamaram um amigo de longa data para participar, Victor Stephan (Estudantes).
Ela é bem pueril mesmo. Brinca com o Manfrini que não quis viajar “para estudar” e perdeu boas histórias. Nada como uma canção ainda escrita naquela década para fechar o EP comemorativo de 20 anos do Carbona, e que venham mais 20!.
O EP Fórmula Mágica do Carbona que está sendo lançado hoje com PREMIERE no Hits Perdidos conta com 6 chicletudos sons que passeiam pela temática do escapismo, diversão, alienígenas, viagens, rotina e amor a música. Um registo que passa como um foguete ou como eles mesmos prefeririam dizer: Rocket To Russia (40 anos após o lançamento dos Ramones).
Os sons são rápidos, as melodias cativantes e a energia continua a milhão após 20 anos. Um ótimo lançamento para ouvir durante uma corrida no parque, uma viagem de ônibus ou até quem sabe pegando uma estrada para fugir do caos do dia-a-dia.
Confira agora a entrevista com Henrique Badke
[Hits Perdidos] O lançamento também tem como intenção comemorar os 20 anos de estrada do Carbona. Após tanto tempo trabalhando no underground e ver muitas transformações desde a maneira de consumir música, o adendo da tecnologia e mercado fonográfico….o que faz com que se mantenham na linha de frente?
Henrique Badke: “O amor pela música nos mantém na linha de frente e fez com que a gente tenha chegado até aqui! E legal fazer determinadas reflexões depois de tanto tempo principalmente chegando na casa dos 40 (risos) .
Hoje quando olho pro Melvin, Pedro, Bjorn e Henrique é muito claro pra mim que o Carbona foi resultado do encontro de pessoas que realmente se importavam com a música e viam nela a melhor opção para investir grande parte das horas de suas vidas.
Comecei minha carreira de fã de banda aos 10 anos como filhote do Rock In Rio I em 1985. Comprar o The Number Of The Beast do Iron, colecionar discos, colocar posters na parede, colecionar idas a shows, tudo isso foi fazendo com q a música virasse uma necessidade vital.
Montar bandas foi apenas uma parte natural desse processo. E isso vale para todos no Carbona. O nome do nosso EP novo chama se Fórmula Mágica e de alguma maneira se relaciona com uma pergunta que as vezes faço a mim mesmo “Como chegamos até aqui?”
As respostas giram sempre em torno da música. Compor, acordar de manhã tendo feito uma nova música que você se lembra que curtiu mas não consegue ao certo recordar a melodia e apertar o play para conhecer e se surpreender com uma música que você mesmo fez, chegar para ensaiar e botar 5 minutinhos de papo em dia com uma turma que está junto há 20 anos, montar musicas novas, ver a lista de nomes de novas músicas do lado da cama, pensar em capas de discos, fazer show com pessoas se divertindo, são essas pequenas grandes sensações do dia a dia na música que nos mantiveram na linha de frente e nos dão a certeza de que seguir vale a pena.”
[Hits Perdidos] Qual foi o maior aprendizado que tiveram? Teve alguma hora que pensaram em desistir?
Henrique Badke: “O maior aprendizado que tive e que em paralelo a carreira na música existe algo complexo e grandioso em curso que é a existência. Viver. A vida é complexa e desafiadora. E é dentro dela que o processo da música se dá.
Foi fundamental buscarmos o entendimento e o respeito a cada fase que cada um vivia como indivíduo, e todos juntos como banda ao longo desses anos, fazendo as concessões necessárias, para que o amor pela música tivesse oportunidade de ser materializado em ensaios, discos, shows, músicas.
Acho que por isso nunca chegamos ao ponto de precisar desistir. Talvez por ter desenvolvido a capacidade de frear e acelerar juntos, e assim chegar ao ponto de conseguir lançar 3 discos em 2017, sendo dois discos de retrospectiva da carreira divididos em volumes da fase português e da fase em inglês, e fechar o ano com shows realizados em diferentes estados tendo 2 Carbonas morando fora do Brasil.
Mas como disse, se hoje e assim, flexibilizamos, valorizamos e vivemos o que pode ser vivido sabendo que amanhã podemos estar juntos de novo numa rotina mais intensa. Sao 20 anos, 10 discos. É só manter a calma. Não há nada na vida que faça há mais de 20 anos. Nada! Somente música. A música veio, está e será.
[Hits Perdidos] No começo do ano vocês se apresentaram no palco do Hangar 110 ao lado do Zumbis do Espaço e dos Muzzarelas, bandas amigas de muito tempo. Acredita que foi a maneira perfeita de se despedir deste templo do underground brasileiro? Quais são as melhores lembranças que tiveram de lá?
Henrique Badke: “Olha teria sido uma maneira fantástica não fosse o fato de que repetiremos a dose em 27 de outubro próximo, no Hangar ao lado do Zumbis do Espaço de novo!
Mas devo admitir que aquele show de abril foi um dos shows mais marcantes da minha vida. Os Muzzarelas fizeram o Jumentor, um álbum antológico que figura sem dúvida alguma como um dos melhores do gênero no brasil. Os caras estiveram incríveis aquele dia.
O Zumbis do Espaço é uma banda que marcou a história do Carbona. E uma banda da qual todos nos Carbonas somos fãs. Temos grandes amigos ali. O Zumbis também e uma reunião de aficionados por música. E gente competente, que sabe muito bem o que faz.
Olhava pra aqueles caras no palco aquele dia sentindo um puta orgulho, só conseguia pensar “que banda foda de rock meus amigos viraram”!
Havia também ali em abril uma energia muito boa, dava pra sentir o carinho que as pessoas tem pelo Hangar e o prazer em reviver e reeditar um show que trazia um pouquinho dos bons tempos da virada dos 90 pros 2000.
Vivi dias de grande felicidade ali no Hangar e isso ninguém tira mais! Se tivesse que mencionar um show especial na casa, traria o show Carbona, Holly Tree, Blind Pigs e Zumbis do Espaço que jamais vou esquecer.”
[Hits Perdidos] O Carbona ao longo de todo esse tempo fez shows em vários cantos do país, além dos Estados Unidos e Canadá. Quais lugares mais gostaram de tocar? Teve alguma turnê especial? E como observam o atual cenário de punk rock nacional?
Henrique Badke: “Olha foram centenas de shows e de uma maneira geral poucos foram os shows e cidades que não curtimos fazer. As turnês sequenciais que fizemos no brasil no lançamento do Taito e Cosmicômica ao lado dos Magaivers, as chamadas Chicletour I e II foram dias gloriosos.
As turnês sequenciais são libertadoras e para pessoas como eu que gostam de estar e viver a estrada, de rodar horas e horas numa van ouvindo som, olhando paisagem, contar carros que passam na outra direção e outros pequenos prazeres e um prato cheio. Elas te possibilitam uma relação diferente com tempo e espaço. Horizontes cambiantes, um novo sol a cada dia dizia o Supertramp Mc Candless retratado no filme Natureza Selvagem.
Acho que nas turnês entendi um pouquinho do pouquinho do que isso significa. Não sei se terei essa chance de novo mas se tiver podem saber que estarei muito feliz. Uma outra coisa muito legal das turnês foi a possibilidade de conhecer dezenas e dezenas de cidades do país e principalmente ganhar gosto e admiração pelas cidades e a vida no interior.”
[Hits Perdidos] Nessa longa estrada muitas vezes o maior legado são os amigos e poder trocar ideias com o público. Qual o melhor feedback que já tiveram sobre um disco ou show que dificilmente esquecerão?
Henrique Badke: “Recentemente aconteceu algo muito legal. Estava gravando o Fórmula Mágica e voltando pra casa por volta de 1 da manhã em um dia que tinha começado as 6 da manhã com todos os afazeres que um dia meu costuma ter como cuidar do meu filhote, levá-lo a creche, trabalhar, e caminhando ali na madrugada, já bem cansado a mente, fragilizada e alguns pensamentos atentando contra a música… Por que você faz isso?
Nessas horas, quando esse tipo de pensamento e questionamento vem, nem costumo dar espaço… respondi rapidamente pra mim mesmo: Por que preciso! Por que quero! Por que tem que ser feito!
Neste exato momento, chega uma mensagem no celular e era uma mensagem no instagram de uma menina dizendo que tinha ganhado um adesivo do Carbona há mais de 10 anos atras, que estava se mudando de casa e que levaria o adesivo com ela agradecendo por nunca termos parados e por fazer músicas que a deixa feliz ao escutar. Dei um sorriso interno e pensei… taí um bom motivo pra fazer o que tem que ser feito.”
[Hits Perdidos] Após 8 anos trabalhando com o mercado digital, você Henrique, decidiu se aventurar e criar o novíssimo selo independente Morcego Records (confira o site). Com parcerias com amigos de longa data como Paulo Rockr (Gramofocas) e Victor Stephan (Os Estudantes) na parte de ilustração do material do selo.
Neste momento da carreira, qual acredita que seja o maior desafio?
Henrique Badke: O maior desafio neste caso e fazer algo que seja sustentável. A Morcego chega para realizar um sonho meu. Este é o meu sonho: Ter uma gravadora de rock.
As bandas com as quais estou tendo o prazer de trabalhar no meu primeiro ano de vida me enchem de felicidade e orgulho. Se tudo desse errado já estaria muito feliz por ter vivido um sonho e ter lançado música de bandas e de gente que sou fã como Gustavo Kaly, autor de “O mundo Sem Joey”, companheiro de estrada de longas datas, Zumbis do Espaço, o próprio Carbona, Os Torto de Porto Alegre, banda do Davi pacote um dos maiores produtores de rock da nova geração, um nome que muita gente ainda vai ouvir falar, Os Thompson também de POA, os Magaivers de Curitiba de quem sou fã declarado há décadas, Motor City Madness comparsa Sérgio Caldas dentre outros que estamos conversando.
No campo das ilustrações, Victor Stephan e Paulo Rockr são dois veteranos ilustradores da cena Rocker e sempre achei que todo mundo tinha que conhecer estes caras, pendurar seus trabalhos na parede.
Quando vejo todos estes nomes juntos fico feliz e trabalho todos os dias para que possa seguir. No momento minha maior preocupação é viver os projetos que estou fazendo, apoiar as bandas no que estiver ao meu alcance e ir aprendendo com a experiência que cada uma delas traz. Sempre digo que tive a sorte de ter muitos amigos talentosos e este projeto me possibilita também aprender com eles.”
[Hits Perdidos] Você tem plano de lançar vários discos de bandas em vários estágios da carreira. Como funcionará isso e como acredita que pode ajudar através do selo as bandas?
Henrique Badke: “Quando olhamos pros nomes acima vemos bandas que têm juntas mais de 100 anos de rock (risos) mas isso não foi necessariamente pensado dessa forma. Estou esperando o disco de estreia de uma banda de hardcore do rio por exemplo que atrasou mas que estou ansioso para trabalhar. Acho que agora é concentrar e trabalhar para avançar e fortalecer a estrutura. Acho que existem diversas formas de colaborar.
O selo foi pensado para ter modelos flexíveis que possam trabalhar e oferecer aquilo que pode ser importante para cada uma delas. Não tem “fórmula mágica” (risos), é arregaçar as mangas juntos e trabalhar. Todos trazem experiências incríveis para o selo e espero também aportar e dividir um pouco das experiências.”
[Hits Perdidos] Falando em lançamentos, o que pode adiantar que deva sair nos próximos tempos para os fãs de punk rock?
A Morcego acabou de lançar o EP comemorativo do Carbona em vinil e digital, depois em outubro temos single dos Magaivers em Curitiba no digital. Na sexta feira 13 de outubro tem Zumbis do Espaço com single também em vinil, álbum d’Os Torto de Porto Alegre, uma banda com mais de 20 anos, trazendo um disco conceitual onde mergulham e resgatam os hardcore anos 90 em suas diferentes nuances produzido pelo Pacote.
Depois temos disco do Gustavo Kaly em CD Digipack, um disco que reúne passado presente e futuro, single dos Os Thompsons, de Poa , trazendo novos sons com forte influência do punk rock gaúcho mas flertando com referências bubblegum e acredito que novembro ainda possa trazer alguma surpresa!”
[Hits Perdidos] Com certeza você já pôde assistir muitos shows. Quais mais te marcaram e porque?
Henrique Badke: “Ramones no Metropolitan Rio de Janeiro porque tinha conhecido o Joey a tarde como mortal e a noite o vi imortalizado no palco. Black Sabbath com Dio no vocal no Canecão RJ inicio dos 90 por que foi um dos sons mais absurdos que vi uma banda tirar ao vivo e o palco tinha luzes vermelhas como se fosse o inferno.
Pantera no Imperator porque tinha saído o Vulgar Display e a sonoridade do bumbo e guitarra da banda reproduzidos ao vivo foi ducaraio (sic), Slayer e Suicidal Tendencies no Imperator porque vi Rocky George tocar.
Fugazi em BH por que viajamos do Rio em comboio para o show, Ratos de Porão e Muzzarelas no Circo a Voador ainda nos 90 porque o coro comeu no palco (e fora também), Groovie Ghoulies em 1998 com Dan Panic na Bateria e B face no baixo, caras de quem tinha uns 40 CDS na prateleira.
The Queers em Campinas, King Tuff três vezes e veria quantas vezes mais puder por que e uma das minhas bandas atuais favoritas. Iggy Pop com o Queen Of The Stone Age no ano passado, Blondie por que a Debbie Harry é incrível no palco, Bad Religion comemorando 30 anos de carreira tocando só músicas do Against The Grain, Generator e Recipe For Hate, Drivin n Cryin num bar para 50 pessoas por que foi uma das bandas que mais marcou minha vida.
Frank turner violão e voz por que fez um lugar vir abaixo só no gogó, Iron Maiden porque é uma das maiores bandas de rock de todos os tempos, por último mas nem por isso menos importante show de lançamento do Ie Ie Ie do Arnaldo Antunes no Circo Voador. Um dos melhores discos de rock brasileiro de todos os tempos, sendo lançado em um dos meus palcos favoritos, ao lado da Ana Clara, minha companheira, amiga com quem vivo e amo.”
[Hits Perdidos] No single “Formula Mágica” vocês citam artistas como Billy Bragg, Neil Young e Jupiter Maçã. E isto mostra que gostam de muitas coisas fora do punk rock, como acredita que estes e outros artistas distintos influencionam vocês?
Na forma de contar histórias, mostrando melodias incríveis ou simplesmente nos inspirando ou nos maravilhando. As influências diretas no som do Carbona são muito claras: Ramones e Lookout bands.
Mas antes de qualquer coisa eu sou fã de muitas bandas e artistas. Essa música fala sobre isso também. Sobre álbuns e artistas que te acompanham no dia a dia que nos ajudam a traduzir o mundo e nos ajudam a interagir com ele.
Em Fórmula Mágica falo do Brain Drain porque sou louco por Ramones, Harvest Moon do Neil Young aparece nas estatísticas do Spotify como o disco que mais ouvi por la nas mais de 10 mil horas de músicas executadas ali. Este disco é um transe, eu conheço as músicas, eu tenho clipes mentais pras músicas, eu imagino as cenas, eu escrevo as cartas mentalmente pros meus amigos em “One of these days”, que o Neil Young diz que vai escrever, eu viajo entre Hank williams e Hendrix, fico imaginando o que encontrou nessa viagem, tenho uma relação patológica com esse disco risos.
Billy Bragg lançou um dos melhores álbuns dos últimos tempos, o Tooth & Nail. Uma obra prima. Bom do primeiro ao último acorde. E Júpiter Maçã… o que falar de Júpiter Maçã. Um dos grandes! Um dos maiores do Brasil.
Mas não para por ai. Sou fã de Muzzarelas, Zumbis do Espaço, Magaivers, Gustavo Kaly, Rotentix, Gramofocas, e me orgulho muito desta posição de ser fã de bandas. E isso que faz o coração pulsar e o rock rollar.”
[Hits Perdidos] Em “Escafandro” tem até uma linha bastante pessoal que fala sobre “se não fosse melodias não chegava aos 40”. O que é fazer música para você?
Henrique Badke: “Uma necessidade vital. “Escafandro” é uma música muito importante pra mim pois ela traduz um hábito que tenho de andar pela cidade escaneando tudo. Muros, tampas de bueiros, camisetas que passam por mim, manchetes de jornal, existe uma riqueza oculta nas ruas na dura rotina de viver na cidade grande. Com um pouco de esforço você começa a achar a beleza escondida nos detalhes. E uma das coisas que sem dúvida alguma me acompanha nessa jornada e a música.
Escafandro é como chamo meus óculos escuros e meus headphones. Quando saio pela manhã, coloco meus óculos e som, e como se tivesse mergulhando neste mundo como espectador. A frase mencionada retrata a importância que atribuo a música na minha vida.”
[Hits Perdidos] “Plano de Escape” fala de escapismo da mesma forma que os Ramones faziam através dos quadrinhos. Como conheceram os Ramones e como isto mudou a vida de vocês?
Henrique Badke: “A primeira vez que ouvi Ramones foi a cena mais foda que eu poderia ter escolhido!
Eu era moleque, estava na pista de skate que tinha em Geriba em Búzios. Galera mais velha andando, carro parado com a mala aberta tocando “Rockaway Beach”, sol se pondo eu olhando pra aquilo sem entender nada.
Os Ramones mudaram nossas vidas porque foi através deles como ponto de interseção e referência que resolvemos montar a banda. E o Carbona com todos os milhares de ensaios, centenas de shows, viagens, mudou de forma definitiva nossas vidas. Para melhor.
Hoje lá se vão uns 30 anos ouvindo Ramones. E me fascina como ainda ouço os mesmos álbuns, as mesmas músicas, dia após dia e ainda sinto o sangue ferver. As vezes repasso letras antes de começar o dia, as vezes fica ouvindo no headphone tentando isolar instrumental e fixar só nos vícios vocais do Joey ou nas interpretações dele ao vivo comendo frases e terminações.”
[Hits Perdidos] “Amor em Doses Homeopáticas” e “Manfrini” contam com participações de Christian Satã (Julio Igrejas) e Victor Stephan (Os Estudantes). Como rolou o convite e como foi o processo?
Henrique Badke: “Quando ouvi “Amor em Doses Homeopáticas” do Julio Igrejas, eu pirei. É sério, eu falei porra! Tinha que ter escrito esta música!
Depois pensei já que não escrevi, eu posso gravar. Falei com o Christian ele achou a ideia legal, levei pros Carbona e todos curtiram.
Inicialmente a gente não tinha pensado em contar com a participação do Christian por que gravamos o disco num processo super rápido, e tínhamos receio de que se começássemos a trazer complexidade pro cronograma do disco ele poderia demorar muito pra terminar.
Acontece que minha incompetência nos backings me impediu de gravar direito e os backings da música eram fundamentais para obter um resultado bacana. Foi aí que procurei o Christian e falei “cara preciso da sua ajuda. Gravamos o som, fiz merda nos backings e preciso de você. Ele em uma semana se agilizou, procurou o Pacote e gravaram os backings.
Fiquei muito feliz com isso por que além de garantir o lançamento da música, contei com a participação especialíssima do Christian. O cara é um compositor de mão cheia, dos melhores que tem por aí….
Já o Vitao é amigo de longas datas. Manfrini, que é o guitarrista dos Estudantes, foi uma música escrita nos anos 90, sobre andanças que fazíamos em outros estados na época em que viajávamos pra ver shows em outras cidades todos juntos e reviver esta música foi uma viagem divertida ao passado.
Vitor é muito talentoso. Nas ilustrações ou à frente dos Estudantes, o cara mostra isso. Foi impressionante vê-lo gravar! O Cara chegou em 2 minutos botou o vocal como se tivesse ali num show. Demais! ”
Playlist “A Fórmula Mágica dos 20 anos do Carbona”
Para fechar pedi para o Badke criar uma playlist para celebrar os 20 anos do Carbona. Ela com certeza agradará fãs de punkrock, bubblegum e rock alternativo. Tendo muitas das bandas citadas na entrevista e outras que você vai descobrir seguindo a playlist no Spotify do Hits Perdidos!
A arte da capa da playlist foi feita pelo artista Marcos Gava para uma camiseta da banda há alguns anos.
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